Platão: Teoria das Ideias, Dualismo e o Estado Ideal

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ITEM 2: Fundamentos da Filosofia Platônica

A Evolução da Obra de Platão

Nós vemos a evolução da obra de Platão através de seus diálogos:

  • Diálogos iniciais (ex.: Apologia de Sócrates, Defesa);
  • Diálogos considerados de transição (ex.: Górgias, Mênon e Crátilo);
  • Diálogos de maturidade (ex.: República);
  • Diálogos tardios (ex.: Parmênides, Sofista, As Leis).

Teoria das Ideias

A filosofia central do projeto platônico é a afirmação de que as ideias abstratas (influenciadas pela matemática, ética e toda a realidade sensível) existem e são reais. Elas não existem no mundo sensível, que é caracterizado pela imperfeição, mas sim em um mundo que está além do sensível, chamado de Mundo Inteligível, que só é acessível através da razão. Por isso, Platão apoia a concepção dualista da realidade, um dualismo ontológico.

As Ideias (também chamadas de Formas) são realidades objetivas que existem independentemente do nosso pensamento. Para Platão, as Ideias são a verdadeira realidade, enquanto o mundo sensível é apenas aparência. Ele diz que as Ideias são originais, eternas, imutáveis e inalteráveis. Por outro lado, as coisas sensíveis são múltiplas, constantemente sujeitas a mudanças e, por isso, menos reais do que as Ideias. No Mundo Inteligível, existem todas as Ideias, e a maior de todas é a Ideia do Bem.

A Relação entre os Dois Mundos

As Ideias são o modelo das coisas, e podemos dizer que as coisas existem por causa delas. Entre as Ideias e as coisas, Platão estabelece uma relação caracterizada como participação ou imitação.

Mito da Caverna

O contraste entre os mundos é ilustrado na República com a alegoria da caverna. Platão nos pede para imaginar uma caverna subterrânea com uma entrada por onde a luz penetra. Na caverna, homens acorrentados desde a infância têm o olhar fixo na parede traseira. Atrás deles, há um fogo e, no meio, um caminho com uma parede que serve como tela.

Ao longo do caminho, homens desfilam carregando todo tipo de objetos, e as sombras desses objetos são refletidas no fundo da caverna. Tudo o que os prisioneiros podem ver são suas próprias sombras e as sombras dos objetos refletidas na parede, e essas sombras serão para eles a realidade.

Se um desses prisioneiros fosse libertado e obrigado a olhar para a luz do fogo, ele teria que fazer um esforço para se acostumar com a visão. Se, depois, fosse expulso pela estrada íngreme até a saída, seria inicialmente cegado pela luz solar. Depois de um tempo, começaria a vislumbrar os objetos reais, até ser capaz de olhar diretamente para o sol e entender que ele é a fonte que dá vida a todas as coisas da natureza.

Platão nota que, se este prisioneiro retorna à caverna, voltará a ser cegado pela escuridão, e ele será ridicularizado e considerado estúpido aos olhos dos outros. Se ele tentasse levar os outros para o exterior, os prisioneiros, que acreditam que as sombras são a verdadeira realidade, poderiam até mesmo matá-lo. A condição dos habitantes da caverna é a condição humana: como prisioneiros, vivemos entre as aparências e não conhecemos a verdadeira realidade.

Objetivos da Teoria das Ideias

A Teoria das Ideias tem três objetivos que são coerentes com os seguintes campos:

  • Teoria do Conhecimento (Epistemologia): O verdadeiro conhecimento deve ser sobre o que é estável e permanente, ou seja, o universal (as Ideias).
  • Ética: Para agir corretamente, é necessário conhecer as Ideias de Bondade e Justiça.
  • Política: Para que haja justiça na pólis, os governantes devem ser filósofos, pois só eles conhecem a Ideia de Justiça. Para Platão, a filosofia é a única garantia de governos justos.

Natureza das Ideias Matemáticas

Embora não apareça diretamente em nenhum diálogo de Platão, Aristóteles nos transmite a distinção platônica sobre a categoria dos números e das formas matemáticas. Platão parece distinguir três níveis:

  1. O número e as peças sensíveis.
  2. O número e as figuras matemáticas (dianoia): eternos e imortais como as Ideias, mas plurais e diversos como os sensíveis.
  3. As Ideias de número e os valores a serem estudados pela episteme (ciência).

Antropologia Platônica

Segundo Platão, no homem, há dois princípios opostos: o corpo, que nos liga ao mundo dos sentidos, e a alma, que nos liga ao mundo das Ideias. Esse dualismo antropológico corresponde ao dualismo ontológico.

A principal característica da alma é a sua imortalidade, o que possibilita o conhecimento das Ideias. Platão divide a alma em três partes:

  • A alma Racional (Logistikon): Imortal e inteligente. Localizada no cérebro.
  • A alma Irascível (Thymoeides): De onde surgem as paixões nobres (valor, vontade, etc.). Essa parte da alma morre com o corpo e localiza-se no tórax.
  • A alma Apetitiva ou Concupiscível (Epithymetikon): De onde surgem os apetites e os desejos corporais. É mortal e localiza-se no baixo ventre.

O Mito da Carruagem Alada

Aparece no Fedro. A alma humana é comparada a uma carruagem alada. O elemento racional da alma é representado por um cocheiro que conduz dois cavalos: um cavalo é dócil (paixões nobres) e o outro resiste às ordens do cocheiro (elemento apetitivo). O condutor precisa usar o chicote para controlá-lo.

A carruagem alada viaja através do Mundo das Ideias, que é o seu lugar natural. As asas permitem que o condutor, que sabe controlar seus cavalos, suba e veja as Ideias. Se perder o controle dos cavalos, a alma perde as asas e cai no mundo dos sentidos.

Política: O Estado Ideal e a Degradação

Platão está ciente de que o indivíduo depende da comunidade e que a vida privada e pública estão intimamente relacionadas. Ele considera que nem todos os indivíduos têm as mesmas qualidades por natureza; em cada classe social domina uma parte da alma. As classes sociais no Estado Ideal correspondem às partes da alma:

  • Governantes/Filósofos: Dominados pela alma Racional (Sabedoria).
  • Guardas/Guerreiros: Dominados pela alma Irascível (Coragem).
  • Produtores/Artesãos: Dominados pela alma Apetitiva (Temperança).

Platão considerava que, ao longo do tempo, os regimes políticos tendem à degradação. Sua teoria baseia-se na evolução das formas políticas:

  1. Aristocracia: O governo dos sábios (a forma mais perfeita).
  2. Timocracia: A aristocracia degenera quando os guerreiros tomam o poder, impulsionados pela ambição.
  3. Oligarquia: A ambição dos timocratas leva ao governo dos ricos.
  4. Democracia: Quando as classes mais baixas assumem o poder, o estado degenera no triunfo da liberdade imoderada e da desordem.
  5. Tirania: A desordem da democracia é explorada por um líder ambicioso e carismático que toma o poder, degenerando no pior dos estados possíveis.

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