Adaptações Neurais e Recrutamento Motor no Treino de Força
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Recrutamento de Unidades Motoras. A ativação completa dos músculos agonistas envolvidos em determinado movimento representa um dos grandes desafios que devem ser impostos ao sistema neuromuscular para o desenvolvimento máximo da força.
Nesse contexto, a literatura vem sistematicamente apontando a capacidade de recrutar as unidades motoras do tipo IIa e IIx dos músculos agonistas como uma das responsáveis pela produção de força.
Demais desafios compreendem a ativação das unidades motoras recrutadas nos músculos auxiliares nessas tarefas (sinergistas), juntamente com a inibição dos músculos que realizam o trabalho oposto aos agonistas (antagonistas).
Quando comparados a indivíduos não treinados e/ou atletas de endurance, atletas de modalidades de força e potência apresentam uma maior ativação neuromuscular frente ao mesmo estímulo relativizado.
Podemos observar que o sinal bruto da EMG de superfície do músculo vasto medial no exercício de Leg Press 45° de um indivíduo com mais de 1 ano de prática de treinamento de força (A) em comparação com os dados de outro indivíduo não treinado em força (B) é maior em todas as situações agudas de exercícios realizadas: 3 repetições com intensidades de 30%, 50% e 70% da contração voluntária máxima (CVM);
O aumento na ativação neuromuscular em função do aumento na intensidade do esforço, mesmo no sujeito não treinado, deixa claro que os estímulos das sessões de treinos de força devem ser ou intensos ou volumosos para disparar respostas adaptativas tanto nas vias neurais quanto na morfologia, arquitetura e metabolismo da musculatura.
A Figura 3 sumariza os resultados de um dos estudos pioneiros nessa área (19) e de outros grupos de pesquisa, relacionados ao tempo necessário para ocorrer adaptações neurais e musculares em resposta ao treino de força. É possível observar que, principalmente em sujeitos não treinados em força, o incremento inicial da força depende inicialmente da resposta adaptativa das vias neurais, que é anterior à resposta hipertrófica muscular.
Consequentemente, atletas treinados em força devem ter ajustes mais frequentes e diversificados na planilha de treino, relacionados à manipulação das variáveis do treinamento:
- volume
- intensidade
- pausas
- ações musculares
- etc.
e/ou à adoção de novos métodos:
- pliometria
- levantamentos olímpicos
- treinamentos complexos
- etc.
para a continuidade das adaptações neurais já alcançadas com o treinamento prévio.
Isso ocorre devido ao aumento na quantidade de disparos de potenciais de ação advindos de unidades motoras de múltiplos grupamentos musculares sinergistas em uma mesma unidade de tempo.
Um incremento na sincronização de unidades motoras causa um aumento na amplitude do sinal eletromiográfico, atribuído à elevação da incidência de potenciais de ação disparados em um mesmo espaço de tempo.
Todavia, seu maior papel é desempenhado no aumento da taxa de desenvolvimento de força durante contrações rápidas, ou como um mecanismo de ativação de múltiplos grupamentos musculares sinergistas.
Estudos mostraram taxas de aproximadamente 100 a 200 Hz no início de uma contração voluntária, enquanto no instante da geração da força máxima (250-400 ms após Rev.
A literatura sugere que taxas supramáximas no início da contração maximizariam muito mais a taxa de desenvolvimento de força do que a produção de força máxima.
No entanto, é importante ter em mente que períodos de treinamento de força induzem incrementos paralelos na amplitude do sinal eletromiográfico no início da contração.
Esse recrutamento seletivo de fibras tipo II pode ser visualizado por uma menor amplitude acompanhada de uma maior frequência do sinal eletromiográfico quando comparado com as ações concêntricas e isométricas. Observa-se que na fase concêntrica o RMS é maior (1137 µV), mas a frequência é menor (76,1 Hz), indicando um número mais acentuado de unidades motoras recrutadas. Em contrapartida, na fase excêntrica a amplitude é menor (437,2 µV), mas a frequência mediana é elevada (91,7 Hz), indicando uma maior atividade das unidades motoras do tipo II.
Um menor número de unidades motoras recrutadas para uma determinada força desenvolvida poderia explicar a ocorrência de maiores danos teciduais proporcionados pelas ações excêntricas.
Como a ativação voluntária durante as ações excêntricas não é máxima em indivíduos destreinados, mas nos indivíduos treinados esse déficit de ativação parece não existir, podemos inferir que o recrutamento de unidades motoras durante as ações excêntricas poderia também representar um mecanismo adaptativo frente ao treinamento de força e potência.
O fato curioso é que, mesmo com o reconhecimento da importância dos mecanismos proprioceptivos para a produção de força, as pesquisas neurofisiológicas em humanos durante a execução de movimentos naturais ainda são limitadas, o que torna as inferências relacionadas a adaptações crônicas nos proprioceptores ainda pouco objetivas.
Propriocepção (do latim proprius, pertencente a si próprio) refere-se à sensibilidade sobre a posição e movimentos dos próprios membros e do corpo sem o uso da visão.
Três tipos de receptores sinalizam a posição estacionária dos membros e a velocidade e direção dos movimentos: 1) receptores sensíveis ao alongamento do músculo, denominados fusos musculares;
Tal excitabilidade é comumente mensurada através da amplitude do reflexo de Hoffmann (reflexo-H), definido como uma resposta reflexa monossináptica frente a uma estimulação elétrica de um nervo periférico.
Nesse quesito, a literatura reporta tanto estudos transversais, com comparações entre diferentes populações atléticas (31), assim como estudos longitudinais, que monitoram a evolução de tais adaptações.
A ativação de neurônios sensitivos do grupo Ib dos OTG induz inibição autogênica de um músculo agonista e seus sinergistas, com a concomitante excitação dos músculos antagonistas ao movimento.
Um estímulo potente para a ativação dos OTG é a contração mais vigorosa das fibras musculares ligadas ao feixe de fibras de colágeno que contém o receptor (32).
Os impulsos liberados pelos receptores sensoriais Ib deprimem a resposta do neurônio motor através da ação de interneurônios inibitórios localizados na medula espinal (32, 33).
Um dos efeitos adaptativos ao treino de força é a redução da inibição causada pelos OTGs, contribuindo para o aumento da força muscular (21).
Uma hipótese comumente difundida, mas ainda sem evidências experimentais para a diminuição do efeito inibitório dos OTG induzido pelo treinamento de força seria o acúmulo de tecido conjuntivo em resposta ao treinamento, o que tornaria os OTG menos sensíveis, diminuindo assim sua resposta inibitória (34).
Sabendo-se que, em indivíduos sedentários, as adaptações neurais predominam no início de um programa de treinamento, é plausível que determinados meios e métodos de treino que se mostram eficazes para essa população não apresentem a mesma magnitude de adaptações em indivíduos treinados.
O estudo das respostas e adaptações neurais ao treinamento pode auxiliar no desenvolvimento de meios e métodos de treino cada vez mais eficazes tanto para indivíduos treinados quanto sedentários.
Futuros estudos devem focar suas observações na população analisada, bem como relacionar as variáveis:
- intensidade
- volume
- pausas
- velocidade de execução
- etc.
e métodos de treinamento:
- treinamento de força tradicional
- pliometria
- levantamentos olímpicos
- treinamentos complexos
- etc.
às respostas adaptativas obtidas.