Agricultura em Portugal: Culturas, Regiões e Tendências

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Trigo

O trigo é uma das culturas mais sensíveis às condições meteorológicas, particularmente à variação dos valores de temperatura, pelo que a sua produção sofre grandes oscilações de ano para ano. A variação da área cultivada contribui, também, para estas oscilações. Exige solos férteis e profundos, de preferência argilo-calcários e argilo-arenosos. O clima deve ser temperado (mediterrâneo ou continental), com uma estação fresca e húmida durante a germinação e o crescimento, e uma estação quente durante a maturação, em que os valores de água no solo devem ser baixos. Na faixa litoral norte e nos Açores, a produção é muito baixa devido à grande humidade.

Sistema de Cultura do Trigo

O sistema de cultura mais praticado é o extensivo em regime de rotação de culturas, em que o solo é dividido em setores (folhas), cada um dos quais ocupado em cada ano com culturas diferentes, em regime rotativo de alternância. O trigo alterna com o girassol, aveia, cevada e outras culturas forrageiras (que não só alimentam gado como enriquecem o solo) em regime de afolhamento trienal.

Vinha

A vinha é característica do clima mediterrâneo, mas adapta-se a outros climas desde que não sejam muito frios e apresentem um período quente e seco para a maturação das uvas. Desenvolve-se em qualquer tipo de solo (argiloso, calcário, granítico, arenoso) e adapta-se a graus de humidade, temperatura e insolação diversos.

Vinhos do Vale do Douro

Os Vinhos Generosos do Vale do Douro são produzidos na metade oriental do Vale do Rio Douro e de alguns afluentes, onde as condições são favoráveis: verões quentes, secos e luminosos, e solo de natureza xistosa. Nesta região, a vinha é cultivada em socalcos.

Olival

O olival prefere solos de natureza calcária. É particularmente sensível às condições meteorológicas. Não se desenvolve nas regiões do litoral, onde se faz sentir a ação dos ventos húmidos oceânicos, pois não suporta grande humidade atmosférica. Há predominância de uma espécie (a Mourisca). A carência e os elevados custos de mão de obra rural para a apanha da azeitona, tarefa difícil (embora já existam máquinas de colheita), fazem com que o azeite atinja preços muito elevados.

Alentejo: Características Agrícolas

Sistema de Cultura

O sistema de cultura é extensivo, com afolhamento bienal ou trienal, rotação de culturas e de sequeiro (sem recurso à rega). As explorações agrícolas são divididas em 2 ou 3 folhas:

  • Uma é ocupada com trigo.
  • Outra com pastagens enriquecedoras do solo (fixadoras de azoto), como o tremoço (que tradicionalmente ficava em pousio).
  • A terceira, com cereal menos exigente (aveia).

Nos solos mais férteis, o pousio tem dado lugar também à cultura de legumes, mais vulgarmente no inverno, dada a maior precipitação. Este sistema implica rotação de culturas de ano para ano. Depois de feita a colheita do cereal, não se cultiva mais nada nessa folha no ano em curso. Na folha plantada com pastagens ou em pousio, faz-se a cultura extensiva de gado bovino/ovino.

Principais Culturas

As principais culturas são os cereais (trigo, cevada, arroz, aveia – nos vales do Rio Tejo e seus afluentes) e o olival. Tradicionalmente, as searas eram cultivadas sob os montados (campos com sobreiros e azinheiras) num sistema monocultural (assente no trigo) e de sequeiro.

Os extensos olivais monoculturais têm vindo a ser modernizados com a instalação de sistemas de rega gota a gota e a plantação de novas oliveiras em filas, dispostas a intervalos regulares, o que permite a mecanização da apanha da azeitona. Próximo das povoações, em terrenos mais férteis e irrigados, desenvolvem-se os pomares de citrinos e cultivam-se produtos hortícolas.

Estrutura Fundiária e Povoamento

  • Predominam os Latifúndios: Explorações agrícolas de grande dimensão (mais de 50 hectares), de forma regular e campos abertos.
  • O tipo de Povoamento Rural é concentrado: As casas de habitação encontram-se integradas nos aglomerados populacionais que se destacam ao percorrermos a região.

Condições Ambientais (Clima e Solo)

O Alentejo é uma região com clima temperado mediterrâneo, caracterizado por:

  • Temperaturas médias anuais elevadas (>12°C).
  • Precipitação anual reduzida (<500 mm), concentrada nos meses de outono e inverno.
  • Elevado número de meses secos (4 a 6), resultando em fraca disponibilidade de recursos hídricos superficiais e subterrâneos.
  • Verões quentes e secos e invernos húmidos e frios.

Os solos são pobres, de natureza xistosa, que não passam de acumulação de cascalho coberto por uma camada fina de material.

Tendências da Agricultura em Portugal

1. Aumento da Pluriatividade e do Plurirrendimento

Esta tendência tem sido favorecida pela melhoria das redes de transporte, assegurando uma maior mobilidade da população e possibilitando a deslocação diária para áreas urbano-industriais próximas das explorações agrícolas. O explorador agrícola pode, assim, dedicar-se também a outras atividades, o que lhe permite a acumulação de rendimentos provenientes da agricultura e de outras atividades.

Importância e Contexto

A pluriatividade agrícola assume maior importância nas regiões onde predominam as pequenas explorações de caráter familiar (Entre Douro e Minho, Beira Litoral, Ribatejo e Oeste). Esta prática contribui para a fixação da população agrícola, elevando a qualidade de vida e contrariando a tendência de despovoamento e abandono das Áreas Rurais (AR).

É importante motivar os agricultores para novas atividades lucrativas, passíveis de serem desenvolvidas nas AR e em simultâneo com a prática da agricultura, e nas quais as mulheres poderão ter uma forte participação. São exemplos:

  • Artesanato;
  • Turismo Rural;
  • Produção de queijos e enchidos.

2. Crescente Feminização

A população feminina no setor agrícola tem sofrido um aumento, ou seja, está a sentir-se uma feminização no setor, com maior peso no Norte e Centro Litoral. Este fenómeno deve-se a:

  • Emigração e Êxodo Rural: Sobretudo da população masculina, que procura aproveitar mais oportunidades de emprego fora das explorações agrícolas.
  • Imigração: Particularmente na última década, com a chegada de população oriunda do Leste Europeu, em grande número do sexo feminino, com formação académica e profissional no setor, que se tem dedicado à atividade agrícola.
  • Crescente Procura: Pelas mulheres desta atividade, seja por tradição, necessidade de subsistência ou como opção profissional, após frequentarem cursos de formação profissional.

3. Maior Importância das Formas de Exploração por Aluguer e Parceria

Nestas formas, o proprietário agrícola cede os terrenos para serem explorados por outra pessoa, em troca de receber parte da produção em quantidade ou parte do valor da venda dessa produção.

Vantagens e Desvantagens

  • Vantagem: Pode impedir o abandono de campos (por exemplo, quando o proprietário não tem condições para os tratar e gerir).
  • Desvantagem: Pouco interesse em preservar o solo e a exploração agrícola, pois alguns arrendatários têm como objetivo a obtenção de um maior aproveitamento das terras durante o período de vigência do contrato de arrendamento.

Análise de Sistemas de Cultura (GII)

1. Sistema de Cultura Extensivo

1.1 Definição

Sistema de cultura extensivo.

1.2 Características do Sistema Extensivo

O sistema extensivo caracteriza-se por:

  • Predomínio da monocultura, apesar de modernamente se fazer a especialização de culturas, escolhendo-se 2 ou 3 culturas para a produção.
  • Ser praticado em áreas de solo mais plano e de fraca pluviosidade, estando associado a culturas de sequeiro.
  • Utilizar uma mão de obra pouco numerosa, dado que está associado a uma agricultura mecanizada.
  • Registar custos de produção altos em agroquímicos (como adubos e pesticidas), em sementes, em custos fixos (como água, salários, juros e prémios de seguro, entre outros).
  • Predominar em áreas de povoamento concentrado.
  • Na atualidade, pela ocupação contínua e permanente dos solos durante o ano, pois o pousio foi substituído pelas culturas de pastagens de espécies herbáceas fixadoras de azoto da atmosfera, como o trevo e o tremoço.

1.3.2 Fatores Humanos Influentes

Os fatores humanos que influenciam são os fatores histórico-culturais que têm reflexos na agricultura tradicional. Estes fatores condicionaram a ocupação e a organização do solo, o que se refletiu na estrutura fundiária:

  • No Noroeste, a estrutura é mais fragmentada, irregular e de pequena dimensão (minifúndio).
  • No Sul, é mais regular, com predomínio de campos abertos e de maior dimensão (latifúndio).

2. Identificação Regional

2.1 Regiões

  • A: Entre Douro e Minho
  • B: Alentejo

3. Conceitos Fundiários

  • A: Exploração Agrícola
  • B: SAU - Superfície Agrícola Utilizada
  • C: Culturas Temporárias

1.3.1 Fatores Naturais que Influenciam os Sistemas de Cultura

Os fatores naturais de que depende a adoção dos diferentes sistemas de cultura são: o clima, o relevo, o solo e os recursos hídricos.

O Clima

O clima condiciona a opção relativa às espécies a cultivar e a regularidade e quantidade das colheitas, devido sobretudo à temperatura. O clima em Portugal é temperado mediterrâneo, caracterizado por:

  • Irregularidade de precipitação intra e interanual.
  • Existência do período seco estival (entre junho e setembro), período em que a precipitação é menor ou igual ao dobro do valor da temperatura média.

O Relevo

O relevo condiciona a agricultura:

  • Quanto mais plano, melhor, pois está associado a solos mais férteis e há mais facilidade na utilização de tecnologias agrícolas.
  • O relevo mais acidentado tem menor fertilidade e a mecanização é condicionada.
  • A altitude influencia: à medida que a altitude aumenta, a temperatura diminui e a precipitação intensifica-se.
  • O declive condiciona: quanto maior o declive, mais intensa será a erosão do solo e mais difícil será a mecanização, apesar da construção de socalcos ajudar a resolver o problema, em parte.

O Solo

O solo condiciona o nível de fertilidade, pois pode ser fértil ou infértil, dependendo da sua origem.

Os Recursos Hídricos

A maior abundância e regularidade da precipitação favorece a agricultura, enquanto que a escassez e irregularidade da precipitação condiciona a prática agrícola.

2.2 Comparação Regional (A: Entre Douro e Minho vs. B: Alentejo)

2.2.1 Sistemas de Cultura

  • Região A (Entre Douro e Minho): Praticam-se sistemas de cultura intensivos, de policultura, com recurso à rega de abundância, ou seja, de regadio.
  • Região B (Alentejo): Dominam os sistemas de culturas extensivos, antigamente com pousio, mas na atualidade substituído por afolhamento bienal/trienal, monoculturais (base na cultura de trigo), de sequeiro (não se recorre à rega; as plantas desenvolvem-se com a água das chuvas retidas no solo).

2.2.2 Estrutura Fundiária

  • Região A: As explorações são minifúndios, de forma irregular, campos fechados e fragmentadas em blocos.
  • Região B: As explorações são latifúndios, de forma regular e campos abertos.

2.2.3 Solos

  • Região A: Os solos são de natureza granítica e são férteis, apesar de não reterem muita água, retêm o necessário.
  • Região B: Os solos são de natureza xistosa, cascalho coberto por uma camada de material fino, e são solos pouco férteis.

2.2.4 Condições Climáticas e Hídricas

  • Região A: As produções exigem humidade e temperaturas pouco elevadas. É onde se registam os valores de precipitação anual mais elevados, com uma distribuição interanual regular, com dois meses secos e com baixa amplitude de variação térmica. Não se registam verões muito quentes e os invernos não são tão frios como os do Norte Interior. É uma região com uma elevada rede hidrográfica.
  • Região B: As produções exigem um clima fresco e húmido, mas também quente e seco. É onde: se registam as temperaturas médias anuais mais elevadas, a precipitação total anual é reduzida, tem quatro a seis meses secos, a amplitude de variação térmica é elevada, e os verões são muito quentes e secos e os invernos são húmidos e frios. É uma região com fraca disponibilidade de recursos hídricos.

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