Água Subterrânea e Abastecimento Público
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Captação de Água Subterrânea
Corresponde a 0,6% de toda a água do globo terrestre e 97% do volume global de água doce.
Distribuição da Água Subterrânea
A parte superior da crosta, denominada zona de fratura da rocha, é normalmente porosa.
A camada superior do solo, onde os espaços intergranulares estão parcialmente ocupados pela água, é denominada zona de aeração.
Por efeito da capilaridade, a água eleva-se acima do nível da zona de saturação, formando a franja capilar. A altura da elevação capilar depende da dimensão dos interstícios.
Para fins hidrológicos, a zona de saturação é a mais importante. Essa zona se encontra completamente cheia de água.
Aquíferos
Denominação dada a uma zona saturada cuja água no seu interior existe em quantidade suficiente para permitir o seu aproveitamento econômico.
Aquíferos Freáticos (Livres)
Originam-se das águas de chuva que se infiltram através das camadas permeáveis do terreno até encontrar uma camada impermeável. A água que enche os poros no topo da parte saturada (nível freático) está submetida à pressão atmosférica.
Os poços que exploram aquíferos freáticos são normalmente rasos. Em geral, têm entre 3 e 20 metros de profundidade e diâmetro entre 1 e 2 metros, e sua vazão é relativamente pequena.
Tipos de poços rasos:
- Poços escavados: Abertos manualmente.
- Poços perfurados: Abertos por meio de trados ou brocas.
- Poços cravados: Tubos metálicos com ponteiras, cravados por percussão ou rotação.
Aquíferos Confinados (Artesianos)
Situam-se entre camadas impermeáveis e possuem água submetida a pressão superior à atmosférica. A água provém, geralmente, de infiltrações em áreas de recarga distantes, como brejos e lagos.
Os poços que retiram água de um aquífero confinado são chamados de poços profundos. Nestes, a água ascende até atingir o nível da linha piezométrica. Se a linha piezométrica estiver acima da superfície do terreno, a água jorrará (poço jorrante).
Poços profundos: Captam água de lençóis situados entre duas camadas impermeáveis. Poços perfurados exigem mão de obra e equipamentos especiais para sua construção.
Porosidade e Propriedades do Aquífero
A porosidade (n) é a percentagem de vazios (poros) existentes no material.
- Alta porosidade: Argila, areia, pedregulho, mistura de pedregulho e areia.
- Média porosidade: Arenito.
- Baixa porosidade: Quartzo, granito.
Porosidade efetiva: Parcela da água que pode ser drenada por gravidade. Uma parte desta água ficará retida nos interstícios devido à atração molecular da película que envolve os grãos.
Retenção específica: É a parcela da água de saturação que não se liberta da unidade de volume do material saturado, sob a ação da gravidade. É, portanto, a diferença entre a porosidade total e a porosidade efetiva. A retenção específica é tanto maior quanto menor for o tamanho das partículas.
Coeficiente de permeabilidade (K): É a capacidade do meio poroso de transmitir a água.
Coeficiente de armazenamento (S): Expressa a capacidade de armazenamento útil de um aquífero, por unidade de área horizontal.
Armazenamento específico (Se): Representa o volume de água que pode ser liberado do aquífero, correspondente ao rebaixamento unitário da altura piezométrica.
Coeficiente de transmissividade (T): Representa a vazão que escoa através de uma seção vertical do aquífero com largura de 1 metro, quando o gradiente hidráulico (perda de carga por unidade de comprimento) é igual à unidade.
Hidráulica de Poços
Etapas da construção de um poço:
- Perfuração: Métodos incluem Rotação/Rotativa, Percussão, A ar comprimido/Roto-pneumática.
- Completação: Colocação da tubulação e demais componentes definitivos (revestimento, filtro, pré-filtro) e cimentação.
- Desenvolvimento: Limpeza e otimização da entrada de água no poço (ex: pistoneamento, injeção de ar comprimido, bombeamento com injeção de água sob pressão ou com bomba submersa).
- Teste de Bombeamento: Avaliação da capacidade do poço e do aquífero, utilizando equipamentos como bomba submersa, injetora, manual, centrífuga ou compressor.
- Instalação: Instalação do sistema de bombeamento definitivo e registro de dados como vazão (Q), nível estático (NE) e nível dinâmico (ND).
Superexploração de Aquíferos
Ocorre quando a extração de água subterrânea ultrapassa a recarga natural por longo tempo. Os aquíferos sofrem depleção e o lençol freático (ou nível piezométrico) começa a baixar.
Consequências:
- Poços rasos, usados para abastecimentos locais e irrigações, secam;
- Poços de produção têm que ser aprofundados, despendendo mais energia para bombeamento;
- Pode ocorrer subsidência do terreno e intrusão salina em áreas costeiras.
Previsão de População e Demanda de Água
A demanda de água em uma cidade é função de:
- Número de habitantes a serem abastecidos;
- Quantidade de água consumida por pessoa (consumo per capita).
Consumo Médio Per Capita
Componentes principais do consumo:
- Doméstico
- Industrial e Comercial
- Público
- Perdas no sistema
Fatores que Afetam o Consumo
- Clima
- Hábitos e nível de vida da população
- Características da cidade (industrial, turística, etc.)
- Tamanho da cidade
- Presença ou ausência de hidrômetros (medição)
- Pressão na rede de distribuição
Coeficientes de variação de consumo:
K1 = Consumo do dia de maior consumo / Consumo médio diário
K2 = Consumo da hora de maior consumo / Consumo médio horário
Fases do Crescimento Populacional
O crescimento populacional geralmente apresenta três fases distintas:
- Crescimento rápido (geométrico) quando a população é pequena.
- Crescimento mais constante (linear ou aritmético).
- Taxa de crescimento decrescente, tendendo à estabilização (curva logística).
Método da Razão e Correlação
Assume-se que a população da cidade em estudo possui a mesma tendência de crescimento da região onde está inserida. A razão entre a população da cidade e da região é calculada e projetada para anos futuros.
População Flutuante
O número de pessoas que utilizam a cidade temporariamente (população flutuante) também é significativo e deve ser considerado no cálculo das vazões de projeto. É o caso de cidades balneárias, estâncias climáticas e centros universitários.
Sistema de Abastecimento Público de Água
Num sistema de tratamento de água convencional, a ordem usual das operações unitárias é:
- Coagulação
- Floculação
- Decantação (ou Sedimentação)
- Filtração
- Desinfecção
- Fluoretação (quando aplicável)
- Correção de pH (quando aplicável)
Dimensionamento de ETA
O dimensionamento de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) considera a vazão necessária para atender aos principais usos da água: residencial, industrial (incluindo comercial) e público, além das perdas.
Localização da ETA
Normas técnicas recomendam que a ETA esteja em local:
- De fácil acesso em qualquer época do ano;
- Com disponibilidade de energia elétrica;
- Com vias de acesso para transporte de pessoal e de produtos químicos;
- Livre de enxurradas e acima da cota máxima de enchente conhecida.
Antes da primeira etapa do tratamento (geralmente coagulação), faz-se a remoção de materiais grosseiros da água bruta por meio de grades e telas (gradeamento).
Etapas do Tratamento Convencional
- Pré-tratamento (opcional): Pode incluir aeração para remoção de gases dissolvidos (melhorando gosto e odor) ou pré-cloração/oxidação. A aeração pode ser feita por injeção de ar, aspersão ou em cascata.
- Casa de Química: Local para preparar, dosar e aplicar os produtos químicos (coagulantes, alcalinizantes, etc.).
- Coagulação e Mistura Rápida: Adição do coagulante (ex: sulfato de alumínio - Al2(SO4)3 ou cloreto férrico - FeCl3) com agitação intensa para desestabilizar as partículas em suspensão e coloidais.
- Floculação: Agitação lenta para promover o encontro das partículas desestabilizadas, formando flocos maiores e mais pesados.
- Decantação (ou Sedimentação): Os flocos formados depositam-se no fundo do decantador pela ação da gravidade, clarificando a água.
- Filtração Rápida: A água passa através de um leito filtrante (geralmente areia e antracito) que remove as partículas e flocos remanescentes, além de microrganismos. Auxilia na redução final de cor e turbidez e remove grande parte das bactérias.
- Desinfecção (Tanque de Contato): Adição de um agente desinfetante (normalmente cloro ou derivados) para eliminar microrganismos patogênicos remanescentes. O tanque de contato garante tempo suficiente para a ação do desinfetante.
- Correção de pH e Fluoretação: Ajuste final do pH para evitar corrosão ou incrustação na rede e adição de flúor para prevenção de cáries dentárias (obrigatório em muitos locais).
Métodos de Captação de Água
- Águas Pluviais: Coleta em telhados, armazenamento em cisternas (uso geralmente restrito a fins não potáveis sem tratamento adequado).
- Águas Superficiais: Retirada de rios, córregos, lagos, reservatórios. A captação deve se localizar a montante de possíveis focos de poluição. Tipos de captação superficial:
- Captação direta;
- Captação com barragem de nível (elevação do nível mínimo);
- Captação com barragem de regularização de vazão (armazenamento).
- Águas Subterrâneas: Exploração de fontes naturais, poços rasos (freáticos) ou poços profundos (artesianos).
Tipos de Água Bruta e Tratamento Necessário
A complexidade do tratamento depende da qualidade da água bruta:
- Água Tipo A: Subterrânea ou superficial de bacias protegidas - requer desinfecção e, se necessário, correção de pH e fluoretação.
- Água Tipo B: Subterrânea ou superficial de bacias não protegidas - requer tratamento simplificado (ex: filtração lenta ou direta), desinfecção, correção de pH e fluoretação.
- Água Tipo C: Água superficial de bacias não protegidas - requer tratamento convencional (coagulação, floculação, decantação, filtração), desinfecção, correção de pH e fluoretação.
- Água Tipo D: Água superficial de bacias não protegidas, sujeitas a fontes de poluição - requer tratamento tipo C e, possivelmente, processos adicionais específicos (ex: adsorção com carvão ativado), conforme a natureza da poluição.
Saneamento Básico
Saneamento básico é o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Visa melhorar a saúde, a qualidade de vida e o desenvolvimento socioeconômico.
Saneamento Básico no Brasil
Historicamente, houve um foco na expansão dos serviços de água e esgoto para reduzir a mortalidade, especialmente durante o período do Plano Nacional de Saneamento (Planasa).
Importância Sanitária do Abastecimento de Água
Fundamental para:
- Controle e prevenção de doenças de veiculação hídrica;
- Melhoria das práticas de higiene pessoal e coletiva;
- Suporte à limpeza pública e outras atividades urbanas;
- Desenvolvimento de atividades econômicas (industrial, comercial, etc.).
Importância Econômica do Abastecimento de Água
O acesso à água tratada evita doenças, o que aumenta a qualidade de vida e a produtividade da população, além de reduzir custos com saúde pública e perdas econômicas associadas a enfermidades.
Componentes do Sistema de Abastecimento de Água
O sistema é composto tipicamente por:
- Captação: Retirada da água do manancial.
- Adução: Transporte da água bruta até a ETA (pode incluir bombeamento/recalque).
- Tratamento: Processos na ETA para tornar a água potável.
- Reservação: Armazenamento da água tratada para garantir a regularidade do abastecimento e atender às demandas de pico.
- Distribuição: Rede de tubulações que leva a água tratada aos consumidores.
Impurezas da Água
As impurezas podem ser classificadas como:
- Em suspensão: Partículas visíveis como areia, argila, algas, vermes, larvas (removíveis por processos físicos como decantação e filtração).
- Em estado coloidal: Partículas muito pequenas que não sedimentam facilmente, como alguns corantes vegetais, sílica coloidal, vírus (removíveis por processos físico-químicos como coagulação).
- Em dissolução: Substâncias dissolvidas na água, como sais (bicarbonatos, carbonatos, sulfatos, cloretos), metais (cálcio, magnésio, ferro) (remoção exige processos específicos como troca iônica, osmose reversa, aeração para alguns gases).
- Substâncias químicas diversas: Incluindo compostos nitrogenados (matéria orgânica, amônia, nitritos, nitratos) e gases dissolvidos (oxigênio, gás carbônico, gás sulfídrico).
Contaminantes da Água
Os contaminantes podem ter origem:
- Natural: Microrganismos presentes no ambiente (ex: bactérias do solo, algumas algas tóxicas), minerais dissolvidos de rochas (ex: arsênio, flúor em excesso).
- Antropogênica (ação humana): Descarga de esgotos domésticos e industriais, uso de agrotóxicos na agricultura, lixiviação de aterros sanitários, problemas em sistemas hidráulicos (ex: corrosão de tubulações).
Estágios das Doenças de Veiculação Hídrica
O desenvolvimento de uma doença infecciosa geralmente segue estas fases:
- Incubação: Período entre a infecção pelo agente patogênico e o aparecimento dos primeiros sintomas (duração variável).
- Invasão: O organismo reconhece a presença do agente e inicia a resposta imunológica; podem surgir sintomas gerais.
- Estado: Os sintomas específicos da doença manifestam-se de forma clara e intensa.
- Declínio: Os sintomas começam a diminuir à medida que o organismo controla a infecção.
- Convalescença: Período de recuperação do organismo após a doença.
- Transmissibilidade: Período durante o qual o indivíduo infectado pode transmitir o agente patogênico a outros (pode ocorrer em diferentes fases da doença, inclusive na incubação ou convalescença).
Análises da Água de Abastecimento
Para garantir a qualidade da água, realizam-se diferentes tipos de análises:
- Física: Medida de parâmetros que afetam a aparência e aceitação da água, como temperatura, turbidez, cor, odor e sabor.
- Química: Determinação da concentração de substâncias orgânicas e inorgânicas, incluindo nutrientes, metais, pesticidas, subprodutos da desinfecção, e parâmetros indicadores de poluição.
- Bacteriológica: Pesquisa de bactérias indicadoras de contaminação fecal (como Escherichia coli e coliformes totais) para avaliar o risco de presença de microrganismos patogênicos.
- Microscópica: Identificação e contagem de microrganismos como algas e protozoários, que podem causar problemas de gosto, odor, turbidez ou entupimento de filtros, além de auxiliar na interpretação de outras análises.
Agentes Causadores e Transmissores
- Agentes causadores de doenças hídricas: Bactérias (ex: Vibrio cholerae, Salmonella), protozoários (ex: Giardia lamblia, Entamoeba histolytica), vírus (ex: vírus da Hepatite A, Rotavírus), vermes (helmintos, ex: Ascaris lumbricoides), fungos.
- Agentes transmissores (vetores relacionados ao saneamento inadequado): Mosquitos (ex: Aedes aegypti - Dengue, Zika, Chikungunya, Febre Amarela), ratos (Leptospirose), baratas, moscas.
Doenças Relacionadas
Exemplos de doenças relacionadas à água ou saneamento deficiente: Cólera, febre tifoide, gastroenterites, hepatite A, giardíase, amebíase, leptospirose, esquistossomose, dengue.
pH da Água
O pH indica a acidez (0 a <7) ou alcalinidade (>7 a 14) da água. Um pH neutro é 7.
- Água ácida (pH baixo): Pode ser corrosiva para tubulações e liberar metais na água.
- Água alcalina (pH alto): Pode levar à formação de incrustações (dureza) em tubulações e equipamentos, e reduzir a eficiência da desinfecção com cloro.
O pH da água tratada é ajustado na ETA para um valor adequado para consumo e para proteger o sistema de distribuição (frequentemente na faixa de 6,5 a 8,5, mas pode variar).