Álvaro de Campos: Decadência, Futurismo e Intimismo
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Álvaro de Campos é um dos três principais heterónimos de Fernando Pessoa. Na sua obra poética, distinguem-se três tendências distintas: o Decadentismo, o Futurismo Sensacionista e a reflexão existencial de caráter intimista e melancólico.
A tendência decadentista, marcada pelo tédio de viver, pela necessidade de novas sensações e pela fuga à monotonia, é influenciada pelo Simbolismo (corrente poética do final do século XIX). Manifesta-se particularmente no longo poema “Opiário”.
Mas a tendência mais marcante deste heterónimo, pelo que tem de radicalmente vanguardista em todo o universo heteronímico pessoano, encontra-se nos poemas futuristas, muito influenciados pelo Futurismo europeu (o primeiro Manifesto Futurista, redigido pelo italiano Marinetti, foi publicado em 1909, tendo provocado enorme escândalo) e pelo poeta americano Walt Whitman (a quem, aliás, dedicou um poema). Com efeito, nos longos poemas futuristas (de que a “Ode Triunfal” é o exemplo maior), num estilo torrencial e excessivo, faz-se a apologia da civilização industrial, exaltando-se o progresso, as máquinas, a velocidade, a força, as grandes metrópoles, numa recusa radical da moral humanista e de toda a beleza associada à arte até então produzida pelo Homem. Em última análise, tal como a própria designação do movimento indica, defende-se a recusa do passado humano no seu todo. Associado ao Futurismo, Campos cultiva o Sensacionismo, que vai buscar ao seu mestre Alberto Caeiro, mas acrescentando-lhe o excesso e a euforia desmedida (“sentir tudo de todas as maneiras / Sentir tudo excessivamente”), numa espécie de histeria que se afasta do tranquilo Sensacionismo naturalista de Caeiro.
Como contraponto dos poemas futuristas e sensacionistas, Campos assina também poemas de caráter intimista e melancólico, cujas temáticas se aproximam da poesia de Fernando Pessoa ortónimo. É a fase do cansaço («o que há em mim é sobretudo cansaço», assim começa um dos mais famosos poemas de Campos), do desencanto, do cepticismo, da abulia, do niilismo, que está nos antípodas do entusiasmo afirmativo, vigoroso e eufórico típico do Futurismo. Tal como em Pessoa ortónimo, é recorrente nesta fase o tópico da nostalgia da infância perdida, lugar feliz em que o sujeito coincidiu consigo próprio, anterior à busca do sentido da vida, anterior, pois, à consciência dilacerada de si. Poemas como “Aniversário”, “Esta velha angústia” ou “Todas as cartas de amor são ridículas” são dos mais conhecidos poemas desta tendência.
As marcas compositivas da poesia de Álvaro de Campos são notórias: poemas longos, por vezes muito longos, estrutura estrófica irregular, versos livres (número irregular de sílabas métricas), também normalmente muito longos, ausência de rima (versos brancos). Quanto às características expressivas e estilísticas, são particularmente recorrentes nos poemas futuristas a abundância de apóstrofes, interjeições, fases exclamativas, onomatopeias e palavras onomatopaicas, longas enumerações anafóricas, neologismos e estrangeirismos, paradoxos, metáforas e comparações inusitadas.
Álvaro de Campos