Álvaro de Campos: Fases, Temas e Análise de Poemas

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Álvaro de Campos: O Heterónimo da Sensação e Progresso

Álvaro de Campos é um dos heterónimos mais dinâmicos de Fernando Pessoa, conhecido como o filho indisciplinado da sensação. A sua filosofia de vida, expressa na máxima "Pensa para Sentir", reflete a sua formação em Engenharia Mecânica e Civil e a sua fascinação pela modernidade industrial, simbolizada por referências como "Glaston".

As Três Fases de Álvaro de Campos

É o único heterónimo que apresenta a sua vida literária dividida em três fases distintas:

Fase Futurista de Álvaro de Campos

Na sua fase inicial, Campos encontra as novas sensações, mas chega à conclusão de que, afinal, a máquina não é tudo. Ele percebe que a modernidade e a cidade, embora cheias de máquinas, não proporcionam as sensações puras da infância ou do campo. Apercebe-se das consequências negativas do progresso desenfreado. Por essa razão, volta novamente às antigas sensações, já não conseguindo encontrar novidade. Vê que o ser humano não consegue ter tantas sensações como desejava. Torna-se nostálgico e percebe que pensar dói e custa, o que o leva à angústia.

Transição e Desilusão em Álvaro de Campos

Consequências do Progresso

Contudo, Campos tem consciência de que todo este progresso traz consequências negativas para o homem e para a sociedade.

Exemplos de Expressão Futurista e Sensacionista

A sua poesia reflete essa busca intensa por sensações e a fusão com o progresso, como se vê nos seguintes versos:

“Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões”

“Possuo-vos como a uma mulher bela,”

“Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho! ”

Na estrofe parentética [(…)] dos versos 182-190, encontramos um desabafo triste e descontente do sujeito poético, que lamenta ter perdido o mundo feliz da sua infância passada no campo. A culpa desta perda é atribuída à cidade e ao progresso.

Futurista

Sensacionista

Elementos do Progresso

Sensações

  • “Luz”
  • “Grandes lâmpadas eléctricas da fábrica”
  • “Maquinismos”
  • “Motor”
  • “Grandes ruídos modernos”
  • “Luzes eléctricas”
  • “Rodas”
  • “Motores”
  • “Ferro”
  • “Correias de transmissão”
  • “Carvões”
  • “Óleos”
  • “Dolorosa”
  • “Tenho febre”
  • “Fúria”
  • “Rangendo”
  • “Lábios secos”
  • “Arde-me a cabeça”
  • “Calores”
  • “Poder rasgar-me todo”

Imagem relacionada com a obra de Álvaro de Campos

Ilustração sobre a poesia de Álvaro de Campos

Representação visual da fase de Álvaro de Campos

Contexto literário de Álvaro de Campos

Análise da "Ode Triunfal"

1. Exemplos de Figuras de Estilo

Retire do texto exemplos de:

  • a) Invocações: “Ó fazendas”, “Ó artigos”, “Ó coisas”, “Ó minhas contemporâneas”
  • b) Polissíndeto: “e…e…e…”
  • c) Onomatopeias: “Z-Z-z-z”, “R-r-r-r”
  • d) Palavras Onomatopaicas: “Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferrando”
  • e) Interjeições: “Eia!”, “Huplá, Huplá, Huplá-ho, huplá”
  • f) Estrangeirismos: “Music-halls”, “Canadian-Pacific”, “La Foule”, “Derby”, “soutener”, “cap”

2. Identificação de Figuras de Estilo

Indique as figuras de estilo presentes em:

  • a) “Ferro e fogo e força” – Aliteração e polissíndeto
  • b) “E há Platão e Virgílio dentro das máquinas” – Metáfora e polissíndeto
  • c) “Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferrando” – Enumeração de palavras onomatopaicas
  • d) “Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável” – Quádrupla adjetivação
  • e) “Banalidade interessante” – Antítese, paradoxo (= oximoro)
  • f) “Maravilhosa beleza das corrupções políticas” – Paradoxo
  • g) “Artigos políticos insinceramente sinceros” – Paradoxo
  • h) “A luz do sol abafa o silêncio das estrelas” – Metáfora

Análise de "Começa a Haver Meia-Noite"

1. Sensações Visuais e Auditivas na 3ª Fase

Transcreva sensações visuais e auditivas, referindo a sua relevância tendo em linha de conta as características da 3ª Fase literária de Campos.

Imagem relacionada com o poema Começa a Haver Meia-Noite

2. A Sugestão da Passagem do Tempo

Explique de que modo é sugerida a experiência da passagem do tempo.

A experiência pode definir-se como a de uma lenta passagem do tempo, feita de modo gradual. É sugerida através da ideia de o silêncio se ir instalando progressivamente, com exemplos como “Calar o piano”, “não oiço já passos”, “o rádio está em silêncio”, “um automóvel demasiado rápido”, “os duplos passos” e “o portão que se fecha”. A expressão “começa a haver meia-noite” e a utilização das reticências também contribuem para essa sensação.

A dispersão e nitidez dos “ruídos de rua”, bem como os verbos “escutando” e “esperando” até que o sujeito adormece, reforçam a percepção temporal. A repetição de “qualquer coisa…” no último verso marca a lentidão com que o tempo corre e o vazio que lhe está associado.

3. Sentido do Verso 7

Indique um sentido possível do v7.

Os passos que o sujeito ouve são de duas pessoas que vão a conversar.

4. A Imagem do Sujeito Poético

Descreva a imagem que o sujeito poético dá de si mesmo.

O sujeito sente-se voluntariamente sozinho, algo que quer e deseja, pretendendo a tranquilidade e a paz. Nota-se que já não quer as sensações fortes provocadas pela industrialização e pelo progresso.

  • Sente-se sozinho perante o Universo.
  • Sente-se recluso, como se estivesse preso em casa.

Análise de "Lisbon Revisited (1923)"

Comentário e Ideias Essenciais

Comente o texto, salientando as ideias essenciais expressas pelo sujeito. (100-150 palavras)

O poema "Lisbon Revisited (1923)" insere-se na 3ª Fase de Álvaro de Campos. Nele, o sujeito poético chega à conclusão de que, afinal, a industrialização e o progresso trazem consequências negativas. Por essa razão, afirma que já não quer nada, sendo a única conclusão a morte.

Na terceira estrofe, o eu poético recusa a estética, a moral, a metafísica, as ciências e a arte, ou seja, rejeita as verdades que a sociedade tem para oferecer. Deseja que o deixem sozinho e reivindica o direito à solidão, ao silêncio e à diferença.

Nas últimas estrofes, o sujeito sente saudades da sua infância, que está presente no “céu azul”, no “Tejo” e na Lisboa de outrora. Vê estes elementos com o olhar da sua infância e, ao mesmo tempo, com o olhar do presente. Observamos aqui um encontro com Fernando Pessoa ortónimo, através da nostalgia da infância.

No fim do poema, o poeta volta a referir que, enquanto não morrer, quer estar sozinho.

"Lisbon Revisited (1923)": Análise Aprofundada

Dos textos estudados, este é o primeiro pertencente à terceira fase literária de Campos.

Aqui, encontramos um poeta revoltado e agoniado com o mundo exterior e com o homem social que lhe tentam incutir estéticas, morais e civilizações, as quais ele pretende ver bem longe de si. Após uma fase de um êxtase sensacionista desmedido e eufórico, Campos cai novamente num abatimento ou numa náusea que o fazem ansiar pelo momento de descanso – a morte. Não quer ser incomodado, nem fazer o que os outros querem que ele faça ou ir por onde querem que vá. Ele quer “ser sozinho”, “já disse que sou só sozinho!”, como reconhecia nos textos desta fase. A nostalgia da infância é, de facto, uma constante. Desse tempo e desse espaço irremediavelmente perdidos, o poeta relembra o céu azul, a verdade perfeita, a alegria e a pureza com as quais já não pode conviver. “O Abismo e o Silêncio”, eufemismos metafóricos de morte, são o seu destino.

Análise de "O Que Há em Mim é Sobretudo Cansaço"

A palavra-chave deste texto é, como não podia deixar de ser, “cansaço”. Todo o texto gira à volta dessa palavra, remetendo para o estado de espírito do poeta após a fase da industrialização. De toda aquela euforia, só o cansaço ficou e daí resultou uma angústia existencial que atingiu o poeta, levando-o ao mundo da marginalidade, da incompreensão e da inadaptação ao mundo que o rodeia.

Todos os textos da terceira fase abundam em sensacionismo, tal como dizia Caeiro: a única realidade da vida são as sensações. Apesar de Caeiro e Campos serem os dois poetas sensacionistas, existe uma diferença entre eles. Caeiro é um sensacionista inconsciente, ingénuo, que sente mas não pensa sobre isso; Campos, pelo contrário, pensa naquilo que sente de forma perfeitamente racional, para sentir mais e melhor.

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