O Alvoroço na Cidade: A Tentativa de Assassinato do Mestre de Avis
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Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavam o mestre – Capítulo XI
da Crónica de D. João I de Fernão Lopes – versão aluno
LEITURA DO TEXTO – Do alvoroço que foi na
cidade cuidando que matavam o Mestre, e como lá foi Álvaro Pais e muitas gentes
com ele. (excertos de capítulos da 1ª parte da crónica de D. João I
1.1
1.ª parte – até «… per mandado da Rainha» (l. 26)
2.ª
parte – até «… com prazer de o ver vivo» (l. 65)
3.ª
parte – até ao final
1.2
Na 1.ª parte, o discurso direto reproduz os apelos à população.
Na
2.ª parte, os gritos do povo, exigindo saber o que se passara com o Mestre,
ilustra depois o momento do seu aparecimento e, finalmente, as reações
populares.
Na
3.ª parte, o discurso direto mostra a fidelidade e o contentamento da
população.
2.
Os protagonistas individuais são o pajem e Álvaro Pais.
2.1
As expressões «como já era percebido» (l. 2) e «que estava prestes» (l. 10)
revelam a combinação prévia.
3.
Os adjetivos poderão ser surpreendida, «saíam à rua ver que cousa era» (l. 7),
e alarmada, «alvoroçavam-se nas vontades e começavam de tomar armas (…) e mais
asinha podia» (ll. 8-9).
4. O
primeiro fragmento contém duas comparações, que atribuem à população os
sentimentos e emoções de uma rainha viúva (l.17), que deve salvar quem ficou no
lugar do seu rei. Por outras palavras, esta comparação contribui para a afirmação de uma consciência coletiva,
na medida em que o cronista compara a reação da população, que pega em armas e
vai, juntamente com o Pajem e Álvaro Pais, até aos paços à procura do Mestre,
com a de uma mulher que ficou viúva mas que encontrou um novo marido. Para a
população, o Mestre era o novo marido, ou seja, alguém a quem queriam bem e que
lhes dava segurança. Destaca-se, assim, a proximidade, o carinho que o povo
manifestava pelo mestre de Avis. Tratava-se de um sentimento geral, de uma
consciência coletiva – “se moveram todos com mão armada”.
No segundo (l.27), a metáfora sublinha igualmente o domínio e a comunhão das
emoções.
5. (ll.31
-41) A personagem coletiva é observada de perto e ouvem-se os que garantem que
o Mestre já tinha sido morto, querendo arrombar as portas para entrar no
palácio; outros gritavam por lenha para o incendiarem e matar Leonor Teles e o
Conde; gritavam outros por escadas; uns vinham com lenha e ramos para deitar
fogo ao «paço», muitos insultavam a Rainha
6.1
Começam por ser dominantes a ira, a revolta, o desejo de vingança, de seguida
manifesta-se a desconfiança e, por fim, a comoção e a alegria.
6.2
Constatam o poder da personagem coletiva as passagens «não lhes poderiam depois
tolher de fazer o que quisessem» (l. 48) e «E sem dúvida, se eles entraram
dentro, nom se escusara a rainha de morte, e fora maravilha quantos eram da sua
parte e do conde poderem escapar» (ll. 61-62).
7.1
São exemplos as expressões «que era maravilha de ver» (l. 68), «mal podendo ser
ouvido» (l. 71), «saíam todas às janelas com prazer, dizendo altas vozes».
7.2.
A aproximação do leitor conduz a uma melhor compreensão e maior identificação
com as personagens.
Respostas às perguntas do manualSentidos sobre este excerto, pág. 77
1.O facto de o pajem entrar em cena,
exclamando que matavam o Mestre, fez desenrolar todos os acontecimentos. Na
verdade, a mensagem por si proferida mobilizou todo o povo de Lisboa e
impeliu-o a sair à rua. As suas palavras fizeram também despertar na população
um sentimento de revolta e de grande animosidade em relação àqueles que se
assumiam como os protagonista das tentativas de assassinato do mestre de Avis.
Por isso, o povomuniu-se de armas e, apressadamente em magote, dirigiu-se aos passos da rainha.
2. Para incentivar a população a aderir à
sua causa, no seu pregão, o pajem serve-se da anáfora “Matam o mestre” e do
presente do indicativo, como forma de explicitar que essa era uma situação
real. Utiliza, depois, o imperativo para apelar à intervenção da população:
“Acorrei”.
3. Álvaro Pais relembrou que o mestre era
filho de um rei – o rei D. Pedro – e declarou não haver qualquer razão que
justificasse a sua morte.
4. O povo atribuía a responsabilidade ao
conde João Fernandes, que estaria a cumprir a vontade da rainha.
5. O povo não tinha uma opinião muito
favorável em relação à rainha, pois considerava-a responsável pelo que estava a
acontecer: “dizendo muitos doestos contra a rainha”, Era ainda opinião
generalizada que esta era uma mulher adúltera e traidora: “Ó, que mal fez! Pois
que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a aleivosa com ele!”, pelo que
se desejava a sua morte: “E sem duvida, se eles entrarom dentro, nom se
escusara a Rainha de morte…”
6. Quando o Mestre surgiu à janela, no
início, houve quem duvidasse dessa realidade. No entanto, e depois de o
reconhecerem, todos se regozijaram pelo facto de ele estar vivo e lamentaram
aquilo que acreditavam ser uma traição da rainha.
7. É evidente o afunilamento do espaço
neste excerto, porquanto o mesmo se inicia nas ruas por onde o pajem lança o
pregão, centra-se depois nos paços da rainha e termina focando-se na janela
onde o mestre fez a sua aparição. Fernão Lopes parece, pois, assumir o papel de
um repórter que vai acompanhando o tumulto e o percurso da multidão até chegar
ao local alvo das suas atenções, para depois se deter na janela onde surge a
figura central de todos os acontecimentos.
8. Para a consumação do plano do mestre
de Avis e de Álvaro Pais, o povo assume um papel de extrema importância, na medida
em que era necessária a sua conivência para se executar a morte do Conde de
Andeiro. Assim sendo, foi intencional levar o povo a acreditar que o Mestre
estava a ser vítima de uma traição, para que este se solidarizasse com D. João,
aprovando o seu ato e revoltando-se contra a rainha.