O Amor na Literatura: Conceitos, Gêneros e Exemplos

Introdução ao Amor na Literatura

O amor, um sentimento inerente ao ser humano, é um tema universal que tem sido abordado por diversos autores em diferentes épocas e através de variados gêneros e formas literárias. Apesar da diversidade de visões, é possível reconhecer duas grandes concepções constantes: o amor ideal e o amor sensual.

Concepções do Amor

Amor Ideal

O amor ideal é representado pela função lírica, emocional ou expressiva predominante. Distante do sensual e abstendo-se do contato físico com a pessoa amada, pode ser classificado em amor idealizado ou amor místico.

• Amor Idealizado: Caracteriza-se por projetar a perfeição no objeto de amor, atribuindo características irreais ao ser amado. É o mecanismo que a pessoa emprega para não amar a imagem real do outro ou ter contato físico, mas sim para tornar o ser amado uma fonte de inspiração. Ocorre de forma unilateral e sua existência não depende de ser correspondido (exemplo: Dom Quixote).
• Amor Místico: O objeto do amor é Deus ou um poder superior que proporciona paz e plenitude espiritual. É uma forma de amor claramente ideal, que implica crescimento e uma abordagem de ordem interna à divindade. Em algumas ocasiões, assume formalmente as características de um amor sensual apenas para torná-lo compreensível e mais próximo de pessoas que não o entendem ou não o experimentaram (exemplo: Santa Teresa de Ávila, em "Meu Amor I").

Amor Sensual

O amor sensual, assim chamado por sua relação com os sentidos e também conhecido como amor erótico ou terrestre, refere-se à atração e ao contato físico entre os amantes. Pode ser um amor não correspondido, um amor que se rompeu ou um desencontro. Isso faz com que o amor sensual possa abranger as mais variadas emoções, desde a alegria absoluta até a mais profunda tristeza (exemplo: Romeu e Julieta).

Outras Conotações do Amor

• Amor Filial: É o sentimento que um pai ou uma mãe sente por seu filho e vice-versa.
• Amor Fraternal: É o sentimento dirigido aos membros da família ou amigos próximos (exemplo: César Vallejo, em "Para o Meu Irmão Miguel").
• Amor Não Correspondido e Impossível: As intenções do amante são frustradas, pois ele é incapaz de acessar o objeto de amor, muitas vezes limitado à contemplação à distância e ao silêncio. O amor não correspondido espera um dia se materializar, enquanto no amor impossível os obstáculos são intransponíveis (exemplo: Alfonsina Storni, em "Amor Divino"; Os Sofrimentos do Jovem Werther).
• Amor Destrutivo: Está ligado à destruição e à morte. O amor, neste contexto, encontra dois impulsos: Eros (união, criação) e Thanatos (separação, força destrutiva) (exemplo: William Shakespeare, em Otelo).
• Amor Tirano: Caracteriza-se pela perda da vontade, onde um dos amantes se torna escravo do outro. Está associado à transgressão (exemplo: Madame Bovary).

O Amor nos Gêneros Literários

Lírica

Na lírica, o amor é um tema preferencial, pois a função emocional ou expressiva da linguagem permite a manifestação dos sentimentos do orador. É comum que muitos poemas abordem o tema do amor em diferentes épocas e formas. As obras líricas são escritas em versos, onde a linguagem expressiva do orador revela sentimentos e emoções em relação a um alvo, utilizando figuras de linguagem como personificação, metáfora e epíteto (exemplo: Miguel Hernández, em "Filho da Luz e da Sombra", para o amor filial).

Drama

No drama, as obras são apresentadas por atores em um palco ou espaço de atuação. São escritas em função do diálogo e da linguagem, com duas finalidades principais:

1. Informar sobre o conflito ou a luta entre os personagens protagonista e antagonista, por meio do diálogo entre eles.
2. Fornecer diretrizes para a ação (entrada e saída de atores, movimentos, gestos) ou para a montagem (iluminação, cenografia), através das didascálias.

O amor como caminho de salvação é um tema relevante em obras como Don Juan Tenorio, de José Zorrilla, expoente do amor romântico espanhol. O amor sensual, onde a traição é destrutiva, está ligado à destruição, ciúme e morte (exemplo: William Shakespeare, em Otelo).

Narrativa

As obras narrativas pertencem à prosa e exigem a presença de um narrador (pessoa fictícia que conta a história), a evolução (fatos ou eventos), personagens (entidades fictícias que representam seres humanos na obra) e ambiente (tempo e lugar onde ocorrem os fatos narrados).

• O amor apaixonado, como em O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Brontë (entre Catherine e Heathcliff), está associado à autodestruição, atingindo excessos que assolam a vida de suas famílias e destroem a vida dos protagonistas.
• O amor tirano é outra conotação negativa do amor, como no romance Madame Bovary, onde Emma encontra o amor em outro, comete adultério e se desapega de sua vontade, tornando-se escrava do sentimento. Também está associado à transgressão, neste caso, da fidelidade conjugal.
• O amor impossível, como em Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, contém dois polos: irracionalidade e sanidade, justificando o movimento romântico (irracional) e neoclássico (racional).

O Amor ao Longo da História Literária

• Antiguidade: O amor é apresentado em textos filosóficos, como em O Banquete de Platão.
• Idade Média: Nasceu o conceito do amor cortês, fortemente influenciado pelo pensamento platônico sobre o amor idealizado (exemplo: a lenda celta de Tristão e Isolda).
• Renascimento: Houve uma mudança da concepção medieval para um amor mais humano, no qual o amado já não é tão idealizado (exemplo: A Divina Comédia de Dante Alighieri).