Amor de Perdição: Análise, Contexto e Personagens

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Contexto e Temática Central

  • Publicado em 1862 (Romantismo, século XIX), o livro foi escrito enquanto Camilo Castelo Branco se encontrava preso na Cadeia da Relação do Porto.
  • Os protagonistas possuem um caráter heróico, pois, em nome do amor, ousam enfrentar os preconceitos absurdos das respetivas famílias, bem como a repressão imposta por uma sociedade que valoriza a mediocridade, o materialismo e a hipocrisia em detrimento dos sentimentos sublimes.
  • O autor utiliza a narrativa para justificar a sua própria transgressão das normas sociais, mostrando que a revolta dos amantes é legítima contra um meio que sufoca a liberdade e a felicidade individual através de convenções mesquinhas.

O Triângulo Amoroso e o Conflito Familiar

A ação da narrativa centra-se no triângulo amoroso constituído por Simão Botelho, Teresa de Albuquerque e Mariana.

A Origem do Ódio

Simão era filho do juiz Domingos Botelho e de D. Rita Preciosa. O magistrado era odiado por Tadeu de Albuquerque, pai de Teresa, porque, num litígio, não tomara uma decisão favorável a esta personagem. O azedume entre as famílias adensou-se pelo facto de Simão, num episódio em que espancou vários criados junto a uma fonte, ter ferido também criados de Tadeu de Albuquerque.

A Redenção de Simão e a Repressão de Teresa

Antes de se apaixonar por Teresa, Simão destacava-se pelo seu comportamento violento e arruaceiro. No entanto, o amor tem nele um efeito redentor: abandona a vida boémia e passa a concentrar-se exclusivamente nos estudos, com o objetivo de garantir uma carreira futura e o sustento da família que sonhava.

Contudo, o ódio entre as famílias impede que os jovens fiquem juntos. Tadeu de Albuquerque tenta impor à filha o casamento com o primo, Baltasar Coutinho. Teresa, apesar de ser uma filha afetuosa, enfrenta abertamente o pai, recusando-se terminantemente a casar com um homem que não ama. Como represália, Tadeu de Albuquerque decide enclausurá-la num convento.

João da Cruz: O Protetor Realista

Quando se desloca para Viseu, de modo a estar mais próximo de Teresa, Simão instala-se em casa de João da Cruz, um ferrador a quem o seu pai salvara de uma sentença de morte. Esta figura do povo, de traços marcadamente realistas, funciona como uma figura protetora para o protagonista, contrastando, pela sua dimensão pragmática, com o idealismo do herói. João da Cruz não só hospeda Simão, como lhe salva a vida aquando da emboscada preparada por Baltasar Coutinho.

O Contraste das Mulheres-Anjo: Mariana e Teresa

Mariana, filha de João da Cruz, revela traços característicos da mulher-anjo do Romantismo. Ela entrega-se totalmente à sua paixão por Simão sem esperar nada em troca. O seu amor leva-a a cuidar dele com desvelo maternal, chegando a entregar-lhe, sem que ele o saiba, as suas economias. O seu espírito de sacrifício é tão grande que:

  • Garante a comunicação entre o seu amado e Teresa.
  • Abandona o pai, por quem nutria grande afeto, para cuidar de Simão após a prisão.
  • No fim, abraça-se ao cadáver do amado e morre com ele.

Apesar de Teresa também ter características da mulher-anjo (pela sua pureza, fragilidade e capacidade ilimitada de sofrer em nome do amor), ela contrasta com Mariana. O afastamento de Simão que lhe é imposto converte-a progressivamente numa figura ideal, cuja vida se pauta cada vez mais por uma resistência passiva ao pai e ao primo.

Em contrapartida, Mariana é uma figura bem real, que tem um papel ativo na vida de Simão. O protagonista, ao aperceber-se de que ela o ama, mostra a complexidade das relações e dos sacrifícios envolvidos.

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