Análise Aprofundada das Lendas de Bécquer: Temas e Estrutura
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Primeiramente, é importante esclarecer que, em cada uma de suas lendas neste livro, Bécquer aborda o sobrenatural. Estes temas podem estar relacionados ao amor, ao ódio, à busca do perdão, à procura do ideal ou ao suporte para reconsiderar. Além disso, frequentemente, tanto homens quanto mulheres são levados à destruição, seja pela beleza extrema, seja por um amor tão avassalador que os impele a atos terríveis. Em algumas lendas, Bécquer parece querer que o leitor veja a história como algo que ele já explicou. Isso ocorre nas seguintes lendas: La Cruz del Diablo (ver pág. 157), O Monte das Almas (ver pág. 197), Maese Pérez, o Organista (ver pág. 217), O Miserere (ver pág. 263), A Paixão Rosa (ver pág. 363).
Algumas lendas têm relação com o diabo: a beleza feminina que invoca o diabo, invocações diabólicas para semear o mal, visões que são como os lados do diabo, ou até mesmo belos rostos que ocultam o mal. Em outras, o sobrenatural serve para o bem, como em A Promessa, onde a mão da amada ajuda a superar a morte e o mal, e também serve para lembrá-lo, dia e noite, de uma promessa a cumprir. Ou, em outras, é simplesmente a vida espiritual que não permite que o espírito descanse no túmulo, pois ainda há tarefas a cumprir neste mundo. Por exemplo, na lenda de Maese Pérez, o Organista, o espírito retorna do além para tocar, a cada ano, em seu corpo, na noite de Quinta-Feira Santa. Ou em O Miserere, os sacerdotes da igreja demolida retornam toda sexta-feira para entoar um miserere, buscando o perdão de Deus por não estarem preparados para o Juízo Final. Em outras palavras, não é o sobrenatural, mas um amor exagerado pela pátria ou pela religião que conduz à bestialidade. Tal como na lenda A Rosa da Paixão, onde o pai de Sara, a protagonista judia, mata a filha por ter um amante cristão e confessar um amor a Deus, mesmo sendo de um povo odiado por seu pai, precisamente por ser de outra religião.
Temas Principais nas Lendas de Bécquer
Os temas mais frequentes são os locais de eventos sobrenaturais, as violações das regras do amor, e lendas em que o diabo aparece de várias formas. A seguir, analisaremos os temas das lendas, uma por uma:
A Cruz do Diabo
Nesta lenda, o título já apresenta uma clara antítese: como uma cruz pode ser do diabo? Assim, percebe-se que nesta lenda devem prevalecer as forças sobrenaturais do mal.
A Pulseira de Ouro
A provocação da beleza feminina extrema, a paixão e o amor tão profundos que levam o homem à traição de suas crenças, culminando em sua loucura.
O Monte das Almas
Aqui também se aborda a provocação da mulher que leva o homem à morte, encontrando nela a vida eterna. Elementos sobrenaturais também se manifestam.
Olhos Verdes
Esta lenda narra a história de um homem e sua queda devido a uma visão: uma mulher de beleza estonteante, cujo ponto de fixação são seus olhos verdes fascinantes. Estes revelam-se um rosto do diabo.
Maese Pérez, o Organista
Assim como em O Monte das Almas, aqui também há a presença da vida após a morte. O espírito do homem vive para sempre para fazer o que mais ama.
O Raio da Lua
Aqui vemos como a idealização da mulher perfeita pode levar um homem à loucura.
O Miserere
Trata-se de um homem que, ao buscar o perdão e violar as regras, presencia eventos sobrenaturais que ocorrem em uma igreja, levando-o à loucura.
O Beijo
O beijo que dá título à lenda é a ação que um homem tenta dar em uma estátua de uma mulher morta, sendo derrubado pela estátua do marido dela.
Personagens nas Lendas de Bécquer
Nesta seção, é importante mencionar que Bécquer, em algumas lendas, aparece como o narrador da história. Os personagens das lendas são sempre pessoas, diferentemente das rimas, onde por vezes elementos da natureza são dotados de características humanas. Às vezes, os personagens podem ser faces do diabo ou o próprio diabo. Mas geralmente são pessoas normais, com suas características e pontos de fraqueza. Em outras lendas, como A Pulseira de Ouro, os protagonistas são um casal, assim como em A Promessa. Ou podem ser um casal, ou seja, homem e mulher sem vínculos reconhecidos, como na lenda O Monte das Almas, em que os personagens são Beatriz e Alonso, dois primos. Ou casais onde um dos dois é de carne e osso e o outro é uma visão, ou mesmo uma simples falha de visão que leva à criação de uma mulher ideal através da imaginação. No primeiro caso, um exemplo seria a lenda Olhos Verdes; no segundo, O Raio da Lua. Há também lendas em que o protagonista é um homem, que depois se torna um espírito. Consulte a lenda de Maese Pérez, o Organista, para comprovação.
O Narrador nas Lendas de Bécquer
O narrador age de forma diferente dependendo da parte da lenda. No prólogo, o narrador geralmente está em primeira pessoa ou, em alguns casos, quando o prólogo é introduzido no corpo da história, está em terceira pessoa. No corpo da história, o narrador é mais frequentemente onisciente em terceira pessoa, embora em algumas lendas ele alterne entre a primeira e a terceira pessoa, como em A Cruz do Diabo. E os epílogos, nem sempre presentes, são narrados na primeira ou terceira pessoa, independentemente da lenda.
Tempo e Espaço nas Lendas de Bécquer
Bécquer situa as cenas de suas lendas em conventos, cemitérios, igrejas abandonadas ou demolidas, castelos, túmulos, etc. Em diversas cidades, sendo Toledo a mais frequente, mas também Bellver, Soria, etc. As lendas referem-se a tempos muito antigos, da Idade Média, para ser exato, mas por vezes também a períodos mais próximos e, ocasionalmente, a épocas mais específicas, como quando ele cita um período em que os mouros ainda dominavam grande parte da Espanha. Ou quando ele cita um dia específico, por exemplo: a Noite de Todos os Santos, Quinta-Feira Santa, etc.
Conclusão da Análise das Lendas
Nas lendas, Bécquer dá uma reviravolta total em comparação às rimas, que abordavam o amor (correspondido ou não), a morte, o sofrimento, a amargura, etc. Nas lendas, ele se volta completamente para o espiritual, para a vida após a morte, em suma, para o sobrenatural. Tudo pode ser comédia ou tragédia, dependendo do gosto do leitor, mas tudo é um castigo, uma punição, mesmo nos casos menores. Parece que o autor projeta seus infortúnios nas lendas, suas experiências, seus maus hábitos, e lhes confere um toque de crueldade. Como eu disse, a partir de agora, a intenção é realçar isso, pois não se pode falar muito sobre este assunto sem saber como a vida dele realmente foi e o que ele fez dela.
Estrutura das Lendas de Bécquer
As estruturas são abordadas de duas maneiras. Primeiro, examinaremos a estrutura externa, que busca o prólogo, o corpo da história e o epílogo (se houver). O que se entende por estrutura interna são as diferentes partes da lenda, os eventos que ocorrem. Começando pela estrutura externa, existem dois tipos: aquelas que contêm apenas o prólogo e o corpo da história, como nas lendas A Cruz do Diabo, A Pulseira de Ouro, Olhos Verdes e O Beijo. E aquelas que são compostas por prólogo, corpo da história e, finalmente, um epílogo. Estas seriam as demais. Falando das estruturas internas, trata-se de uma composição que pode consistir em várias partes: uma explicação da lenda onde são apresentadas as regras, proibições, promessas, juramentos, etc.; a violação dessas normas (não cumprir uma promessa, um juramento, trair a religião, etc.); e, finalmente, a punição do infrator, de diversas formas, como o fim de sua vida ou a loucura.