Análise da "Corpus Christi em Sevilha" (Suíte Iberia)

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Análise de "Corpus Christi em Sevilha" (Suíte Iberia)

Introdução

A peça "Corpus Christi em Sevilha", da suíte Iberia de Isaac Albéniz, retrata a procissão religiosa homônima. Sua análise revela como Albéniz utiliza elementos musicais para evocar a atmosfera e os eventos da procissão.

Ritmo e Compasso

O ritmo binário, regular e constante, em compasso 2/4, simula a marcha da procissão. A indicação Allegro grazioso sugere um andamento moderadamente rápido e gracioso. A seção dos sinos mantém o compasso 2/4, enquanto a seção do ferrolho muda para 4/4, com um rubato molto e fermatas a cada dois compassos, criando um ritmo mais livre e expressivo.

Melodia

A melodia principal, derivada da canção folclórica La Tarara, possui um padrão simétrico em dois períodos de oito compassos. A interpretação staccato inicial confere um ar impassível, representando a marcha dos militares. A melodia da seção da seta, por sua vez, soa solene e expressiva. As nuances, cuidadosamente indicadas na partitura (molto vaga, borrada, molto dolce, molto distante), funcionam como marcações cênicas.

Harmonia e Tonalidade

A melodia é harmonizada em Fá sustenido menor, mas mantém um caráter modal, típico de canções folclóricas antigas, evidenciado pela sétima não alterada.

Textura

A textura predominantemente homofônica, com melodias harmonizadas, apresenta momentos de transparência, à la Scarlatti, com leves sugestões de contraponto (compassos 7 e 8 do tema principal). O tratamento dinâmico e tenso, com dissonâncias por acúmulo de segundas maiores e menores, possivelmente representa a sonoridade estridente de uma banda processional.

Seção do Ferrolho

A seção do ferrolho traz uma textura homofônica diferente, com "envelope harmônico" ao estilo Chopin, com longos arpejos e acordes em oitavas representando o toque dos sinos.

Timbre e Orquestração

Embora escrita para piano, a peça explora os recursos tímbricos do instrumento para criar efeitos descritivos. O ritmo inicial representa os tambores, as dissonâncias na melodia principal evocam a banda processional, e os acordes em semicolcheias sugerem a agitação da multidão. A melodia do ferrolho em oitavas imita a solenidade dos trombones. O final, com um sotaque molto distante sobre um pedal em Fá sustenido, evoca o silêncio da noite andaluza.

Forma

A peça possui uma estrutura ABA, com uma breve introdução de oito compassos e uma coda. A repetição de A é elaborada e termina com uma transformação em 3/8 (não perceptível na gravação, por ser incompleta).

Gênero e Período Artístico

A peça se enquadra no gênero instrumental descritivo e no período do nacionalismo musical (primeira década do século XX). A descrição detalhada da procissão, com seus diversos episódios (início da bateria, entrada dos militares, seta, sinos, multidão, procissão que se perde na distância), reforça seu caráter programático.

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