Análise Criminal: Tipos, Conceitos e Estatísticas

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Aula 04: Análise para Identificação de Padrões

1. Quais os tipos de Análises para Identificação e Descrição de Padrões?

As três abordagens mais comuns são: Análise de Modus Operandi, Análise Temporal e Análise Espacial.

Análise de Modus Operandi (MO)

A Análise de Modus Operandi (MO) utiliza as informações a respeito do comportamento do criminoso durante o cometimento do delito. Busca identificar características comuns de comportamento do criminoso nos eventos criminais que esteja analisando, reunindo-os para a identificação de padrões. O MO não é determinante para a identificação de padrões de crime. Ele deve ser utilizado em conjunto com outras fontes de dados, de modo a aumentar o nível de precisão das predições que se esperam do analista.

Análise Temporal

A Análise Temporal utiliza dados D/H/L (data, hora, local) para identificar características comuns aos eventos relativas aos dias, horários e locais do crime. A Análise de Séries Temporais pode ser realizada por meio do exame de:

  1. Hora exata de ocorrência;
  2. Dia da ocorrência;
  3. Intervalo de horas ou dias entre os eventos;
  4. Distribuição percentual de crimes por horários e dias da semana.

Cada uma dessas técnicas impõe ao analista o conhecimento de estatísticas e o uso de ferramentas de software especializado para apoio à análise (BOBA, 2009).

Análise Espacial

A Análise Espacial é o estudo do crime a partir de suas características geográficas (BOBA, 2009), ou seja, em relação ao lugar onde ocorre. Utiliza ferramentas visuais, os mapas, para representar neles as concentrações dos crimes segundo o critério ou dado que se esteja utilizando.

2. Por que o tipo de Análise para Identificação e Descrição de Padrões Modus Operandi (MO) não é determinante para a identificação de padrões de crimes?

Isso ocorre porque é comum que os dados coletados em campo, particularmente por testemunhas afetadas emocionalmente pelos fatos, possam estar equivocados, imprecisos, sub ou superdimensionados ou, ainda pior, podem tratar-se de relatos destinados a desviar a atenção de policiais, na hipótese de que a testemunha também faça parte do esquema de delitos (BOBA, 2009).

Aula 05: Análise Criminal Estatística e Tendências

3. Conceito de Análise Criminal Estatística.

É o estudo dos problemas de crime e outras questões relacionadas à segurança pública para determinar padrão de atividades de longo prazo [tendências], bem como para avaliar os procedimentos e a responsividade das organizações de segurança pública. (BOBA, 2009)

4. Conceito de tendência?

De acordo com Houaiss (2009), tendência é a evolução de algo num determinado sentido; direção, orientação. Para os analistas criminais, o conceito de tendência, além de ter o mesmo sentido do conceito proposto por Houaiss, também indica a existência ou não de um determinado problema, sendo o conceito de problema essencial no âmbito da Análise Criminal Estratégica.

5. Definição de problema?

Segundo Boba, problema pode ser definido como um conjunto de atividades criminais relacionadas que ocorre durante vários meses ou anos, podendo incluir múltiplos padrões de crime.

6. Qual o objetivo da análise de tendência?

Segundo Bruce (2008), o analista desenvolve uma análise de tendência para descobrir três importantes questões:

  • Existe um problema?
  • Qual é o problema?
  • Quanto do problema existe?

7. Ao fazer a identificação de problemas em uma área, comunidade, cidade ou região, o que deve ser levado em conta pelo analista?

Como alerta Bruce (2008), é necessário que o analista tenha em conta que:

  • As tendências de crime que se configuram em um problema podem surgir sob diferentes formas. O analista, todavia, deve estar atento inicialmente para as alterações nas quantidades dos fenômenos ao longo do tempo, particularmente se os números estão subindo ou se estão acima da média relatada em uma dada série histórica de referência (ex: em comparação com o mesmo mês do ano anterior; em comparação com os cinco anos anteriores, etc.).
  • Um aumento nas taxas de um determinado crime em um dado momento (no último mês, por exemplo), é sinal de que uma análise profunda do problema deva ser conduzida, por meio de um exame dos dados a respeito do problema em um prazo não inferior a seis meses.
  • Se houver um aumento de registro de um determinado tipo de crime por um período não superior a uma ou duas semanas, é conveniente que o analista conduza uma análise do tipo tática em busca de possíveis padrões.
  • O analista deve ter atenção não somente às quantidades de um determinado tipo de crime, mas também ao tipo de vítima e/ou o modus operandi. O exemplo típico é quando a quantidade total de um tipo de crime se mantém estável ao longo do tempo, porém há mudanças no tipo de vítima ou no comportamento dos criminosos.

8. Ao realizar uma análise de tendências de crime, que perguntas a analista tenta responder por meio dos dados que tem disponível?

Segundo (BRUCE, 2008) são elas:

  • Qual a natureza e extensão do problema, ou seja, qual o tipo de problema identificado e a quem ele afeta?
  • Quantos registros existem?
  • Quantos locais (residências, lojas, etc.) e/ou pessoas já foram vitimizadas? E quantas não foram?
  • Qual a taxa de vitimização (ex.: número de roubos por cada 1.000 pessoas; número de furtos em veículos em estacionamentos pela quantidade de estacionamentos existentes na área, etc.)
  • Quais as diferenças entre os locais sem problemas e os com problemas na área em exame?
  • Qual a proporção de crimes está associada a locais repetidos?
  • Que prejuízos estão associados com o problema em estudo em termos de custos, danos ou outros na percepção da comunidade?
  • Há quanto tempo o problema existe?
  • Quando o problema ocorre?
  • Quem são os criminosos ou desordeiros? Qual a porcentagem dos criminosos ou desordeiros contumazes?

9. Quais as diferenças marcantes entre a Análise Criminal Tática e a Análise Criminal Estratégica?

A diferença marcante entre a Análise Criminal Tática e a Análise Criminal Estratégica reside no espaço temporal com que ambas lidam. A primeira trabalha com curtos intervalos de tempo (dias, semanas, meses), buscando encontrar recorrências de data, hora, local, modus operandi e vitimização que possibilite a identificação de um padrão. A segunda utiliza grandes quantidades de dados tanto em número de registros quanto de intervalo de tempo (um ano ou mais), buscando identificar problemas recorrentes (séries, padrões, etc.) que estejam aumentando em termos de quantidade em comparação a períodos anteriores.

10. Quais as principais fontes de dados para a Análise Criminal Estratégica e para a Análise Tática?

A Análise Criminal Estratégica, tal como a Análise Tática, tem nos dados dos sistemas de segurança pública suas fontes primárias e utiliza-os em séries temporais de no mínimo dois anos, para fins de comparação. Outra vez, a fonte mais comum continua sendo a de registros de ocorrências e a de chamadas de emergência (190). Outras importantes fontes de dados para a análise estratégica são as prisões efetuadas e os registros de infrações de trânsito, bem como os dados políticos, econômicos e sociais das áreas sob análise. O exame desses dados e de outros disponíveis permite ao analista estratégico uma visão mais global do problema, um olhar de cima, o que lhe dá uma percepção de futuro mais aproximada.

11. Conceito de Frequência:

É o número de todas as observações de uma variável com a qual estejamos trabalhando. É uma forma de organizar os dados de maneira a se ter uma visão do todo, sem precisar individualizar cada dado, particularmente se estivermos lidando com grandes conjuntos de dados.

12. Por que o uso de estatísticas, no caso, frequências, apesar de ser muito usual na Análise Estratégica, não pode ser a única forma de descrever o problema?

Pelas razões já analisadas no documento Estatística de Criminalidade: Manual de Interpretação (SSPSP, 2005) e pelas demais seguintes:

  • Apenas porque uma determinada área ou setor detém a maioria dos registros de ocorrências não quer, necessariamente, dizer que tal área é a pior entre as examinadas. O volume de ocorrências de uma dada localidade pode ser influenciado por diversos fatores, entre eles, uma comunidade participante que reporta mais ocorrências que outras.
  • Na comparação de unidades similares, a frequência tende a distorcer o problema. Por exemplo, ao comparar uma área de 320 km2 e 300.000 habitantes com uma de 32 km2 e 10.000 habitantes como se fossem similares.
  • Variáveis com um grande número de categorias geralmente dificultam o uso de distribuição de frequência. Nesse caso, o adequado é criar categorias de agrupamento para facilitar a organização dos dados.
  • Variáveis cujas frequências sejam muito baixas podem induzir a análises e interpretações equivocadas.
  • Se houver um grande número de categorias a apresentar, o leitor pode ter as mesmas dificuldades de interpretação para qual se alertou anteriormente.

Aula 06: Indicadores, Taxas e Média

13. Quais as formas de se fazer uma comparação entre grandezas?

Quando se quer fazer uma comparação entre grandezas, pode-se fazê-la por meio de três tipos de indicadores: índices, coeficientes ou taxas.

Um indicador (taxa, índice) é uma medida de natureza quantitativa que serve, em geral, para operacionalizar um conceito, ou seja, torná-lo observável e mensurável. São formas de se avaliar determinadas realidades, contextos e tendências.

  • O índice é utilizado quando se quer comparar duas grandezas independentes uma da outra (MARTINS & DONAIRE, 1990).
  • O coeficiente é um indicador utilizado na comparação de duas grandezas, onde uma está contida na outra (MARTINS & DONAIRE, 1990).
  • Conforme explicam Martins e Donaire (1990), a taxa é o mesmo que o coeficiente, porém sendo multiplicada por 10n (10, 100, 1000, 10.000, etc.) para que se torne mais inteligível.

14. Quais as qualificações que um bom indicador deve atender?

Um bom indicador deve atender às seguintes qualificações:

  • Ter valor próprio, ou seja, ser objetivamente quantificável.
  • Ser capaz de mostrar resultados, medindo, de fato, o que se propõe a medir.
  • Medir o que é importante de ser medido.

15. Qual a importância da média?

A média é a medida de tendência central mais utilizada, embora ela possa sofrer influência de valores extremos. Se houver valores muito altos ou muito baixos, é possível que a média não seja a melhor expressão dos valores típicos de um conjunto de observações, devendo-se empregar alguns artifícios estatísticos ou outra medida de tendência central como a Mediana e a Moda (DANCEY & REIDY, 2006).

16. Quais os recursos utilizados pelo analista criminal na Análise Espacial de Problemas?

O analista poderá utilizar-se tanto de dados estatísticos apresentados em diferentes tipos de mapas para demonstrar resultados agregados de crimes e desordem, ou pode utilizar-se da localização exata de cada incidente para identificação de hot spots ou clusters de atividade criminosa.

Aula 07: Análise Criminal Administrativa (ACA)

17. Conceito de Análise Criminal Administrativa.

É a apresentação dos resultados de um estudo ou pesquisa sobre crime, baseados em preocupações legais, políticas e práticas, para informar diferentes públicos sobre o que lhes interessar sobre o crime e desordem (BOBA, 2009).

18. Quais os principais tipos de Análise Criminal Administrativa?

Entre os possíveis exemplos de tais documentos estão:

  • Relatórios sobre alterações demográficas nas áreas consideradas.
  • Pesquisas sobre crime e desordem durante períodos de aplicação de leis especiais.
  • Estatísticas de crime para dar suporte a projetos de financiamento de governo.
  • Relatórios sobre crimes encaminhados ao sistema nacional de estatística.
  • Apresentações para os gestores policiais, governo e comunidade.
  • Criação de mapas para o planejamento de operações durante eventos especiais.
  • Boletins de Análise Criminal para distribuir aos policiais de linha.

19. Qual o objetivo da Análise Criminal Administrativa?

Tem como objetivo alertar e informar as possíveis vítimas com informações que deverão ser esclarecedoras, além de fornecer detalhes, modus operandi, características dos suspeitos, vítimas, aos policiais de linha.

Nesse caso, interessa fornecer informação geral sobre onde e quando os crimes têm ocorrido, como estão sendo cometidos e que medidas de segurança e alerta as pessoas afetadas devem tomar. Sendo assim, a ACA pode ser elaborada e fornecida aos diferentes públicos por diversas razões, dentre elas:

  • Informação: Informar às pessoas dados sobre crimes, desordem e outras atividades criminosas em uma área geográfica particular.
  • Alerta: Alertar sobre situações específicas de crime e desordem ou eventos especiais de importância imediata para as pessoas das áreas afetadas.
  • Policiamento Comunitário: Oferecer informação útil aos cidadãos ou a grupos específicos de uma comunidade que estejam trabalhando em conjunto com a polícia para prevenção de crime e desordem no local.
  • Prevenção Criminal: Informar os cidadãos ou grupos específicos sobre padrões de crime ou problemas existentes na comunidade e recomendar atenção e medidas de segurança às potenciais vítimas.
  • Tomadas de Decisão: Fornecer informação para a própria organização policial, para outras agências de governo e gabinete de governo sobre diferentes questões (ex.: avaliação da efetividade do uso de câmeras) que possam ser úteis no processo de planejamento e tomada de decisão.

20. Que fatores o analista ou os demais policiais devem levar em conta quando do fornecimento de informações?

O analista ou os demais policiais devem levar em conta os três principais fatores que determinarão o que informar: o público, o propósito e o contexto.

21. Quais os itens básicos recomendados independentemente do modelo de documento de análise criminal adotado?

Os itens básicos que podem constar de tais documentos são os seguintes:

  • Introdução: onde o relatório informa sua finalidade e objetivo, se necessário caracteriza a área ou localidade que será objeto de seu exame e dá uma ideia prévia de seu conteúdo.
  • O Problema: onde o relatório apresenta o problema de maneira clara e agrega informações gerais que o identificam, caracterizam e dimensionam, como tabelas e gráficos, por exemplo.
  • Análise Temporal: na qual informa a frequência com que o problema ocorre, os padrões temporais (hora, dia, mês, ano), bem como a dinâmica de sua ocorrência ao longo do período examinado, entre outras informações consideradas relevantes.
  • Análise Espacial: apresentando a dinâmica do problema por meio de mapas temáticos que indicam incidências e concentrações.
  • Vitimização: indicando locais de vitimização e caracterizando as potenciais vítimas do problema e quais os possíveis impactos sobre elas.
  • Vitimização Repetida (Revitimização): informando a recorrência do problema sobre tipos específicos de vítimas ou alvos.
  • Modus Operandi: dos ofensores ao realizar o ato criminoso, indicando forma de acesso à vítima, características e particularidades da abordagem, características físicas. Quando se tratando de crimes contra o patrimônio, informar características dos locais (se comércio, residência, etc.) pontos e métodos de entrada, tipo de objetos retirados do local.

22. Quais as razões que levam os órgãos de segurança pública a utilizarem a internet?

As razões que levam uma organização de segurança a utilizar a Internet como meio de disseminação de informações são inúmeras. Segundo Boba (1999) e Wartell e McEwan (2001), entre essas razões estão:

  • Uma forma de redução da carga de trabalho de analistas criminais que têm, entre suas atribuições, a de responder aos questionamentos dos cidadãos sobre crime e desordem em suas respectivas comunidades;
  • Evitar responder perguntas do tipo “tal bairro é seguro?” que implicam em julgamentos de valor, provendo estatísticas e informações que possibilitem aos cidadãos tirarem suas próprias conclusões;
  • Aumentar o nível de conscientização da comunidade para os problemas de crime e desordem e encorajar os cidadãos a se envolverem na solução dos problemas de suas comunidades;
  • Manter o público informado e dessa forma possibilitar que os cidadãos entendam como a polícia está tratando ativamente dos problemas;
  • Compartilhar informação sobre problemas de crime e desordem com acadêmicos e pesquisadores, oferecendo-lhes condições para que possam conduzir pesquisas sobre tais problemas;
  • Compartilhar informação sobre padrões e problemas de crime e desordem com outras organizações de segurança pública, de modo a identificar soluções conjuntas para problemas comuns;
  • Assegurar que os cidadãos tenham acesso fácil a informações precisas sobre crime e desordem.

23. Apesar das vantagens da utilização da internet pelos órgãos de segurança pública, quais os possíveis problemas ela pode trazer?

Problemas que devem ser avaliados e evitados constantemente, dentre eles, os seguintes:

  • Uso comercial indevido de informação disponível nos sítios oficiais da organização de segurança pública para fomentar a venda de produtos de segurança empresarial ou residencial, tais como alarmes, seguros, etc., com base em estatísticas criminais.
  • Uso, por criminosos, de informações sobre áreas policiadas, operações policiais, áreas vulneráveis, etc.
  • Consequências danosas possíveis decorrentes de informações da polícia sobre determinadas comunidades que venham a produzir desvalorizações de imóveis ou aumentar os valores de seguros imobiliários.
  • Interpretação equivocada de informações complexas divulgadas nos sítios oficiais.

24. Quais as informações recomendáveis de se divulgar em websites pelos órgãos de segurança pública?

  • Definições de termos para que os cidadãos tenham uma clara visão a respeito da informação que está sendo divulgada.
  • Informações demográficas a respeito das diferentes áreas de responsabilidade das organizações de segurança pública.
  • FAQ (Frequently Asked Questions), onde a organização policial oferece respostas prontas sobre perguntas comumente formuladas pela população sobre questões de crime e desordem.
  • Publicações, apresentações e artigos elaborados por policiais e outros especialistas, sobre questões relevantes para a segurança pública.
  • Informações para contato com a organização policial, bem como formulários para perguntas.
  • Links interessantes de informação e serviços que podem ser acessados pela comunidade.

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