Análise Estrutural e Temática de O Amor nos Tempos do Cólera

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Estrutura Narrativa e Conteúdo de O Amor nos Tempos do Cólera

Estrutura narrativa e conteúdo de O Amor nos Tempos do Cólera.

1. Estrutura e Conteúdo da Narrativa

A estrutura e o conteúdo estão intrinsecamente ligados à pergunta: por que o autor escolheu este título para esta história?

1.1. Conteúdo: O Triângulo Amoroso

A narrativa conta a história de um triângulo amoroso entre os personagens principais: Fermina Daza, Juvenal Urbino (marido de Fermina) e Florentino Ariza (eternamente apaixonado por Fermina por mais de 53 anos, 7 meses e 11 dias).

Aos 13 anos, Fermina e Florentino se encontram e iniciam um relacionamento epistolar intenso de quatro anos, que ela rejeita posteriormente. Aos 21 anos, ela se casa com Juvenal, com quem vive por 51 anos. Quando Juvenal morre, Fermina e Florentino retomam seu amor, apesar da idade avançada (72 e 76 anos, respectivamente).

1.2. O Amor como Tema Central

O título revela que o que se narra é uma história de amor. O amor sustenta toda a estrutura da história e justifica cada uma de suas páginas. Ele aparece em todas as formas possíveis, com intensidade variável:

  • Por um lado, fala-se do amor idealizado, em parte platônico, na juventude de Florentino e Fermina. É o amor da cintura para cima.
  • Por outro lado, podemos descrever o segundo evento emocionalmente como o amor da cintura para baixo. Ele se manifesta de forma sexual. É o tipo de amor que preenche o vazio na vida de Florentino enquanto ele "espera" por Fermina. Este amor da cintura para baixo também arrasta o Dr. Urbino para o caso com Lucrecia.

O amor professado por Florentino e Fermina se reflete nas cartas de amor intensas e ardentes trocadas durante a juventude. Muitos anos mais tarde, na maturidade mais sólida, Florentino recupera a necessidade de expressar seus sentimentos nas cartas. O amor sexual, dirigido pela curiosidade, vive em termos absolutos, como o início e o fim. O amor na velhice será um amor eterno.

1.3. Cólera: Doença e Ira

O título indica que a história se passa "em Tempos de Cólera". O romance narra como as epidemias de peste devastaram a área, enquanto os dias e as horas passavam sem perturbar Fermina e Florentino, que se entregavam ao amor, consumindo o tempo inconscientes dos acontecimentos diários. No entanto, a região estava sangrando impotente:

  • O pai de Fermina havia morrido na epidemia de cólera que atingiu a população asiática seis anos antes.
  • O encontro de Juvenal com Fermina, que se sentia doente, com raiva.
  • A jornada sem fim pelo rio (a viagem de Florentino e Fermina), coberta pela bandeira que indica que aqueles que navegavam tinham contraído essa enfermidade.

A palavra "cólera" também aparece referindo-se à "ira" ou "raiva". O restante refere-se à epidemia. A ira (raiva, ódio, fúria) é aludida duas vezes:

  1. O amor de Fermina e Florentino sobrevive à ameaça da doença, mas também à ira de Lorenzo Daza.
  2. Quando o cadáver do Dr. Urbino está diante dos visitantes, Fermina "teve de se render à intransigência da morte".

Em suma, o título do romance nos permite discutir e analisar o conteúdo da obra.

2. A Estrutura, Sequência, Tempo e Espaço

O romance possui uma estrutura horizontal no conteúdo, já que cada capítulo é uma extensão do anterior, enriquecendo o conjunto. No entanto, a estrutura é em forma circular: o primeiro capítulo continua no sexto, fechando o livro. A concepção do tempo e o foco nos números são os critérios estruturais:

  • A primeira sequência narrativa apresenta um arranjo linear dos fatos, considerando o último dia da vida de Juvenal Urbino. No entanto, apenas no final do capítulo, com o aparecimento de Florentino Ariza, percebemos que a sequência é um princípio "in medias res".
  • As quatro sequências narrativas centrais são um olhar para o passado que nos fará compreender o conteúdo das últimas páginas do primeiro capítulo. Elas têm um tempo claramente definido:
    • A segunda sequência inicia a história: os primeiros encontros de Fermina e Florentino e os segredos de seu amor.
    • A terceira nos conta o amor de Juvenal e Fermina e como eles se casam.
    • A quarta e a quinta sequências seguem o fio da vida dos três vértices desta história de amor, o caminho para seus destinos, unindo Juvenal e Fermina e afastando Florentino.
  • Finalmente, a sexta sequência narrativa retoma a história onde paramos no primeiro capítulo.

2.1. O Tempo Narrativo

Em geral, o enredo não segue o tempo linear, pois o romance apresenta a história sequenciada com eventos que não seguem o padrão convencional: "No começo... Então... Finalmente...". Não: o tempo não flui através do caminho do fluxo natural de São Paulo. A concepção do tempo na novela se torna a pedra angular. Podemos distinguir as seguintes dimensões:

  • O tempo interno dos fatos, determinado pela quebra da linearidade a que nos referimos.
  • O tempo histórico, quando ocorrem eventos externos aos descritos. Há inúmeras referências ao período em que se desenvolvem. Há alusões à Guerra dos Mil Dias colombiana, assistimos à lembrança do primeiro navio no rio... os eventos históricos estão acontecendo (o cinema, o mundo, as guerras entre conservadores e liberais, a cólera...) para ancorar a ficção na realidade.

Além disso, muitos aspectos da ficção têm por base a biografia do autor (Viver para Contar): seu avô materno, o fato de sua mãe não querer se casar com seu pai (conquistador telegrafista, filho de mãe solteira) e, para esquecê-lo, ter sido enviada para fora da cidade.

2.2. O Espaço Geográfico

O espaço é tratado de forma semelhante ao tempo, configurando-se também como um elemento estrutural, embora não seja tão relevante quanto o tempo. A ação se passa na cidade colonial que foi a mais próspera do Caribe no século XVIII, notavelmente por ser o maior mercado de escravos africanos nas Américas. Não podemos dar um nome específico à cidade, mas sim aos lugares abrangidos nas viagens feitas por vários personagens:

  • Eles se mudaram para a Serra Nevada, depois de alguns dias se estabeleceram em Valledupar e, após três meses, passaram por Riohacha, onde permaneceram um ano e meio. Esta viagem foi uma dissuasão para Fermina, forçando-a a ficar longe de Florentino, mas a distância foi salva pelo milagre do telégrafo.
  • Também encontramos as portas do rio Magdalena, que se encaixam na jornada final. Os passeios de barco levarão a uma libertação de Fermina.
  • Viagens à Europa (Roma, Paris, Londres) implicarão estímulos que aumentam sua verdadeira felicidade conjugal, ou melhor, quando a primeira crise ocorre, o casal embarca novamente para resolvê-la.
  • As viagens ao longo do rio Magdalena, sendo a primeira feita por Florentino sozinho. Incapaz de fugir de Fermina, ele logo voltará à cidade. Ele repete a mesma viagem (com um ambiente e uma paisagem totalmente desolada), desta vez acompanhado por Fermina, e as experiências, portanto, serão muito diferentes. Duas viagens idênticas, mas com elementos distintos.

Isso decorre de uma narrativa dominante, que não deixa seus personagens se expressarem. Há poucos diálogos que encontraremos.

3. Elementos Narratológicos Chave

Para resumir a narratologia da obra:

  • Narrador: Onisciente (terceira pessoa), para trazer realismo ao texto.
  • Espaço: Caribe Real, não inventado.
  • Tempo: Flash-back, pois a cronologia linear de cerca de três anos ocorre apenas entre os capítulos 1 e 6.
  • Humor: É um dos temas-chave da história, humor inteligente, às vezes beirando a ironia e o sarcasmo. García Márquez o usa para diminuir o momento sublime com a mão.
  • Temas Principais: O amor e a morte, mas também a solidão. Todos os personagens estão sós e superam seu próprio isolamento.

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