Análise de "Felizmente Há Luar!": Estrutura e Alegoria
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Tempo Dramático e Histórico
- Tempo Histórico: Século XIX (1817).
- Tempo da Escrita: 1961, época dos conflitos entre a oposição e o regime salazarista.
- Tempo da Representação: 1h30m a 2h.
- Tempo da Ação Dramática: A ação está concentrada em 2 dias.
- Tempo da Narração: Informações respeitantes a eventos não dramatizados, ocorridos no passado, mas importantes para o desenrolar da ação.
Espaço Físico e Social
- Espaço Físico: A ação desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores, mas não há nas indicações cénicas referência a cenários diferentes.
- Espaço Social: Meio social em que estão inseridas as personagens, havendo vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens.
O Título: "Felizmente Há Luar!"
O título da peça aparece duas vezes ao longo da obra, ora inserido nas falas de um dos elementos do poder – D. Miguel – ora inserido na fala final de Matilde. É curioso e simbólico o facto de o título coincidir com as palavras finais da obra, o que desde logo lhe confere circularidade.
- Página 131 – D. Miguel: Salientando o efeito dissuasor das execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se torne num exemplo.
- Página 140 – Matilde: Na altura da execução, são proferidas palavras de coragem e estímulo, para que o povo se revolte contra a tirania.
Num primeiro momento, o título representa as trevas e o obscurantismo; num segundo momento, representa a caminhada da sociedade em busca da liberdade.
Como facilmente se constata, a mesma frase é proferida por personagens pertencentes a mundos completamente opostos: D. Miguel, símbolo do poder, e Matilde, símbolo da resistência e do antipoder. Porém, o sentido veiculado pelas mesmas palavras altera-se em virtude de uma afirmação dar lugar a uma eufórica exclamação.
Para D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem mais facilmente o clarão da fogueira. Isso faria com que elas ficassem atemorizadas e percebessem que aquele é o fim último de quem afronta o regime. A fogueira teria um efeito dissuasor.
Para Matilde, estas palavras são fruto de um sofrimento interiorizado e refletido; são a esperança e o não conformismo nascidos após a revolta, a luz que vence as trevas, a vida que triunfa da morte. A luz do luar (liberdade) vencerá a escuridão da noite (opressão) e todos poderão contemplar, enfim, a injustiça que está a ser praticada e tirar dela ilações.
Há que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não à opressão e à falta de liberdade; há que seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.
Análise das Personagens Chave
GOMES FREIRE: Protagonista, embora nunca apareça, é evocado através da esperança do povo, das perseguições dos governadores e da revolta da sua mulher e amigos. É acusado de ser o grão-mestre da maçonaria, estrangeirado, soldado brilhante, idolatrado pelo povo. Acredita na justiça e luta pela liberdade. É apresentado como o defensor do povo oprimido; o herói (no entanto, ele acaba como o anti-herói, o herói falhado); símbolo de esperança de liberdade.
D. MIGUEL FORJAZ: Primo de Gomes Freire, assustado com as transformações que não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio e calculista. É prepotente, autoritário e servil (porque se rebaixa aos outros).
PRINCIPAL SOUSA: Defende o obscurantismo, é deformado pelo fanatismo religioso; desonesto, corrompido pelo poder eclesiástico, odeia os franceses.
BERESFORD: Demonstra cinismo em relação aos portugueses, a Portugal e à sua situação; oportunista; autoritário; mas é bom militar. Preocupa-se somente com a sua carreira e com dinheiro. Ainda consegue ser minimamente franco e honesto, pois tem a coragem de dizer o que realmente quer, ao contrário dos dois governadores portugueses. É poderoso, interesseiro, calculista, trocista e sarcástico.
VICENTE: Sarcástico, demagogo, falso humanista, movido pelo interesse da recompensa material, hipócrita, despreza a sua origem e o seu passado; traidor; desleal. Acaba por ser um delator que age dessa maneira porque está revoltado com a sua condição social (só desse modo pode ascender socialmente).
MANUEL: Denuncia a opressão a que o povo está sujeito. É o mais consciente dos populares; é corajoso.
MATILDE DE MELO: Corajosa, exprime romanticamente o seu amor, reage violentamente perante o ódio e as injustiças, sincera. Ora desanima, ora se enfurece, ora se revolta, mas luta sempre. Representa uma denúncia da hipocrisia do mundo e dos interesses que se instalam em volta do poder (faceta/discurso social); por outro lado, apresenta-se como mulher dedicada de Gomes Freire, que, numa situação crítica como esta, tem discursos tanto marcados pelo amor, como pelo ódio.
SOUSA FALCÃO: Inseparável amigo, sofre junto de Matilde, assume as mesmas ideias que Gomes Freire, mas não teve a coragem do general. Representa a amizade e a fidelidade; é o único amigo de Gomes Freire de Andrade que aparece na peça. Ele representa os poucos amigos que são capazes de lutar por uma causa e por um amigo nos momentos difíceis.
FREI DIOGO: Homem sério; representante do clero; honesto – é o contraposto do Principal Sousa.
DELATORES: Mesquinhos; oportunistas; hipócritas.
D. MIGUEL FORJAZ, BERESFORD e PRINCIPAL SOUSA perseguem, prendem e mandam executar o General e restantes conspiradores na fogueira. Para eles, a execução à noite constituía uma forma de avisar e dissuadir os outros revoltosos, mas para MATILDE era uma luz a seguir na luta pela liberdade.
Alegoria Política: Comparação Temporal
Tempo da História (Século XIX – 1817)
| Tempo da Escrita (Século XX – 1961)
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