Análise de L'Albatros de Baudelaire: Romantismo e Simbolismo
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Análise de "L'Albatros" de Charles Baudelaire
Nota: A frase inicial "Para ma" (provavelmente "Pour mater") não pode ser analisada aqui porque está em francês.
O poema "L'Albatros" tem 4 estrofes (quadras), cada uma com 4 linhas (versos alexandrinos), com rima consoante e estrofes regulares.
O título é homônimo (porque se refere ao personagem principal: o albatroz) e simbólico (porque o albatroz é um símbolo, representando o poeta romântico).
As três primeiras estrofes falam sobre a relação do albatroz com os marinheiros. Na última, faz uma comparação entre o poeta e o albatroz.
O Albatroz como Símbolo do Poeta
O albatroz é descrito como um pássaro do mar, companheiro de viagem dos marinheiros. No céu, ele é livre e poderoso, acostumado a voar alto. Essa semelhança com o poeta é clara: o poeta sente-se livre em um nível superior, acima das pessoas comuns.
No entanto, o poeta sente-se excluído da sociedade. Não se sente igual, não compartilha nada com ela. Os marinheiros simbolizam a sociedade. Eles vão para longe, capturam o albatroz. A sociedade, simbolicamente, destrói o poeta, que perde sua liberdade.
Antíteses Centrais
- Entre o poeta e a sociedade.
- Entre os albatrozes e os marinheiros.
- Entre o espírito e a matéria.
Os marinheiros representam a sociedade, enquanto o albatroz é o poeta.
Há uma crítica à sociedade (representada pelos marinheiros) que "navega sobre o abismo", indo para o caminho errado, um lugar onde ninguém é feliz. Essa tristeza é comparada e dramatizada. O poeta romântico sente-se isolado da sociedade. Os marinheiros caçam albatrozes, o que significa que a sociedade reprime o poeta.
A frase "companheiro de viagem" mencionada pelo autor refere-se ao albatroz para o marinheiro. O albatroz é "indolente" no convés porque se sente da mesma forma que o poeta na sociedade: não compartilha ideais, emoções, sentimentos.
Baudelaire expressa sua insatisfação com a sociedade e o "abismo amargo" da existência. Marca uma antítese entre o mundo espiritual (albatroz - poeta) e o mundo material (os marinheiros - a sociedade).
Análise por Estrofe
Estrofe 2: O Contraste Céu vs. Convés
No céu, os albatrozes são "reis", têm mais poder. Quando no convés, são complicados e embaraçosos. Há uma antítese: no céu há liberdade e poder, no convés há dificuldade e constrangimento.
Baudelaire sugere que, quando no céu, eles são poderosos, podem ver de uma elevação, o que representa a capacidade dos poetas de ter uma visão diferente, de se sentirem especiais. No entanto, quando no convés, são difíceis e constrangedores. A comparação apresentada pelo autor é que o poeta, ao escrever seus poemas, "sente-se livre e com poder", mas "quando é cercado pela sociedade, sente-se reprimido". Sai de uma realidade que não é a deles.
Há uma antítese entre os remos e as asas. No primeiro hemistíquio do segundo verso, são apontados como os reis do céu. Através de uma antítese (entre o poder e a mediocridade), o segundo hemistíquio mostra essas aves (albatroz) medíocres, vergonhosas, desajeitadas quando encontradas no convés. As asas, como as do poeta, tornam-se um obstáculo quando ele é prisioneiro de sua liberdade de expressão.
Há antítese entre as grandes asas brancas e os remos. Essas asas brancas simbolizam a liberdade de voar e subir para o céu, ao contrário dos remos que são feitos para afundar na água e não possuem a qualidade da liberdade que os pássaros têm. Essas asas que no céu o faziam sentir um rei, no convés são um obstáculo.
Estrofe 3: Vulnerabilidade e Crítica
O ambiente natural do albatroz é o céu. A solidão é uma atmosfera especial para o poeta.
O poeta é fraco, inútil, magoado pelo ataque quando está cercado (pela sociedade/marinheiros). Todos olham, eles atacam. O bico é necessário para ele viver (para se alimentar), mas é usado para o ridicularizar.
"O viajante alado" (albatroz), sente-se inútil e fraco. Mais uma vez, uma antítese expressa na frase "cômico e feio, ele que era tão belo". A cesura divide a linha em dois hemistíquios antitéticos. A divisão entre "antes" e "depois" é marcada pela palavra "jadis" (outrora).
Essa estrofe resume como a sociedade fere (ou ridiculariza) fisicamente o albatroz, identificando-o com o poeta cuja poesia é criticada ou censurada. Há uma comparação: ferem o bico do albatroz como censuram a poesia do poeta.
Estrofe 4: O Símbolo Final
O símbolo é esclarecido. O poeta, como o albatroz no convés, é desajeitado e incapaz de funcionar no mundo comum. Há uma antítese entre o poeta em seu momento de glória (no "céu" da criação) e quando na Terra (no "convés" da sociedade).
Sente-se exilado, não se sente à vontade. O que o torna particular no céu, na terra o torna desajeitado: combate as tempestades com as asas, mas no pavimento não consegue andar. Tudo por causa da poesia, ninguém o entende.
Ele difere de outras aves por suas asas. Semelhança com o poeta: ele difere do resto por sua poesia, seu romantismo. Ele se sente rejeitado como um poeta romântico.
Contexto Literário: Romantismo e Simbolismo
Romantismo
O termo Romantismo é de origem inglesa e significava "romântico", no sentido de paisagem pitoresca. Os poetas ingleses aplicaram-no aos lagos (Poetas Lake Poets).
De lá, o termo passou para o francês. Um dos primeiros escritores a utilizá-lo foi Jean-Jacques Rousseau.
Depois, o termo passou a significar romance, fantasia (irrealista). O Romantismo é caracterizado pela sua entrega à imaginação e subjetividade, à liberdade de pensamento e de expressão e à idealização da natureza.
Predomina a imaginação sobre a razão, a emoção sobre a lógica e a intuição sobre a ciência.
Grandes Temas Românticos:
- A natureza
- A paixão pelo exótico
- O elemento sobrenatural
- O ego, a intimidade
- Amor, paixão (com entregas repentinas, totais e rápidas)
- Temas lendários e históricos
- As demandas sociais
- A sátira (muitas vezes ligada a eventos políticos ou literários)
Características do Romantismo:
- Rompimento com os padrões clássicos rígidos.
- Elementos de fantasia: descrição de monstros sobrenaturais.
- Obsessão por ruínas e criaturas.
- Obsessão pela morte e pela noite.
- Sentimento prevalecente sobre a razão.
- Subjetividade.
- Individualismo (rejeição por parte da sociedade).
- Insatisfação.
- Idealização da natureza.
- Otimismo (Ex: busca pelo estranho, o ultra-religioso, a liberdade).
- A melancolia, a solidão, a ironia.
- Atração pelo misterioso e pela noite.
- A fuga do mundo que o rodeia.
Os poetas românticos compõem seus poemas em meio a uma explosão de sentimentos, expressando em verso tudo o que sentem ou pensam. Parte da crítica literária aponta que em suas composições há um lirismo de grande força, no entanto, que convive com versos vulgares e prosaicos, como o sentimento de não plenitude.
Há um desacordo com o mundo; seus ideais não se tornam realidade no cotidiano.
Liberdade: O herói romântico salta sobre o padrão de comportamento e rejeita a tirania das regras. A natureza é particularmente importante e tem um papel que não tinha anteriormente: cabe ao humor do poeta dar forma a ela.
Simbolismo
O Simbolismo, com obras como "As Flores do Mal" de Baudelaire (poemas considerados "crimes contra a moral pública e aos bons costumes" na época), é um estilo caracterizado pela reação contra o positivismo, a sensibilidade falsa e a descrição puramente objetiva.
Para os simbolistas, o mundo é um mistério a decifrar. O poeta deve traçar correspondências escondidas que ligam os objetos sensíveis.
Há uma ênfase na vida de sonhos e fantasias. Reage contra os valores do materialismo e pragmatismo da sociedade industrial, afirmando uma verdade interior e um simbolismo universal.
Busca incentivar escritores a expressar suas ideias, sentimentos e valores através de símbolos ou implicitamente, em vez de afirmações diretas.
A literatura simbolista tem intenções metafísicas, tentando usar a linguagem como instrumento de conhecimento (epistemologia), rica em misticismo e névoa de mistério.