Análise da Linguagem e Temas em A Casa de Bernarda Alba
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Quanto à linguagem dos personagens, é possível distinguir Bernarda de todos os outros. A sua fala é dominada pelo ritmo rápido, seco e incisivo. Possui um tom autoritário, afiado e agressivo, sendo lógico que utilize frases interrogativas e imperativas.
A Linguagem dos Personagens em A Casa de Bernarda Alba
- Dores, Magdalena e Amélia: Caracterizadas pela monotonia das palavras.
- Martírio: Destaca-se pelas ameaças e insinuações abusivas.
- Adela: Caracterizada pela força e pelo abuso verbal, com o uso de imperativos e frases incisivas e enérgicas.
- Poncia: A sua linguagem é extremamente rica e variada, possuindo a graça da linguagem popular.
- Maria Josefa: A sua linguagem é uma mistura da fala de uma criança e de uma pessoa perturbada.
A Linguagem Poética e o Contexto Andaluz
A linguagem da casa, ou seja, da peça, reflete frequentemente a essência da linguagem da Andaluzia. A linguagem andaluza, muitas vezes, não é utilizada de forma "realista", e Lorca orgulha-se disso. A linguagem poética é intensificada, adquirindo valor de par, com duplos sentidos, de modo que as palavras se tornam símbolos. A Casa de Bernarda Alba não pode ser outra coisa senão teatro poético. A obra é uma construção poética erguida e dedicada ao ódio e à repressão. No entanto, todos os elementos provêm do facto de Lorca ter encenado magistralmente para criar, através da sua poética, o drama da Andaluzia.
Crítica Social e o Subtítulo da Obra
É óbvio que Lorca tinha uma grande consciência social e estava cada vez mais preocupado com os problemas sociais. Contudo, não se pode concluir que A Casa de Bernarda Alba seja uma obra puramente política. Lorca é um escritor social que critica profundamente a sociedade.
O subtítulo da obra, Drama das Mulheres nas Aldeias da Espanha, tem causado algumas interpretações erróneas. Não se destina a representar as mulheres de todas as cidades espanholas. Casos como Yerma e A Casa de Bernarda Alba são apresentados como exemplos especiais no âmbito do fenómeno da Andaluzia.
Bernarda: Representação e Crítica
Bernarda é a representação de uma vida anormal de uma família andaluza à margem da sociedade. O autor está interessado na vida moral de um povo, e não há dúvidas de que se trata de uma crítica social. No entanto, essa crítica não tem como alvo a sociedade espanhola, nem mesmo a sociedade andaluza como um todo. Bernarda é rígida e tradicional, intolerante ao extremo, mas não representa a Espanha, nem sequer o seu povo. Ela representa apenas uma mulher que utiliza o código sociomoral da sua sociedade (a aldeia andaluza) para os seus próprios fins.
Universalidade e Conflito em Lorca
A obra de Lorca é o epítome da Andaluzia, e a sua ética é a ética do amor. Bernarda é a personificação da autoridade e do direito social. Bernarda é má, repressiva e tirânica, mas sempre dentro dos limites do sistema estabelecido na zona rural da Andaluzia durante séculos. A luta entre a lei individual que expressa a sexualidade, especialmente o direito social anárquico de Adela, e a necessidade autoritária de Bernarda de suprimir essa individualidade, não poderia ser mais universalmente humana. Lorca estudou aqui a questão moral e humana, criticou as duas forças, mas o que lhe interessa é combatê-las na sua força teatral.