Análise Literária: Camões, Pessoa e Eça de Queirós

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Intertextualidade: Os Lusíadas e Mensagem

  • Camões vê Portugal como cabeça da Europa; Fernando Pessoa valoriza o seu papel na civilização ocidental ao colocá-lo como o rosto "com que fita o mundo" ("O dos Castelos").
  • O épico fala dos heróis que construíram e alargaram o Império Português, para que a sua memória não seja esquecida, enquanto Pessoa escolhe aquelas figuras históricas predestinadas a essa construção imperial (D. Afonso Henriques, D. Dinis...) mas, através delas, procura simbolizar a essência do ser português que acredita no sonho e se mostra capaz da utopia para a realização de grandes feitos.
  • N'Os Lusíadas há a viagem à Índia; na Mensagem, temos a avaliação do esforço, considerando que, apesar das vidas perdidas, a glória advém da grandeza da alma humana.
  • A fantasmagoria do Adamastor mostra que o homem tem de se superar para conseguir ultrapassar os problemas com que se depara, enquanto o Mostrengo permite contrapor o medo com a coragem que leva o homem a ultrapassar os seus limites.
  • Camões fala de Ulisses e de outros mitos, mas Pessoa mostra a importância do mito como um nada capaz de gerar os impulsos necessários à construção da realidade ("Ulisses"). Os mitos permitem a Pessoa fazer a apologia da sua missão profética. Este considera-se investido no cargo de anunciador do Quinto Império.

Eça de Queirós: Estilo e Inovação

Eça, na sua fase realista/impressionista, via a realidade no seu constante fluir. Daí a supervalorização do imperfeito verbal, o tempo do devir inacabado. Com a mesma intenção, valorizou também o gerúndio, que igualmente exprime a continuidade, o fluir. A linguagem torna-se assim mais impressionista, mais cinematográfica, criando no leitor a ilusão do deslizar dos acontecimentos, da continuidade da vida. O imperfeito é o tempo usado precisamente no discurso indireto livre, que constitui uma das inovações mais notáveis da prosa de Eça, libertando a frase de verbos declarativos, aproximando-a da linguagem falada, quebrando a monotonia do discurso direto/indireto e permitindo ao narrador dissimular-se por detrás das personagens por meio da focalização interna.

Características da Prosa Queirosiana:

  • Uso do gerúndio;
  • Uso do diminutivo;
  • Uso da ironia;
  • Uso da dupla adjetivação;
  • Uso de estrangeirismos:
    • Anglicismo (inglês);
    • Galicismo (francês);
  • Uso do discurso indireto livre (quando o narrador fala ou descreve acontecimentos e nós percebemos que aquelas palavras saíram da boca de uma das personagens);
  • Uso da hipálage: atribuição de características humanas a objetos, como em "fazia uma malha sonolenta";
  • Uso do advérbio de modo.

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