Análise Literária: Formas Poéticas e A Farsa de Inês Pereira
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Formas Poéticas da Medida Velha
- Vilancete: Mote obrigatório (2 ou 3 versos); glosas com 7 versos. Versos de 5 ou 7 sílabas (redondilha menor ou maior).
- Cantiga: Mote obrigatório (4 ou 5 versos); glosas com 8, 9 ou 10 versos em redondilha maior ou menor.
- Esparsa: Estrofe única de 8 a 16 versos em redondilha maior.
Estrutura do Mote e Glosa
- No mote, geralmente é apresentado o tema.
- Nas voltas, desenvolve-se o tema.
Medida Velha (Redondilha)
Formas tradicionais que aproveitam os temas da poesia trovadoresca dos Cancioneiros e as formas da poesia palaciana.
- Verso de 5 sílabas: Redondilha Menor.
- Verso de 7 sílabas: Redondilha Maior.
Figuras de Estilo
- Anáfora: Repetição de uma ou mais palavras no início de verso ou de período.
- Antítese: Apresentação de um contraste entre duas ideias ou coisas.
- Eufemismo: Dizer de forma suave uma ideia ou realidade desagradável.
- Hipérbole: Ênfase resultante do exagero.
- Personificação: Atribuição de qualidades ou comportamentos humanos a seres que não o são.
- Adjetivação ou Dupla Adjetivação: Utilização de um ou mais adjetivos para tornar o texto mais belo ou expressivo.
- Enumeração: Apresentação sucessiva de vários elementos.
- Perífrase: Figura que consiste em dizer por muitas palavras o que poderia ser dito em poucas.
- Apóstrofe ou Invocação: Interpelação a alguém ou a alguma coisa personificada.
A Farsa de Inês Pereira (Gil Vicente)
O mote da peça sintetiza a experiência vivida por Inês Pereira: o cavalo é o primeiro marido (Brás da Mata), que, com sua agressividade e autoritarismo, a derruba. Pero Marques é o asno que a leva e faz todas as suas vontades. Ao longo da peça, ditados semelhantes são enunciados pelas personagens, denunciando a dívida de Gil Vicente com a cultura popular de seu tempo.
Estrutura da Peça
A Farsa de Inês Pereira é composta de três partes:
- Inês Fantasiosa: Mostra Inês, seus desejos e ambições, e o momento em que é apresentada pela alcoviteira a Pero Marques. Retrata o cotidiano da protagonista e a situação da mulher na sociedade da época, por meio das falas de Inês, da mãe e da alcoviteira Lianor Vaz.
- Inês Mal-Maridada: Mostra as agruras do primeiro casamento de Inês. Aborda o comércio casamenteiro, por meio das figuras dos judeus comerciantes e do arranjo matrimonial-mercantil, e o despertar de Inês para a realidade, abandonando as fantasias alimentadas até então.
- Inês Quite e Desforrada: A protagonista casa-se pela segunda vez e trai o marido com um antigo admirador (o Ermitão). Experiente e vivida, Inês tira todo o proveito possível da situação que vive.
Análise das Personagens
Inês Pereira: Jovem esperta que se aborrece com o trabalho doméstico. Deseja ter liberdade e se divertir. Sonha casar-se com um marido que queira também aproveitar a vida. É a principal personagem da peça, moça bonita, solteira, pequena-burguesa. Seu cotidiano é enfadonho: passa os dias bordando, fiando, costurando. Sonha casar-se, vendo no casamento uma libertação dos trabalhos domésticos. Despreza o casamento com um homem simples, preferindo um marido de comportamento refinado. Idealiza-o como um fino cavalheiro que soubesse cantar e dançar. Contraria as recomendações maternas, rejeitando Pero Marques e casando-se com Brás da Mata. Frustra-se com a experiência e aprende que a vida pode ser boa ao lado de um humilde camponês.
Inês deixa-se levar pelas aparências e ridiculariza Pero Marques, despedindo-o de sua casa para receber Brás da Mata. Casa-se com ele, mas sua vida torna-se uma prisão; ela não pode sair e é constantemente vigiada por um moço. Inês sofre e chega a desejar a morte do marido.
Ele morre covardemente na guerra e Inês casa-se com Pero Marques. Ele satisfaz todos os seus desejos e chega até a carregá-la nas costas para um encontro com um amante (sem saber, porém, que era para isso).
Mãe de Inês: Mulher de boa condição econômica, que sonha casar Inês com um homem de posses. É a típica dona de casa pequeno-burguesa e provinciana. Preocupada com a educação e o futuro da filha em idade de casar. Dá conselhos prudentes, inspirada por uma sabedoria popular imemorial. Chega a ser comovente em sua singela ternura pela filha, a quem presenteia com uma casa por ocasião das núpcias.
Lianor Vaz: Fofoqueira, encarregava-se normalmente de arranjar casamentos e encontros amorosos. É o estereótipo da comadre casamenteira que sabe seu ofício e dele se desincumbe com desenvoltura. Sabe valorizar seu “produto” com argumentos práticos de quem tem a experiência e o senso das coisas da vida.
Pero Marques: Primeiro pretendente de Inês, rejeitado por ser grosseiro e simplório, apesar da boa condição financeira. Foi seu segundo marido. Camponês simples, não conhece os costumes das pessoas da cidade. É uma personagem ambígua: ao mesmo tempo que é ridicularizado pela ingenuidade, é valorizado pela integridade de caráter. Fiel e dedicado, revela-se um gentil e carinhoso marido.
É tão simples que não sabe para que serve uma cadeira. É teimoso como um asno e diz que não se casará até que Inês o aceite um dia.
Latão e Vidal: Judeus casamenteiros, assim como Lianor Vaz. São a caricatura do judeu hábil no comércio. Faladores, insinuantes, humildes, serviçais e maliciosos, são o estereótipo de que a literatura às vezes se serviu, como, por exemplo, no caso desta peça de Gil Vicente.
Brás da Mata: Escudeiro, índole má, primeiro marido de Inês. Interesseiro e dissimulado, é a representação da esperteza das classes superiores. É um nobre empobrecido que não perde o orgulho e pretende aproveitar-se economicamente de Inês através do dote. Brás da Mata é um escudeiro, isto é, homem das armas que auxiliava os cavaleiros fidalgos. Na mudança do feudalismo para o capitalismo, a maioria permaneceu numa condição subalterna, procurando imitar a aristocracia.
Moço: Criado de Brás. Pobre coitado, explorado por um amo infame. Humilde, deixa-se explorar e acredita ingenuamente nas promessas do Escudeiro. Cumpre sua obrigação sem ver recompensa, mas é capaz de, em suas queixas, insinuar as farpas com que cutuca o mau patrão.
Ermitão: Antigo pretendente de Inês e amante depois de seu casamento com Pero. É um falso monge que veste o hábito para conseguir realizar seu propósito de possuir Inês.