Análise de 'Os Maias': Narrador, Intriga e Simbolismo
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Os Maias: Análise Estrutural e Simbólica
O Narrador
O narrador em "Os Maias" é heterodiegético, ou seja, não participa da história. Geralmente, assume uma atitude de observador. As suas marcas linguísticas incluem:
- Verbos na 3ª pessoa.
- Pronomes e determinantes na 3ª pessoa.
- Discurso indireto livre (nesta obra).
O narrador omnisciente sabe tudo sobre as personagens.
Intriga Principal e Crónica de Costumes
A intriga principal pressupõe um desfecho; os acontecimentos sucedem-se por uma relação de causalidade. É uma ação fechada, pois no final ocorre a destruição da família.
A crónica de costumes foca-se na construção de ambientes e na atuação de personagens-tipo, apresentando uma ação aberta. Estas duas vertentes articulam-se de forma alternada, funcionando os ambientes como pano de fundo para a atuação das personagens da intriga principal e para os figurantes da crónica de costumes.
Simbolismo em "Os Maias"
O Quintal do Ramalhete
O quintal do Ramalhete sofre uma evolução ao longo da narrativa:
- No primeiro capítulo, a cascata está seca, indicando que o tempo da ação d'Os Maias ainda não começou.
- No último capítulo, o fio de água da cascata simboliza a eterna melancolia do tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz. Mostra também que o tempo está a esgotar-se e o final da história está próximo. Este choro simboliza a dor pela morte de Afonso da Maia.
A Estátua de Vénus
A estátua de Vénus marca o início e o fim da ação principal e é símbolo das mulheres fatais d'Os Maias (Maria Eduarda e Maria Monforte).
- Enegrece com a fuga de Maria Monforte.
- No último capítulo, coberta de ferrugem, simboliza o desaparecimento de Maria Eduarda.
- Os seus membros transformados dão-lhe uma forma monstruosa, lembrando Maria Eduarda e a monstruosidade do incesto.
As Alterações Sofridas pelo Ramalhete
O percurso da família Maia reflete-se nas alterações sofridas pelo Ramalhete:
- No início, o Ramalhete não tem vida.
- Em seguida, habitado, torna-se símbolo da esperança e da vida, um renascimento.
- Finalmente, a tragédia abate-se sobre a família: a cascata chora, a estátua está coberta de ferrugem; tudo adquire um caráter lúgubre. As paredes do Ramalhete são sempre sinal de desgraça para a família Maia.
O cedro e o cipreste, árvores de longevidade, significam a vida e a morte, sendo testemunhas das gerações da família. Simbolizam também a amizade inseparável de Carlos e João da Ega.
No último capítulo, a imagem do Ramalhete, abandonado e tristonho, cheio de recordações de um passado de tragédia e frustrações, relaciona-se com a visão de Eça sobre o país em crise. A morte instala-se nesta família e, por extensão, no país (se os Maias representam Portugal). O mobiliário degradado, a confusão e os aposentos melancólicos e frios transmitem a realidade de destruição e morte.
O Armário da Toca
O armário do salão nobre da Toca possui uma simbologia trágica:
- Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião, e os troféus agrícolas, o trabalho: qualidades que existiram na família (e no Portugal da epopeia).
- Os dois faunos simbolizam o desastre do incesto entre Carlos e Maria Eduarda.
- No final, um fauno parte o seu pé de cabra e o outro a flauta bucólica, simbolizando o desafio sacrílego dos faunos a tudo o que era grandioso e sublime na tradição dos antepassados.