Análise de Memorial do Convento: Tempo, Estrutura e Personagens
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Tempo em Memorial do Convento
Esta categoria narrativa assume diferentes aspetos:
Tempo Histórico
Os acontecimentos desenrolam-se no século XVIII, que é definido por eventos históricos:
- O casamento de D. João V com D. Maria Ana Josefa - 1708;
- O início da construção do Convento de Mafra - 1717;
- O último auto de fé onde é sentenciado António José da Silva - 1739.
Tempo Diegético ou da História
É o tempo da ação, que se organiza, de uma maneira geral, cronologicamente. No entanto, é evidente que para José Saramago, as referências cronológicas não são essenciais e, por isso, aparecem, muitas vezes, nas obras, apenas por dedução.
- A narrativa inicia-se por volta de 1711;
- O auto de fé onde Baltasar é queimado conjuntamente com António José da Silva, em 1739.
Em Memorial do Convento há a reconstituição histórica do século XVIII, em Portugal. Pode-se, então, concluir que a narrativa se reporta a vinte e oito anos decorridos entre 1711 e 1739.
Tempo do Discurso
Em Memorial do Convento, o narrador faz ressurgir o passado e analisa-o conscientemente com a sua visão do presente. O passado serve, então, e muitas vezes, para criticar o presente, de uma forma muito peculiar.
Estrutura da Ação
Apresenta duas linhas condutoras da ação – a construção do Convento de Mafra e a relação entre Baltasar e Blimunda – que se entrelaçam com acontecimentos diversos, recolhidos na História ou fantasiados. Está dividido em 25 partes ou capítulos, não nomeados nem numerados, mas perfeitamente reconhecidos pelos espaços brancos que os separam.
As Personagens
D. Maria Ana Josefa
Vinda da Áustria, limita-se a assumir apenas a sua função reprodutora, de modo a dar ao rei um descendente legítimo. Funciona como o símbolo da mulher submissa, obediente e dependente, que vive uma relação fria e vazia de sentimentos com o rei, o que a leva a sentir-se frustrada, canalizando para o mundo dos sonhos a sua sexualidade reprimida. Assim, sonha com o seu cunhado, o Infante D. Francisco. É uma mulher frustrada, infeliz e traída, que, apenas no mundo onírico se liberta e transgride as regras sociais e morais estipuladas. No fundo, estes sonhos acabam por dar à rainha uma dimensão menos estereotipada e mais humana. Consciente da transgressão que as fantasias com o cunhado representam aos olhos da moral, omite essa circunstância ao seu confessor, vivendo atormentada com esse pecado. Esses desvaneios terminarão quando o próprio D. Francisco, com o objetivo de alcançar o poder, lhe propuser casamento, aproveitando-se da doença do rei.
D. João V
D. João é caracterizado como um rei megalómano, infantil, devasso, libertino e ignorante, que não hesita em utilizar o povo, o dinheiro e a posição social para satisfazer os seus caprichos. Poderoso e rico, anda preocupado com a falta de descendente, apesar de possuir bastardos. Promete levantar um convento em Mafra se tiver filhos da Rainha Maria Ana Josefa, com quem tem relações para cumprimento de dever, em encontros frios e programados. A sua pretensão vai realizar-se com o nascimento da Princesa Maria Bárbara e, apesar da deceção por não ser um menino, mantém a promessa.
Os Oprimidos
O Povo
Personagem importante, o povo trabalhador construiu o Convento de Mafra, à custa de muitos sacrifícios e mesmo de algumas mortes. Definido pelo seu trabalho, pela sua miséria física e moral, e pela sua devoção, este povo humilde surge como o verdadeiro obreiro da realização do sonho de D. João V.