Análise de Obras Essenciais da Literatura Portuguesa

Classificado em Língua e literatura

Escrito em em português com um tamanho de 12,82 KB

Características de Estilo e Panteísmo Naturalista

Panteísmo Naturalista

Deus está na simplicidade e em todas as coisas.

Estilo Discursivo

  • Pendor argumentativo.
  • Transformação do abstrato no concreto, frequentemente através da comparação.
  • Predomínio do substantivo concreto sobre o adjetivo.
  • Linguagem simples e familiar.
  • Liberdade estrófica e métrica e ausência de rima.
  • Predomínio do Presente do Indicativo.
  • Raro uso de metáforas.

Álvaro de Campos: Expressividade e Fases Poéticas

Expressividade da Linguagem

Nível Fónico

  • Poemas muito extensos e poemas curtos.
  • Versos brancos e versos rimados.
  • Assonâncias, onomatopeias exageradas, aliterações ousadas.
  • Ritmo crescente/decrescente ou lento nos poemas pessimistas.

Nível Morfossintático

  1. Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas, exclamações, interjeições variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintáticos.
  2. Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a tendência para o exagero.

Nível Semântico

Apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas ousadas, polissíndetos.

A Obra de Álvaro de Campos: Fases Poéticas

Entre todos os heterónimos, Álvaro de Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes. Houve três fases distintas na sua obra. Começou a sua trajetória como decadentista (influenciado pelo Simbolismo), mas logo adere ao Futurismo: é a chamada Fase Sensacionista, em que produz, com um estilo assemelhado ao de Walt Whitman (a quem dedicou um poema, a Saudação a Walt Whitman), versilibrista, jactante, e com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias, uma série de poemas de exaltação do Mundo moderno, do progresso técnico e científico, da industrialização e da evolução da Humanidade. Álvaro de Campos é muito influenciado por Marinetti, o fundador do Futurismo.

Após uma série de desilusões e crises existenciais, o seu estilo torna-se niilista ou intimista: é conhecida como Fase Abúlica/Intimista, e assemelha-se muito, sobretudo nas temáticas abordadas, à obra do Pessoa ortónimo: a desilusão com o Mundo em que vive, a tristeza, o cansaço («o que há em mim é sobretudo cansaço», assim começa um dos seus mais famosos poemas) leva-o a refletir, de modo assaz saudosista, sobre a sua infância, passada na «velha casa»: infância arquetípica, de uma felicidade plena, é o contraponto ao seu presente. Uma fase caracterizada pelo cansaço e pelo sono que se denota bastante no poema pessimista Dactilografia da obra Poemas:

‘’Que náusea de vida!

Que abjeção esta regularidade!

Que sono este ser assim!’’

No poema Aniversário, Álvaro de Campos compara a sua infância, «o tempo em que festejava o dia dos meus anos» com o tempo presente, em que, afirma «já não faço anos. Duro. Somam-se-me dias». Este é talvez o exemplo mais acabado - e mais conhecido - dessa mitificação da infância, por contraste à tristeza e descrença do poeta no presente.

Memorial do Convento (José Saramago)

Resumo e Personagens Centrais

Nesta obra, Saramago retrata a personalidade do rei D. João V e narra também a vida de vários operários anónimos que contribuíram na quixotesca construção do Convento de Mafra. Entre esses operários estava também Baltasar, e o romance foca, entre outras coisas, o seu grande amor por Blimunda, mulher dotada do estranho poder de ver o interior das pessoas.

Os dois conhecem um padre, Bartolomeu de Gusmão, que entrou na história como pioneiro da aviação. O trio inicia a construção de um aparelho voador, a Passarola, que sobe em direção ao Sol, sendo que este atrai as vontades, que estão presas dentro da Passarola. Blimunda, ao ver o interior das pessoas, recolhe as suas vontades, descritas pelo autor como nuvens abertas ou nuvens fechadas.

Após um dos voos da Passarola, Bartolomeu foge para Espanha, perseguido pela Inquisição. Blimunda e Baltasar vão tratando de esconder e de fazer a manutenção à Passarola, que estava dissimulada por arbustos em Monte Junto. Um dia, Baltasar ficou preso à Passarola, enquanto fazia a sua manutenção, e os cabos que a impediam de se elevar nos céus rebentaram, tendo sido levado pelos ares. A aeronave despenhou-se e Baltasar foi capturado pela Inquisição, acusado de bruxaria. No epílogo da ação, Blimunda recolhe a vontade de Baltasar, enquanto este morre, condenado à fogueira.

Os Lusíadas (Luís Vaz de Camões)

Estrutura Externa

A estrutura externa refere-se à análise formal do poema: n.º de estrofes, n.º de versos por estrofe, n.º de sílabas métricas, tipos de rimas, ritmo, figuras de estilo, etc. Os Lusíadas é constituído por 10 partes, chamadas de cantos na lírica; cada canto possui um n.º variável de estrofes (em média, 110); as estâncias são oitavas, tendo portanto oito versos; a rima é cruzada nos 6 primeiros versos e emparelhada nos 2 últimos (AB AB AB CC); cada verso é constituído por 10 sílabas métricas (decassilábico), na sua maioria, heroicas.

Sendo Os Lusíadas um texto renascentista, não poderia deixar de seguir a estética grega que dava particular importância ao número de ouro. Assim, o clímax da narrativa, a chegada à Índia, foi colocada no ponto que divide a obra na proporção áurea (início do Canto VII).

Estrutura Interna e Planos Temáticos

A estrutura interna relaciona-se com o conteúdo do texto. Esta obra mostra ser uma epopeia clássica ao dividir-se em quatro partes:

  1. Proposição: Introdução, apresentação do assunto e dos heróis (estrofes 1 a 3 do Canto I).
  2. Invocação: O poeta invoca as ninfas do Tejo e pede-lhes a inspiração para escrever (estrofes 4 e 5 do Canto I).
  3. Dedicatória: O poeta dedica a obra ao rei D. Sebastião (estrofes 6 a 18 do Canto I).
  4. Narração: A narrativa da viagem, in medias res, partindo do meio da ação para voltar atrás no tempo e explicar o que aconteceu até ao momento na viagem de Vasco da Gama e na história de Portugal, e depois prosseguir na linha temporal.

Por fim, há um epílogo a concluir a obra (estrofes 145 a 156 do Canto X).

Planos Temáticos da Obra

  • Plano da Viagem: Onde se trata da viagem de descoberta do caminho marítimo para a Índia de Vasco da Gama e dos seus marinheiros.
  • Plano da História de Portugal: São relatados episódios da história dos portugueses.
  • Plano do Poeta: Camões refere-se a si mesmo enquanto poeta admirador do povo e dos heróis portugueses.
  • Plano da Mitologia: São descritas as influências e as intervenções dos deuses da mitologia greco-romana na ação dos heróis.

Tipos de Episódios

Ao longo da narração deparam-se-nos vários tipos de episódios: bélicos, mitológicos, históricos, simbólicos, líricos e naturalistas.

Felizmente Há Luar (Luís de Sttau Monteiro)

Análise de Personagens

Gomes Freire

Homem instruído, letrado («um estrangeirado»), um militar que sempre lutou em prol da honestidade e da justiça. É também o símbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais e, por isso, considerado subversivo e perigoso para o poder instituído. Assim, quando é necessário encontrar uma vítima que simbolize uma situação de revolta que se adivinha, Gomes Freire é a personagem ideal. Ele é o símbolo da luta pela liberdade, da defesa intransigente dos ideais, daí que a sua presença se torne incómoda não só para os «reis do Rossio», mas também para os senhores do regime fascizante dos anos 60. A sua morte, duplamente aviltante para um militar (ele é enforcado e depois queimado, quando a sentença para um militar seria o fuzilamento), servirá de lição a todos aqueles que ousem afrontar o poder político e também, de certa forma, económico, representado pela tença que Beresford recebe (16.000$00 anuais, uma fortuna para a época!) e que se arriscaria a perder se Gomes Freire chegasse ao poder.

Matilde de Sousa

Companheira de todas as horas de Gomes Freire, é ela que dá voz à injustiça sofrida pelo seu homem. As suas falas, imbuídas de dor e revolta, constituem também uma denúncia da falsidade e da hipocrisia do Estado e da Igreja. Todas as tiradas de Matilde revelam uma clara lucidez e uma verdadeira coragem na análise que faz de toda a teia que envolve a prisão e condenação de Gomes Freire. No entanto, a consciência da inevitabilidade do martírio do seu homem (e daí o caráter épico da personagem de Gomes Freire) arrasta-a para um delírio final em que, envergando a saia verde que o general lhe oferecera em Paris (símbolo de esperança num futuro diferente?), Matilde dialoga com Gomes Freire vivendo momentos de alucinação intensa e dramática.

Outras Personagens Relevantes

  • Sousa Falcão: O amigo fiel em quem se pode confiar. Tem consciência de que, muitas vezes, não atuou de forma consentânea com os seus ideais, faltando-lhe coragem para passar à ação.
  • Vicente, o traidor: Elemento do povo que trai os seus iguais, interessado apenas na sua ascensão político-social. É uma personagem incómoda, pois a sua lucidez e acuidade na análise da força corruptora do poder despertam "más consciências adormecidas".
  • Manuel e Rita: Símbolos do povo oprimido e esmagado. Têm consciência da injustiça, mas sentem-se impotentes. Vêem em Gomes Freire uma espécie de Messias. Podem simbolizar a desesperança e a frustração face à impossibilidade de mudança.
  • Beresford: Personagem cínica e controversa. Assume o processo de Gomes Freire motivado por interesses individuais (manutenção do posto e da tença). Revela distanciamento crítico e ironia face ao catolicismo caduco e ao exercício incompetente do poder português.
  • D. Miguel: O protótipo do pequeno tirano, inseguro e prepotente, avesso ao progresso. O seu discurso é oco e demagógico, ecoando o discurso político dos anos 60.
  • Principal Sousa: Simboliza o conluio entre a Igreja (instituição) e o poder, e a demissão da primeira em relação à denúncia das verdadeiras injustiças. Transmite hipocrisia e falta de valores éticos.
  • Andrade Corvo e Morais Sarmento: Os delatores por excelência, que abdicam dos ideais para servirem obscuros "propósitos patrióticos".

Aspectos Simbólicos

Elementos Simbólicos

  • A Moeda de Cinco Réis: Valor simbólico que assinala o reencontro de personagens em busca da História. É o penhor de honra que Matilde usará ao peito, como "uma medalha". Simboliza também o desrespeito dos poderosos para com o próximo.
  • A Fogueira: Inicialmente aviltante (execução), assume um caráter redentor. Simboliza a purificação, a morte da "velha ordem" e o ponto de partida para um mundo novo. Para D. Miguel, atemoriza; para Matilde, sublinha a coragem.
  • O Título ("Felizmente há luar"): Proferida por D. Miguel (símbolo do Poder) e por Matilde (símbolo da resistência). Para D. Miguel, o luar permite que o clarão da fogueira atemorize. Para Matilde, sublinha a intensidade do fogo que simboliza a coragem.
  • A Luz: Metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e liberdade), vencendo a escuridão (opressão). Representa a esperança num momento trágico.
  • Noite: Mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismo.
  • Lua: Por estar privada de luz própria e atravessar fases, representa dependência e periodicidade. A luz da lua associa-se à renovação.
  • Luar: Duas conotações: para os opressores, serve de aviso; para os oprimidos, é um estímulo para lutar pela liberdade. Simboliza a passagem da vida para a morte e vice-versa.
  • Saia Verde: Associada à felicidade e comprada em Paris (terra de liberdade). O verde é a cor da esperança, da força e da fertilidade. Sinal do amor verdadeiro e transformador.
  • Tambores: Símbolo da repressão sempre presente.

Entradas relacionadas: