Análise dos Personagens da Obra

Classificado em Língua e literatura

Escrito em em português com um tamanho de 4,17 KB.

Análise Detalhada dos Personagens

Dona Maria: A Complexidade de uma Matriarca

Dona Maria é uma personagem dramática complexa, com múltiplos aspectos. Inicialmente, pode enganar o espectador, despertando pena como uma mãe preocupada com a casa e as três filhas. No entanto, logo revela sua natureza ditatorial, tirânica e despótica na gestão das filhas. A característica essencial de Dona Maria é um egoísmo atroz que a leva à crueldade, revelando uma profunda incapacidade de se sustentar sozinha e um medo intenso da solidão e do desamparo. A sua hipocrisia é habilmente demonstrada na peça, com mudanças de atitude conforme a sua conveniência, evidenciando seu caráter calculista. Seus valores são dominados por uma mentalidade utilitarista e prática, e sua religião é mera superstição ignorante. Todas essas características conferem à personagem uma consistência interna e um perfil rico, que transcende o tipo genérico, conferindo-lhe uma grande profundidade dramática.

As Filhas: Reflexos e Contrastes

Carmen é a personagem mais importante depois de Dona Maria, mas seu desenvolvimento é mais linear. Seu conflito central reside na oposição entre sua integridade moral, seu senso de dignidade e a arrogância imposta pela mãe. Carmen apresenta uma evolução psicológica que vai da rebelião inicial à libertação final, um desenvolvimento bem variado e motivado. Ela é a antagonista de Dona Maria, representando os dois polos entre os quais a ação se desenrola.

Suas irmãs, Pepa e Manuela, servem como um recurso dramático para ampliar a personalidade de Carmen, mostrando as profundas diferenças entre elas. Embora sejam tipos genéricos, são bem delineadas:

  • Pepa: A jovem atraente, ressentida pela falta de pretendentes, com reações duras e amargas.
  • Manuela: Superficial e vazia, passa o tempo na varanda à espera de um pretendente.

O autor as diferencia claramente ao longo da obra. Pepa se humaniza com a aproximação de Rocamora e, no final, se afasta de Carmen em busca de sua própria liberdade. Manuela, por outro lado, reafirma sua duplicidade moral ao aceitar espionar Carmen, sendo a única filha que não se liberta do jugo materno.

Morales e Linares: Testemunhas e Catalisadores

Morales e Linares são personagens paralelos. Linares, apesar de ter um papel mais ativo na ação, é menos desenvolvido que Morales. Ambos testemunham a situação da família Barranco e apoiam Carmen. Representam ideias avançadas e educação, e frequentemente expressam a visão do autor. Sua caracterização psicológica é mínima, pois funcionam principalmente como molas propulsoras da ação: Linares é o agente da mudança de Carmen e provoca o desfecho, enquanto Morales é testemunha e intérprete das situações.

Rocamora e Barroso de Castro: Os Pretendentes

Rocamora e Durão Barroso de Castro são os pretendentes manipulados por Dona Maria. Rocamora é o mais importante e funciona como uma mola de ação: o homem comum, rico e materialista, que acredita poder comprar os sentimentos de Carmen com presentes e força bruta, demonstrando falta de sensibilidade e priorizando o material em sua escala de valores.

Barroso, um dentista, é a personagem mais caricatural, com seus tiques e sorriso permanente e desmotivado. É ingênuo e, portanto, presa fácil para as artimanhas de Dona Maria. Tanto ele quanto Fidel Castro (o cobrador de aluguéis, ainda mais obscuro), servem para adicionar notas pitorescas e dar volume aos costumes da época. Eles enriquecem a ação com sua presença, resultando em incidentes menores, complementando o arco dos pretendentes centrado em Rocamora.

Petrona e Perez: Personagens Secundários

Petrona e Perez são personagens secundários. Petrona funciona em paralelo com as filhas, e Perez, como um pretendente de Carmen. Sua função é qualificar a ação e acentuar, através da repetição, a conduta de Dona Maria.

Entradas relacionadas: