Análise do Poema 'Prece' de Fernando Pessoa: Temas e Estilo

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Análise do Poema 'Prece': Temas e Estilo

Os tempos verbais predominantes nessas estrofes: Ao longo do poema predominam tempos verbais no presente do indicativo e no futuro, mas também se faz referência a marcas passadas. Estão presentes em expressões como «a noite veio e a alma é vil» / «Tanta foi a tormenta»; «Resta-nos hoje»; «que a vida em nós criou»; «pode erguê-la»; «E outra vez conquistemos…». É assim entendido como algo que se necessita hoje e que se espera que suceda amanhã bem como algo de revolucionário que se apresente ao nosso ser.

A expressividade dos recursos estilísticos utilizados:

O sujeito poético inicia o poema com uma apóstrofe ao “Senhor”, um chamamento ao recetor a quem é destinado o discurso – Deus ou D. Sebastião divinizado.

Em “A mão do vento”, a personificação simboliza a ideia de que uma mão divina vai fazer com que a chama se reacenda.

Também é visível o emprego de substantivos abstratos, nomeadamente, «tormenta», «vontade», «silêncio», «saudade», «desgraça», «ânsia», «esforço»

Adjetivação como «alma é vil» e «silêncio hostil».

A repetição da palavra «ainda» reforça a ideia de que nada está perdido e de que com uma atitude diferente (a ação do vento) tudo se pode alterar.

Justificação para a localização do poema na obra pessoana:

O poema «Prece» está localizado na parte final do «Mar Português» de «Mensagem», pois nele se encerra o ciclo de tentativa de transmitir a palavra com uma invocação do poeta à intervenção divina. Pessoa afirma que os portugueses venceram tantos obstáculos que hoje perderam a valia. No entanto, tal como um sopro pode reavivar um fogo extinto, também a Alma Portuguesa pode levantar-se para que seja de novo grande entre as Nações («E outra vez conquistemos a Distância»). Então este poema é ideal para encerrar esta parte da «Mensagem».

Sendo «Mar Português» a visão mística da história, Pessoa quer mostrar que «o mar é nosso», que os Portugueses foram os primeiros a conquista-lo e que ele é o caminho para a perfeição.

O discurso na primeira pessoa:

O poema apresenta um discurso na primeira pessoa do plural. Que é visível, por exemplo, nas expressões: «Restam-nos» (v.3), «nós» (v.5); «conquistemos» (v.11) e «nossa» (v.12).

O discurso é na primeira pessoa porque se refere ao povo português. O desejo/sentimento do poeta, em jeito de súplica, não é só dele, mas deve ser de todos nós portugueses.

A expressividade da repetição do termo «ainda»:

O termo «ainda» que aparece repetido ao longo da segunda estrofe remete-nos para uma sensação de esperança, de glória vindoura. Este termo remete-nos para a possibilidade de ter um pouco de esperança para erguer o quinto império, ou seja, nem tudo está perdido e com empenho e dedicação tudo se conseguirá.

A simbologia da «noite»:

Neste poema, a «noite» pode ser vista sobre dois distintos pontos de vista:

  • As trevas, devido à situação em que a nação se encontra, porque mesmo com o seu futuro por decidir, esta continua na sombra e na obscuridade.
  • A preparação do dia donde virá a luz da vida, ou seja, a preparação daquilo que será o glorioso futuro de Portugal, o seu domínio cultural e a reconstrução da sua essência do seu império.

Símbolo: Cinzas

Podemos ver as cinzas como uma imagem da nação em ruínas, vestígio do que em tempos foi, mas no entanto a sua essência permanece a mesma, só que adormecida e esquecida. As cinzas são o que sobrou do corpo (da nação), mas não deixou de o ser, permanece. Até que ganhe uma nova alma e das cinzas renasça, como a fénix, o ser que existia com todo o seu esplendor, glória e essência, mesmo estando Portugal adormecido, «em cinzas», basta estas voarem, ou seja os portugueses sonharem e acreditarem no sonho para que delas nasça um Portugal ainda maior do que o deu origem às cinzas. Um Portugal onde impere a cultura, a sabedoria, os valores/os ideais justos, a perfeição e a humanidade.

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