Análise Poética: Espaço, Relação e Realidade

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Análise do Espaço no Poema

As sugestões que a seguir se apresentam consideram-se orientações gerais, tendo em vista uma indispensável aferição de critérios. Não deve, por isso, ser desvalorizada qualquer interpretação que, não coincidindo exactamente com as linhas de leitura apresentadas, seja julgada válida pelo professor.

Referências ao Espaço:

  • É noite. A noite é muito escura. Numa casa a uma grande distância / Brilha a luz de uma janela. (vv. 1-2);
  • Ali mora (v. 4);
  • Essa luz vista de longe. (v. 5);
  • A luz da janela dele. (v. 7);
  • A luz estar ali (v. 8);
  • De onde estou, só vejo aquela luz, / Em relação à distância onde estou, há só aquela luz. (vv. 12-13);
  • Do lado de lá da janela. (v. 14);
  • Do lado de cá, a uma grande distância. (v. 15).

Relação do Sujeito Poético com o Outro

A relação que, ao longo do texto, o Eu estabelece com o ele, o indivíduo que ali mora, é marcada por três movimentos fundamentais:

  • Versos 1-6: Curiosidade e atração por esse desconhecido (que não sei quem é), uma presença humana que, ao longe, se adivinha pela luz que brilha na noite. A perceção dessa luz convoca de imediato uma casa e uma janela, suscitando o interesse pela vida do indivíduo que ali mora (Sem dúvida que a vida dele é real e ele tem cara, gestos, família e profissão.);
  • Versos 7-15: A constatação de que a luz é o único elemento visível conduz o sujeito a assinalar aquela luz como a única realidade que lhe importa, relativamente ao homem que a acendeu, pois ele e a família dele só são reais do lado de lá da janela e não do lado de cá, a uma grande distância, de onde não pode vê-los;
  • Versos 16-17: Ao apagar-se a luz, o Eu perde o contacto com o outro, desinteressando-se dessa existência humana. – A luz apagou-se. (v. 16).

Interpretação do Verso: "Vejo-a, e sinto-me humano"

Exemplos possíveis de interpretação para o verso: Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabeça. (v. 3)

  • A perceção da luz, na noite muito escura, acorda no sujeito um desejo de aproximação do outro, de identificação, pela humanidade que partilham na noite cósmica;
  • A perceção da luz suscita no Eu sentimentos de curiosidade e de atração pelo outro desconhecido, mas idêntico na sua humanidade.

Sentidos da Interrogação Final do Poema

A interrogação intensifica a expressão do desinteresse pela existência do outro, que o apagar da luz provoca no sujeito e poderá transferir para o leitor a responsabilidade de problematizar a consciência humana da realidade, a partir da experiência relatada no poema.

A Realidade e a Perceção no Poema

O sujeito poético atribui estatuto de realidade apenas ao que é percecionado como coisa vista. Por um movimento reflexivo iniciado no verso 7 (Mas agora só me importa a luz da janela dele.), o sujeito identifica a luz como o único elemento percecionado, objetivo, da realidade representada: A luz é a realidade imediata para mim. / Eu nunca passo para além da realidade imediata. / Para além da realidade imediata não há nada. (vv. 9-11). Não sendo visíveis do lado de cá, a uma grande distância (v. 15), o homem e a família dele – apesar de reais do lado de lá da janela (v. 14) – não pertencem à realidade imediata para o Eu; correspondem a uma ficção construída, que o apagar da luz rasura da sua consciência.

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