António Noriega Varela e Ramón Cabanillas: Poesia Galega
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António Noriega Varela (1869-1947)
António Noriega Varela marca timidamente o começo de novos caminhos. É considerado o representante mais destacado de uma geração de transição, ou "Antre dous séculos" (Méndez Ferrín). Por um lado, aceita o popularismo, o costumismo e o sentido cívico dos antecessores; por outro, apresenta influxos do modernismo e da literatura portuguesa.
Escreveu uma única obra, expandida ao longo da sua vida. Em 1904, o título era Montañesas; em 1915, passou a ser Do Ermo. A mudança de título marca uma mudança de tendência, com duas etapas:
- Poesia costumista (como no séc. XIX): descrição da vida rural, a partir de uma ótica conservadora, que reage contra toda novidade, porque desfigura a sua essência. Também escreveu poesia cívica, relacionada com o agrarismo e suprimida na última edição.
- Poesia lírica da montanha (Montañesa): poética franciscana, com ternura e amor pela paisagem montanhosa, e pelos seus componentes mais humildes. Incluem-se aqui 21 sonetos, literariamente mais trabalhados e linguisticamente mais cultos, com influência dos autores portugueses Antero de Quental e, fundamentalmente, Teixeira de Pascoaes.
Ramón Cabanillas (1876-1959)
O poeta mais destacado da época das Irmandades é Ramón Cabanillas: o Poeta da Raça. Recolhe a inquietude de Rosalía, o celtismo de Pondal e o protesto de Curros, fornecendo elementos renovadores modernistas. Distinguem-se quatro etapas na sua obra:
- Etapa pregaleguista ou agrarista: No Desterro (1913) e Vento Mareiro (1915). Com forma e temática do Rexurdimento (Rosalía e Curros), alternam-se poemas de carácter intimista, costumista e agrarista (anticaciquil). Estes últimos, intensos e incendiários, mostram a sua solidariedade com os camponeses na luta pela redenção dos foros, e são os mais conhecidos. Alguns poemas, como A Fouce ou Basilio Álvarez, tornam-se verdadeiros símbolos populares, e fazem de Cabanillas o herdeiro natural de Curros. Há também poemas costumistas de influência modernista.
- Etapa galeguista (até 1920): O livro representativo é Da Terra Asoballada (1917). Cabanillas torna-se o poeta civil da Galiza. A oposição já não é cacique/agricultor, mas Galiza/Espanha.
- Etapa mítica (1921-30): Em 1926, escreve três longos poemas narrativos: A Espada Escalibor, O Cavaleiro do Santo Graal e O Sono do Rei Artur, que compõem o livro Na Noite Estrelecida. Cabanillas empreendeu uma atualização da matéria da Bretanha, galeguizando-a e adaptando-a para conseguir uma mensagem nacionalista. É uma reconstrução mítica do passado.
- Etapa do pós-guerra (1950-59): Não escreve poesia entre 1930 e 1950. Os seus últimos livros são Da Minha Zanfona (1954) e Samos (1958), livros cheios de desengano e saudade. Neste último, evocador e panteísta, Cabanillas recupera a sua maior altura poética.