Antropologia: Cultura, Leis Sociais e Etnocentrismo
Classificado em Psicologia e Sociologia
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O Segundo Nascimento Cultural Humano
Um exemplo da transição humana da natureza para a sociedade pode ser a diversidade de ritos através dos quais as comunidades humanas acolhem um recém-nascido em diferentes culturas.
Essa diversidade deve ser vista como evidência de que o mero facto biológico do nascimento não é suficiente para instalar o indivíduo na sociedade, e que é exigida uma espécie de segundo nascimento, desta vez cultural, para garantir a sua integração.
O mesmo poderia ser dito sobre o facto de que as estruturas culturais de parentesco se sobrepõem às relações biológicas de consanguinidade e aliança, as quais não podem ser simplesmente derivadas de acordo com as suas características de herança genética ou afinidade reprodutiva: a noção sociocultural de pai ou mãe é absolutamente irredutível à noção meramente biológica ou genética de progenitor.
Leis Socioculturais vs. Leis Naturais
O conjunto de leis socioculturais é compacto, homogéneo e coerente, como aponta Lévi-Strauss, e só pode ser entendido como um todo sistemático, onde cada um dos seus elementos se define pela sua relação com os outros.
No entanto, o trabalho técnico de adaptação à natureza é, inevitavelmente, progressivo, parcial e contingente, e é afetado por circunstâncias imprevistas que podem exigir uma reorganização total da produção, determinar a migração geográfica de populações inteiras ou mesmo o desaparecimento de entidades culturais.
As leis da natureza não podem ser transgredidas, enquanto as leis sociais podem ser desobedecidas.
Em última instância, as leis culturais não são universais nem imunes à mudança temporal, mas específicas de cada comunidade e extremamente variáveis entre si.
Falhas nas Classificações Antropológicas Iniciais
Nos primórdios da ciência antropológica, impôs-se uma classificação das comunidades humanas que as dividia em:
- Sociedades primitivas ou selvagens: consideradas como resquícios dos tempos pré-históricos, carentes de poder político e organizadas por uma alegada mentalidade primitiva dominante.
- Sociedades bárbaras.
- Sociedades civilizadas (o Ocidente).
Hoje sabemos que essa classificação é fruto do preconceito que considera tudo o que é diferente como inferior. Desde os seus próprios nomes, essa classificação revela um padrão: o etnocentrismo.
Etnocentrismo é o preconceito segundo o qual a formação sociocultural do observador é vista como superior e mais significativa, enquanto outras culturas são consideradas associais ou imperfeitas.
Etnocentrismo: Uma Perspetiva Benigna?
Embora o etnocentrismo seja, provavelmente, uma perspetiva social inevitável, o conhecimento de outras formações sociais diferentes da sua própria amplia a visão e melhora esta última. Não só é óbvio que a desconfiança ou o ódio em relação a estranhos se baseia na ignorância dos seus modos de vida, mas também que o conhecimento do outro combate os preconceitos. Olhar no espelho das outras culturas permite que a própria sociedade tome consciência das suas características, complexidade e singularidade, libertando-se da ignorância que a pode prejudicar.
Esse conhecimento, proporcionado pela etnologia, eliminou do discurso científico as opiniões que acabámos de evocar e introduziu, nas sociedades que desenvolveram a antropologia cultural, um elemento da sua própria cultura: uma forma benigna de etnocentrismo.