Antropologia: Descoberta e Estranhamento

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Descoberta do Novo Mundo

A gênese da reflexão antropológica é contemporânea à descoberta do Novo Mundo. A partir desse período, o problema das descontinuidades e das diferenças culturais se projetou sobre a consciência ocidental de modo súbito e dramático.

Chegou-se a duvidar da condição humana do aborígene.

A teoria monogenista, segundo a qual todas as raças humanas descendem de um único ramo, foi posta em dúvida.

Estranhamento

Os homens da Renascença, ao estudarem outras culturas, especialmente a cultura greco-romana, desenvolveram um método intelectual que pode ser denominado técnica do estranhamento.

Estranhamento significa perplexidade diante de uma cultura diferente. Essa perplexidade implica reconhecer que algo, antes considerado natural, passa a ser problemático. Assim, o encontro de culturas distintas e distantes pode provocar um novo olhar sobre si mesmo e sobre os hábitos, práticas ou costumes antes considerados evidentes.

Permite reconhecer que existem outras culturas, que o homem é dotado de uma extraordinária aptidão para inventar diferentes modos de vida e formas de organização social.

Encontro com o Diferente

A gênese da reflexão antropológica depara-se com esse fenômeno, que é a diversidade de culturas.

O contato com os povos das terras descobertas provocou, na Europa, o aparecimento de duas ideologias:

  • O fascínio pelo estranho: significa enaltecer a cultura das sociedades primitivas e censurar a cultura europeia;
  • A recusa do estranho: significa censurar e excluir tudo o que não seja compatível com a cultura europeia.

Recusa do Estranho

Diante de culturas diferentes, alguns teóricos passaram a entender que havia duas formas de pensamento cientificamente observáveis e com leis diferentes: o pensamento lógico-racional dos civilizados (europeus) e o pensamento pré-lógico e pré-racional dos selvagens ou primitivos (africanos, índios, aborígines). O primeiro era considerado superior, verdadeiro e evoluído; o segundo, inferior, falso, supersticioso e atrasado, cabendo aos europeus “auxiliar” os selvagens “primitivos” a abandonar sua cultura e adquirir a cultura “evoluída” dos colonizadores.

A ideologia da recusa do estranho forneceu ao colonialismo as justificativas para o uso da força no sentido de escravizar os índios ou de integrá-los à cultura europeia. Essa ideologia também serviu para negar humanidade aos negros africanos e submetê-los ao regime de escravidão nas colônias americanas. Negro no Brasil


Choque de Culturas

Uma característica comum dos povos consiste em repudiar as formas culturais (jurídicas, morais, religiosas, sociais, estéticas) com as quais não se identificam. Isso se traduz pela repulsa diante de maneiras de viver, crer ou pensar que lhe são estranhas.

Para gregos e romanos, tudo que não participava da sua cultura era catalogado como bárbaro. A civilização europeia utilizou o termo selvagem com o mesmo sentido. Os termos selvagem e bárbaro evocam um gênero de vida animal, por oposição à cultura humana.

Um grande número de populações ditas primitivas se autodesigna com um nome que significa os homens (os bons, os excelentes, os completos), implicando assim que as outras tribos, grupos ou aldeias não participam das virtudes ou mesmo da natureza humana.

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