Aprendizagem: Modelos e Processos
Classificado em Psicologia e Sociologia
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1. A Mente: Cognição, Emoção e Conação
De acordo com a perspetiva atual da psicologia, a mente consiste num conjunto integrado de processos cognitivos, emocionais e conativos. Em tempos passados, dizia-se que a mente se restringia unicamente a funções cognitivas. A emoção e o desejo eram considerados elementos "poluentes" nas tarefas cognitivas. Sendo considerada como a parte mais digna do ser humano, a mente opunha-se ao corpo, à sensualidade, à emoção e aos afetos, considerados obstáculos inquietantes.
À medida que nos aproximamos do século XX, a afetividade e a subjetividade afirmaram-se como categorias importantes na aquisição de conhecimentos. A mente passa a ser perspetivada como um sistema de interações organizadas de um modo complexo. Neste sistema, cada componente tem uma importância vital no desenvolvimento das demais, afetando-as e sendo por elas afetada. A nova perspetiva da mente é identificada como o EU.
Atualmente, reconhece-se que a cognição, a emoção e a conação são domínios da mente estreitamente relacionados. Para se exercerem, cada um deles reclama a intervenção total da mente e só pode existir mediante a participação dos outros dois.
- Cognição: consiste no pensamento, formação dos conhecimentos e relacionamento entre eles, ou seja, atividades mentais implicadas na compreensão, no processamento e na comunicação do saber.
- Processos Emocionais: são os aspetos afetivos, agradáveis ou desagradáveis, que acompanham a vivência das situações.
- Conação: é o termo usado para designar as tendências do ser humano para agir deliberadamente no meio físico e social. Os processos conativos são os aspetos ativos associados às motivações e às intenções que dinamizam o sujeito para a ação.
2. Aprendizagem: Definição
A aprendizagem é a modificação relativamente estável do comportamento. São aquisições ao longo do processo de socialização através da experiência, treino e estudo.
3. Modelos de Aprendizagem: Comportamental e Cognitivo
As diversas formas de aprendizagem podem ser agrupadas em dois modelos:
- Modelo Comportamental: Evidenciado por psicólogos que só consideram a aprendizagem concluída a partir do momento em que o indivíduo manifesta comportamentos que a comprovem. Inclui processos ligados ao "aprender a fazer", tendo no condicionamento uma representação significativa. Dentro deste modelo, temos duas modalidades: condicionamento clássico e condicionamento operante.
- Modelo Cognitivo: Considera que a aprendizagem pode estar realizada mesmo sem indícios exteriores dessa ocorrência. O fundamental é aprender e adquirir conhecimentos que fiquem armazenados na memória para utilizações futuras. É uma aprendizagem latente, pois fica adormecida, sem se manifestar, à espera que o sujeito a solicite para as aplicações que julgue adequadas. A leitura deste texto é um exemplo de aprendizagem cognitiva, como o são, em geral, todas as aprendizagens escolares. Só no futuro é que terá oportunidade de avaliar o nível das aprendizagens que atualmente faz. Incluem-se neste modelo diversas formas de aprendizagem, como, por exemplo, o insight.
4. Condicionamento Clássico
O condicionamento clássico é o processo de aprendizagem que se baseia na associação de um estímulo condicionado e um estímulo natural, de modo a que o indivíduo reaja ao estímulo condicionado do mesmo modo que reage ao estímulo natural.
5. A Experiência de Pavlov
O fisiologista Ivan Pavlov, ao estudar o papel da saliva na digestão, verificou que os cães salivavam ao cheiro ou à vista da comida. Pavlov apresentou a um cão um pedaço de carne, o que fez com que as glândulas salivares entrassem em atividade. Repetiu várias vezes a experiência, mas complicando-a: à apresentação da carne, o cão ouvia o som de uma campainha. Como resposta a esta nova situação, o cão continuou a salivar.
Por último, tocou apenas a campainha, e o cão, que associara os estímulos "carne" e "som", respondeu salivando. Pavlov constatou que o cão reagiu ao estímulo condicionado ("som") com uma resposta que seria adequada ao estímulo natural ("carne"), mas inadequada ao estímulo "som".
Conclui-se que é possível programar, desprogramar, voltar a programar e, assim sucessivamente, diversos comportamentos.
6. Aplicações do Condicionamento Clássico
O condicionamento clássico pode ser usado em programas sistematizados de ensino e nas diferentes atividades humanas. Este condicionamento é a base de muitas aprendizagens que as pessoas fazem na vida quotidiana, pois é através dele que se explica a aquisição de muitos comportamentos, atitudes, sentimentos, emoções, com incidência nas fobias ou medos.
7. Condicionamento Operante
Processo de aprendizagem dinamizado pela obtenção do reforço e que é baseado na sua associação à resposta operante.
8. A Experiência da "Caixa de Skinner"
A "caixa de Skinner" consistia numa caixa que continha uma alavanca que permitia o fornecimento automático de alimento ao animal. Skinner colocou na caixa um rato faminto, o qual começou a explorar o ambiente: cheirando as paredes, arranhando, tateando, etc. Num destes movimentos explorativos, o rato aciona ocasionalmente a alavanca, caindo alimento.
Posteriormente, e ainda por acaso, o rato volta a premir a alavanca, o que faz cair outra dose de comida. A partir do momento que o rato descobre que para obter alimento tem que premir a alavanca, passa mais tempo na sua vizinhança e aciona-a insistentemente. Conclui-se que o rato, quando estabelece a associação entre a resposta operante (premir a alavanca) e o reforço (alimento), conclui a aprendizagem, ou seja, fica condicionado a premir a barra para comer.
No dia a dia, as pessoas tendem a repetir comportamentos que lhes provoquem agrado (ex: desenhar) e a evitar comportamentos que lhes provoquem dor (ex: deixar de estacionar o carro em cima de uma rampa se este já tiver sido rebocado alguma vez).
9. Reforço e Punição
- Reforço (ou recompensa): Estímulo agradável que, reagindo em consequência de um comportamento, aumenta a sua ocorrência.
- Punição (ou castigo): Qualquer estímulo desagradável que surge em consequência de um comportamento e que diminui a sua ocorrência.
O reforço pode ser:
- Positivo: Se é apresentado algo de apetecível.
- Negativo: Se é retirado algo aversivo.
10. Comparação entre Condicionamento Clássico e Operante
Enquanto que o condicionamento clássico acentua os aspetos mecânicos e passivos do sujeito, o condicionamento operante põe em relevo as suas motivações e iniciativas. A tabela seguinte resume as diferenças:
Condicionamento Clássico | Condicionamento Operante | |
---|---|---|
Estímulo | Específico e identificável, apresentado num certo período de tempo. | Não identificável, apresentado num longo período de tempo. |
Resposta | Involuntária e executada mecanicamente pelo sujeito, sendo específica à situação criada. | Dada ocasionalmente e voluntariamente iniciada pelo sujeito. |
Relação Resposta/Reforço | O reforço precede a resposta, sendo indiferente à mesma. | O reforço segue a resposta, sendo dependente da mesma. |
Atitude do Sujeito | Passiva (a resposta não se deve à iniciativa do sujeito). | Ativa (é o sujeito que decide os comportamentos a efetuar). |
11. Outros Tipos de Aprendizagem
a) Aprendizagem por Insight: Processo que ocorre quando se dá a compreensão rápida e inesperada dos dados de um problema e da forma de os organizar para o resolver.
b) Aprendizagem Social (Bandura): Ocorre pela observação e pela imitação das condutas daqueles com quem convivemos. Observação e imitação são os processos de aprendizagem que as pessoas fazem através da observação de comportamentos sociais, os quais são mentalmente imitados e exteriormente expressos.
c) Aprendizagem por Modelagem: Processo de aprendizagem social feito por observação e imitação de pessoas significativas.
d) Aprendizagem Vicariante: Aquisições em que os modos de proceder são sugeridos pela observação das consequências que recaem nos outros.
e) Aprendizagem Direta: Aquisições em que as consequências dos atos recaem sobre o sujeito que os pratica.