As Áreas Culturais do Brasil: Crioulo e Sertanejo
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Brasil Crioulo
O Brasil nos séculos XVI e XVII detinha grande parte da riqueza mundial.
Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais tornaram-se as principais províncias culturais negras, impulsionadas pela civilização do açúcar.
A partir de agora, veremos como a miscigenação, constituinte e constitutiva do nosso povo, se manifesta em cada região geográfica do país, que Darcy Ribeiro prefere denominar de área cultural.
A Formação do Brasil Crioulo
A área cultural do Brasil Crioulo abrange do estado de Pernambuco à Bahia, com uma quantidade enorme de negros vindos do continente africano para serem escravos na lavoura de cana-de-açúcar. Darcy Ribeiro ressalta que, durante quatro séculos (período da escravidão), vieram 100 milhões de negros da África. Deste total, apenas 12 milhões foram incorporados ao processo produtivo.
O restante morreu no trajeto, dadas as condições precárias dos “navios negreiros”, ou não suportou as condições de trabalho. O autor afirma que o “negro era igual carvão”: quando um morria, você colocava outro no lugar, sem alterar o funcionamento do sistema agroexportador da colônia, sustentado por escravos. É importante salientar que o negro era uma mercadoria (com valor de uso e valor de troca) muito valiosa, inclusive sendo, segundo Darcy, nas transações econômicas ocorridas no interior da colônia portuguesa, a “mercadoria equivalente universal” de todas as outras mercadorias.
A Vigorosa Cultura Negra
O Brasil Crioulo mostra não apenas os aspectos nefastos da colonização e da escravidão. Pelo contrário, foi a partir dessa tragédia humana e social que a cultura negra se tornou vigorosa, a ponto de impor padrões culturais no processo de miscigenação. Essa “negrada” — palavra utilizada pelo autor não em tom pejorativo — deixou de “serem eles para tornarem-se nós, os brasileiros”.
A cultura africana vive em cada um de nós, é a “seiva” que nos faz mais belos como povo. As influências africanas podem ser percebidas em tudo que o brasileiro cria:
- Na culinária;
- Na religião;
- Nas palavras e expressões de afeto usadas nas relações íntimas (Ex.: Cafuné e Dengo);
- Na dança, na música e na arte.
Brasil Sertanejo
A área cultural do Brasil Sertanejo refere-se geograficamente à região nordestina do país, mais especificamente do norte da Bahia ao sul do Ceará, passando por Paraíba e Pernambuco. Caracteriza-se por ser uma região com pouca água, solo árido, pouca vegetação e calor intenso, dificultando o cultivo de alimentos por parte da população.
O Deserto Brasileiro e a Violência Histórica
Segundo Darcy Ribeiro, o sertão nordestino é o “deserto brasileiro”; porém, é a parte do Brasil onde vive o povo mais adaptado às intempéries da natureza, como nos ensina Euclides da Cunha, na sua obra Os Sertões. É uma região que, historicamente, foi marcada por muito sofrimento e violência.
Os coronéis locais, aproveitando-se da dificuldade das “forças oficiais da lei” de chegar ao sertão, tinham o poder de “vida e de morte”, sendo eles mesmos, com o poder das armas, os “donos da lei”. O Cangaço, conhecido em todo o Brasil, surge neste contexto. Eram homens que se rebelaram contra os mandos e desmandos dos coronéis, utilizando o único meio possível naquela região: o poder das armas.
Assim, os cangaceiros — tendo no grupo de Virgulino Ferreira, o Lampião, a maior fama — eram mercenários contratados por determinados coronéis para matar os coronéis inimigos e seus jagunços (milícia organizada por cada coronel), exercendo, portanto, a “justiça” nas “bandas de lá”. Para comprovar a “morte encomendada”, mostrando que eram “cabras de palavra”, os cangaceiros tinham o hábito de cortar as cabeças dos mortos como prova e, também, como troféu de vitória e medo nos “inimigos de outras bandas”.
O professor Antônio Risério, no audiovisual que acompanha esta aula, lembra de uma passagem no livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, no qual, ao referir-se à violência da região sertaneja, o autor afirma:
“No sertão tem que ser forte com as astúcias. Deus mesmo quando vier, que venha armado, pois a bala é um pedacinho de metal.”
Cultura e Messianismo Popular
Mesmo com toda esta dificuldade de sobrevivência, o sertanejo (mistura de brancos e índios mestiços) é um povo alegre, legando ao Brasil culturas riquíssimas, tais como:
- O Baião, o Forró e o Frevo;
- Comidas Típicas;
- Vestimentas e objetos característicos.
Por fim, não se pode comentar sobre a cultura do povo sertanejo sem ressaltar a religião popular. Darcy Ribeiro afirma que nesta região formou-se, ao longo do tempo, um messianismo popular. Para ele, a religião nordestina difere de outras regiões brasileiras, dentre outros motivos, por caracterizar-se pela mistura com lendas e folclores locais, bem como pela relação de intimidade com os santos (no caso do catolicismo), ao ponto de “pegar birra” ou “virar o santo de ponta-cabeça” quando algo não sai conforme o pedido.