O Que É Arte? Uma Análise Filosófica
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O QUE É A ARTE?
EXPERIÊNCIA ESTÉTICA
A obra de arte implica interpretação daquele que a vê/ouve.
Como caracterizar uma experiência estética (ou experiência do belo artístico)?
vivência de um estado de prazer que acompanha a contemplação do objeto belo.
Atenta - concentrada no objeto.
Desinteressada - desligada da utilidade do objeto.
Podemos ter experiência estética ao contemplar os seres/coisas da natureza. Importante assumir uma atitude estética.
Exe: “ As pinturas de Leonardo Da Vinci são belas” - é um juízo estético (faz apreciação do objeto tendo como critério a beleza; tem por base o que se sente)
2º Kant = Juízo de gosto – depende unicamente do agrado/desagrado do sujeito
Prazer estético proporcionado pelas coisas belas é puramente contemplativo e desinteressado. O juízo de gosto é subjetivo e universal
O prazer proporcionado pelas coisas belas é independente de qualquer interesse;
Subjetivismo Estético
Belo (ideia de beleza) depende dos gostos, preferências e sentimentos pessoais.
Juízo 2º o qual algo é belo decorrer exclusivamente da sensibilidade do sujeito perante determinado objeto.
Como nem todos concordam relativamente à beleza de algo, só os critérios subjetivos permitem dizer que algo é belo
Objetivismo Estético
Belo não depende dos gostos ou sentimentos pessoais.
Juízo 2º o qual algo é belo baseia-se nas características ou propriedades intrínsecas (por exe: unidade,intensidade, etc.), i.e., efetivamente existentes neles (influenciada por Platão).
Apesar de nem todos concordarem relativamente à beleza de algo, existem critérios objetivos que permitem dizer que algo é belo.
O PROBLEMA DA DEFINIÇÃO DA ARTE
obra de arte resulta da criação a que o artista dá forma (há fatores configurativos que o influenciam como: sociedade, cultura, experiência pessoal/de vida); ao interpretar a realidade, configura-a, transforma-a, transfigura-a criando algo novo, que pode ser apreciado, por outros.
criatividade - o artista mostra a sua perícia (p. ex. manual, numa pintura ou escultura), mas também imaginação e originalidade.
expressão da ideia que o artista tem das emoções, por isso se diz que as obras são símbolos da emoções – o artista consegue comunicar a sua ideia a quem aprecia a obra.
Teorias Essencialistas
ARTE COMO IMITAÇÃO (OU MIMÉTICA*)– PERSPECTIVA DE PLATÃO
tese q Platão defende sobre o q é a arte?
R: A arte é imitação
Justificação:
Artista produz algo que copia de determinado objeto que, por sua vez, é uma aparência.
A verdadeira essência do objeto encontra-se no mundo inteligível – o mundo das Ideias – e, sendo o objeto (físico) situado no mundo sensível, é apenas uma imitação (cópia imperfeita) da sua essência, então, ao imitar a natureza, (reproduzindo os objetos), o artista está a imitar uma imitação, ou seja, as obras de arte são cópias de cópias, pelo que iludem duplamente.
Platão serve-se da tese de que a arte é imitação para a desvalorizar.
algo é obra de arte só se algo é uma imitação
Então, imitar e reproduzir os objetos, pessoas e as ações tal como elas existem é uma condição necessária da arte é tanto melhor quanto mais fielmente reproduzir aquilo que imita.
Objeções à Teoria da Arte como Imitação
Esta teoria é demasiado restrita, pois não contempla artes não imitativas como a pintura abstrata, arquitetura, música instrumental, dança, cinema e literatura. Há obras que não imitam nada. A verdadeira arte é sempre uma transfiguração do real.
Se toda a imitação é representação, nem toda a representação é imitação. Algo é uma obra de arte só se algo é uma representação.
A TEORIA DA ARTE COMO EXPRESSÃO
Opõe-se à teoria da arte como representação.
▪ Tese: Algo é arte se, e só se, exprimir sentimentos e emoções do artista.
Segundo Tolstoi, a arte:
- é um meio de transmitir emoções,/sentimentos pelo que se pressupõe que eles estejam presentes no artista: o artista tem de sentir algo (autenticidade). Exige-se clareza de expressão nessa transmissão (não deve ser confusa/aleatória) deve haver intencionalidade.
- é um meio de as pessoas se comunicarem e relacionarem (une as pessoas nos mesmos sentimentos/emoções) levando o espetador a experimentar sentimentos e emoções idênticos àqueles que o artista experimentou e que transmite na sua obra.
- transmite a singularidade do sentimento do artista (sentimento individual e não geral/coletivo) que contagia o recetor. Isto exige autenticidade e sinceridade do artista.
- quanto maior for o contágio mais valiosa será a obra, ou seja, a eficácia da transmissão é essencia.
Objeções à Teoria da Arte como Expressão
Demasiado restrita (ou exclusiva) - há obras que não exprimem qualquer emoção/sentimento, por exemplo na arquitetura e na pintura abstrata que não seriam consideradas arte. Mesmo se se admitir que a emoção está na base da criação, o momento em que o artista cria a obra geralmente não coincide com o estado emocional que o motivou.
Não há garantia que aquilo que sentimos corresponda ao sentimento do seu criador (apreciar e compreender uma obra que retrata o ódio racista não significa sentir, enquanto espetador, essa emoção).
TEORIA DA ARTE COMO FORMA (FORMALISTA)
Algo é uma obra de arte se, e só se, foi criado intencionalmente para possuir e exibir forma significante
2º Bell:
Todas as obras que classificamos como arte são objetos criados por seres humanos – artefactos – que têm o poder de despertar em nós - público – uma emoção estética.
Emoção estética = refere-se não à emoção quotidiana como o medo ou a ira, nem as emoções que possam ser expressas pelo artista, mas a um tipo particular de emoção (mais profundo e sublime), próprio da nossa apreciação da obra de arte (só os objetos artísticos podem provocar).
Forma significante = configuração ou estrutura formal organizada e unificada de linhas, formas, cores, volume ou outros que suscita no público emoções estéticas.
Assim: o objeto classificado como arte distingue-se de outros objetos porque estimula emoções estéticas e estas acontecem em virtude de uma característica que as define: a forma significante.
Poder-se-ia reconstruir o argumento de Bell da seguinte forma:
(1) Todas as obras de arte visual têm alguma propriedade em comum, ou quando falamos de «arte» dizemos coisas sem sentido.
(2) É falso que quando falamos de arte dizemos coisas sem sentido.
(3) Todas as obras de arte visual têm uma propriedade comum. (de 1 e 2 por silogismo disjuntivo)
(4) A propriedade comum a todas as obras é a forma significante, ou é outra propriedade que não a forma significante, como a representação ou a expressão de emoções.
(5) A representação ou a expressão de emoções são propriedades acidentais de algumas obras de arte e não propriedades essenciais comuns a todas elas.
(6) Logo, a propriedade comum a todas as obras de arte é a forma significante. (de 4 e 5, por silogismo disjuntivo)
Argumentos:
É mais inclusiva que as anteriores: inclui obras as obras abstratas, as musicais e as arquitetónicas (todas têm forma – uma organização de elementos capazes de provocar a emoção estética).
▪ Algo é uma obra de arte se, e só se, foi criado intencionalmente para possuir e exibir forma significante (algo é arte se, e somente se, provocar emoção
estética, sendo esta o resultado da forma significante); a função da obra é, apenas, mostrar a sua forma significante.
OBJEÇÕES À TEORIA DA ARTE COMO FORMA
viciosamente circular - refere que a emoção estética resulta de uma propriedade (a forma significante) destinada precisamente
a desencadear essa emoção no espectador. O que se pretende explicar – a emoção estética sentida pelo espectador – faz
parte da própria explicação: a emoção estética resulta de algo que produz emoção estética e do qual nada mais se pode afirmar
Teorias Não Essencialistas
Algo é obra de arte, num sentido classificativo, se e só se, for um artefacto com um conjunto de características ao qual foi atribuído o estatuto de candidato a apreciação por uma ou várias pessoas que atuam em nome de determinada instituição social chamada “mundo da arte”.
TEORIA INSTITUCIONAL DA ARTE
Segundo Dickie há 2 condições necessárias e conjuntamente suficientes:
1) Artefactualidade - artefacto em sentido lato = algo fruto do trabalho ou intervenção humana; inclui objetos/atividades que o que o artista produz, objetos/atividades produzidos por outros e usados pelo artista, coisas retiradas da natureza e colocadas noutro contexto pelo artista. Ex: movimentos de uma coreografia, pode ser um artefacto se exposto numa galeria de arte (é, portanto, mais abrangente);
2) Atribuição do estatuto de candidato a apreciação (não é obrigatório que venha a ser apreciado) – por um ou vários membros ligados a uma certa instituição social, que é o mundo da arte = constituído por artistas, produtores, agentes, colecionadores, público (conj. pessoas preparadas, em certo grau, para compreender o objeto apresentado) etc.
- Implica algo semelhante a um “batismo” – em chamar algo arte mas, frequentemente, consiste na publicação, exibição ou representação da obra.
Assim, ser um artefacto é uma condição necessária para que algo seja considerado obra de arte, mas não uma condição suficiente (caso contrário, todo o artefacto seria obra de arte).
Só satisfazendo as condições de artefactualidade e de atribuição de estatuto é que algo pode ser considerado obra de arte.
Sendo uma conceção extremamente flexível em relação àquilo que pode ou não ser considerado arte, a teoria institucional apresenta algumas virtudes, mas é também alvo de objeções.
Apesar de tais objeções, a teoria institucional chama-nos a atenção para o caráter decisivo do campo cultural em que uma obra aparece no que diz respeito à avaliação que dela se faz.
OBJEÇÕES À TEORIA DA ARTE INSTITUCIONAL
quase tudo – ou mesmo tudo – se pode transformar numa obra de arte bastando para tal o parecer de pessoas avalizadas nessa matéria; não permite distinguir a boa da má arte: dizer que algo é arte é apenas classificá-lo como tal sem avançar qualquer apreciação valorativa a respeito do facto de essa obra ser boa/má ou indiferente.
noções de «artefacto», «candidato à apreciação» e «mundo da arte» são suficientemente generosas para não excluir a criatividade ou qualquer forma imaginável de experimentação artística; contudo, é demasiado inclusiva correndo o risco de não nos permitir distinguir arte de não arte.
TEORIA HISTÓRICA DA ARTE
A arte é um fenómeno inteiramente dependente da sua história.
▪ Teoria histórica da arte – ou, mais corretamente, histórico-intencional – foi apresentada pelo filósofo Jerrold Levinson.
▪ Levinson pretende dar uma definição de arte suficientemente ampla para englobar tudo o que seja considerado obra de arte, ele destaca não o «mundo da arte» mas sim as intenções de quem cria a arte.
De acordo com este autor, são as seguintes as condições – condições necessárias e conjuntamente suficientes – para que algo seja considerado uma obra de arte, aplicando-se a toda a arte possível:
▪ O direito de propriedade sobre o objeto – o objeto é nosso ou temos o direito de o usar como tal. Assim, o artista não pode transformar em arte qualquer coisa que queira.
▪ A intenção séria ou não passageira de que o objeto seja visto/ perspetivado como uma obra de arte, i.e., seja visto como corretamente foram ou são vistas as obras de arte do passado.
▪ as obras de arte têm um tipo especial de relação com as práticas do presente e do passado, tanto de artistas como de observadores, sendo caracterizadas pela historicidade.
Algo é uma obra de arte se, e só se, alguém com direitos de propriedade tem a intenção séria de que seja encarado da mesma forma como foram corretamente encarados outros objetos abrangidos pelo conceito de «obra de arte»
OBJEÇÕES À TEORIA HISTÓRICA DA ARTE
Demasiado abrangente: se uma falsificação de uma obra for criada com a intenção séria de ser vista como corretamente o são ou foram as obras de arte no passado/preexistentes, então também devia ser considerada obra de arte.