Arte Cristã e Românica: Arquitetura, Escultura e Influências
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Tipologia: Espaços amplos (ideal para reunir os crentes) com organização longitudinal, planta em cruz latina, 5 naves separadas por colunas que terminam na cabeceira onde se encontra o altar. Esta organização favorece a concentração/atenção do público sobre o altar onde se celebra a eucaristia. O transepto separa o espaço sagrado do espaço profano e reforça a divisão entre os sacerdotes e os fiéis. Teto de madeira.
Características Fundamentais da Plástica Cristã: Desaparece a paisagem e é substituída por espaços abstratos/irreais. As figuras aparecem suspensas, irreais, alinhadas, com gestos estereotipados, num tempo e lugar desconhecidos. Quase perde o sentido de volume e perspectiva. A estética reduziu as formas a superfícies planas e aboliu a escultura para evitar o culto aos ídolos. Desaparece a luz/sombra e surge uma luz constante e difusa.
Primeira Igreja: São João de Latrão (Roma), Mandada por Imp. Constantino: Igreja = ekklesia - palavra grega para assembleia que era o espaço adotado da basílica romana onde aconteciam reuniões públicas para falar de justiça.
Arquitetura Primitiva Cristã: Exterior - despojado | Interior - celestial, eterno, afasta do mundo exterior, guarda o esplendor de Deus. As paredes servem para ensinar a palavra de Deus aos fiéis. Daí nasce a pedagogia da imagem. A arte cristã representa o invisível: Deus é espírito! Representação conceptual.
A Queda do Império Romano do Ocidente: Início da Idade Média
A queda do Império Romano deu-se gradualmente, tendo-se iniciado no séc. V com a queda da parte ocidental. O início da queda do império foi simultâneo ao período do baixo império e à subida ao poder de Constantino, em 305.
Quando Constantino subiu ao poder, encontrou um império fragilizado e fracionado, devido à sua divisão em duas partes. Após várias conquistas e com o propósito de reorganizar o estado, Constantino reunificou o império em 324. Contudo, este imperador tomou duas decisões que iriam ser a origem da queda do império: a oficialização do Cristianismo através do Edito de Milão (o imperador acreditava que esta ação iria ajudar à reunificação do império devido à força desta religião nesta altura), em 323, e a transferência da capital do império para Bizâncio, que fora então renomeada Constantinopla.
A aceitação rápida do cristianismo deveu-se à angústia e desamparo sentido pela população romana, que assistia à degradação do império. Esta religião apoiava as pessoas na medida em que conseguia conciliar duas tendências de valor opostas: o humanismo e a sua relação com a forma, a imagem visível do espírito, e a espiritualidade mística advinda do oriente que sobrepunha o valor do espírito face à matéria. Importou também a tendência dualista, opondo o bem e o mal e pregando o desprendimento do mundo terreno.
Roma acabou por cair em 410, com a sua destruição pelos bárbaros, e o império romano do ocidente acabou por ver o seu término a 476, tendo-se fragmentado em vários reinos bárbaros. Este acontecimento marca o início da Idade Média.
A Construção da Identidade Artística Europeia
A partir do séc. III, a arte europeia sofreu grandes alterações, trazidas pela introdução de características orientais e de outras culturas e da mudança de mentalidade advinda do culto cristão.
Ao contrário do sistema artístico clássico, que se baseava num entendimento do mundo e do homem racional e subordinado à especulação metafísica, este novo sistema artístico apoiava-se em novos pressupostos, como os da fé inquestionável numa entidade abstrata (Deus), ou seja, num dogma. Tal como havia acontecido no antigo Egito, retomava-se a subordinação do homem a Deus, ao invés do paganismo clássico.
A base desta nova gramática artística era, portanto, o cristianismo e todos os pressupostos que lhe estivessem subordinados. A universalidade desta religião deveu-se às suas características: o Deus era o mesmo para todos, a mensagem de salvação era dirigida a todos, e a religião conseguia conciliar a razão e a fé, tornando-se mais forte.
A grande divulgação desta nova cultura refletiu-se grandemente na arte. A plástica clássica, racional e naturalista foi substituída por uma representação conceptual e imaterial. As figuras já não tinham que representar, portanto, coisas reais, pelo que se apresentavam como suspensas e irreais. Perdeu-se o sentido de volume e de perspectiva, visto que a função da imagem era transmitir a mensagem na sua essência, em função de uma ordem moral e ideológica. A estética cristã reduziu as formas a superfícies e aboliu a escultura, e, por fim, adotou e adaptou a basílica romana à igreja, em detrimento do templo pagão.
A Formação da Arte Cristã
A arte cristã baseava-se na ideia de que não era necessário ver para crer. Desta maneira, a natureza abstrata, invisível e indizível de Deus dispensava o suporte das imagens, que, enquanto matéria, se corrompiam e degradavam. Contudo, elas acabaram por surgir como meio de propaganda desta nova religião.
A arte cristã teve o seu início nas catacumbas romanas, num período designado paleocristão, a c. séc. III. Foi adotada mais tarde pelos povos germânicos que fundaram os seus reinos em locais onde outrora existia o império romano, tendo iniciado a cultura da Idade Média.
Sendo o cristianismo a religião oficial do império romano, foi necessário encontrar um edifício adequado à prática religiosa, funcional e simbolicamente. Como os cristãos necessitavam de um espaço amplo devido às atividades congregacionais que reuniam muitos crentes, a basílica romana foi a resposta a essas necessidades.
A sua organização axial favorecia a concentração da atenção do público sobre o altar onde se devia celebrar a eucaristia. Um exemplo de um edifício que seguiu esta tipologia foi a Igreja de São João de Latrão. Esta era composta por um espaço longitudinal, separado em cinco naves separadas por colunatas e direcionadas para a cabeceira, em cuja abside se situava o altar. Antes da cabeceira situava-se uma nave perpendicular, o transepto, que separava o espaço profano do espaço sagrado.
Contudo, a igreja não era a única tipologia ligada ao culto cristão. Baptistérios, martyrias e mausoléus também eram edifícios relacionados com esta cultura emergente. Contudo, seguiram modelos diferentes; seguiram o modelo de planta centrada, de tradição clássica.
A Arte Bizantina e o Império Romano do Oriente
Após a derradeira separação do império romano do ocidente e do império romano do oriente, o último emergiu como uma grande potência económica e militar que iria perdurar até ao séc. XV, com a queda desta secção do império através da sua conquista pelos Otomanos. A excelente posição geográfica de Constantinopla, a “porta entre a Ásia e a Europa”, transformou-a no entreposto comercial mais importante da época. Esta confluência de culturas numa cidade que servia de elo de ligação entre elas criou uma coexistência à volta dessa urbe. Distingue-se a coexistência da cultura cristã, que vinha de ocidente, e da cultura islâmica, trazida do oriente. Pode-se considerar, portanto, que o império bizantino é o reflexo da mistura de duas culturas: ocidental, cristã quanto à origem (o império bizantino é a continuação da história do império romano do ocidente) e oriental quanto às influências que o modificam. No reinado de Justiniano, no séc. VI, o império bizantino alcança o auge, tanto com a afirmação do domínio político e cultural sobre o ocidente como com a afirmação artística, visto que esta potência era a mais magnânima a este nível (o que se reflete em obras como a Igreja de Santa Sofia).
Com a cada vez menor influência e, por fim com a conquista do mesmo pelos Turcos, o império bizantino extinguiu-se. Contudo, deixou marcas profundas na arte. A sua cultura já se havia difundido nos povos eslavos, os quais perpetuaram as tradições durante os séculos.
A cultura cristã também adotou várias características bizantinas. O monaquismo, o principal instrumento de cristianização do mundo rural, em que se encontrava a maior parte da população, usou elementos visuais de antigas crenças com significados cristãos de modo a transmitir a mensagem divina. Essa imagens tinham origem formal nos traços bizantinos e materializavam-se sob a forma de ícones (representações imaginárias das entidades divinas). Com a reutilização dos ícones, retomou-se a ideia de arte móvel dos pré-históricos. Esta arte, que se traduzia em placas de madeira pintada, era utilizada em várias situações, como em paredes de igrejas, cerimónias religiosas...
A Influência Germânica e o Renascimento Carolíngio; o Pré-Românico
A partir do séc. V, a parte ocidental do império romano foi invadida pelos povos “bárbaros” de origem germânica, que acabaram por entrar e saquear Roma e, por fim, estabelecer reinos que coincidiam praticamente com o antigo império romano.
Nesta altura, os bárbaros já se encontravam romanizados, cristianizados e falavam o latim. Estes factos contribuíram para a fusão entre a cultura germânica e a cultura romana, que se reflete, por exemplo, numa mistura de cargos governamentais: chefes bárbaros e latifundiários romanos a dominarem as terras e o Papa, com os seus bispos, a presidir o poder espiritual.
Na Gália, no séc. VIII, nasceu Carlos Magno, um dos maiores imperadores ocidentais. Foi uma figura decisiva no desenvolvimento da cultura medieval da Europa Ocidental, uma vez que a conseguiu reunificar.
Através da conquista da maior parte do antigo império romano, Carlos Magno ressuscitou a ideia de um império tão forte como o romano.
A nível artístico, a cultura carolíngia mostrou-se na edificação de mosteiros, catedrais e outros edifícios de grandes dimensões, na execução de manuscritos e iluminuras, entre outros. Um exemplo da sua obra é a Capela Palatina, à imagem de S. Ravena. Este edifício reúne características originalmente romanas (naturalismo clássico, em capitéis coríntios importados da Itália) e outras bizantinas.
Concluindo, o renascimento carolíngio funcionou, portanto, como unificador da tradição celto-germânica com a cultura latino-mediterrânea.
A Arte Islâmica em Território Europeu
No séc. VI, as tribos beduínas que habitavam a península arábica abandonaram a pastorícia e dedicaram-se à condução de caravanas através do deserto, constituindo importantes rotas comerciais entre o oriente e o ocidente. Começaram, portanto, a nascer novas cidades pelo deserto, em oásis. Em 610, Maomé fundou uma nova religião — o Islamismo —, que rapidamente se implantou em todo o território árabe e que se expandiu, através de conquistas, desde a pérsia até à península ibérica. As características que providenciaram ao islamismo esta grande expansão foram o pregar da igualdade entre os homens e um certo fanatismo, realizado sob a forma da “guerra santa”, que lutava contra os infiéis, tendo como objetivo subordinar os povos à vontade de Alá. Maomé encarregou os seus “sucessores” desta missão, criando e transmitindo-lhes todo um sistema político-religioso (teocracia) que suportasse este fim a atingir.
Contudo, o desenvolvimento desta teocracia revelou algumas contradições: enquanto o Corão defendia a igualdade e reprovava a ostentação da riqueza, os califas edificavam enormes palácios com o propósito de explicitar o seu poder. Durante o califado Omíada (661-750), o Islão atingiu a sua maior expansão, formando um império que duraria por mais três séculos. Foi nesta altura que surgiram os primeiros testemunhos artísticos desta religião.
Com a deslocação do poder de Medina para Damasco, surgiu a Mesquita de Damasco; mais tarde, em Jerusalém (tornada capital), surge a Cúpula do Rochedo. Estes edifícios já eram uma revelação da simplicidade e abstração da arte islâmica que se limitava a transparecer os princípios desta religião.
A arte islâmica, apesar de se ligar fortemente à religião, não deixou de sofrer as inevitáveis heranças ocidentais, provenientes do legado greco-romano e da arte cristã em geral (a arte islâmica utilizou os modelos cristãos). No entanto, ao contrário do ocidente, o islão conseguiu manter uma vida urbana ativa, o que se refletiu na constituição das suas cidades e, como seria de esperar, na arquitetura.
A Arte Cristã
Com o ganhar de forma da Europa, através da assimilação dos territórios pelos novos reinos bárbaros, esta começou a enriquecer e floresceu uma arte eminentemente europeia. Esta arte, fortemente ligada à cultura cristã, tinha o objetivo principal de ser funcional, ou seja, de transmitir a doutrina cristã (função). As obras de arte eram principalmente presentes oferecidos a Deus, para o louvar. A criação artística desenvolvia-se, portanto, em volta do altar, do oratório e do túmulo. Havia a crença de que as igrejas tinham que ser ricamente ornamentadas, e, através destes edifícios, transmitia-se o esforço, sensibilidade, inteligência e habilidade máximos do homem. A igreja tinha de ser a imagem do máximo do homem.
As obras de arte — monumentos, objetos e imagens — religiosas funcionavam como mediadores entre o homem e Deus. Tinham, paralelamente, uma função pedagógica, que era a de transmitir aos iletrados aquilo em que deviam acreditar.
O divino exercia um poder muito grande sobre a constituição artística. A arte era uma afirmação sólida do seu poder. Essa característica está patente no facto de toda a obra religiosa surgir como um cenário que se distingue do vulgar.
A arte era encomendada, nesta altura, a artistas, apesar do nome deles não constar na obra, uma vez que os primeiros não eram importantes para o que ela significava. Nascia, portanto, nos locais mais desenvolvidos economicamente e onde se concentrava o poder, uma vez que necessitava dos seus benefícios para crescer.
Pelo facto da obra de arte se apresentar puramente como objeto funcional, não havia distinção entre o artista e o artesão. A estes era encomendada a obra principalmente pela igreja; contudo, não tinha poder sobre a criação da imagem, porque isso não lhe dizia respeito, uma vez que já tinha sido criada pela igreja; aos artistas cabia única e exclusivamente a inclusão da imagem na obra de arte.
Islão e o Aniconismo
A arte islâmica é anicónica, uma vez que rejeita a representação figurativa na sua totalidade, devido ao perigo de idolatria.
Devido ao nomadismo das tribos beduínas, a arte nunca teve espaço para se desenvolver entre esta cultura. Assim, a palavra toma o espaço deixado livre: a transmissão oral ganha a maior importância. Desta maneira, a palavra, na cultura islâmica, ganha um valor idêntico ao da imagem na cultura cristã e, visualmente, a caligrafia adquire um carácter iconográfico, substituindo as imagens e entranhando-se no sistema decorativo da arte islâmica.
Outra razão que pode ter levado à não reprodução da realidade foi a crença de que só Deus pode transformar um ser inanimado em algo com vida, pelo que o homem não podia replicar a criação de Deus sob a forma de imagens. Este facto reflete-se na inexistência de escultura na arte islâmica.
Uma característica importante da arte islâmica é a indistinção de cada expressão artística no que toca a escolher o repertório de formas, cores... para a utilização na obra. Enquanto no ocidente a escultura, a arquitetura ou a pintura apresentavam um leque de formas e funções específicas, no Oriente estas apresentam-se independentemente da expressão artística, pelo que os motivos utilizados numa parede podiam ser igualmente utilizados num tapete ou num vaso.
A arte islâmica distinguiu-se ainda pelo rico cromatismo, pelos efeitos ilusórios e pelo uso intensivo da forma geométrica, da forma abstrata, da caligrafia e do arabesco, recursos usado para “fugir” à representação realista. Desta maneira, pode considerar-se a arte islâmica como uma arte única e exclusivamente conceptual, cujo conceito é a essência do universo.
A Organização Urbana Islâmica
Com a expansão dos povos beduínos no Médio Oriente, estes começaram a habitar os ambientes urbanos. Desta maneira, a estrutura da cidade teve de se adaptar aos moldes destes novos habitantes, considerando novas exigências religiosas, económicas e sociais. A cidade islâmica cresce, portanto, de um modo especial. As cidades anteriores foram adaptadas e as novas cresceram com uma estrutura que reflete o contexto deste povo. O crescimento da urbe islâmica é orgânico, natural, biológico, e com um aspeto aparentemente desordenado que ainda se mantém. A carência de planeamento urbano não advém apenas da assimilação de uma vida nómada numa cidade; é consequência igualmente de uma vida devota à religião, a crenças e formas de vida. A sua estrutura é radial, apresentando-se os edifícios político-religiosos e comerciais no núcleo, separados dos bairros habitacionais por muralhas. Ao nível da adaptação de outras cidades, a rigidez e rigor deste povo obrigou à destruição e reconstrução de uma cidade conquistada, sendo que esta se acaba por reconstruir em volta do esquema islâmico. O conceito de rua é totalmente diferente do ocidental: a rua aparece como local semi-privado, estreito e labiríntico, muitas vezes sendo um beco, e que contribui para a ideia de casa “virada para dentro”, que serve para proteger a intimidade familiar, característica peculiar da cultura islâmica. É este elemento que fornece à cidade muçulmana o seu carácter privado, hermético e sagrado. É este elemento que, por se revelar negativamente na cidade islâmica, faz com que a urbe não tenha rosto, não tenha nada a exibir.
A casa, também ao contrário da casa ocidental, cresce de dentro para fora, isto é, organizada em compartimentos orientados para um pátio interior. Em sintonia com os seus princípios, a fachada da casa é construída no seu interior, para contemplação do dono, e respeitando quem não tem possibilidades de a ter. A não exibição da riqueza de uma casa é uma mais valia para o muçulmano, a quem a ostentação repugna.
Os edifícios de cariz religioso, as mesquitas, primeiramente eram erigidas reproduzindo a casa de Maomé, integrando um pátio, uma sala de oração, uma parede frontal às naves que indica a direção para a qual se deve orar... Tal como a casa típica islâmica, a mesquita cresce de dentro para fora, ganhando uma certa intimidade, muitas vezes reforçada pela invisibilidade que os bazares e outros edifícios que se constroem em sua volta lhe dão. Esta tipologia arquitetónica ficou consolidada no séc. IX, tanto a nível de estrutura como de inserção urbana.
continuação)Tal como a casa típica islâmica, a mesquita cresce de dentro para fora, ganhando uma certa intimidade, muitas vezes reforçada pela invisibilidade que os bazares e outros edifícios que se constroem em sua volta lhe dão. Esta tipologia arquitetónica ficou consolidada no séc. IX, tanto a nível de estrutura como de inserção urbana
A Formação da Arte Românica
Desenvolvido entre os sécs. XI e XII, o românico foi o estilo arquitetónico que eclodiu na Europa Ocidental e que suportou outras formas de expressão como a pintura e a escultura. O termo constituiu-se a partir do séc. XIX, sendo que abrangia os edifícios que seguiam a tradição construtiva romana.
Com a hegemonia da igreja nos campos da cultura e arte, a fé tomou maior importância do que qualquer outra temática no campo da produção artística. Os grandes centros culturais e artísticos estavam ligados a ela, e era ela o tema da maior parte dessa mesma produção. A proximidade entre a igreja e esta corrente artística fez com que a arte ganhasse uma nova dimensão apoiada numa função muito própria — a de glorificar Deus.
Assim, a arte “falava” das verdades eternas da fé, no além... A materialização de todo esse espírito religioso está patente na maior parte das edificações, que eram austeras, imponentes e grandiosas, mas que não ambicionavam mais do que afirmar a presença de Deus na terra. A nível formal, os edifícios românicos têm várias características comuns: são maciços, impenetráveis, escuros, misteriosos e místicos. Todas estas características estão evidentemente ligadas aos conceitos religiosos.
Também se distinguem as várias tipologias, como a igreja, a abadia, o mosteiro, o castelo. A igreja, uma edificação muito popular, ganhou vários traços que nasceram da sua principal função: a de acolher muitos peregrinos de modo a proceder aos rituais próprios. Assim, este edifício constitui-se segundo um percurso (outro elemento com significado religioso), constituído por uma nave central, duas naves laterais (todas com direção ocidente-oriente).
continuação)direção ocidente-oriente), um transepto que cruza a nave central no cruzeiro, um caminho semi-circular que rodeia o altar e uns altares mais pequenos que sustentam as relíquias, denominadas absidíolas. No românico, a arquitetura, apesar de ser a expressão mais exemplificativa, não apareceu isolada. Outras formas de expressão artística foram dinamizadas em conjunto com a primeira, como é o caso da escultura. Esta tinha a função de dar mais ênfase ao carácter teatral e espetacular com que o românico tentava representar o mundo de Deus, realizando-se sob a forma de imagens realistas ou de fantasia (consideradas também criações divinas). Conclui-se, portanto, que a arquitetura cria um espaço de abertura a outras formas de expressão de modo a ganhar uma plástica mais dinâmica e completa.
A Arquitetura Românica
Uma vez que a arquitetura românica estava muito ligada à igreja, é natural que a maior parte das tipologias arquitetónicas tenham uma relação muito próxima com a última. Contudo, há também outras tipologias, nomeadamente relacionadas com outros grupos sociais, como a nobreza feudal. Ligadas à igreja há principalmente as igrejas e mosteiros; relativamente aos senhores feudais reconhecem-se, principalmente, os castelos. Contudo, há uma plástica subjacente a todos os edifícios que, independentemente da região e suas diferentes soluções formais ou tipologias, permite reconhecer facilmente o edifício românico. A arquitetura desta época apresenta-se sempre com uma forte carga simbólica, formas e linhas simples e puras, com a utilização repetitiva de elementos construtivos. A sua austeridade convida ao recolhimento, à humildade perante Deus. Suporta, normalmente, outras expressões artísticas, como a pintura e a escultura, que lhe oferecem um acentuado carácter pedagógico, com o intuito de dirigir o indivíduo a uma sabedoria universal: a verdade da fé. Foi no final do séc. XI que a igreja românica atingiu a sua forma definitiva. A planta em forma de cruz latina — alusão simbólica à imagem de cristo na cruz —, a construção em blocos de pedra trabalhados, a cobertura em abóbadas de canhão suportadas por pilares cruciformes eram alguns dos traços da forma madura do edifício eclesiástico. Apresentava espaços mais distintos, como a cabeceira — o espaço sagrado, o do altar —, o portal e a abside. Algumas igrejas possuíam também uma cripta, um pórtico (antecâmara) e um claustro.
Porém, a igreja não só suprimiu as necessidades eclesiásticas como também começou a servir de local de reunião social ou de torre de vigia dos campos. Assim, ganhou uma função devido ao seu carácter multifuncional e centralizador, revelando a importância da entidade eclesiástica junto das comunidades que
continuação) o espaço sagrado, o do altar —, o portal e a abside. Algumas igrejas possuíam também uma cripta, um pórtico (antecâmara) e um claustro. Porém, a igreja não só suprimiu as necessidades eclesiásticas como também começou a servir de local de reunião social ou de torre de vigia dos campos. Assim, ganhou uma função devido ao seu carácter multifuncional e centralizador, revelando a importância da entidade eclesiástica junto das comunidades que
Escultura e Pintura Românicas
No românico, a pintura e a escultura surgiram quase sempre ligadas à considerada, na época, a expressão artística que incorpora o absoluto divino: a arquitetura. Por consequência, as primeiras duas formas de expressão vão desenvolver-se como partes de um programa arquitetónico: a escultura como instrumento decorativo tridimensional, desenvolvendo-se, por exemplo, nos capitéis e nos portais, e a pintura como instrumento de decoração de interiores bidimensional. Desta maneira, estas três formas de expressão artística vão unir-se numa simbiose com um único objetivo: comunicar aos fiéis as verdades da fé. Relativamente à temática, esta era decidida pelos teólogos da época; as obras estavam quase sempre conexas aos temas da igreja, tentando ser, dessa maneira, uma revelação de Deus. Por conseguinte, para cada tema tudo devia ser previamente definido, obedecendo a uma organização simbólica (por exemplo, a representação do Cristo Pantocrator ocupa sempre a abside central). As condicionantes impostas pela igreja levaram a que as representações sofressem alterações formais profundas relativamente ao que se tinha visto anteriormente. Primeiramente, os realizadores destes programas artísticos eram sobretudo monges especializados no campo da escultura e da pintura que dominavam as condicionantes e limitações impostas, tentando integrar as imagens à situação existente. Desta maneira, as imagens eram concebidas tentando estabelecer uma articulação perfeita com o espaço e com a forma preexistentes, o que resultou na dissolução de cânones, uma vez que as imagens se adaptavam sem ter em vista nenhuma regra formal. O resultado é a submissão a esquemas de natureza abstrata (próprios da arquitetura). A perda do realismo nestas obras é, portanto, evidente; contudo não resultou em nenhum problema, uma vez que o objetivo era uma representação conceptual, não uma representação óptica e realista.
A nível mais geral, esta alteração formal trouxe desde maior expressividade e acentuação do conceito (com a deformação das formas), mais movimento (com a adaptação da imagem à forma arquitetónica) e retomou o conceito de perspectiva hierárquica, em que as figuras se apresentam proporcionadas e distribuídas consoante a sua importância. Na pintura românica assiste-se a uma aproximação à arte oriental. A nível formal, assiste-se ao predomínio do desenho e à experimentação de novos jogos de cores. Com a dissolução do realismo, a pintura assimila fortemente os símbolos sagrados tradicionais,que se tornam no veículo de transporte da verdade da fé. Desta maneira, a pintura torna-se numa forma de escrita (“A imagem é a escrita dos iletrados”,Papa Gregório, séc. VI), comunicando através de ícones. A imagem ganha funcionalidade, sendo entendida como um “texto” figurativo para ser “lido” pelos crentes.
continuação) nenhuma regra formal. O resultado é a submissão a esquemas de natureza abstrata (próprios da arquitetura). A perda do realismo nestas obras é, portanto, evidente; contudo não resultou em nenhum problema, uma vez que o objetivo era uma representação conceptual, não uma representação óptica e realista.
A nível mais geral, esta alteração formal trouxe desde maior expressividade e acentuação do conceito (com a deformação das formas), mais movimento (com a adaptação da imagem à forma arquitetónica) e retomou o conceito de perspectiva hierárquica, em que as figuras se apresentam proporcionadas e distribuídas consoante a sua importância. Na pintura românica assiste-se a uma aproximação à arte oriental. A nível formal, assiste-se ao predomínio do desenho e à experimentação de novos jogos de cores. Com a dissolução do realismo, a pintura assimila fortemente os símbolos sagrados tradicionais,que se tornam no veículo de transporte da verdade da fé. Desta maneira, a pintura torna-se numa forma de escrita (“A imagem é a escrita dos iletrados”,Papa Gregório, séc. VI), comunicando através de ícones. A imagem ganha funcionalidade, sendo entendida como um “texto” figurativo para ser “lido” pelos crentes