Arte Românica: Contexto, Arquitetura, Escultura e Pintura
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Arte Românica: Contexto Histórico e Religioso
Naquela época, a religião e a crença no fim do mundo eram centrais. Inicialmente, edifícios religiosos eram construídos para pedir perdão a Deus, influenciados pela crença no Apocalipse. Na Europa, uma série de desastres, como epidemias que mataram milhões, más colheitas e outros eventos, levaram os cristãos a crer que Deus estava irado e que o fim do mundo se aproximava. Começaram a construir igrejas e a orar intensamente. Ao chegar o ano mil, e o mundo não ter acabado, muitos pensaram que haviam interpretado mal os sinais.
A arte estava totalmente ligada à religião, e a arte românica internacional impulsionou a criação de rotas de peregrinação. As Cruzadas surgiram para a reconquista dos Lugares Sagrados, como Belém (onde Jesus nasceu), ocupados pelos turcos, o que era visto pelos cristãos como mais um sinal da ira divina. Tropas de toda a Europa partiram para reconquistar os Lugares Santos, e até monges eram treinados para a batalha.
Patrocinadores e Artistas
Os Patrocinadores eram pessoas com grande poder aquisitivo que encomendavam e financiavam obras para a glória de Deus. Esses conceitos pertencem à esfera religiosa, dando origem a um nome e um sobrenome.
Os Artistas agrupavam-se em equipes e moviam-se rapidamente de um país para outro. Havia pouco interesse em registrar o nome do artista; o importante era a obra e o local onde ela foi realizada. Naquela época, a maioria das pessoas mal sabia ler ou escrever, de modo que todas as obras eram visuais, destinadas a transmitir as ameaças e recompensas após a morte. A produção artística concentrava-se principalmente na escultura e na pintura, sacrificando-se a beleza em prol da plasticidade. Escultores e pintores não dedicavam grande esforço à individualidade de suas obras.
Arquitetura Românica
O termo 'Românica' surgiu de forma depreciativa, sugerindo que os escultores românicos eram inferiores aos da Roma Antiga. No entanto, a arquitetura românica na França ecoava as igrejas primitivas. A arquitetura foi o principal veículo de todo o brilho da arte românica.
A Igreja Românica
Seu plano é geralmente uma cruz latina com uma ou mais naves longitudinais (1, 3 ou 5) e uma nave transversal ou transepto. Existem também templos com planta em cruz grega e templos de planta central (como batistérios octogonais ou igrejas templárias). As cabeceiras das plantas terminam em absides longitudinais, geralmente semicirculares, sendo a abside da nave central maior que as laterais. Às vezes, absides laterais, transeptos e capelas radiais são dispostos em um deambulatório semicircular que circunda a abside central. A nave central é mais alta que as laterais, criando um efeito de volume variado no exterior. A igreja românica é concebida como um conjunto de formas geométricas.
No segundo andar, a galeria (ou trifório) é uma característica que se abre para a nave. Este conjunto de janelas da galeria é chamado de grades (ou arcadas cegas). No cruzamento da nave com o transepto, geralmente surge uma abóbada hemisférica ou cúpula sobre pendentes. A cúpula central cobre o cruzeiro e, externamente, é coroada por uma torre-cúpula. As abóbadas são reforçadas com arcos que incidem sobre os pilares. Às vezes, utiliza-se o teto plano de madeira, típico das basílicas antigas e também com influência muçulmana na Espanha. Mas também é comum o uso de abóbadas de aresta, resultantes da intersecção de duas abóbadas de berço.
No interior do templo, as colunas românicas são cilíndricas, mas mais frequentemente encontram-se pilares retangulares e espessos, que se complicam ao se ligarem a colunas finas, pilastras ou pilares compostos, que sustentam os arcos da abóbada. Em igrejas menores, a espessura da parede, auxiliada por contrafortes ou suportes externos, suporta diretamente o telhado de pedra, sem a necessidade de arcos ou pilares.
Igreja de Peregrinação
Provavelmente, os principais fatores para a normalização, consolidação e difusão do Românico foram o crescimento das peregrinações e o papel central da Ordem de Cluny, que promoveu a unificação da liturgia em toda a Europa. Por outro lado, o culto das relíquias foi essencial para promover a existência de rotas de peregrinação, por onde fluíam pessoas, ideias e inovações técnicas e estéticas. Portanto, a peregrinação foi um fator chave no processo de globalização do Românico europeu.
O Mosteiro Românico
As ordens monásticas, espalhadas por toda a Europa cristã, foram agentes indispensáveis na unificação dos modelos construtivos e na difusão do estilo românico. Os mosteiros eram importantes centros culturais, e muitos deles possuíam bibliotecas e oficinas onde livros antigos eram copiados e ilustrados com miniaturas. As partes de um mosteiro românico, seguindo o modelo da Abadia de Cluny, consistiam nas seguintes seções:
- Claustro: Um pátio quadrangular com galerias em todos os quatro lados, sustentadas por colunas.
- Igreja: Frequentemente construída ao lado da ala norte do claustro.
- Sala do Capítulo: Uma sala construída na parte oriental do claustro e acessível a partir dele.
- Refeitório: O local onde os monges comiam.
- Dormitório: Seguindo a regra, todos os monges dormiam em comum.
- Escritório e Biblioteca: Área de trabalho onde monges copistas se dedicavam a copiar e iluminar manuscritos.
Arquitetura Românica na Europa
Embora a arte da Europa Ocidental durante os séculos XI e XIII apresente algumas características comuns, também é possível identificar diferentes escolas que surgiram devido às peculiaridades históricas e culturais de cada região.
França
A área de maior desenvolvimento foi a Borgonha, onde se destaca a Igreja da Abadia de Cluny, reconstruída entre 1080 e 1108. Outra grande igreja românica da região é a Basílica de Santa Maria Madalena em Vézelay. Sua grande nave central é coberta por uma abóbada de berço reforçada com arcos bicolores, que lembram os segmentos alternados da Mesquita de Córdoba. Impressiona pela sua fachada.
Itália
O Românico na Itália está principalmente no norte (Lombardia) e no centro, mas é um estilo românico com sobrevivências clássicas, o que o torna autenticamente italiano. Por isso, é um Românico muito diferente.
O Românico mais grandioso na Itália encontra-se em Pisa, uma república comercial medieval que prosperou no século XI, antes de entrar em declínio após a competição com Gênova. O conjunto arquitetônico de Pisa consiste na Catedral, no Batistério e na Torre (ou Campanário) inclinada, os três dispostos de forma aberta e separados de outros edifícios. A catedral possui cinco naves e um transepto de três naves. No centro, há uma cúpula oval gigante, e o restante é coberto com abóbadas, enquanto nas naves laterais e central, o teto é de madeira plana (influência dos primeiros cristãos).
O exterior é revestido com placas de mármore branco e escuro, alternando em faixas horizontais. A fachada apresenta uma série de arcadas cegas dispostas em vários andares. A luminosidade, a riqueza da decoração e as cores distinguem-no do Românico europeu mais austero. A torre, muito afastada da catedral (como em Florença), possui uma seção cilíndrica muito espessa e é construída principalmente em mármore branco, para harmonizar com as características da catedral. Externamente, também é decorada com arcadas cegas. Foi construída por Bonanno Pisano no século XII. Sua inclinação começou gradualmente desde o momento de sua construção, mas foi estabilizada com uma base de concreto.
Espanha
No século XI, o Românico na Espanha transcende o conceito de estilo e se estabelece como a representação de toda uma civilização: o feudalismo ocidental europeu. Nenhum dos estilos anteriores havia conseguido atravessar fronteiras e se estender por toda a Europa como o Românico. Na Espanha, houve contato com a cultura muçulmana. Contudo, o Românico não é uniforme em toda a área cristã, nem a sociedade e a economia dos diferentes reinos eram iguais.
O núcleo feudal mais importante da península é o catalão. Devemos distinguir duas tendências principais: uma mais antiga, que se desenvolve nos Pirenéus Aragoneses e na Catalunha nos séculos XI e XII, com base na influência do norte da Itália (Lombardia) e do sul da França. A outra corrente provém do núcleo francês e borgonhês cluniacense, que se infiltra na península através do Caminho de Santiago a partir do século XI e determina o Românico em parte de Aragão (ocidental), La Rioja, Castela e Galiza nos séculos XI e XII. Este é um tipo de Românico mais avançado e com mais recursos financeiros.
A Escultura Românica
Assim como a arquitetura, a escultura românica está totalmente integrada à cultura medieval e é uma de suas melhores expressões. Através dela, reflete-se a ideia de um Deus onipotente e onipresente, a religião como um mistério e o único guia para não sucumbir a um mundo desconhecido e sombrio. Não se trata de uma escultura naturalista, nem da representação fiel do mundo ou dos objetos como eles nos aparecem aos sentidos. Sempre buscou a alegoria e o simbolismo, com a intenção de representar ideias ou experiências.
Pretende-se que o valor provenha de um fundo ideológico, e a beleza residirá na ideia, e não apenas na aparência estética. Não se busca a beleza estética de uma figura, mas a ética da beleza, das boas ideias, da religião. Para isso, utiliza elementos naturais como animais, pessoas e plantas, mas nunca como são na realidade; sua imagem real não importa, mas sim seu valor como símbolos, como expressão de um ideal. Por isso, não hesitará em distorcer sistematicamente as figuras.
A escultura românica decora as partes arquitetônicas do edifício. As arquivoltas são decoradas com figuras geométricas ou humanas, e o tímpano geralmente apresenta uma cena evangélica, sendo o Pantocrator (ou Cristo Rei), sentado e em ato de bênção, rodeado pelos quatro evangelistas (representados com as cabeças de seus animais simbólicos: o touro, o leão, a águia e o homem, ou seja, o Tetramorfo), a representação principal. Outra cena típica no tímpano é o Juízo Final, a cujos pés aparecem os 24 anciãos do Apocalipse. Finalmente, há outra figura simbólica que representa Jesus Cristo, chamada Crismon, um círculo com duas linhas perpendiculares dentro e quatro letras gregas que são as iniciais de Cristo em grego, além de Alfa e Ômega, que significam o início e o fim de tudo.
O Pórtico da Glória é composto por três arcos que dão acesso a cada uma das três naves, com tímpanos, jambas, arquivoltas e mainel, dispostos ao longo de duzentas figuras. A delicadeza deste trabalho se destaca em cada figura, em todos os detalhes. As figuras conversam entre si, os rostos são mais individualizados e suaves, manifestando energia, bondade, e alguns até sorriem.
Entre as obras mais importantes do país, destacam-se as do claustro inferior do Mosteiro de Santo Domingo de Silos. Em uma das quatro galerias dos cantos, aparece a cena da Dúvida de São Tomé. O fato de o escultor ter escolhido o espaço mais amplo dos painéis para os capitéis das cenas mostra um artista (anônimo) capaz de lidar com grandes composições. Nesta cena, observa-se a justaposição da composição, com sobreposição de grupos de figuras. Os rostos, as posições e o tamanho de todos os personagens (os doze apóstolos e Jesus) são repetidos, exceto a figura de Cristo, que é maior, e a de São Tomé, que verifica a ferida de Jesus.
A Pintura Românica
A pintura românica também é decorativa. A arte não é concebida como autônoma e não é importante por si só, mas como decoração de paredes no interior do templo. Deriva diretamente das miniaturas bizantinas e, posteriormente, da arte pré-românica do início da Idade Média. São miniaturas de manuscritos das quais o pintor românico extraiu temas e técnicas. Ele apenas teve que continuar essa tradição e expandir os limites da miniatura para os afrescos murais que decoram a maioria das igrejas românicas.
A pintura românica, assim como a escultura, ocupa seus lugares apropriados dentro do templo. Acima de tudo, decora a abside e, às vezes, também as paredes laterais. Às vezes, também pintava santuários, especialmente a parte frontal. Na abside, o Pantocrator é rodeado pelos quatro evangelistas, anjos e santos.
A técnica mais utilizada é o afresco: a parede era coberta com areia e cal, e antes que secasse, o mural devia ser pintado. Dessa forma, a tinta secava junto com o revestimento da parede, aderindo e misturando-se com a cal, o que garantia uma coesão extraordinária. No entanto, isso impunha uma grande pressão ao artista, que tinha apenas cerca de sete horas para pintar antes que a cal secasse.
O pintor românico não dominava a perspectiva. Suas obras são planas em sua execução e em suas cores. O pintor românico não tinha grande domínio da composição; o agrupamento de figuras não era problemático, e quando ocorria, era resolvido de forma simples e linear, colocando as figuras em uma linha, lado a lado e todas no mesmo plano. Se queria destacar a importância de uma figura, aumentava seu tamanho desproporcionalmente em relação às outras, independentemente da perspectiva. Dominava, como na escultura, o princípio da frontalidade, especialmente para figuras importantes: Cristo, a Virgem, um imperador ou rei, um santo ou um apóstolo, e assim por diante. O objetivo era pintar um retrato o mais claro e simples possível.