A Ascensão do Dinheiro: Bancos, Moeda e Títulos Públicos

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2 – A ASCENSÃO DO DINHEIRO

No primeiro episódio, "Sonhos de Avareza", Niall Ferguson narra sobre o surgimento de uma instituição onipresente hoje em dia: os bancos, um dos pilares do atual sistema financeiro. Primeiramente, discorre sobre o surgimento da moeda, dos juros e do crédito. Os bancos não são mais do que o formato institucional que surgiu na Itália renascentista com o objetivo de reduzir os riscos inerentes ao crédito – a insolvência.

Das montanhas de Potosí, Bolívia, o autor explica a natureza do dinheiro discorrendo sobre a colonização espanhola na região, muito rica em prata. A exploração da montanha de prata não foi capaz de evitar o declínio político-econômico dos espanhóis. Isso se deve ao fato, segundo o professor, do imenso fluxo de prata não corresponder a um comparável aumento da produção concreta de bens e serviços no reino. O resultado disso foi a inflação. A moeda de prata teve seu valor reduzido com o passar do tempo.

Ferguson (2013) usou a história do declínio espanhol para explicar uma coisa sobre a natureza do dinheiro que passa despercebido por muitos: não possui nenhum valor em si mesmo. Nada que pudesse ser usado como moeda tem valor em si mesmo, tal como papel-moeda, ouro, prata, e outros. De fato, o dinheiro é uma promessa de pagamento. Explicando: se possuímos uma nota de cinquenta reais, significa que você tem uma promessa do que pode trocar – hoje ou em um futuro não definido – seu dinheiro por bens e serviços no valor de cinquenta reais. A moeda em si não tem valor: seu valor está relacionado com seu poder de compra. Daí o caráter altamente prejudicial da inflação. Desta forma, o grande fluxo de prata não salvou o reino espanhol de sua decadência.

Portanto, o dinheiro é uma promessa, assim como o crédito. Dar crédito é entregar dinheiro com promessa de seu retorno em um futuro fixado, somado a uma compensação – o juro. Na Europa medieval, a concessão de crédito era dada por agiotas e a violência era empregada por eles no intuito de recuperar seu dinheiro. A escala de operações dos judeus - afastados em guetos de cidades medievais – era tão pequena que as perdas de um só insolvente, entre os poucos clientes, poderiam quebrar seu negócio. Deste ponto, Ferguson nos leva a contemplar os riscos inerentes a oferta de crédito. A solução foi a criação dos bancos, que possuem aquilo que os primeiros agiotas não possuíam: escala e diversificação.

Desta forma, nasceu na Itália renascentista o banco da família Médici. Com uma escala de operações grandes o suficiente, juntamente com grande diversificação de clientes e operações, reduziu os riscos a tal ponto que não foi mais necessário usar de violência para operações de crédito.

O segundo episódio, "Servidão Humana", discorre sobre mais um pilar do atual sistema financeiro, em adição ao mercado de crédito: O mercado de títulos públicos. Em um tom de provocação, declara o que parece ser uma lei das finanças governamentais: os governos tendem a gastar mais dinheiro do que arrecadam, especialmente em tempos de guerra. A mera impressão de mais papel-moeda tem um efeito prejudicial: a inflação. Para financiar o excesso de gastos do governo, surgiam os mercados de títulos públicos na Itália renascentista.

Títulos públicos são papéis que registram uma dívida de um governo, com o objetivo de captar recursos para o financiamento da dívida pública, e podem ser negociados em um mercado secundário, o mercado de títulos (CVM, 2014).

Um título possui um valor de face e um cupom, representando os juros pagos anualmente sobre o valor de face ao portador do título. Desta forma, um título público do governo brasileiro com valor de face de R$100, cupom de 5% e vencimento em dez anos renderá ao seu portador R$ 5,00 de parcelas anuais e, ao final do vencimento, a restituição de R$ 100,00. Isso pode parecer pouco atrativo. Aí entra o mercado secundário: o portador de um título público pode vendê-lo a outro investidor livremente, de forma que o valor dos títulos pode variar frequentemente de acordo com a oferta e a demanda. Na prática, o investidor não recebe um rendimento, como juros de 5%, conforme o exemplo dado. Seu rendimento depende do valor pago pela aquisição do título. Se houver risco de moratória aos investidores, o valor dos títulos caem no mercado secundário de R$ 100,00 (seu valor de face) para R$ 50,00. Ao adquirir este título, o investidor recebe como juros 5% sobre o valor de face; na prática desembolsou apenas R$ 50 por tal papel, e receberá um rendimento anual de 10%.

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