Atenção Primária, Clínica e Vigilância em Saúde: Conceitos Essenciais
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Atenção Primária à Saúde (APS)
A Atenção Primária à Saúde (APS) é uma forma de organização dos serviços de saúde que visa integrar todos os aspectos, a partir de uma perspectiva populacional. Em sua forma mais desenvolvida, a APS é a porta de entrada do sistema de saúde e o local responsável pela organização do cuidado à saúde do paciente e da população ao longo do tempo. É o tipo de atenção à saúde que organiza e racionaliza o uso de todos os recursos, tanto básicos quanto especializados, direcionados para a promoção, manutenção e melhoria da saúde.
Programa Saúde da Família (PSF)
O Programa Saúde da Família (PSF) contribuiu, entre outros fatores, nas últimas duas décadas para:
- Diminuir os coeficientes de mortalidade infantil e neonatal;
- Diminuir a mortalidade materna;
- Diminuir a incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).
Modelo Disease-Illness
- Disease: Dimensão biomédica do adoecer: fisiopatologia, sinais e sintomas.
- Illness: Experiência subjetiva do adoecer: sentimentos, preocupações, temores, expectativas.
Funções da Consulta Clínica
- Coletar informações;
- Construir um relacionamento;
- Gerar um plano de tratamento compartilhado.
Tipos de Diagnóstico
O diagnóstico abrangente é o entendimento das queixas com base nas opiniões da própria pessoa. O diagnóstico convencional era aquele centrado apenas na doença.
Modelo Médico Convencional
- Segue o princípio de que a doença pode ser completamente explicada por desvios de variáveis biológicas em relação ao normal.
- Estes desvios geralmente podem ser medidos (exame clínico ou exames complementares).
- Pouco espaço para as dimensões sociais, psicológicas e comportamentais do adoecimento.
Mudança de Atitude Médica e a Consulta
A mudança de atitude médica implica em:
- Abandonar a noção de que o médico está no comando o tempo todo e que o paciente é passivo;
- Passar a ser capaz de compartilhar poder no relacionamento com o paciente.
Componentes da Mudança de Atitude
- Explorar a doença e a experiência da doença;
- Entender a pessoa como um todo;
- Elaborar um plano conjunto de manejo dos problemas de saúde;
- Incorporar prevenção e promoção da saúde;
- Intensificar o relacionamento entre paciente e médico;
- Administrar sensatamente os recursos disponíveis para este paciente e sua comunidade.
Incorporando Prevenção e Promoção da Saúde
- Melhoria da saúde;
- Prevenção de riscos;
- Redução de riscos;
- Identificação precoce (rastreamento);
- Redução das complicações.
Etapas da Consulta Clínica
- Abertura da consulta: Identificar as razões da consulta.
- Exploração dos problemas: Perspectiva biomédica e do paciente.
- Exame físico.
- Explicação e planejamento: Alcançar uma compreensão compartilhada incorporando a perspectiva do paciente e compartilhar a tomada de decisão.
- Fechamento da consulta: Planejamento dos próximos passos, assegurar apropriado ponto de fechamento (prevenir a Síndrome da Maçaneta).
Preditores de Desfecho Favorável na Consulta
- Tempo suficiente na primeira consulta para a coleta das informações pelo médico;
- Percepção de empatia por parte do paciente.
Estratégia Saúde da Família (ESF)
A Estratégia Saúde da Família (ESF) é um modelo de organização dos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) do SUS Brasileiro.
Equipe Multiprofissional Mínima da ESF
- Um médico generalista ou de família;
- Um enfermeiro;
- Um auxiliar de enfermagem;
- Quatro a seis agentes comunitários de saúde.
Objetivo da ESF
Atenção integral e contínua à saúde de 600 a 1000 famílias (aproximadamente 3450 pessoas) residentes em um território rural ou urbano, com limites geográficos bem definidos.
A ESF mantém coerência com os princípios organizativos do SUS:
- Acessibilidade;
- Resolubilidade;
- Regionalização;
- Descentralização;
- Hierarquização;
- Participação popular.
Prioriza a promoção da saúde e a integralidade da atenção (promoção, prevenção, cura e reabilitação).
Modelo Hegemônico vs. Atenção Primária à Saúde
- Saúde como ausência de doença
- vs. Saúde como qualidade de vida
- Base em práticas clientelistas
- vs. Saúde como direito do cidadão
- Atenção focada no indivíduo
- vs. Atenção focada no coletivo
- Centrado em ações curativas
- vs. Centrado na atenção integral à saúde
- Funcionamento por demanda espontânea
- vs. Funcionamento com organização da demanda e acolhimento da população adscrita
- Predomínio profissional médico
- vs. Predomínio multidisciplinar
Organização da Estratégia Saúde da Família (ESF)
- Definição e descrição do território de abrangência.
- Adscrição de clientela.
- Diagnóstico de saúde da comunidade.
- Organização da demanda.
- Trabalho em equipe multiprofissional.
- Enfoque da atenção à saúde da família e da comunidade.
- Estímulo à participação e controle social.
- Organização de ações de promoção da saúde.
- Resgate da medicina popular.
- Organização de um espaço de cogestão coletiva na equipe.
- Identificação dos serviços de referência nos níveis secundário e terciário.
- Monitoramento da situação de saúde no seu território de abrangência.
- Educação permanente em saúde.
Atribuições do Médico na ESF
- Assistência integral aos indivíduos e famílias.
- Consultas clínicas.
- Visita domiciliar.
- Demanda espontânea e programada em todas as áreas.
- Encaminhamento para os serviços de atenção secundária e terciária.
- Educação permanente dos membros da equipe.
- Gerenciamento de insumos.
Desafios na Saúde do Idoso
- A mortalidade e a morbidade concentradas nas condições crônicas.
- A prevalência de elevada morbimortalidade por condições agudas decorrentes de causas externas e de agudizações de condições crônicas.
- A predominância relativa das condições crônicas e um sistema fragmentado de saúde, voltado para as condições agudas.
Alterações Fisiológicas no Envelhecimento
- A retração do componente hídrico, associada ao aumento da gordura corporal, contribui para a alteração da absorção, metabolização e excreção de drogas no idoso.
- A redução da albumina altera o transporte de diversas drogas no sangue.
- O metabolismo basal diminui de 10% a 20% com o progredir da idade, o que deve ser levado em conta ao calcular as necessidades calóricas diárias do idoso.
- A tolerância à glicose também se altera, criando, às vezes, dificuldade para diagnosticar o diabetes, apesar de ser uma doença que incide com muita frequência no idoso.
Conceitos em Geriatria
- Senescência: Perda fisiológica mínima com boa preservação de funções em idade avançada, somente em função do envelhecimento per se e isento de danos decorrentes de estilo de vida inadequados e doenças.
- Senilidade: Perda da independência e autonomia, gerando incapacidades.
Autonomia e Independência no Idoso
- Autonomia (Cognição e humor): Capacidade e direito do indivíduo de eleger, por si próprio, as regras de conduta, a orientação de seus atos e os riscos que está disposto a correr durante sua vida.
- Independência (Mobilidade e comunicação): Possibilidade de realizar atividades da vida diária sem ajuda de terceiros.
Capacidade Funcional e Incapacidade
- Capacidade funcional: Manutenção plena das habilidades físicas e mentais desenvolvidas ao longo da vida.
- Incapacidade: Declínio ou perda da capacidade de realizar atividades da vida diária, resultante de limitação funcional.
Pilares da Saúde do Idoso
- Saúde mental.
- Saúde física (independência funcional e autonomia).
- Independência financeira.
- Suporte familiar.
- Integração social.
Os Gigantes da Geriatria
- Imobilidade parcial ou total.
- Incontinência urinária ou fecal.
- Instabilidade postural (quedas de repetição).
- Incapacidade cognitiva (declínio cognitivo, síndrome demencial, depressão, delirium).
- Iatrogenia.
Critérios para Idoso Frágil
Idosos com mais de 80 anos ou mais de 60 anos apresentando:
- Polipatologias (≥ 5 diagnósticos);
- Polifarmácia (≥ 5 drogas/dia);
- Imobilidade parcial ou total.
Atividades de Vida Diária (AVD)
As Atividades de Vida Diária (AVD) incluem:
- Banho;
- Vestir-se;
- Higiene pessoal;
- Transferência (mobilidade);
- Alimentação;
- Continência.
Classificação da Dependência por AVD
- 5 a 6 pontos: Independente.
- 3 a 4 pontos: Dependente Parcial.
- 0 a 2 pontos: Dependente Importante.
Vigilância Epidemiológica
A Vigilância Epidemiológica é um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.
Tipos de Doenças Monitoradas
Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis.
Etapas da Vigilância Epidemiológica
- Coleta de dados.
- Processamento dos dados coletados.
- Análise e interpretação dos dados processados.
- Recomendação das medidas de controle apropriadas.
- Promoção das ações de controle indicadas.
- Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas.
- Divulgação de informações pertinentes.
Aplicações da Vigilância Epidemiológica
- Estimar a magnitude dos problemas de saúde.
- Caracterizar a distribuição geográfica e temporal das doenças.
- Descrever a história natural de uma doença.
- Detectar epidemias e novos problemas de saúde.
- Gerar hipóteses acerca da ocorrência de doenças.
- Avaliar as medidas de controle.
- Monitorar alterações do perfil de agentes infecciosos.
- Identificar mudanças nos fatores determinantes de doenças.
- Auxiliar o planejamento em saúde.
Níveis de Atuação da Vigilância Epidemiológica
- Nacional: Ministério da Saúde / Secretaria de Vigilância em Saúde / Departamento de Vigilância Epidemiológica.
- Estadual: Secretaria Estadual de Saúde / Subsecretaria de Vigilância em Saúde / Gerência de Vigilância Epidemiológica.
- Municipal: Secretaria Municipal de Saúde / Secretaria de Saúde, Saneamento e Desenvolvimento Ambiental / Departamento de Vigilância Epidemiológica.
- Local: Centros e postos de saúde; hospitais; igrejas; escolas; consultórios e clínicas.
Notificação de Casos Suspeitos
Deve-se notificar os casos suspeitos, não se deve aguardar a confirmação para notificar.
Critérios para Seleção de Doenças de Notificação
- Magnitude;
- Potencial de disseminação;
- Transcendência;
- Vulnerabilidade;
- Compromissos internacionais;
- Regulamento sanitário internacional;
- Epidemias, surtos e agravos inusitados.
Vigilância em Saúde
A Vigilância em Saúde é uma forma de pensar e agir que tem como objetivo a análise permanente da situação de saúde da população e a organização e execução de práticas de saúde adequadas ao enfrentamento dos problemas existentes. É composta pelas ações de vigilância, promoção, prevenção e controle de doenças e agravos à saúde.
Promoção da Saúde
A Promoção da Saúde visa criar mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam a equidade e incorporem a participação e o controle social na gestão das políticas públicas.
Doenças do Grupo "Pulso"
- Peste bubônica;
- Raiva, rubéola, tuberculose;
- Difteria;
- Hepatite;
- Sarampo;
- Coqueluche;
- Sífilis;
- Tétano;
- Febre tifoide;
- Lepra.
Doenças do Grupo "Zé Meningite"
- Meningite;
- Leptospirose;
- Sarampo;
- Varíola;
- Tétano e hepatite;
- Febre amarela;
- Coqueluche;
- Doença de Chagas;
- Tifo;
- Raiva.