Atualização no Tratamento de Feridas: Uma Abordagem Abrangente

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Atualização no Tratamento de Feridas

Definição de Ferida

Uma ferida é definida como qualquer injúria que o organismo sofre, podendo haver ou não solução de continuidade. Sua natureza varia de acordo com a localização e o agente causador. Essencialmente, é qualquer lesão no tecido epitelial, mucosas ou órgãos que prejudica suas funções básicas.

Introdução

A área da saúde está em constante evolução, com pesquisas científicas ativas que aprimoram condutas clínico-cirúrgicas, melhorando as chances de cura e recuperação dos pacientes. Desde a pré-história, métodos como cataplasmas de folhas e ervas eram utilizados para estancar hemorragias e facilitar a cicatrização. Ao longo das civilizações, técnicas evoluíram, incluindo emplastos, cauterização, desinfecção com álcool, uso de gorduras animais, cinzas, incenso e mirra.

Histórico do Tratamento de Feridas

  • Egípcios: Eram proficientes em embalsamamento e utilizavam o conceito de ferida limpa com óleos vegetais, ocluindo-as com cataplasmas e faixas de algodão.
  • Gregos e Romanos: Empregavam emplastos, banhos, óleos minerais, pomadas e vinho.
  • Período Medieval: Figuras como as curandeiras utilizavam plantas medicinais, teia de aranha e ovo, além de cauterização e preces. Os mosteiros aprofundaram o estudo da Fitoterapia, enfatizando a importância de manter a ferida limpa, remover corpos estranhos e tecido necrótico, e controlar hemorragias.

A história da medicina registra o surgimento da penicilina durante a Primeira Guerra Mundial como um marco no controle de infecções. Atualmente, o conceito de manter o leito da ferida úmido acelera o processo de cicatrização.

Historicamente, a filosofia do tratamento de feridas focava na proteção contra agentes externos. A preocupação com a contaminação levou à instituição de técnicas de curativo com o princípio de manter o curativo limpo e seco.

Evolução das Técnicas de Curativo

Antigamente, os curativos eram realizados por médicos. Na década de 1930, essa tarefa passou para freiras experientes e, posteriormente, na década de 1940, para enfermeiras, com a adoção de práticas como:

  • Técnica asséptica sem contato direto com o paciente.
  • Uso de esterilizadores de água.
  • Uso de máscaras e aventais.
  • Divisão de tarefas entre enfermeiras (limpa/suja).
  • Organização do material em carrinhos.
  • Frequência na lavagem das mãos.
  • Troca diária ou duas vezes ao dia.
  • Uso de pinças e algodão.

O Meio Úmido na Cicatrização

Em 1962, Winter demonstrou que o meio úmido, com a presença de enzimas como colagenases e proteinases, capacita as células a migrarem pela ferida, acelerando a epitelização. Feridas que secam e formam crostas exigem maior atividade metabólica e tempo para a cura, além de dificultarem a visualização da evolução e o diagnóstico precoce de complicações.

Recentemente, houve uma reavaliação crítica desses métodos, levando a mudanças práticas baseadas em pesquisa. Nos últimos anos, houve um aumento significativo de novos produtos para o tratamento de feridas, elaborados com efeitos funcionais específicos.

O Feridólogo

O feridólogo é o profissional dedicado ao estudo, pesquisa e tratamento de feridas. Ele:

  • Enxerga além da ferida, considerando o paciente como um todo, de forma holística.
  • Acredita na abordagem interdisciplinar, integrando conhecimentos de diversas áreas.
  • Compartilha conhecimentos e experiências, buscando novas metodologias.
  • Respeita a ferida, compreende sua fisiopatologia e os fatores que influenciam a cicatrização.
  • Foca no diagnóstico correto (anamnese), na identificação do período evolutivo cicatricial e no tratamento ideal, considerando os recursos disponíveis e os fatores socioeconômicos.
  • Busca soluções e métodos alternativos, otimizando a relação custo-benefício.
  • Preocupa-se com o restabelecimento da função da área traumatizada, além do fechamento da ferida.
  • Respeita o cliente, conquista sua confiança e o envolve ativamente no tratamento.
  • Preza pelo trabalho ético e transparente.
  • Utiliza o bom senso para superar obstáculos.

O feridólogo acredita em melhorar a qualidade de vida de seus clientes através de tratamento, atenção e dedicação.

A Importância da Abordagem Interdisciplinar

O trabalho em equipe é fundamental, exigindo a abdicação de vaidades pessoais em prol do grupo e o respeito aos direitos e deveres de cada integrante. A formação de uma equipe multidisciplinar é o primeiro passo, mas o ideal é um grupo interdisciplinar onde cada profissional atua em sua área específica, mas também se preocupa com o contexto geral, garantindo um tratamento global e integrativo com troca constante de informações.

É necessária uma avaliação inicial abrangente, com o envolvimento de quantos profissionais forem necessários. A terapia de tratamento e as alternativas serão traçadas, com reuniões periódicas para avaliar a evolução. A reciclagem profissional contínua é essencial.

No início dos anos 2000, profissionais uniram-se para formar o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa de Tratamento de Feridas, um grupo multicêntrico e cibernético, interativo e dinâmico, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Em uma equipe interdisciplinar, a avaliação inicial por médico e/ou enfermeiro determinaria o tratamento e a solicitação de intervenção de outros profissionais quando necessário.

Convidamos todos os feridólogos a opinar sobre o papel de cada um em uma equipe interdisciplinar ideal:

  • Médico
  • Enfermeiro
  • Auxiliar e Técnico de Enfermagem
  • Fisioterapeuta
  • Terapeuta Ocupacional
  • Podólogo
  • Técnico de Órtese e Prótese
  • Nutricionista
  • Psicólogo
  • Farmacêutico
  • Microbiologista
  • Assistente Social
  • Bioquímico
  • Biólogo
  • Bioengenheiro
  • Engenheiro Agrônomo
  • Médico Veterinário
  • Dentista
  • Jornalista
  • Cliente
  • Família

Anatomia da Pele

Epiderme

É um epitélio estratificado pavimentoso queratinizado de origem ectodérmica.

  • Camada Basal (Germinativa): Apresenta intensa atividade mitótica, responsável pela renovação da epiderme. Forma uma membrana que separa a epiderme da derme.
  • Camada Espinhosa: Células com ramificações citoplasmáticas, tonofibrilas e desmossomas que mantêm a coesão e resistência ao atrito.
  • Camada Granulosa: Células com grânulos grosseiros e basófilos (querato-hialina) que contribuem para a camada córnea.
  • Camada Lúcida: Células achatadas, hialinas e eosinófilas, sem núcleo ou organelas, com filamentos compactados.
  • Camada Córnea: Células achatadas, mortas e sem núcleo, ricas em queratina.

Derme

Tecido conjuntivo que suporta a epiderme, com espessura máxima de 3mm na região plantar.

  • Camada Papilar: Tecido conjuntivo frouxo que penetra nas papilas dérmicas, com fibrilas de colágeno que prendem a derme à epiderme.
  • Camada Reticular: Tecido conjuntivo denso, mais espesso, com menos células e fibras colágenas mais abundantes.

Hipoderme

Tecido conjuntivo frouxo que une a derme aos órgãos subjacentes. Pode conter tecido adiposo (Pâniculo Adiposo), proporcionando isolamento térmico e proteção contra o frio.

Classificação das Feridas

a) Quanto à Causa:

  • Aberta: Incisão ou corte. Pode ser intencional (cirúrgica) ou acidental/traumática (ruptura de tecidos externa/interna).
  • Fechada: Excisão ou trauma interno.

Lesões Ulcerativas:

  • Úlcera de pressão
  • Úlcera venosa
  • Úlcera arterial
  • Úlcera varicosa
  • Úlcera gástrica

b) Estágios da Lesão:

  • Primeiro: Pele intacta, vermelha ou pálida.
  • Segundo: Epiderme rompida, exposição da derme, com eritema, edema e exsudação.
  • Terceiro: Integridade da epiderme, derme e tecido subcutâneo comprometida; exige mais tempo para cicatrização.
  • Quarto: Integridade de todos os seguimentos da pele, atingindo hipoderme, músculo e osso; exige reparação cirúrgica com enxertia.

c) Quanto à Etiologia:

  • Aguda: Ruptura da vascularização com desencadeamento da hemostasia.
  • Crônica: Desvio na sequência do processo cicatricial fisiológico.

d) Quanto ao Conteúdo Microbiano:

  • Limpa: Isenta de microrganismos.
  • Limpa Contaminada: Tempo inferior a 6 horas entre trauma e atendimento, sem contaminação significativa.
  • Contaminada: Tempo superior a 6 horas entre trauma e atendimento, com contaminantes, mas sem infecção.
  • Infectada: Presença de agente infeccioso local, com reação inflamatória intensa e destruição tecidual, podendo haver pus.

e) Quanto ao Agente:

  • Incisa ou Cortante: Produzida por objeto cortante, com bordas ajustáveis.
  • Perfurante: Produzida por objetos que resultam em pequenas aberturas.
  • Contusa: Produzida por objeto rombo.
  • Escoriação: Produzida por atrito.
  • Venenosa: Causada por animais peçonhentos.
  • Térmica: Causada por temperaturas extremas (frio ou calor).
  • Patológica: Causada por fatores intrínsecos.
  • Iatrogênica: Secundária a procedimentos ou tratamentos (ex: radioterapia).

Avaliação do Enfermeiro: O enfermeiro deve avaliar cuidadosamente a lesão em cada curativo, observando:

  • Tamanho, Formato, Profundidade, Localidade, Bordas, Coloração.
  • Tipo e quantidade de tecido necrótico.
  • Presença de túneis e cavidades.
  • Tipo e quantidade de exsudato.
  • Presença de edema (carencial, linfedema, venoso).
  • Tecido de granulação e reepitelização.
  • Aspecto da região peri-lesional (edema, crepitação, flutuação, escavação).

f) Quanto à Forma:

  • Irregular ou geográfica
  • Quadrada
  • Retangular
  • Arredondada ou ovalada
  • Linear
  • Circinada

g) Quanto à Presença de Exsudato:

  • Quantidade: Secas, Leve (1-2 ml/24h), Moderada (2-5 ml/24h), Intensa (>5ml/24h).
  • Tipo: Seroso, Hemorrágico, Supurativo, Fibrinoso.

Processo Cicatricial

A cicatrização envolve processos catabólicos (degradação, limpeza, digestão enzimática) e anabólicos (proliferação, reparação), influenciados por fatores celulares e bioquímicos.

a) Fisiologia do Processo Cicatricial:

A cicatrização ocorre em três fases:

  • Fase Exsudativa ou Inflamatória: Ativa a coagulação, promove desbridamento e defesa contra microrganismos.
    • Fase Trombocítica: Hemostasia (vasoconstrição), agregação plaquetária e ativação da cascata de coagulação.
    • Fase Granulocítica: Liberação de enzimas proteolíticas, aumento do fluxo sanguíneo (vasodilatação), perda de fluidos e células (aumento da permeabilidade capilar, produção de exsudato), quimiotaxia (atração de fagócitos) e fagocitose (digestão de bactérias e restos celulares).
    • Fase Macrófágica: Início da reparação com secreção de proteases, fatores de crescimento e substâncias vasoativas, continuando o desbridamento e controlando as fases subsequentes.
  • Fase Proliferativa:
    • Granulação: Formação de tecido novo (vasos, colágeno, proteoglicanos) estimulada por fatores angiogênicos. Produção de colágeno pelos fibroblastos.
    • Epitelização: Migração e divisão mitótica das células epiteliais a partir das bordas da ferida.
    • Contração: Redução do tamanho da lesão pela ação de fibroblastos especializados.
  • Fase de Maturação: Remodelação do colágeno e redução da capilarização, tornando a cicatriz mais clara e plana.

d) Fatores Locais e Sistêmicos que Influenciam a Cicatrização:

O processo cicatricial fisiológico dura em média 2 a 3 semanas. Cicatrização lenta pode estar relacionada a:

  • Agente Lesivo: Extensão, profundidade, potencial de virulência, duração da exposição, corpos estranhos.
  • Fatores Locais: Desvitalização tecidual, infecção, corpo estranho, deficiência de irrigação sanguínea, hematoma, edema, seroma, tensão na sutura, hipo/hiper-hidratação.
  • Fatores Sistêmicos: Hipoxemia, doenças metabólicas (diabetes), deficiência de vitaminas (C, A, K), deficiência proteica, uso de drogas citotóxicas/corticoides, idade, obesidade.
  • Curativo: Uso de agentes citotóxicos, produtos aderentes, remoção inadequada, técnica incorreta.

e) Tipos de Cicatrização:

  • Por Primeira Intenção: Perda mínima de tecido, bordas aproximadas por sutura. Curativo apenas para proteção, não necessita de meio úmido.
  • Por Segunda Intenção: Perda acentuada de tecido, impossibilidade de fechamento das bordas. Tempo de cicatrização maior, necessita de manutenção do meio úmido.
  • Por Terceira Intenção (ou Mista): Fatores retardam a primeira intenção; a lesão é deixada aberta para drenagem ou controle de infecção, podendo ser fechada posteriormente.

Curativos e Protetores de Feridas

Pesquisas recentes contestam o tratamento tradicional de feridas com manutenção do meio seco. A proposta atual é a oclusão e manutenção do meio úmido para cicatrização de feridas abertas. Para incisões cirúrgicas, a oclusão é recomendada por 48 horas, mantendo o curativo seco.

Vantagens da Cicatrização em Meio Úmido:

  • Estimula epitelização, granulação e vascularização.
  • Facilita a remoção de tecido necrótico e impede espessamentos de fibrina.
  • Barreira protetora contra microrganismos.
  • Diminui a dor.
  • Mantém a temperatura corporal.
  • Evita perda excessiva de líquidos.
  • Evita traumas na troca do curativo.

a) Finalidades do Curativo:

  • Manter umidade na interface ferida/cobertura.
  • Remover excesso de exsudato.
  • Permitir troca gasosa.
  • Promover desbridamento autolítico.
  • Promover isolamento térmico.
  • Proteger a ferida de traumas.
  • Ser impermeável a bactérias.
  • Ser isento de partículas ou agentes tóxicos.
  • Imobilizar.
  • Permitir remoção sem danos ao tecido neoformado.

b) Normas Básicas de Assepsia para Curativos:

  • Lavar as mãos antes e após o procedimento.
  • Utilizar instrumental estéril.
  • Obedecer aos princípios de assepsia.
  • Utilizar luvas quando houver contato com fluidos corporais.
  • Trocar curativos removidos para inspeção da lesão.

c) Normas Técnicas para Realização do Curativo:

Os procedimentos devem ser estabelecidos de acordo com a função do curativo e o grau de contaminação. Para lesões abertas, a técnica pode ser asséptica ou limpa (material limpo, não estéril, luvas de procedimento). A técnica limpa é viável em ambiente domiciliar, mas deve ser evitada em ambiente hospitalar pelo risco aumentado de contaminação.

d) Curativo sem Exsudação (Ferida Aberta):

  • Meio Úmido: Acelera angiogênese, favorece quimiotaxia, previne desidratação celular, permeabiliza membrana celular, facilita remoção de tecido desvitalizado, diminui dor.
  • Meio Oclusivo: Promove hipóxia, estimula angiogênese, ativa macrófagos e fibroblastos, aumenta síntese de colágeno, mantém temperatura e protege a ferida.
  • Cuidados: Prolongamento da hipóxia desativa macrófagos, diminui mitogênese, aumenta risco de infecção e maceração tecidual.
  • Indicações: Fase exsudativa e proliferativa, feridas sem sinais de infecção, com pouco/médio exsudato, com dano parcial.

e) Ferida Fechada:

  • Limpar com solução salina 0,9%.
  • Manter o curativo seco e ocluído por 48 horas.
  • Após este período, a incisão pode ficar exposta.

f) Cateteres, Introdutores e Fixadores Externos:

O cuidado principal é a manutenção do curativo seco para prevenir colonização. O uso de solução antisséptica (PVPI ou Clorexidina) minimiza a colonização bacteriana.

g) Curativos com Exsudação:

  • Ferida com Dreno: Limpeza com solução salina 0,9%, separada da incisão. O curativo do dreno deve ser mantido limpo, com trocas frequentes conforme a drenagem. Sistemas abertos devem ser ocluídos ou com bolsa coletora. Alfinetes não são indicados para fixação. Mobilização do dreno a critério médico. Locais de inserção de drenos devem ser protegidos durante o banho.
  • Lesões Abertas: Curativo limpo, ocluído e com manutenção do meio úmido. O número de trocas depende da quantidade e características da secreção. Coleta de material para cultura preferencialmente por biópsia; em swabs ou aspiração, limpar a lesão antes e coletar material da localização mais profunda.

Medindo as Feridas

Diversas formas de documentar o tamanho, formato e profundidade:

  • Fotografia: Padronizar máquina, distância e ângulo. Identificar lesão e datar. Câmeras digitais podem ser mais precisas.
  • Régua: Medir largura e comprimento (área = largura x comprimento). Comprimento é sentido vertical (cefalo-caudal), largura é horizontal.
  • Filme Transparente Quadriculado: Contar cruzamentos. 1 cm² por ponto para quadriculado de 1 cm; dividir por 4 para 0,5 cm.
  • Filme Transparente: Contornar a área da ferida. Pontilhar cavidades subcutâneas. Dividir em quadrantes para determinar porcentagens.
  • Swab: Medir túneis e cavidades inserindo o swab até o fundo, marcar a borda e medir com régua.
  • Alginato de Cálcio em Pó: Preencher cavidade com alginato e SF 0,9%, secar, retirar e pesar.
  • Soro Fisiológico: Aspirar SF 0,9% com seringa e preencher a cavidade, registrando o volume.

Cuidados com a Pele Peri-lesional

A pele ao redor pode ficar frágil e desnutrida, levando a problemas como:

  • Trauma na remoção de fitas adesivas.
  • Alergia a fitas ou curativos (eritema, bolhas).
  • Secura e descamação, especialmente com bandagens.
  • Acúmulo de escamas se os cuidados de higiene forem limitados.

Curativos e Produtos Químicos

Água Oxigenada:

Efeito oxidante, destrói bactérias anaeróbicas. Ajuda na remoção de tecidos mortos, mas pode afetar o tecido de granulação. Irrigações podem causar embolias.

Açúcar:

Ação hiperosmolar com poder bactericida/bacteriostático. Efeito higroscópico diminui edema e estimula macrófagos. Requer trocas frequentes para manter o meio hiperosmolar.

Iodo:

Citotóxico para fibroblastos, retarda epitelização e diminui força tensil. Prejudica a microcirculação. Usar na fase exsudativa macrofágica com colonização, sem infecção.

Clorexidina:

Eficácia reduzida na presença de matéria orgânica. Agressiva ao processo de cicatrização. Pode ser usada em veículo aquoso.

Hipoclorito de Sódio:

Sem comprovação de eficácia.

Soro Fisiológico 0,9%:

Agente de limpeza seguro. Tratamento de escolha para a maioria das feridas. Evitar diferencial de temperatura.

Cobertura Não Aderente Estéril:

Curativo primário para lesões planas, mantém a ferida úmida e protege contra traumas por aderência. Composição: tela de acetato de celulose impregnada com emulsão de petrolatum. Indicada para queimaduras, úlceras, áreas doadoras/receptoras de enxerto, abrasões, lacerações. Contraindicada em feridas com cicatrização por primeira intenção e feridas infectadas.

Papaína:

Enzima proteolítica do mamão. Desbridamento químico de crostas necróticas, bactericida, bacteriostático, anti-inflamatório. Estimula a força tensil das cicatrizes e acelera o processo cicatricial. Indicada para feridas abertas e desbridamento de tecidos desvitalizados. Concentrações variam conforme o tipo de ferida.

Curativo Úmido com Solução Salina 0,9%:

Mantém a ferida úmida, favorecendo a autólise e a formação de tecido de granulação. Indicado para feridas limpas com leve/moderada exsudação. Contraindicado em cicatrização por primeira intenção. Recomenda-se aquecer a solução salina para evitar choque térmico.

Ácidos Graxos Essenciais (AGEs):

Óleos derivados de vegetais poli-insaturados. Indicados para prevenção e tratamento de úlceras de pressão e lesões abertas. Mecanismo de ação quimiostático, precursores de substâncias envolvidas na divisão celular e diferenciação epidérmica.

Alginato de Cálcio:

Sais de polímero natural derivado de algas marinhas. Alta capacidade de absorção, forma gel que mantém o meio úmido. Indicado para feridas abertas altamente exsudativas e lesões cavitárias. Contraindicado em queimaduras superficiais e feridas sem/pouca exsudação.

Hidrocoloides:

Curativos estéreis com camada externa de espuma de poliuretano e interna de polímeros elastoméricos. Absorvem exsudato, mantêm pH ácido e ambiente úmido, estimulam angiogênese e desbridamento autolítico. Indicados para prevenção/tratamento de úlceras de pressão não infectadas e feridas abertas leve a moderadamente exsudativas não infectadas. Contraindicados em lesões com processo infeccioso local.

Sulfadiazina de Prata:

Propriedades antissépticas locais. Ion prata causa precipitação de proteínas e age na parede celular bacteriana. Indicado para prevenção de colonização e tratamento de queimaduras.

Curativo Não Aderente Estéril:

Cobertura primária para queimaduras, úlceras, áreas doadoras/receptoras de enxerto, abrasões e lacerações, onde a não aderência é necessária.

Hidrogel:

Composto de água, carboximetilcelulose (CMC) e propilenoglicol (PPG). Remove tecidos necróticos por desbridamento autolítico. Indicado para remoção de tecido necrótico em lesões cavitárias.

Curativo de Carvão Ativado:

Cobertura estéril de baixa aderência, impregnada com carvão ativado e prata. Adsorve exsudato, filtra odor e a prata exerce poder bactericida. Contraindicado em queimaduras.

Protetores Cutâneos para Ostomias:

Compostos de gelatina, pectina, carboximetilcelulose sódica e polisobutileno. Protegem e regeneram a epiderme peri-ostomias e peri-fistulas. Apresentam-se em pó, pasta e placa.

Bota de Unna:

Gaze elástica com óxido de zinco. Indicada para tratamento de úlceras venosas de perna e edema linfático. Evita edema, facilita retorno venoso e auxilia na cicatrização.

Membranas ou Filmes Semi-permeáveis:

Material estéril para cobertura primária ou secundária, indicado para oclusão de lesões planas pouco exsudativas. Permite visualização da lesão e maior mobilidade do paciente.

Pomadas Enzimáticas:

Auxiliam no desbridamento da lesão. Composição: colagenase, lostridiopeptidase A e enzimas proteolíticas. Age degradando colágeno nativo. Indicadas para desbridamento enzimático suave. Contraindicadas em cicatrização por primeira intenção.

Curativos com Soluções Impregnadas com Solução Antisséptica:

Soluções antissépticas em concentrações clínicas são citotóxicas para as células envolvidas na cicatrização. Sua eficácia é comprometida na presença de sangue e exsudatos.

Curativo Iodado Não Aderente:

Rayon viscose impregnada com polivinilpirrolidona-Iodo a 10%. Bactericida tópico não aderente. Indicado para feridas infectadas.

Curativo com Gaze Parafinada com Acetato de Clorexidina a 0,5%:

Gaze de malha aberta impregnada com parafina e acetato de clorexidina. Bactericida tópico não aderente. Indicado para feridas infectadas.

Curativo Adesivo com Hidropolímeros:

Altamente absorvente, proporciona ambiente úmido e estimula desbridamento autolítico. Indicado para feridas abertas não infectadas. Contraindicado em queimaduras de 3º grau, lesões com vasculite ativa, feridas colonizadas/infectadas.

Oxigenoterapia Hiperbárica (OHB) no Tratamento de Feridas

A OHB consiste na inalação de oxigênio puro com pressão ambiente aumentada, aumentando significativamente o oxigênio dissolvido nos tecidos.

Aplicações Clínicas:

Embolias gasosas, doença descompressiva, envenenamento por monóxido de carbono, gangrena gasosa, infecções necrotizantes, isquemias agudas, retalhos/enxertos comprometidos, vasculites, queimaduras complexas, lesões refratárias (úlceras de pressão, pé diabético), lesões por radiação, osteomielite crônica, hipoacusia, anemia aguda.

Conceitos sobre o Uso de Oxigênio Hiperbárico:

A OHB ocorre dentro de câmaras hiperbáricas (multi ou monoclientes). A ação do oxigênio inclui:

  • Efeito anti-edematogênico.
  • Ação microbicida/microbiostática.
  • Ação bioquímica oxidativa.
  • Efeito sinérgico com outras drogas.
  • Efeito regenerativo (neoangiogênese, formação de colágeno).

A OHB acelera a formação de tecido de granulação e auxilia no controle de infecções, sendo um recurso terapêutico valioso.

Laserterapia no Tratamento de Feridas

A laserterapia utiliza a amplificação da luz por emissão estimulada de radiação (LASER) para promover a reparação tecidual.

Características do Raio Laser:

O laser HeNe é o mais empregado na reparação tecidual.

Indicação:

Coadjuvante no tratamento de feridas superficiais e profundas, limpas ou infectadas.

Contraindicação:

Lesões neoplásicas e pacientes com retinopatia.

Efeitos Terapêuticos:

  • Proliferativo (aumenta neoangiogênese, síntese de fibroblastos, colágeno e ATP).
  • Fibrinolítico.
  • Anti-edematogênico.
  • Anti-inflamatório.
  • Analgésico.
  • Bactericida.

Técnica de Aplicação:

Pontual, varredura externa, varredura interna, varredura mista, associada.

Agentes Tópicos

Diversas formas farmacêuticas são utilizadas no tratamento de feridas, cada uma com indicações e mecanismos de ação específicos.

Desbridamento

O desbridamento é essencial para a cicatrização, removendo tecido desvitalizado e bactérias. Pode ser cirúrgico, mecânico, químico ou autolítico.

Técnicas de Desbridamento:

  • Cirúrgico: Remoção do tecido necrótico por procedimento cirúrgico. Rápido e efetivo, especialmente em casos urgentes.
  • Mecânico: Aplicação de força mecânica (fricção com gaze, irrigação com jato de soro, irrigação pulsátil, hidroterapia).
  • Enzimático: Aplicação tópica de enzimas desbridantes (papaina, colagenase).
  • Autolítico: Degradação natural do tecido desvitalizado promovida por enzimas endógenas, auxiliada por coberturas que mantêm o meio úmido.

A escolha da técnica de desbridamento deve ser criteriosa, considerando o paciente, a lesão e os riscos/benefícios de cada método.

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