Bem-aventurados os puros de coração

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Pe. Raniero Cantalamessa

“BEM-AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO, PORQUE VERÃO A DEUS”
Primeira pregação da Quaresma

1. Da pureza ritual à pureza de coração

Continuando com a nossa reflexão sobre as bem-aventuranças evangélicas iniciada no Advento, nesta primeira meditação de Quaresma queremos refletir sobre a bem-aventurança dos limpos de coração. Qualquer um que lê ou ouve proclamar hoje: «Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus», pensa instintivamente na virtude da pureza, a bem-aventurança é quase o equivalente positivo e interiorizado do sexto mandamento: «Não cometerás atos impuros». Esta interpretação, proposta esporadicamente no curso da história da espiritualidade cristã, se fez predominante a partir do século XIX.

Na verdade, a pureza de coração não indica, no pensamento de Cristo, uma virtude particular, mas uma qualidade que deve acompanhar todas as virtudes, a fim de que elas sejam de verdade virtudes e não, ao contrário, «esplêndidos vícios». Seu contrário mais direto não é a impureza, mas a hipocrisia. Um pouco de exegese e de história nos ajudará a compreender melhor.

O que Jesus entende por «pureza de coração» se deduz claramente do contexto do Sermão da Montanha. Segundo o Evangelho, o que decide a pureza ou impureza de uma ação -- seja esta a esmola, o jejum ou a oração -- é a intenção: isto é, se realizada para ser vistos pelos homens ou por agradar a Deus:

«Quando dês esmola, não vai tocando trompete adiante como fazem os hipócritas nas sinagogas e pelas ruas, com o fim de ser honrado pelos homens; em verdade vos digo que já recebem seu pagamento. Tu, ao contrário, quando dês esmola, que não saiba tua mão esquerda o que faz tua direita, assim tua esmola ficará em segredo; e teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.» (Mt 6, 2-6)

A hipocrisia é o pecado denunciado com mais força por Deus ao longo de toda a Bíblia e o motivo é claro. Com ela o homem rebaixa Deus, coloca-o no segundo lugar, situando no primeiro as criaturas, o público. «O homem olha a aparência, o Senhor vê o coração» (1 Salmo 16, 7): cultivar a aparência mais que o coração significa dar mais importância ao homem que a Deus.

A hipocrisia é, portanto, essencialmente, falta de fé; mas é também falta de caridade para com o próximo, no sentido de que tende a reduzir as pessoas a admiradores. Não lhes reconhece uma dignidade própria, mas as vê só em função da própria imagem.

O juízo de Cristo sobre a hipocrisia não tem volta de folha: Receperunt mercedem suam: já receberam sua recompensa! Uma recompensa, também, ilusória até no plano humano, porque a glória, sabemos, foge de quem a segue e segue a quem foge dela.

CAMINHOS QUE NOS LEVAM À SANTIDADE - A PRÁTICA DAS 5 PEDRINHAS

1. a ORAÇÃO com o coração: o ROSÁRIO ou o TERÇO

2. a EUCARISTIA

3. a BÍBLIA

4. o JEJUM

5. a CONFISSÃO mensal.

PASSAGEM BÍBLICA DA: (Rainha da Paz, em Medjugorje)

Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus.
(Efésios: 6,11;13-17).

Sede santos em todas as vossas ações, essa é a temática trabalhada pela coordenadora diocesana da RCC, Roberta Caleiros;

Somos fortes pelo poder do Espírito Santo de Deus, Roberta nos leva a refletir isso, a sabermos também qual a vontade de Deus em nossas vidas, para que não andemos por caminhos tortos sem rumo, perdidos, mas aqui estamos nós, no III Congresso diocesano, em cerca de 1200 pessoas, mas Deus tem algo especial para cada uma dessas pessoas, Deus prometeu enviar o seu Santo Espírito a cada um, e enviou, e assim as pessoas podem olhar para nós e ver essa ação do Espirito Santo, ver que somos pessoas que vivemos diferente e fazemos escolhas certas;

Somos diamantes, preciosos, diante do Senhor, não podemos nos comparar aos outros, cada um de nós temos nossa individualidade;

Qual a vontade de Deus para nossa vida? É o questionamento que Roberta nos leva a refletir, a resposta encontramos em I Tessalonicenses:

“3.Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; 4.que cada um de vós saiba possuir o seu corpo santa e honestamente, 5.sem se deixar levar pelas paixões desregradas, como os pagãos que não conhecem a Deus; 6.e que ninguém, nesta matéria, oprima nem defraude a seu irmão, porque o Senhor faz justiça de todas estas coisas, como já antes vo-lo temos dito e asseverado. 7.Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade.”

Muitos de nós temos perdido essa essência, pois não temos buscado a Santidade, mas essa graça da santidade, esse desejo de Deus, paira sobre nós, é possível, viver diferente, viver a santidade, a partir do momento que decidimos, escolhemos, buscar em Deus essa mudança, vamos eliminando as impurezas e paixões desregradas e tomando posse da santidade, manter o corpo e a vida em santidade e honestidade;

O Senhor quer que levemos isso, essa vida de santidade, a outros, no trabalho, na escola, nas diversas atividades do nosso dia a dia, não podemos irmãos, guardar isso dentro de nós, engavetado, vivemos uma santidade limitada e pessoal, mas é preciso escancarar a busca e a vida em santidade ao mundo;

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O Senhor nos chama a fazer uma reflexão daquilo que estamos sendo, de que forma estamos vivendo; “sede também vós santos em todas as vossas ações”(1 Pedro 1, 15), se não estamos cumprindo essa palavra de Deus é hoje o dia de mudar essa situação, é urgente o chamado a santidade em nossas vidas, colocar santidade em todas as coisas em nossa vida, Roberta nos exorta, é preciso deixar de enganar a si mesmo, pensando que assim vamos encontrar a felicidade, em coisas passageiras, mas vale a pena, e só encontraremos a felicidade plena a partir do momento que encontrarmos e vivermos a santidade e pureza em nós, essa santidade vem de dentro para fora e dessa forma vai contagiando tudo a nossa volta;

A Santidade não pode mais ser um espelho, onde vivemos de uma e de outra forma, onde temos uma vida dupla, de corrupção, não podemos mais aceitar caminhas por caminhos errados, pois uma multidão de pessoas tem somente a nós como exemplo, se vivemos uma vida de santidade, assim viverão também, se caminharmos por caminhos tortuosos, assim viverão e caminharão também! Por isso o desejo de Deus em vivermos a santidade, por isso essa urgência no chamado a Santidade em nosso meio, em nossa vida, na minha e na sua vida!

Roberta Caleiros nos recorda que fizemos um compromisso de fazer a vontade de Deus, seguir teus planos, portanto é necessário abraçarmos isso com firmeza, se cairmos, levantamos e continuamos lutando pela santidade!

Para encerrar esse momento da III Pregação nos abrindo a graça de Deus cantamos e oramos:
Quero te buscar Senhor
De mãos limpas e de puro coração

Quero te encontrar Senhor
E descobrir tudo aquilo que tens pra mim

Purifica-me, purifica-me
Aquilo que não é de Deus eu não quero pra mim
Eu me esvazio e peço que venhas me encher

Tudo o que eu quero é dizer que te amo Jesus
Eu preciso de ti
Do teu cuidado e abrigo, Senhor
Meu amado

Quero viver meu chamado
Sonhar os sonhos que sonhou pra mim, Senhor

Ajudam a entender o sentido da bem-aventurança dos limpos de coração também as palavras que Jesus pronuncia com relação aos escribas e fariseus, todas centradas na oposição entre «o de dentro» e «o de fora», o interior e o exterior do homem:

«Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, pois sois semelhantes a sepulcros caiados, que por fora parecem bonitos mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda imundice! Assim também vós, por fora pareceis justos ante os homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e iniqüidade» (Mt 23, 27-28).

A revolução levada a cabo neste campo por Jesus é de um alcance incalculável. Antes d’Ele, exceto alguma rara alusão nos profetas e nos salmos (Salmo 24, 3: «Quem subirá ao monte do Senhor? Quem tem mãos inocentes e coração puro»), a pureza se entendia em sentido ritual e cultural; consistia em manter-se afastado de coisas, animais, pessoas ou lugares considerados capazes de contagiar negativamente e de separar da santidade de Deus. Sobretudo aquilo que está ligado ao nascimento, à morte, à alimentação e à sexualidade entra neste âmbito. Em formas ou com pressupostos diferentes, o mesmo ocorria em outras religiões, fora da Bíblia.

Jesus elimina todos estes tabus. Antes de tudo, com os gestos que realiza: come com os pecadores, toca aos leprosos, freqüenta os pagãos: todas coisas consideradas altamente contaminadoras: depois, com os ensinamentos que ministra. A solenidade com a qual introduz seu discurso sobre o puro e o impuro permite entender quão consciente Ele era mesmo da novidade de seu ensinamento.

«Chamou outra vez as pessoas e lhes disse: ‘Ouvi-me todos e entendei. Nada há fora do homem que, entrando nele, possa contaminá-lo; mas o que sai do homem, isso é o que contamina o homem... Porque de dentro do coração dos homens saem as intenções más: fornicações, roubos, assassinatos, adultérios, avarezas, maldades, fraude, libertinagem, inveja, injúria, insolência, insensatez. Todas estas perversidades saem de dentro e contaminam o homem”» (Mc 7, 14-15. 21-23).

«Assim declarava puros todos os alimentos», observa quase com estupor o evangelista (Mc 7, 19). Contra a tentativa de alguns judeu-cristãos de restabelecer a distinção entre puro e impuro nos alimentos e em outros setores da vida, a Igreja apostólica afirmará com força: «Tudo é puro para quem é puro», omnia munda mundis (Tt 1, 15; Rm 14, 20).

A pureza, entendida no sentido de continência e castidade, não está ausente da bem-aventurança evangélica (entre as coisas que contaminam o coração Jesus situa também, ouvimos, «fornicações, adultérios, libertinagem»); mas ocupa um posto limitado e por assim dizer «secundário». É um âmbito junto a outros nos quais se põe de relevância o lugar decisivo que ocupa o «coração», como quando diz que «quem olha a uma mulher com desejo, já cometeu adultério com ela em seu coração» (Mt 5, 28).

Na realidade, os termos «puro» e «pureza» (katharos, katharotes) nunca se utilizam no Novo Testamento para indicar o que com eles entendemos nós hoje, isto é, a ausência de pecados da carne. Para isso se usam outros termos domínio de si (enkrateia), temperança (sophrosyne), castidade (hagneia).

Por quanto se disse, parece claro que o puro de coração por excelência é o próprio Jesus. D’Ele seus próprios adversários se vêem obrigados a dizer: «Sabemos que és veraz e que não te importas por ninguém, porque não olhas a condição das pessoas, mas ensinas com franqueza o caminho de Deus» (Mc 12, 14). Jesus podia dizer de si: «Eu não busco minha glória» (Jo 8, 50).

2. Um olhar à história

Na exegese dos Padres, vemos delinear-se logo as três direções fundamentais nas quais a bem-aventurança dos puros de coração será recebida e interpretada na história da espiritualidade cristã: a moral, a mística e a ascética. A interpretação moral põe o acento na retidão de intenção, a interpretação mística, na visão de Deus, a ascética, na luta contra as paixões da carne. Nós as vemos exemplificadas, respectivamente, em Agostinho, Gregório de Nisa e João Crisóstomo.

Atendendo-se fielmente ao contexto evangélico, Agostinho interpreta a bem-aventurança em chave moral, como rejeição a «praticar a justiça ante os homens para ser por eles admirados» (Mt 6, 1), portanto como simplicidade e fraqueza que se opõe à hipocrisia «Tem o coração simples, puro -- escreve -- só quem supera os louvores humanos e ao viver está atento e busca ser agradável só àquele que é o único que escruta a consciência» [1].

O fator que decide a pureza ou não do coração é aqui a intenção. «Todas as nossas ações são honestas e agradáveis na presença de Deus se as realizamos com o coração sincero, ou seja, com a intenção voltada para o alto na finalidade do amor... Portanto, não se deve considerar tanto a ação que se realiza, quanto a intenção com que se realiza» [2]. Este modelo interpretativo que fala sobre a intenção permanecerá ativo em toda a tradição espiritual posterior, especialmente inaciana [3].

A interpretação mística, que tem em Gregório de Nisa seu iniciador, explica a bem-aventurança em função da contemplação. É preciso purificar o próprio coração de todo vínculo com o mundo e com o mal; deste modo, o coração do homem voltará a ser aquela pura e límpida imagem de Deus que era o princípio e na própria alma, como em um espelho, a criatura poderá «ver Deus». «Se, com um teor de vida diligente e atenta, lavas as fealdades que se depositaram em teu coração, resplandecerá em ti a divina beleza... Contemplando-te a ti mesmo, verás em ti àquele que é o desejo de teu coração e serás santo» [4].

Aqui o peso está todo na apódose, no fruto prometido à bem-aventurança; ter o coração limpo é o meio; o fim é «ver Deus». Nota-se, no contexto da linguagem, uma influência da especulação de Plotino, que se faz ainda mais descoberta em São Basílio [5].

Também esta linha interpretativa terá continuidade em toda a história sucessiva da espiritualidade cristã que passa por São Bernardo, São Boaventura e os místicos renanos [6]. Em alguns ambientes monásticos se acrescenta, no entanto, uma idéia nova e interessante: a da pureza como unificação interior que se obtém desejando uma coisa só, quando esta «coisa» é Deus. Escreve São Bernardo: «Bem-aventurados os puros de coração porque verão Deus. Como se dissesse: purifica o coração, separa-te de tudo, sê monge, só, busca uma coisa só do Senhor e persegue-a (Salmo 27, 4), liberta-te de tudo e verás Deus (Salmo 46, 11)» [7].

Bastante isolada está, no entanto, nos Padres e nos autores medievais, a interpretação ascética em função da castidade que se converterá em predominante, dizia, desde o século XIX em diante. Crisóstomo dá o exemplo mais claro [8]. Situando-se nesta mesma linha, o místico Ruusbroec distingue uma castidade do espírito, uma castidade do coração e uma castidade do corpo. A bem-aventurança evangélica se refere à castidade do coração. Ela -- escreve -- «mantém reunidos e reforça os sentidos externos, enquanto, no interior, freia e domina os instintos brutais... Fecha o coração às coisas terrenas e às ilusões falazes, enquanto que o abre às coisas celestiais e à verdade» [9].

Com graus diversos de fidelidade, todas estas interpretações ortodoxas permanecem dentro do horizonte novo da revolução aperada por Jesus, que reconduz todo discurso moral ao coração. Paradoxalmente, os que traíram a bem-aventurança evangélica dos puros (katharoi) de coração são precisamente os que tomaram o nome dela: os cátaros com todos os movimentos afins que lhes precederam e seguiram na história do cristianismo. Estes caem na categoria dos que fazem a pureza consistir em estar separados, ritual e socialmente, de pessoas e coisas julgadas em si mesmas impuras, em uma pureza mais exterior que interior. São os herdeiros do radicalismo sectário dos fariseus e dos essênios, mais que do Evangelho de Cristo.

3. A hipocrisia leiga

Freqüentemente se destaca o alcance social e cultural de algumas bem-aventuranças. Não é estranho ler «Bem-aventurados os que trabalham pela paz» nos cartazes que acompanham as manifestações dos pacifistas, e a bem-aventurança dos mansos que possuirão a terra é justamente invocada a favor do princípio da não-violência, isso sem falar depois da bem-aventurança dos pobres e dos perseguidos pela justiça. No entanto, jamais se fala da relevância social da bem-aventurança dos puros de coração, que parece estar reservada exclusivamente ao âmbito pessoal. Estou certo, no entanto, de que esta bem-aventurança pode exercer hoje uma função crítica entre as mais necessárias em nossa sociedade.

Vimos que no pensamento de Cristo, a pureza de coração não se opõe primariamente à impureza, mas à hipocrisia, e a hipocrisia é o vício humano talvez mais difundido e menos confessado. Existem hipocrisias individuais e hipocrisias coletivas.

O homem -- escreveu Pascal -- tem duas vidas: uma é a vida autêntica, a outra é a vida imaginária que vive na opinião, sua ou das pessoas. Trabalhamos sem descanso para enfeitar e conservar nosso ser imaginário e descuidamos o verdadeiro. Se possuímos alguma virtude ou mérito, corremos para dá-lo a conhecer, de uma forma ou de outra, para enriquecer de tal virtude o nosso ser imaginário, dispostos até a tirá-lo de nós, para acrescentar algo a ele, até consentir, às vezes, em ser covardes, com tal de parecer valentes e dar até a vida, para que as pessoas falem disso [10].

A tendência evidenciada por Pascal cresceu enormemente na cultura atual, dominada pelos meios de comunicação massivos, cinema, televisão e mundo do espetáculo em geral. Descartes disse: «Cogito, ergo sum», penso, logo existo; mas hoje se tende a substituí-lo com «aparento, logo existo».

Originariamente, o termo «hipocrisia» estava reservado à arte teatral. Significava simplesmente recitar, representar no cenário. Santo Agostinho o recorda em seu comentário sobre a bem-aventurança dos puros de coração: «os hipócritas -- escreve -- são agentes de ficção, do mesmo estilo dos que apresentam a personalidade de outros nas representações teatrais» [11].

A origem do termo nos dá as dicas para descobrir a natureza da hipocrisia. É fazer da vida um teatro, no qual se recita para um público; é usar uma máscara, deixar de ser pessoa e passar a ser personagem. Eu li em algum lugar esta caracterização das duas coisas: «O personagem não é senão a corrupção da pessoa. A pessoa é um rosto, o personagem, uma careta. A pessoa é a nudez radical, o personagem é todo roupagem. A pessoa ama a autenticidade e a essencialidade, o personagem vive de ficção e de artifícios. A pessoa obedece às próprias convicções, o personagem obedece a um roteiro. A pessoa é humilde e suave, o personagem é pesado e ostentoso».

Mas a ficção teatral é uma hipocrisia inocente porque mantém sempre a diferença entre o cenário e a vida. Ninguém que assiste a representação de Agamenon (é o exemplo citado por Agostinho) pensa que o ator seja de verdade Agamenon. O fato novo e inquietante de hoje é que se tende a anular também esta distância, transformando a própria vida em um espetáculo. É o que pretendem os chamados «reality show» que inundam já redes televisivas de todo o mundo.

Segundo o filósofo francês Jean Baudrillard, falecido há três dias, tornou-se difícil distinguir os acontecimentos reais (11-S, ou a guerra do Golfo) de sua representação pelos meios. Realidade e virtualidade se confundem.

O chamado à interioridade que caracteriza nossa bem-aventurança e todo o Sermão da Montanha é um convite a não se deixar enrolar por esta tendência que tende a esvaziar a pessoa, reduzindo-a a imagem, ou pior (segundo o termo usado por Baudrillard) a simulacro.

Kierkegaard evidenciou a alienação que resulta de viver de pura exterioridade, sempre e só em presença dos homens, e nunca só em presença de Deus e do próprio eu. Um pastor -- observa -- pode ser um «eu» frente a suas vacas, se vivendo sempre com elas não tem mais que essas com as quais medir-se. Um rei pode ser um eu de frente aos súditos e se sentirá um «eu» importante. A criança se percebe como um «eu» em relação com os pais, um cidadão ante o Estado... Mas será sempre um «eu» imperfeito, porque falta a medida. «Que realidade infinita adquire ao contrário meu «eu», quando toma consciência de existir ante Deus, convertendo-se em um «eu» humano cuja medida é Deus... Que acento infinito cai sobre o «eu» no momento em que obtém Deus como medida!».

Parece um comentário à fala de São Francisco de Assis: «O que o homem é ante Deus, isso é, e nada mais» [12].

4. A hipocrisia religiosa

A pior coisa que se pode fazer, falando de hipocrisia, é utiliza-la somente para julgar os outros, a sociedade, a cultura, o mundo. É justamente a esses a quem Jesus aplica o título de hipócritas: «Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão» (Mt 7, 5).

Como crentes, devemos recordar a fala de um rabino judeu do tempo de Cristo, segundo o qual 90% da hipocrisia do mundo se encontrava então em Jerusalém [13]. O mártir Santo Inácio de Antioquia sentia a necessidade de prevenir seus irmãos na fé, escrevendo: «É melhor ser cristãos sem dizê-lo, que dizê-lo sem sê-lo».

A hipocrisia afeta sobretudo as pessoas piedosas e religiosas; o motivo é simples: onde mais forte é a estima dos valores do espírito, da piedade e da virtude (ou da ortodoxia!), aí também é mais forte a tentação de ostentá-los para não parecer que se está faltando a isso. Às vezes, é a própria função que desempenhamos o que nos empurra a fazê-lo.

«Certos compromissos do consórcio humano -- escreve Santo Agostinho nas Confissões -- nos obrigam a fazer-nos amar e temer pelos homens; portanto, o adversário de nossa verdadeira felicidade persegue e dissemina por todas as partes os laços do ‘Bravo, bravo’, para prender-nos por trás enquanto os recolhemos com avidez, a fim de separar nossa alegria de vossa verdade e uni-la à mentira dos homens, para fazer-nos saborear o amor e o temor não obtidos em vosso nome, mas em vosso lugar.» [15]

A hipocrisia mais perniciosa é esconder... a própria hipocrisia. Em nenhum esquema de exame de consciência eu me lembro de ter encontrado a pergunta: «Fui hipócrita? Preocupei-me pelo olhar dos homens sobre mim, mais que pelo olhar de Deus?». Em certo momento da vida, eu tive de introduzir por minha própria conta essas perguntas em meu exame de consciência, e raramente pude passar incólume à pergunta seguinte...

Um dia, a leitura do Evangelho da Missa era a parábola dos talentos. Escutando-o, entendi imediatamente uma coisa. Entre fazer render os talentos ou não, existe uma terceira possibilidade: a de colocá-los para renderem, sim, mas não por si mesmos, não pelo dono, mas pela própria glória ou pelo proveito pessoal, e isso é um pecado talvez maior que enterrá-los. Aquele dia, no momento da comunhão, tive de fazer como certos ladrões flagrados no momento do roubo, que, cheios de vergonha, esvaziam os bolsos e colocam nos pés do proprietário o que lhe haviam roubado.

Jesus nos deixou um meio simples e insuperável para retificar várias vezes no dia as nossas intenções, as primeiras três petições do Pai Nosso: «Santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso Reino. Seja feita a vossa vontade». Elas podem ser recitadas como orações, mas também como declaração de intenções: tudo o que faço, quero fazê-lo para que o vosso nome seja santificado, para que venha o vosso Reino e para que vossa vontade seja feita.

Seria uma belíssima contribuição para a sociedade e para a comunidade cristã se a bem-aventurança dos puros de coração nos ajudasse a manter desperta em nós a nostalgia de um mundo limpo, verdadeiro, sincero, sem hipocrisia, nem religiosa nem leiga; um mundo em que as ações correspondessem às palavras, as palavras aos pensamentos, e os pensamentos do homem aos de Deus. Isso não acontecerá plenamente senão na Jerusalém celeste, toda de cristal, mas devemos pelo menos tender a isso.

Uma escritora de fábulas redigiu «O país de cristal». Fala de uma jovem que termina, por magia, em um país todo de cristal: casas de cristal, pássaros de cristal, árvores de cristal, pessoas que se movem como delicadas estatuetas de cristal. Apesar de tudo, ninguém ainda havia se quebrado, porque todos aprenderam a mover-se no país com delicadeza para não causar danos. As pessoas, ao encontrar-se, respondem às perguntas antes de que estas sejam formuladas, porque até os pensamentos se tornaram abertos e transparentes; ninguém já busca mentir, sabendo que todos podem ler o que se tem na cabeça [16].

Dá arrepio só de pensar o que aconteceria se isso acontecesse entre nós; mas é sadio pelo menos tender a tal ideal. É o caminho que leva à bem-aventurança que tentamos comentar: «bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus».

“Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas.” (Lc 18,16)

O que há de tão importante nas crianças a ponto de Jesus dizer que o Reino de Deus é delas e daqueles que se parecem com elas? Qual é a pedagogia de Jesus nessa afirmativa?

Para compreendermos essa pedagogia, precisamos retornar ao início de nossa história de salvação, quando o homem foi criado por Deus e não possuía o pecado original: O homem era amigo de Deus, “Constituído num estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente “divinizado” por Deus na glória.” (CIC 398). Acontece que o homem pecou, e como consequência desse pecado o homem teve vergonha de Deus a ponto de esconder-se atrás do arbusto com medo. Deus que é amor infinito, por causa do pecado do homem, é visto como um inimigo.

Portanto entendemos que enquanto crianças,

ainda não fomos contaminados com a maldade do mundo, pois os pequenos não fazem o mal consciente. As crianças são capazes de sentir ciúmes, dizer algumas mentiras para se livrar de algumas enrascadas, mas o fazem por herança do pecado original, porém em sua essência está a docilidade, a inocência, a pureza e principalmente a graça e a presença de Deus. Crianças sentem raiva, mas em instantes estão dispostos a perdoar.

Essencialmente, quando Jesus fala que devemos ser como crianças, é porque a criança está mais próxima do Seu projeto Original. Sendo como crianças, estamos mais próximos da santidade e justiça dadas ao homem quando Deus nos formou.

A lição que devemos aprender com o ensinamento de Jesus é que o pecado nos afasta daquilo que Deus sonhou para nós e sendo como crianças, nos aproximamos desse sonho.

Ah, irmãos! Como precisamos da pureza de uma criança para nos relacionarmos uns com os outros, para amarmos uns aos outros, para estarmos próximos de Deus e de Sua Santa vontade! Precisamos ser puros para dependermos única e exclusivamente do Senhor e de Sua graça.

Senhor, Tua graça me basta! (Cf IICor 12, 9)

Bem-aventurados os puros de coração

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“Bem aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5,8).

A pureza de coração foi colocada por Jesus entre as oito bem-aventuranças, pois, não pode faltar na vida do santo. E São Paulo faz eco às palavras de Jesus, ao dizer aos tessalonicenses:

“Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza, que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santificação e honestidade, sem se deixar levar pelas paixões desregradas como fazem os pagãos que não conhecem a Deus… Deus, não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1Ts 4,3-7).

Jesus, embora misericordioso com aqueles que eram vítimas do pecado da carne, Madalena, a mulher adúltera, a samaritana do poço de Jacó, em Sicar, etc., no entanto, foi duro contra esse pecado. Na verdade, ele é radical nesse ponto. No Sermão da Montanha ele não deixa dúvidas:

“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração” (Mt 5,28).

Mais do que um corpo puro, Jesus exige um coração puro, uma mente pura, liberta das escravidões. A castidade, antes de ser uma virtude do corpo, é uma virtude da alma. Acabamos realizando aquilo que concebemos no coração. O Apóstolo São Tiago explica isso:

“Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado, e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tg 1,13-15).

O pecado original desvirtuou a beleza das faculdades de nossa alma, entre elas, a sensualidade. Colocada em nós, para ser o veículo do amor para o casal, nos aspectos unitivo e procriativo, tornou-se, pela concupiscência, uma fonte de desordem, se não for redimida pela graça de Deus. O coração do homem foi ferido de morte pelo pecado, por isso dele é que procede agora todo o mal da criatura:

“Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele… Porque é do coração que provém os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mt 15,10-19).

Jesus quer limpar o nosso coração de tudo isso, e para tal derramou o seu sangue.

A castidade unifica a pessoa e coloca à sua disposição todas as suas energias físicas, racionais e espirituais.

Mahatma Ghandi, mesmo não sendo cristão, bebeu no Sermão da Montanha os ensinamentos de Jesus. Aos quarenta anos decidiu, de comum acordo com sua esposa, renunciarem à vida sexual, tal era o valor que dava à castidade. E não tinha dúvidas em afirmar que: ‘a educação sexual deve ter como objetivo o superamento e a sublimação da paixão sexual’. E dizia que: ‘a vida sem castidade parece-me vazia e animalesca. Um homem entregue aos prazeres perde o seu vigor, torna´se efeminado e vive cheio de medo. A mente daquele que segue as paixões baixas é incapaz de qualquer grande esforço’.

Ao falar da força da Igreja dizia:

”Eu penso que é exatamente graças ao celibato dos seus sacerdotes que a Igreja católica romana continua sempre vigorosa”. Para Ghandi, a castidade significa o controle de todos os órgãos do sentido, não apenas o sexo. Para ele, ‘aquele que dominou os sentidos é o primeiro e o mais importante dos homens’.

Sem dominar as paixões, do sexo, da gula, dos olhos, do ouvido e da língua, o homem não tem paz e tranquilidade, pois elas são para o coração o que as tempestades são para o oceano, como dizia Ghandi.

É importante notar como um grande homem, não cristão ‘embora fascinado por Cristo e pelo Evangelho’  valorizava tanto a castidade e a temperança.

Perseguindo uma pureza integral, Jesus acrescenta:


‘Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o para longe de ti, porque te é preferível perder-se um só de teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena’ (Mt 5,29).

E mais:

‘O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mal estado, todo o teu corpo estará nas trevas’ (Mt 6,22).

Como se peca hoje com os olhos! Praticamente não há mais um veículo de comunicação, que não tenha se transformado em veículo de pornografia e imoralidade. A televisão, o cinema, as revistas, os videos, etc., trazem a marca profunda de um sexo ascintoso. As campanhas vergonhosas para que o povo use a ”camisinha”, levada a efeito pelas próprias autoridades, revelam a grande decadência moral da nossa civilização. Incita-se ao pecado, sem a mínima vergonha!

Para São Paulo o pecado da impureza é grave porque atenta contra a santidade do corpo, que é o tempo santo de Deus:

‘Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, então, os membros de Cristo, e os farei membros de uma prostituta? De modo algum. Ou não sabeis que o que se ajunta à prostituta faz´se um só corpo com ela?’ (1Cor 6,15-16).

E o apóstolo insiste no assunto:

‘Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual vos foi dado por Deus?’ (6,19).

‘Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus, que sois vós, é santo’ (1Cor 3,17).

São Paulo, ao contrário dos maniqueistas dualistas do seu tempo, que desprezavam a matéria e o corpo, enfatiza a sua importância e convida-nos a darmos glória a Deus pela pureza dos nossos corpos:

‘Não sabeis que assim já não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai pois a Deus no vosso corpo’ (1Cor 6,19).

‘O corpo não é para a fornicação e, sim, para o Senhor, e o Senhor é para o corpo’ (6,13).

É preciso notar que para São Paulo a gravidade da impureza está no fato de sujarmos o Corpo de Cristo, já que, pelo Batismo, somos os seus membros. A vida sexual afeta a pertença a Cristo e deve ser compatível com a dignidade de membro do seu corpo.

Aos casados, a fim de evitarem o adultério, o apóstolo ensina:

‘Para evitar a fornicação, tenha cada homem a sua mulher e cada mulher o seu marido’ (1 Cor 7,2).

A moral católica reconhece a legitimidade da vida sexual somente no casamento. No entanto, não reconhece como legítimas todas as formas de relações sexuais. O que não está de acordo com a natureza não está de acordo com a lei de Deus. Assim, o sexo oral ou anal, e outras estrepolias, não são legítimas para o casal cristão.

Sobre esse assunto diz o Catecismo da Igreja:

‘Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e dignos. Quando realizados de maneira verdadeiramente humana, testemunham e desenvolvem a mútua doação pela qual os esposos se enriquecem com o coração alegre e agradecido’ (N.2362).

E de forma alguma a Igreja aceita o adultério:

”O matrimônio seja honrado por todos, e o leito conjugal, sem mancha, porque Deus julgará os impuros e os adúlteros” (Hb 13,4).

Mais do que em outros assuntos, é indispensável a vigilância e a oração, que Jesus recomendou aos apóstolos, pois ‘a carne é fraca’. Entre os muitos conselhos sábios o livro do Eclesiástico nos diz:

”Não olhes para a mulher do outro, e não te ponhas junto do teu leito” (41,27).

‘Não lances olhares para uma mulher leviana, para não acontecer que caias em suas ciladas’ (9,3).

‘Não detenhas o olhar sobre uma donzela, para não acontecer que a sua beleza venha a causar tua ruína’ (9,5).

O Catecismo da Igreja, de maneira clara, condena o que chama de ‘as ofensas à castidade’. É a palavra oficial da Igreja. São os seguintes casos:

”Luxúria” desejo desordenado do prazer sexual, quando buscado por si mesmo, isolado das finalidades de procriação e da união (nº 2351).

”Masturbação” excitação voluntária dos órgãos genitais a fim de conseguir um prazer sexual. Ato intrínseco e gravemente desordenado (nº 2352).

”Fornicação” união carnal fora do casamento entre um homem e uma mulher livres. ‘É gravemente contaria à dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, bem como para a geração e a educação dos filhos’ (nº 2353).

”Pornografia” retirar os atos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos parceiros para exibi-los a terceiros de maneira deliberada. Atenta gravemente contra a dignidade daquele que a pratica (nº 2354).

”Prostituição” viola a castidade à qual a pessoa comprometeu no seu batismo e mancha, seu corpo, templo do Espírito Santo. É um flagelo social. (nº 2355).

”Estupro” penetração à força na intimidade sexual da pessoa. Fere a justiça e a caridade. É sempre um ato intrínsecamente mau (nº 2356).

”Homossexualidade” sua origem psiquíca continua amplamente inexplicada. ‘Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (Gn 19,1-29 ; Rm 1,24´27; 1 Cor 6,10; 1 Tm 1,10), a tradição sempre declarou que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários a lei natural. Em caso algum podem ser aprovados´(nº 2357).

São Paulo fala muitas vezes em suas cartas sobre a impureza:

‘Fornicação e qualquer impureza ou avareza nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos’ (Ef 5,3).

‘Pois é bom que saibais que nenhum fornicário ou impuro ou avarento ‘que é um idolatria’ tem herança no Reino de Cristo e de Deus’ (5,5).

É interessante notar como o Apóstolo chama a atenção para as conversas obcenas:

‘Nada de baixezas, de conversas impróprias, de palavras incovenientes; em vez disso, ações de graça (5,4).

E Paulo mostra o perigo também do excesso no beber: ‘Não vos embriagueis com vinho, que leva à luxúria, mas enchei-vos do Espírito’ (5,18).

Onde o Espírito toca tudo se transforma

Patti Mansfield realizou, na manhã deste domingo, a última pregação do XXXII Congresso Nacional da Renovação Carismática Católica do Brasil

Patti Mansfield realizou, na manhã deste domingo, a última pregação do XXXII Congresso Nacional da Renovação Carismática Católica do Brasil. Com o tema “Eis que faço nova todas as coisas”, Patti partilhou mais uma vez sobre o poderoso batismo no Espírito Santo, que onde toca transforma todas as coisas.

Patti explicou que Deus envia o Seu Espírito a fim de transformar todas as realidades. Ela destacou que há um chamado universal à santidade, e que Deus espera muito mais dos batizados, afinal, Ele deu o seu Espírito para as pessoas orarem, lerem a Palavra de Deus, exercitar os dons e ajudar na construção do Reino de Deus.

Enquanto pregava, Patti, por diversas vezes, citou a vida dos santos e santas da Igreja e destacou que entre eles, havia uma vontade única e uma frase que é comum a todos eles: Eu quero amar Jesus como Ele nunca foi amado antes.

Patti explicou que esse desejo não é um atrevimento dos santos, mas deve fazer parte de cada um de nós. “Hoje eu quero encorajar a todos, que vocês sejam determinados como os santos. Esta decisão é tudo nesta vida. ”

Depois disso, a pregadora orou para que ninguém se contentasse com meia medida, que ninguém tivesse a mente divida ora com pureza, ora com impureza; as vezes amando, outras odiando….

Patti proclamou que os olhos do Senhor estavam voltados para o Congresso Nacional, e Jesus estava afirmando que não basta cantar, pular, dançar, e com isso, parecer carismáticos. O mais importante é permitir que o Espírito penetre a alma, modificando nossa forma de falar, pensar, caminhar e servir . É preciso mudar tudo porque Ele diz: sejam santos, porque eu sou santo.

A pregadora destacou que santidade não significa rezar vários terços, participar de muitos Grupos de Oração ou usar diversas medalhas. Ela explicou que todas essas práticas são muito boas e necessárias para a caminhada cristã, porém, pelos nossos próprios esforços e méritos jamais alcançaremos esta graça, a de sermos santos. “A nossa base tem que ser a santidade”, frisou.

Como Santa Teresa D’Ávila ensina, humildade é verdade. A pregadora  usou desta fala da santa para abordar a questão da soberba x humildade em nossas vidas.

No final da pregação, Patti destacou a importância da confissão constante. Ela aproveitou a oportunidade para pedir aos brasileiros que permaneçam fiéis à masculinidade e feminilidade, citando as Escrituram que afirma que os dias serão maus, mas é necessário permanecer firmes na verdade. Em seguida, Dom Alberto Taveira falou sobre a confissão como uma ação do Espírito Santo.

O bispo destacou que o padre na hora da absolvição dos pecados faz umaoração dizendo que Deus enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados. Desta forma, na hora da reconciliação, o que acontece é uma explosão do Espírito.

Katia Roldi Zavaris, presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL finalizou o momento deixando um ‘dever de casa’ para os carismáticos: “Meus filhos, a tarefa é para que vocês se confessem ainda essa semana”, orientou.

Santa Teresa de Ávila: Caminho de perfeição

Podemos resumir o caminho de perfeição em Santa Teresa em 3vias, que concorrem para uma única verdade, que é o amor e seguimento a pessoade Jesus Cristo: A via da humildade, a via da oração e a via da Eucaristia.Claro que essas vias não são termos utilizados por ela, mas que são pontos quesão bem explorados na Obra “caminho de perfeição” desta santa.

Na lição sobre a humildade, ela destaca 3 aspectosessenciais para o crescimento da vida espiritual: “o primeiro é o amor uma paracom as outras, é de suma importância, porque entre os que se amam não há coisadifícil de suportar que não se revele com facilidade”(Cap. 4; §5º). Para SantaTeresa, é muito importante expressar o amor fraterno, pois é o próprioexercício do perdão e do dar provas concretas de amor ao outro que vaiexpressar o verdadeiro amor ao outro: “se no mundo este mandamento fossecumprido como deveria ser, muito contribuiria para se observarem os demais”(Cap. 4).

“Onde houver disputas de honras ou de dinheiro, crede-me,onde as houver, nunca progredirão muito” (cap 12). Assim, a Santa vem nosensinar também o caminho de desapego tanto das coisas externas, de pessoasqueridas e até de nós mesmos, no que se refere a honra, para que possamostrilhar no caminho de perfeição. Ora, não basta deixar coisas e pessoas se nósainda estamos apegados a honra de nós mesmos. Isso é algo grave e que nosimpede a assim progredir no caminho de santidade.

“Verdadeiramente é sinal de grande humildade deixar-secondenar injustamente e não se defender, pois é imitação perfeita do Senhor queassumiu todos os nossos pecados” (Cap. 15). Deixar-se sofrer por amor a Cristo,eis o cerne da humildade: entender que as bem-aventuranças desabrocham dessedesinteresse a si mesmo a ponto de se configurar plenamente a Cristo nas suasdores e humilhações no alto da Cruz, para assim ressuscitarmos com Ele. Enfim,que nada possa nos perturbar, pois é Cristo que depositamos a nossa esperança,e é por ele que sofremos as humilhações por conta de uma vida santa: Mas comoalimentar essa paz, como caminhar em unidade ao coração traspassado do NossoSenhor? É fundamental alimentar o caminho de humildade por meio da oração.

“A Alma que bebe desta água não tem mais sede de coisaalguma!” (Cap 19). Mas que sede é essa? É a sede de Deus, de o encontrar na viade oração. Por isso importa que o busquemos, como bem ensina a santa, em 4graus de oração, que nos apresentam graças e desafios próprios, por conta doamor de Deus que nos é dado por força do Espírito Santo que é o autor da graçae nos vem santificar. Por isso a busca da vida de oração é essencial paraencontrarmos Jesus nas nossas vidas.

» Confira também: Página especial sobre Santa Teresa Dávila

“Agora, por sua própria Vontade, o Filho não desampara o mundo.Permanece conosco para maior júbilo de seus amigos e confusão de seusadversários” ( cap 34). Ora, é o Pão Nosso que nos é dado a cada dia que éJesus Eucarístico, alimento da nossa alma, que une a nossa vida de oração com ogrande legado para as nossas vidas que é a vida de união com Deus: sim, e sópodemos viver essa união plena, por meio de uma vida de transbordamento deamor, amando uns aos outros quando se colhe o amor em Jesus na Eucaristia e na oração, ondeaprofunda a dimensão da vivência da humildade, em cada dia, por meio daconversão e confiança no amor de Deus que opera maravilhas em nossas vidas.

Possamos assim pedir a intercessão desta Santa, para enfimaprofundarmos nessas três vias: humildade, vida de oração e comunhãoEucarística. Pois assim Santa Teresa nos apresenta o caminho de perfeição

O conceito de "infância espiritual" existe na Igreja desde o seu começo. Basta ir ao Evangelho e notar que a condição que Jesus estabelece para que seus discípulos entrem no Reino dos céus é que se transformem em criancinhas (cf. Mt 18, 3). Esta verdade foi desenvolvida por muitos teólogos medievais, mas só atingiu seu cume em uma jovem carmelita do século XIX, Teresa de Lisieux, também conhecida como Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.

A "infância espiritual", este tesouro da espiritualidade católica, é vivenciada por todos aqueles que buscam a Deus e querem ser santos. A despeito das tendências jansenistas da França oitocentista, Santa Teresinha tinha consciência daquilo os padres do Concílio Vaticano II chamariam de "a vocação de todos à santidade na Igreja". Nesta, diz a constituição Lumen Gentium, "todos (...), quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: 'esta é a vontade de Deus, a vossa santificação' (1 Ts 4, 3; cf. Ef 1, 4)".

Deus chama à santidade não somente as grandes almas, mas também "une légion de petites âmes – uma legião de almas pequeninas", escreve Santa Teresinha, no manuscrito B do livro "História de uma alma". Neste clássico da espiritualidade cristã, ela traça os moldes de sua doutrina da "pequena via", através de uma simples parábola:

"Como pode uma alma tão imperfeita como a minha aspirar à plenitude do Amor?... Ó Jesus! meu primeiro, meu único Amigo, Tu que amo UNICAMENTE, dize-me que mistério é esse. Por que não reservas essas imensas aspirações para as grandes almas, para as águias que planam nas alturas?... Considero-me apenas um mero passarinho coberto de leve penugem, não sou uma águia, só tenho dela os olhos e o coração, pois apesar da minha extrema pequenez ouso fixar o Sol Divino, o Sol do Amor, e meu coração sente em si todas as aspirações da águia..."

Santa Teresinha contempla os grandes santos – as águias – e vê a sua pequenez, comparando-se a "um mero passarinho coberto de leve penugem". No entanto, ela percebe em si uma contradição: não é uma águia, mas "sente em si todas as aspirações" de uma águia; não é majestosa como ela, mas tem os seus olhos e o seu coração.

No dia 6 de agosto de 1897, em confidência à sua irmã Inês, Teresa explicou "o que ela entendia por 'permanecer criancinha' perante o bom Deus":

"É reconhecer o seu nada, é esperar tudo do bom Deus, assim como uma criança pequena espera tudo do pai; é não se preocupar com nada e, de modo algum, fazer fortuna. Mesmo entre os pobres, dá-se à criança o que lhe é necessário, mas assim que ela cresce o pai não quer mais alimentá-la, dizendo-lhe: 'Agora vá trabalhar, você pode se sustentar'."

"Foi para não escutar isso que eu não quis crescer, sentindo-me incapaz de ganhar a vida, a vida eterna do Céu. Permaneci, então, sempre pequena, tendo uma só ocupação: colher flores, as flores do amor e do sacrifício, oferecendo-as ao bom Deus, para seu agrado."

No crescimento espiritual, há uma lei contrária à do crescimento físico. Naquele, deve prevalecer sempre o primado da graça, pelo qual a pessoa se torna cada vez mais dependente de Deus. O santo, quanto mais santo, mais depende d'Ele, mais reconhece sua dependência e sua pequenez.

Porém, sabendo que "é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações" (At 14, 22), este processo não se dá sem sofrimento. Para se chegar à plena "infância espiritual", é preciso passar pela noite escura da alma, pela purificação. Prossegue Santa Teresinha, no manuscrito B de seu livro:

"O passarinho quer voar para esse Sol brilhante que encanta seus olhos, quer imitar as águias, suas irmãs, que vê chegar ao lar divino da Trindade Santíssima... ai! o que pode fazer é bater as asinhas, voar, porém, não está em seu pequeno alcance! O que será dele? Morrer de tristeza por se ver tão impotente?... Oh não! o passarinho nem vai ficar aflito. Com total abandono, quer ficar olhando seu divino Sol; nada poderá assustá-lo, nem o vento nem a chuva, e se nuvens escuras vierem esconder o Astro de Amor o passarinho não trocará de lugar. Sabe que, além das nuvens, seu Sol continua brilhando, que seu brilho não cessará. Às vezes, o coração do passarinho é vítima de tempestade, parece não acreditar que existem outras coisas além das nuvens que o envolvem. Esse é o momento da felicidade perfeita para o pobre serzinho frágil. Que felicidade ficar aí, assim mesmo; fixar a luz invisível que escapa à sua fé!!!..."

Em certos momentos, o passarinho se aflige e é tentado pela incerteza, pela dúvida: será que existe o Sol, além das densas nuvens que pairam no ar? Será possível ver o amor de Deus nesta vida crucificada e cheia de sofrimentos? A alma, então, se lança totalmente nos braços de Deus, como uma criança inteiramente dependente de seus pais, e é-lhe dada a certeza da fé. Ela diz: meu Deus, eu não vos compreendo, mas eu vos amo.

A "infância espiritual" também consiste em não dar demasiada importância aos próprios pecados. Ainda em confidência à sua irmã, Teresinha revela:

"Ser criança é ainda não atribuir a si própria as virtudes praticadas, acreditando-se capaz de alguma coisa; é reconhecer que o bom Deus coloca este tesouro na mão de sua criancinha para que ela se sirva dele quando precisar; mas é sempre o tesouro do bom Deus. Enfim, é nunca desanimar por causa de seus erros, pois as crianças caem com frequência, porém são pequenas demais para se machucar muito."

A experiência de Santa Teresinha do Menino Jesus convida os cristãos a se tornarem como crianças, pois "o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham" (Mt 19, 14

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