Balbuciar e o Desenvolvimento Semântico da Criança

Classificado em Psicologia e Sociologia

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Primeiras Vocalizações

O Balbuciar

  • O balbuciar é a estrutura mais próxima da estrutura da fala.
  • Apresenta dois níveis de complexidade:
    • Balbuciar reduplicado – repetição da mesma sílaba (ex: ba-ba-ba).
    • Balbuciar não reduplicado – sequência variada de sílabas (ex: ba-da-gi).
  • Embora o balbuciar seja universal, verificam-se ligeiras diferenças entre os sons produzidos, em função da língua a que a criança está exposta, sugerindo a importância dos aspetos percetivos e da experiência.

Relação entre o Balbuciar e a Fala

Existem duas hipóteses principais sobre esta relação:

  • Hipótese da Continuidade – O balbuciar é visto como um precursor direto da fala. A criança produz todos os sons possíveis e, posteriormente, abandona algumas produções com base em mecanismos de reforço e exposição (ou não exposição) a esses sons.
  • Hipótese da Descontinuidade – Não há uma relação direta. Numa primeira fase, são produzidos um conjunto amplo de sons sem regra ou ordem. Numa segunda fase, as crianças aprendem os contrastes específicos da sua língua numa ordem variável. Esta hipótese defende ainda que há um período de silêncio entre o balbuciar e as primeiras palavras.

Evidências Atuais

As evidências mostram que:

  • As crianças não balbuciam todos os sons possíveis em todas as línguas.
  • Há preferência por sequências fonéticas encontradas nos enunciados de fala precoce e cuja estrutura não é claramente balbúcio, mas também ainda não é uma palavra – as chamadas “Proto-palavras”.
  • O período de silêncio não se verifica.

A relação entre o balbuciar e a fala parece, assim, ser indireta. O balbuciar permite a prática e o exercitar do trato vocal num sentido que permitirá à criança ganhar sobre este o controlo necessário para produzir não só os sons da fala, mas também a sua prosódia.

Desenvolvimento Semântico

Como as Crianças Associam Sons a Objetos

  • A emergência das primeiras palavras está dependente da capacidade de estabelecer categorias.
  • A distinção conceptual e a capacidade de estabelecer categorias são relativamente independentes do desenvolvimento linguístico e são necessárias para que este se desenvolva.
  • O desenvolvimento linguístico é dependente do desenvolvimento cognitivo.
  • Existe uma tendência inata para a categorização.

O Problema do Mapeamento Lexical

Esta é uma tarefa complexa. É um processo que ocorre ao longo do tempo e em que a criança vai fazendo aproximações, por via do teste de hipóteses, pelo que são esperados e observados alguns erros.

Hipóteses sobre a Resolução do Problema do Mapeamento

  • Modelo Ostensivo – Apontar para um objeto permitiria que a criança associasse aquela palavra ao objeto (considerado simplista).
  • Princípios Lexicais – O sistema cognitivo tende a estabelecer constrangimentos para delimitar o objeto a que a palavra se refere.
    • Principais Constrangimentos:
      • Assunção da Totalidade do Objeto – Associar palavras à globalidade do objeto. As crianças tendem também a enfatizar as palavras relativas a categorias globais e a acompanhar palavras que descrevem uma característica do objeto pela palavra que significa o objeto propriamente dito.
      • Constrangimento Taxonómico – Tendência para associar palavras “novas” a objetos com as mesmas características (pertencentes à mesma categoria).
      • Princípio da Categoria Sem Nome – À medida que as competências linguísticas se desenvolvem, adultos e crianças tornam-se capazes de discutir elementos de uma categoria superordenada (ex: cão, gato = animais).
  • Pistas Sintáticas – Inferir o significado da palavra em função do lugar que esta ocupa na frase.
  • Fatores Sociais – Inferir o significado com base nos processos de interação social (ex: atenção conjunta, intenção do falante).

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