O Barroco na Pintura: Itália, Flandres e Holanda

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O Barroco tem sua gestação no final do século XVI e se estende até o século XVIII. Nascido na Itália, de lá se espalha por toda a Europa. Este estilo surge de um período de crise. A arte é brilhante, chamativa, expressando o poder dos grandes reis e a próspera situação do catolicismo.

A variedade de fatores socioeconômicos, políticos e religiosos deu origem a diferentes vertentes do Barroco: um instrumento de propaganda cortesã e católica da Igreja e do Estado absoluto (Itália, França, Espanha), e outro barroco burguês e protestante (Inglaterra e Países Baixos).

Pintura Barroca na Itália

As técnicas incluem pintura mural e óleo sobre tela. O pincel varia de acordo com o autor, mas tende a ser solto e aberto. A linha perde importância. A cor predomina sobre o desenho, definindo as formas. A modelagem tende a ser muito teatral, com contrastes violentos.

A profundidade na pintura barroca parece ter todas as três dimensões. A sensação de profundidade é alcançada por linhas convergentes, vislumbres de um primeiro plano escuro, e efeitos de luz.

A luz tem um papel muito importante. O Barroco é a arte de captar luz e sombra pictoricamente, pois a sombra desempenha um papel sem precedentes neste período, especialmente no escuro. A forma está sujeita à luz e pode desvanecer-se ou ganhar força com a intensidade da luz.

Composição assimétrica: A simetria do Renascimento é perdida. O desequilíbrio é preferido e é conseguido através de linhas diagonais ou formas que indicam que nem tudo cabe na moldura (imagens que não aparecem completamente pintadas). As diagonais resultam numa impressão dinâmica, reforçada pelas figuras em escorço e ondulações instáveis.

A forma de expressão é naturalista e realista. Temas variados também são enfatizados, como a pintura de gênero, natureza morta e paisagens, que surgem como novidade.

No final do século XVI, a Itália conhece o trabalho de dois artistas que dão caráter à pintura europeia da primeira metade do século XVII. Um deles é Caravaggio, o outro é Annibale Carracci.

A Escola Clássica de Bolonha

Em Bolonha, desenvolve-se uma corrente que rejeita as formas idealizadas, mas também a realidade imediata, com suas imperfeições. A pintura não representa as coisas como elas são, mas como deveriam ser, buscando o ideal de beleza. Estão muito interessados na natureza e criam um tipo de paisagem de grande beleza e equilíbrio. Embora o esquema de quadratura tenha sido usado por Michelangelo, foram os mestres de Bolonha que se dedicaram a ele.

Os Carracci criam uma academia para artistas, proporcionando preparação técnica, literária e humanística para enriquecer suas competências. Annibale (1560-1619) é o de maior qualidade. Sua obra principal é a decoração da grande sala no Palácio Farnese.

Guido Reni (1575-1642)

Este é um importante seguidor dos Carracci e da corrente clássica. Destaca-se sua obra Hipómenes e Atalanta.

Caravaggio e o Naturalismo

Figura estelar na história da pintura. Ele era flamboyant e violento. Aborda todos os tipos de composições, desde cenas de rua a temas mitológicos e religiosos, sem idealização. Este procedimento é muito eficaz porque os temas cristãos são facilmente reconhecidos nesta pintura. Os santos são representados como homens comuns, tornando o caminho da santidade e os episódios do Evangelho mais facilmente compreensíveis. Esta 'vulgaridade' excessiva dos tipos foi a razão pela qual algumas obras foram rejeitadas.

Junto com a ênfase no real, usa um recurso importante: o tenebrismo, apresentando personagens e objetos num fundo escuro, destacando-os com uma luz dirigida e violenta, como um holofote de teatro, que realça gestos e objetos, trazendo-os para uma espécie de palco. Ignora o panorama (fundo), mas aprecia muito a natureza morta. Em suas obras, a psicologia dos personagens também é importante.

Pintou naturezas-mortas e composições com tipos populares, mas suas obras principais são grandes pinturas religiosas em que a 'vulgaridade' voluntária dos modelos não remove a grandiosidade e a emoção do que é representado.

  • Chamado de São Mateus
  • O Martírio de São Mateus
  • A Conversão de São Paulo
  • O Martírio de São Pedro
  • O Enterro da Virgem

Pintura Barroca na Flandres e na Holanda

No desenvolvimento da pintura nos Países Baixos, a influência social, econômica, política e religiosa é notável. A Reforma religiosa dividiu a região: uma área católica, aristocrática e monárquica sob domínio espanhol (Flandres), e outra protestante, democrática e burguesa (Holanda). Isso resultou numa separação completa dos ideais artísticos, refletida na pintura:

Pintura Flamenga

Multiplicam-se os casos de grandes pinturas religiosas de altar, enfatizando fortemente a vida dos santos e as representações dos sacramentos, temas que os protestantes rejeitam. Temas mitológicos também são representados em grande escala, para decorar os palácios reais e da alta nobreza. O retrato tem um tom pesado e solene, dando uma ideia do elevado status social do retratado.

Van Dyck (1599-1641)

Pintor, acima de tudo, da aristocracia, para a qual compõe retratos lisonjeiros, uma marca distintiva. Atribui grande importância ao vestuário, formas esguias e figuras efeminadas. Destacam-se retratos como Carlos I da Inglaterra.

Jordaens (1593-1678)

Segue a influência de Rubens, mas prefere temas populares. O tom é bem-humorado, como em O Rei Bebe.

Peter Paul Rubens (1577-1628)

A figura mais proeminente da pintura em Flandres. Dinamismo, vitalidade e exuberância. Sua cor é quente, aprendida com os venezianos. Suas composições são arranjadas em um padrão diagonal que lhes dá uma sensação de movimento que se prolonga para além da moldura. Os corpos masculinos musculosos ou efeminados, os modelos grossos, carnudos e sensuais são agrupados num ritmo turbulento, torcendo formas.

Rubens trabalha com a mesma habilidade em todos os gêneros. Como pintor religioso, criou uma série de grandes composições de extraordinária espetacularidade, a serviço da igreja triunfante:

  • A Elevação da Cruz
  • A Descida da Cruz

Entre os destaques da pintura histórica, a série Maria de Médici, composta por 21 telas. Como mestre na pintura e interpretação de temas mitológicos, destaca-se a sensualidade de obras como:

  • As Três Graças
  • O Jardim do Amor
  • O Julgamento de Paris
  • Vênus na Toucador

Ele também trabalhou no retrato, criando, inspirado nos venezianos, um tipo de retrato de aparência cortês, como o Duque de Lerma.

Pintura Holandesa

A pintura religiosa de altar desaparece completamente, devido ao culto das imagens. Pequenas figuras religiosas são criadas para contemplação e meditação nas salas da burguesia. Temas mitológicos são raramente abordados e, quando o são, têm intenção alegórica ou moralizante.

O retrato ganha um tom de simplicidade, intimidade e realismo. O traço mais característico da pintura holandesa é o gosto pelos gêneros, tão realista quanto burguês, em pinturas de tamanho pequeno para a decoração de casas, buscando conforto e comodidade, em contraste com o luxo dos palácios da nobreza.

São exibidas pinturas de interior, com cenas domésticas, retratos de animais, paisagens puras e naturezas-mortas.

Frans Hals (1580-1666)

É certamente o retratista mais íntimo de sua geração, intérprete especial da vivacidade e alegria holandesa. Cristaliza o retrato de grupo de membros de uma corporação (*Regentes do Hospital de Haarlem*). Igualmente importantes são seus retratos individuais, como *A Cigana*.

Johannes Vermeer (1632-1675)

O grande mestre do gênero de interior holandês. Suas pinturas de extraordinária simplicidade na composição. Fundamental em sua obra é a luz e a beleza das cores, com uma técnica quase pontilhista, que o torna um artista audaciosamente moderno.

Rembrandt van Rijn (1606-1669)

O personagem mais complexo da arte holandesa. Verdadeiro génio da pintura, abrangeu todos os campos: retrato, paisagem, pintura religiosa, interior, ser mitológico. Ao mesmo tempo, um dos maiores gravadores de todos os tempos.

Seu estilo é o do escuro (tenebrismo), mas mesmo com os contrastes de luz e sombra, a fronteira entre ambos não é tão nítida quanto em Caravaggio. Prefere uma luz dourada e sombras misteriosas, que são um grande atrativo em seu trabalho. *O Boi Esfolado*, uma das naturezas mortas mais brilhantes já pintadas.

A principal série de pinturas de Rembrandt é composta por retratos: o indivíduo e o coletivo. Nenhum pintor pintou tantos retratos; através deles, como por ensaios, vemos o estudo de todos os problemas de luz e das diferentes expressões faciais. Também deixou retratos de grupo, como *A Lição de Anatomia do Dr. Tulp*, e obras de tom misterioso e dramático.

*A Ronda Noturna*, encomendada pelos Mosqueteiros de Amesterdão. A questão não é a fabricação de armas, mas sim personagens prontos para a ação. Nela, cortinas de luz, brilhos e cores predominam.

*Os Síndicos dos Paneiros*, sua obra-prima, é uma composição de unidade e cheia de poderosa vida interior, com um maior idealismo.

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