Cana-de-Açúcar: Cultivo, Usos e Gestão Ambiental
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Origem e Significado da Cana-de-Açúcar
A cana-de-açúcar é originária da Nova Guiné, ao norte da Austrália. Atualmente, o país possui 77.778 hectares cultivados, com uma produção anual de 3.158.516 toneladas. Com essa produção, o país é autossuficiente e parte da produção é exportada, especialmente para os Estados Unidos. A cana-de-açúcar é utilizada para energia, combustível veicular, fabricação de papel, madeira, entre outros.
Aspectos Agronômicos do Cultivo
Clima e Solo Ideais para Cana-de-Açúcar
A temperatura não deve cair abaixo de 2 ºC. Com temperaturas mais elevadas, o nível de sacarose é maior, desde que a nutrição seja adequada. A cana-de-açúcar não suporta geadas, que podem causar a perda total da colheita.
Os solos devem ser profundos, frescos, humíferos e com boa oferta de:
- Fósforo
- Nitrogênio
- Cálcio
Preparo do Solo para o Cultivo
O preparo do solo é crucial, pois a cana-de-açúcar é uma cultura de ciclo plurianual. Inicia-se com a incorporação de matéria orgânica (vegetal ou animal) e adubação de base, conforme os resultados da análise prévia do solo. A aração profunda deve ser seguida pelo nivelamento e desmanche dos torrões com um ancinho.
Plantio da Cana-de-Açúcar
Abra sulcos a uma distância de 1,20 metros entre as linhas, com profundidade de 10-15 cm. Nesses sulcos, deposite pedaços de cana contendo 10 a 12 nós ou gemas, e em seguida, cubra-os. Com umidade adequada, a germinação ocorre em 15 a 20 dias.
Tratos Culturais Essenciais
Quando as novas plantas surgem, deve-se realizar o desbaste, a amontoa e a eliminação de ervas daninhas. A amontoa é importante para proporcionar melhor fixação das plantas, evitar inundações e melhorar a aeração das raízes, aumentando a segurança da planta.
Principais Pragas e Doenças
As principais pragas são a broca da cana (Diatraea saccharalis) e a broca pequena (Elasmopalpus lignosellus). Elas são controladas com inseticidas de amplo espectro e iscas tóxicas deixadas em armadilhas com canas cortadas.
As ferrugens são doenças que podem causar perdas significativas e podem ser controladas com variedades resistentes ou aplicações regulares de fungicidas.
Colheita da Cana-de-Açúcar
A cana não deve ser colhida nem muito verde, nem muito madura, pois em ambos os casos há perda na concentração de sacarose. O momento ideal para o corte é quando as folhas inferiores começam a amarelar e secar. Amostras podem ser coletadas e analisadas com um sacarímetro; o grau ideal varia por região, mas geralmente fica entre 12 e 18 graus Baumé.
O corte é feito na base da cana, utilizando facões ou máquinas que desenrolam e retiram o “coração” da planta. Em seguida, a cana é reunida para formar a carga das barcaças, que são transportadas para o moinho para moagem.
Rendimento da Cultura
O rendimento pode variar entre 35 a 130 toneladas por hectare.
Utilização e Produtos Derivados
A cana-de-açúcar fornece, primeiramente, sacarose para a produção de açúcar branco ou mascavo. Também produz cerca de 40 kg/tonelada de melaço (matéria-prima para a fabricação de cachaça) e aproximadamente 150 kg/tonelada de bagaço. Outros usos de menor importância incluem adubo agrícola, resíduos de lavagem, cera, fibras e absorventes.
Impactos Ambientais e Socioeconômicos
Impactos no Solo
Estima-se que para cada tonelada de cana colhida, são extraídos do solo 0,66 kg de nitrogênio, 4 kg de fósforo e 1,5 kg de potássio, consumindo macro e micronutrientes. Além disso, o solo pode ser afetado pela erosão devido à má gestão da irrigação.
A atividade agrícola exige o uso de diversos pesticidas (fungicidas, bactericidas, inseticidas, nematicidas, acaricidas, rodenticidas, etc.). Os perigos associados a esses produtos químicos incluem:
- Baixa biodegradabilidade e alta toxicidade, resultando em longa persistência no ambiente, especialmente para compostos de cloro e fósforo.
- Possibilidade de filtração em aquíferos, contaminando fontes de água potável.
- Destruição do controle biológico natural e redução da polinização.
A intensidade dos impactos ambientais do cultivo de cana-de-açúcar depende diretamente do manejo do solo durante o plantio e os ciclos de colheita. A aplicação excessiva de fertilizantes altera o pH e a composição química do solo. A aplicação incorreta de íons de amônio pode causar a formação de compostos fitotóxicos. O excesso de cloreto de sódio pode levar à compactação química, que é o acúmulo de sais de sódio na raiz da planta. Os restos culturais no solo podem dar origem a focos de infecção, favorecendo o crescimento de fungos, pragas e microrganismos.
Impactos na Qualidade do Ar
A pulverização de produtos químicos libera odores distintos que persistem por um tempo antes de se dissiparem. A queima da cana antes da colheita gera fumaça e resíduos sólidos suspensos que demoram a se dissipar.
Impactos nos Recursos Hídricos
A drenagem das plantações de cana-de-açúcar está conectada a rios, como o rio Guayas, e eventualmente deságua no Golfo de Guayaquil. Isso indica um volume contínuo de água nas plantações, que passa por um processo de depuração. O mesmo se aplica aos aquíferos subterrâneos, onde a água é constante, purificada e renovada pelas encostas nevadas dos Andes.
Impactos na Biodiversidade e Ecossistema
O uso de produtos químicos pode causar:
- Impactos agroecológicos, como a eliminação de insetos polinizadores e surtos de pragas.
- Impactos ecológicos e ambientais, resultando em mortalidade de animais selvagens e efeitos fisiológicos, bioquímicos, reprodutivos e etiológicos.
Apesar dos impactos específicos, a configuração ecológica geral da área de cultivo de cana-de-açúcar tende a permanecer relativamente inalterada.
Impactos Socioeconômicos
O plantio e a colheita da cana-de-açúcar geram empregos, resultando em bem-estar social e saúde pública eficientes. O aumento da renda dos trabalhadores tem um efeito positivo sobre a habitação, seja para melhorar as existentes ou construir novas. A construção de estradas, canais de drenagem, sistemas de comunicação e outros investimentos são contribuições positivas.
Impactos na Saúde do Trabalhador
A maioria dos herbicidas possui baixa toxicidade, mas a exposição prolongada pode causar efeitos graves em humanos, como letargia, sonolência, náuseas, vômitos e convulsões. Inseticidas organoclorados, organofosforados e carbamatos são neurotóxicos, alguns altamente tóxicos (com DL50 inferior a 100 mg/kg). Os sintomas de envenenamento incluem dor de cabeça, tonturas, náuseas, vômitos, tremores e convulsões, e alguns são cancerígenos.
Outros Impactos Positivos
O plantio de cana-de-açúcar, além dos impactos positivos já mencionados, abre uma expectativa de exportação, pois o país já é autossuficiente e possui excedente para o mercado mundial.
Medidas de Prevenção e Controle
Para repor os nutrientes consumidos do solo (nitrogênio, fósforo, potássio, ferro, sódio, cobre e outros cátions), é essencial uma adubação adequada. Os trabalhadores podem ser afetados por acidentes e exposição a produtos químicos. Para mitigar esses impactos, as seguintes medidas são recomendadas:
- Prevenção de riscos ocupacionais.
- Manipulação segura de pesticidas.
Os impactos no plantio podem ser atenuados por:
- Controle de ervas daninhas, minimizando o uso de herbicidas e maximizando a mecanização e o uso do facão.
- Uso de fertilizantes para restaurar os nutrientes do solo.
Plano de Gestão Ambiental
A gestão ambiental na lavoura tem como principal objetivo evitar impactos na saúde dos trabalhadores e mudanças irreversíveis no ecossistema causadas pelo uso de agrotóxicos.
Controle de Pragas e Doenças
O controle de pragas e doenças deve ser feito com cautela. O controle biológico é a principal estratégia para erradicá-las, e a indústria açucareira tem se esforçado para mantê-lo, utilizando menos produtos químicos no combate às pragas. Recomenda-se a aplicação de inseticidas microbianos, conhecidos como entomopatogênicos.
Armazenamento e Manuseio de Agroquímicos
Todos os produtos químicos manipulados nas plantações devem possuir etiquetas em bom estado, fáceis de ler e entender. É essencial calibrar as bombas de pulverização para aplicar a quantidade correta de substâncias químicas.
Gestão da Água
O uso otimizado da água, por meio de canais de irrigação ou outros sistemas, é parte de uma boa gestão hídrica e evita a erosão. Da mesma forma, é desejável que a indústria açucareira reduza o consumo de água em suas fábricas. Algumas usinas já estão adotando essa prática. Para a drenagem de águas industriais, as usinas devem construir piscinas de clarificação e remoção de sólidos suspensos, a fim de evitar a poluição dos rios.
Controle da Qualidade do Ar
A pesquisa em novas tecnologias para a queima da cana antes da colheita, com acompanhamento adequado e posterior avaliação, pode identificar alternativas para o corte da cana, definindo as respectivas “Diretrizes de Queima”. Com relação às agroindústrias, a instalação de filtros é recomendada. O controle deve ser o mais adequado para proteger a vida humana, prevenindo infecções e doenças.
Gestão de Resíduos Perigosos
Não se deve depositar resíduos orgânicos e químicos inorgânicos em rios. Deve-se criar aterros controlados para evitar o descarte indiscriminado de lixo nas ruas ou em áreas de “guardarraya” (faixas de segurança). Para o descarte de resíduos e outros materiais, deve-se cavar um buraco de quatro metros de profundidade em uma área isolada, longe de cursos d'água e fontes.
Saúde Ocupacional
O pessoal deve ser treinado em primeiros socorros. Os trabalhadores devem ser submetidos a exames médicos a cada três meses. Aqueles envolvidos em tarefas de pulverização devem ser rodados periodicamente para reduzir a exposição, e suas roupas, luvas, óculos e máscaras devem ser lavados e desinfetados após cada uso.