O Que É Capitalismo: Análise Crítica do Sistema
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O Que é Capitalismo?
É um sistema social, uma maneira de organizar a vida social e um conjunto de respostas sobre como a sociedade se estrutura. É um regime de opressão de classe, pois existe uma classe dominante que detém o poder de dominar as outras. Esse poder é conferido pela distinção econômica entre as pessoas. A dominação de classe pode ser justificada e organizada por instituições, normas, costumes e ideias.
A classe dominante, também conhecida como burguesia, é definida como o grupo que controla, direta ou indiretamente, os recursos econômicos e, através desse controle, obtém poder sobre os demais, independentemente dos fundamentos econômicos de uma empresa específica.
Sob o capitalismo, as fronteiras entre as classes sociais são móveis e as separações não parecem abruptas.
Luta de Classes e Exploração Econômica
Esse sistema leva à luta de classes, na qual a resistência está sempre presente. O capitalismo implica exploração econômica, mas também priva as pessoas de sua capacidade de agir, de sua liberdade de movimento e de decidir por si próprias como querem viver. Por isso, enfrenta a luta de classes, que é o embate constante entre a opressão e a vontade de se livrar dela.
As forças da luta de classes compelem o capitalismo a criar novas formas de oprimir, explorar e dividir as pessoas. Consequentemente, o poder da classe dominante é instável e frágil, necessitando ser reinstituído diariamente. Assim, diz-se que o capitalismo é um sistema inerentemente sujeito a uma crise contínua.
Sob o capitalismo, a classe dominante obtém seu poder através de crenças e instituições, mas também porque certos recursos podem ser de propriedade privada. Isso significa que, enquanto alguns são privados do uso desses recursos, outros – os proprietários – podem utilizá-los. O capitalismo é, em essência, uma máquina de privatizar.
A instituição fundamental do capitalismo é a mercadoria: tudo o que é produzido para ser vendido com o objetivo de lucro. Embora a compra e venda de itens em mercados sempre tenha existido, sob o capitalismo, todo o espaço se transforma num grande mercado, e quase tudo se torna uma mercadoria vendável. Atualmente, o acesso a quase tudo que se necessita é privatizado e requer compra. O tempo das pessoas tornou-se uma mercadoria. Um empresário pode comprar o tempo de trabalho de alguém e utilizá-lo para seu benefício em troca de um salário. A diferença entre o valor que o trabalhador produz com seu trabalho e o salário que recebe é denominada mais-valia. Sob o capitalismo, a classe dominante apropria-se dela. A mais-valia é o que permite realizar a acumulação de capital; sem ela, o capital permaneceria constante.
O capitalismo é definido como um conjunto de hábitos, leis, instituições políticas e econômicas, e uma cultura que garante e legitima o fato de que algumas pessoas podem privar outras do acesso aos recursos, utilizando-os para seu próprio enriquecimento. A classe dominante apropria-se do trabalho alheio e produz bens para vender no mercado. Assim, acumula riqueza para manter e aumentar seu poder.
A Expansão Inerente do Capitalismo
Acumulação Primitiva e a Criação de Mercados
Antes do capitalismo, a grande maioria das pessoas possuía seus próprios meios de produção, e o tempo e o trabalho eram, em grande medida, bens próprios ou comuns. Com o advento do capitalismo, ocorreu um processo de expropriação dos meios de produção das mãos dos produtores diretos, bem como da riqueza, dos recursos e da capacidade das pessoas de viverem de acordo com suas próprias decisões. Esse processo é conhecido como acumulação primitiva.
A capacidade de expansão do capitalismo é sua maneira de tentar resolver sua crise inerente. Ele se expandiu através da criação de novas instituições e formas sociais, como as fronteiras e os Estados-nação. Sob o capitalismo, a autoridade política passou a corresponder a uma área geográfica delimitada por fronteiras. Idealmente, o novo espaço ocupado por um Estado deveria coincidir com uma nação. A construção da ideia de nação serviu para separar as pessoas de diferentes espaços nacionais. O capitalismo fomentou a criação dos Estados-nação para estabelecer um mercado interno unificado, que os capitalistas pudessem explorar sem restrições, e também para melhor controlar a população e impulsionar a expansão colonial.
Imperialismo, Colonialismo e Globalização
Um segundo ciclo de expansão direcionou-se aos territórios ditos "descobertos". Através do imperialismo e do colonialismo, as novas nações capitalistas apropriaram-se de vastas regiões e forçaram seus habitantes a servi-las. As sociedades comerciais e os Estados-nação lideraram essa expansão. O imperialismo buscou uniformizar o mundo sob sua lógica, mas, paradoxalmente, também dividiu as pessoas por critérios como nacionalidade, religião ou cor da pele.
A terceira grande fase de expansão é a globalização. Na globalização, diferentes partes de um mesmo produto podem ser fabricadas em locais distintos, e as empresas organizam-se em redes transnacionais. O investimento e as corporações transnacionais demandam a livre circulação de capitais e mercadorias, sem entraves de fronteiras nacionais. Isso requer a imposição de regras e padrões econômicos e culturais uniformes. Para tal, emergem instituições públicas e privadas de âmbito transnacional, que regulam e organizam a vida em escala global.
Expansão Contínua e Mercantilização da Vida
O capitalismo continua sua expansão, invadindo novas regiões, espaços e recursos naturais, substituindo o comum e o natural pelo privado e artificial. Ele penetra cada vez mais em nossas mentes e em nossa privacidade. Espaços públicos são progressivamente mercantilizados pela publicidade e pelo patrocínio. Consequentemente, os espaços genuinamente públicos diminuem, levando as pessoas a optarem por alternativas privadas e mercantilizadas.
O Papel do Estado no Sistema Capitalista
Um desafio central na análise do capitalismo é compreender o que é o Estado e como ele funciona. Críticos do capitalismo, como os anticapitalistas, argumentam que o Estado não é neutro, mas serve aos interesses da classe dominante. Por outro lado, os trabalhadores historicamente perceberam que o Estado também poderia promulgar legislação importante em seu benefício. Fundamentalmente, o Estado é parte integrante da sociedade capitalista; é uma função do social.
A principal função do Estado no capitalismo é assegurar as condições para a acumulação econômica e garantir a legitimidade do sistema. Sem a intervenção estatal, os capitalistas não poderiam garantir a contínua acumulação de lucro. Portanto, a regulação da economia é uma característica essencial do Estado capitalista, visando assegurar a acumulação a longo prazo.
Como o capitalismo é constantemente ameaçado pela luta de classes, o Estado assume a tarefa de fazer com que a ordem social capitalista seja percebida como legítima. Quando os mecanismos de legitimação falham, o Estado recorre à repressão. Contudo, nenhum sistema pode sustentar-se apenas pela repressão; o Estado deve, primordialmente, garantir a legitimidade da sociedade capitalista.
Para cumprir sua função legitimadora, o Estado precisa manter uma aparência de neutralidade. Deve parecer independente dos interesses particulares dos poderosos. É por essa razão que, por vezes, o Estado implementa leis ou políticas que podem, aparentemente, prejudicar os interesses de curto prazo de setores da classe dominante, visando a estabilidade do sistema como um todo.
O Estado, como função do social, não pode ser completamente separado da sociedade. Ele assume a forma da sociedade capitalista à qual pertence. Mudanças significativas na sociedade inevitavelmente se refletem em transformações no Estado, e vice-versa.
Embora o Estado não possua autonomia absoluta em relação à sociedade, ele também não é um mero instrumento que os capitalistas utilizam como bem entendem. A luta de classes e as dinâmicas sociais mais amplas exercem influência e impõem limites à ação estatal, moldando suas políticas e transformações.
A configuração específica do Estado e sua relação com as classes sociais decorrem da estrutura da sociedade e da forma como a luta de classes historicamente a moldou.
O Estado, Fronteiras e Direitos
O Estado capitalista atua como uma máquina de separar e classificar as pessoas e os direitos que lhes são atribuídos. Ele divide os seres humanos em diferentes países e Estados, separados por fronteiras. Isso implica que, geralmente, apenas os cidadãos de um determinado Estado-nação gozam de plenos direitos políticos dentro de seu território.
A ideologia nacionalista sugere que o espaço da sociedade coincide com as fronteiras de um Estado. No entanto, se entendermos a sociedade como o conjunto das relações que nós, seres humanos, construímos, percebemos que essas relações não se detêm nas fronteiras. Estamos todos interligados, seja pelo funcionamento da produção, do comércio, pelas tendências da moda, ou por inúmeras outras formas de interação.
A sociedade em que vivemos é, de fato, global e interdependente. Contudo, essa sociedade global é fragmentada e hierarquizada, criando áreas geográficas e grupos de pessoas privilegiados, enquanto outros são oprimidos. Ao confinar o exercício de muitos direitos às fronteiras nacionais, o sistema de Estados dificulta a capacidade das pessoas de transformar o funcionamento da sociedade em sua totalidade.
Público vs. Privado e a Luta por Direitos
O Estado também estabelece uma nítida separação entre as esferas pública e privada. O sistema constitucional e legal define áreas da vida social como "privadas", nas quais a intervenção da sociedade ou do Estado é limitada. No capitalismo, essa distinção é crucial, pois muitos privilégios são consolidados ao serem transformados em direitos privados.
Historicamente, movimentos sociais têm lutado para trazer questões e recursos da esfera privada de volta ao domínio público, para que a sociedade, de forma democrática, possa deliberar sobre eles e decidir se devem ser mantidos como privilégios ou geridos coletivamente.
A Ideologia Capitalista: Liberalismo e Cultura Dominante
O capitalismo sustenta-se sobre uma ideologia própria, um conjunto de ideias mais ou menos articuladas que justificam e naturalizam suas relações.
O liberalismo, uma das principais correntes ideológicas do capitalismo, defende que a sociedade é composta por indivíduos dotados de direitos naturais preexistentes. Esses direitos teriam prioridade sobre quaisquer decisões coletivas. Sob essa ótica, a sociedade e o Estado deveriam intervir o mínimo possível na vida dos indivíduos, limitando-se a garantir a ordem, o cumprimento das leis e a prestação de serviços básicos essenciais.
A hegemonia da classe dominante é alcançada quando sua ideologia se dissemina a ponto de se tornar senso comum ou conhecimento geral. O individualismo, central na ideologia liberal, manifesta-se frequentemente no egoísmo e no isolamento, com cada pessoa focada em seus próprios assuntos particulares.
A ideia de que o pleno gozo de direitos está condicionado à posse de recursos econômicos reflete-se em diversos padrões culturais, como o produtivismo (a valorização da produção acima de tudo), o culto ao sucesso econômico individual, a ênfase na eficiência e na concorrência, e o consumismo desenfreado.
A noção liberal de uma "ordem natural" das coisas, que justificaria as desigualdades existentes, tende a promover o conformismo, a passividade e a valorização da obediência às estruturas de poder estabelecidas.
Para sua sobrevivência e reprodução, o sistema capitalista necessita difundir continuamente valores como o individualismo exacerbado, a competição, o conformismo e, por vezes, visões discriminatórias. Essa difusão ocorre através de diversas instituições, como os meios de comunicação, o sistema educacional, entre outros.
A cultura do capitalismo permeia a sociedade de forma muitas vezes espontânea e inconsciente, pois todos nós, em alguma medida, internalizamos seus valores e pressupostos em nossas vidas cotidianas.
Resistência e Perspectivas de Transformação
Embora sejamos moldados pelo capitalismo, isso não significa que não existam alternativas ou formas de resistência. Nenhum sistema opressivo é totalitário ao ponto de anular completamente a capacidade de contestação, pois a opressão gera, invariavelmente, resistência. O capitalismo, por sua vez, precisa constantemente reforçar suas mensagens culturais e adaptar suas formas de organização e controle, precisamente porque novas formas de pensar, novos valores e modos de vida que desafiam a dominação estão sempre emergindo.