A Casa dos Espíritos: História e Sociedade
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A Casa dos Espíritos é uma novela que se estende por várias gerações e abrange grandes mudanças políticas. É importante esclarecer primeiramente que, embora nunca seja dito abertamente, não há dúvida de que a história se passa no Chile.
A história começa com os cadernos de **Clara**, mas **Esteban Trueba** será o único personagem a viver ao longo dos tempos. Ele, assim como seu pai antes dele, dedica-se à política, como convém à oligarquia da época. O romance começa na primeira década do século XX. Vários acontecimentos históricos e sociais nas vidas dos personagens vão marcar o tempo: os **Loucos Anos Vinte**, a chegada dos primeiros carros, o avanço das tropas na **II Guerra Mundial**, a prosperidade do Chile como despensa de uma Europa em crise, a chegada de imigrantes famosos, como o **Conde Satigny**, a demonização do comunismo pela direita, o grande **terremoto de 1960**...
À medida que os personagens se movem através dos acontecimentos e os relacionamentos se desenvolvem, a sociedade chilena cíclica é estruturada: uma grande maioria, trabalhadora, analfabeta e pobre nas fazendas, em contraste com a minoria oligárquica, educada e abastada. O grande contraste é criado aqui através dos casais: **Pedro Terceiro** e **Blanca**, **Nicolás** e **Amanda**, **Alba** e **Miguel**... Algumas dessas tentativas de deixar o caminho traçado encontram uma grande vala que as separa da outra classe.
Curiosamente, o tratamento da autora para o problema da exploração dos pobres, pois nunca cai no maniqueísmo: **Esteban Trueba** não é tão mau nem os agricultores tão bons.
Os últimos capítulos da novela saem do realismo mágico e caem no romance mais amargo e realista. Na vitória do candidato e a subsequente reforma agrária, no boicote a investidores estrangeiros e empresas nacionais, vemos claramente o **governo de Salvador Allende** (**1970-1973**). **Esteban** representa a grande maioria da sociedade chilena que dorme com medo do comunismo e acena para as forças armadas intervirem, e que, como todos, terá tempo para se arrepender pelo que aconteceu. **Esteban García** é o produto da necessidade de ódio. Era inevitável que uma sociedade tão injusta criasse tais personagens.
A partir daqui, relata-se uma série de atrocidades que contrastam com a imagem de ordem e pulcritude que se tenta dar ao país no exterior. Os movimentos da personagem **Alba** ocorrem entre idas e vindas clandestinas, incluindo visitas a supermercados cheios de guloseimas que qualquer um pode comprar, ruas sem mendigos e favelas muradas (para que os turistas não vejam) e campos de golfe que servem como centros de concentração.
A sociedade sob a opressão é finamente dividida em dois campos: os mais velhos que fogem, como **Blanca** e **Pedro Terceiro**, e os jovens que ainda esperam que uma mudança seja possível, como **Alba** e **Miguel**, que ficam para lutar.