Da Casa ao Lar: A Dimensão Simbólica da Habitação Estudantil

Classificado em Psicologia e Sociologia

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Habitar determinado espaço é sentir-se protegido por ele, podendo desenvolver todas as atividades relativas ao ato de habitar, sejam elas relacionadas a uma moradia ou ao local de trabalho.

A habitação, a moradia (o lar) e a casa podem possuir sentidos bastante diferentes se analisadas as relações de proximidade que os indivíduos mantêm com os lugares. Para Martucci e Basso (2002, p. 271), a casa é a casca protetora, o invólucro que divide tanto espaços internos quanto externos. Sendo um ente físico, não possui uma relação afetiva com o morador. Como sua principal função, precisa servir de abrigo, deve abrigar o indivíduo e permitir que ele sonhe. É o elemento de estabilidade na vida, sem o qual estaríamos dispersos, perdidos. É na casa que se dá a experiência do lar (Malard, 2002).

Já a moradia, ou o lar, leva em consideração os hábitos de uso da casa (Martucci & Basso, 2002, p. 272). A moradia, então, permite que o usuário tenha uma relação afetiva com ela, onde os desejos e as necessidades dos indivíduos são espacializados e criam uma dimensão simbólica para o lugar. O lar é algo mais que simplesmente um edifício; é um lugar onde as pessoas podem expressar suas necessidades, conferindo identidade ao espaço (Thomsen & Eikemo, 2010). É nela que podemos espacializar nossos sentimentos e necessidades, transformando a casa em um lar. Bachelard (2000) define a moradia como o local que abriga o devaneio, que protege o sonhador e permite sonhar em paz.

A habitação, então, é definida como a relação entre casa e moradia, integradas em um mesmo espaço, em uma urbanidade. Ela está ligada a elementos que se relacionam com a vida das pessoas e suas perspectivas sociais, políticas, econômicas, históricas e ideológicas (Martucci & Basso, 2002, p. 272). Se considerarmos que o ser humano modifica o espaço em que vive, seja ele interior ou exterior, para espacializar seus desejos e necessidades, e que isso ocorre em todos os lugares, cabe aqui considerar a Casa do Estudante como uma Habitação, já que elementos da casa e do meio externo (o urbano) poderão alterar a dimensão simbólica do lugar.

A moradia estudantil, tomada como habitação, deve auxiliar no desenvolvimento de cooperação, segurança, cidadania responsável, estimulação intelectual e inspiração (Hassanain, 2008). Residências estudantis auxiliam os alunos a ampliar seu campo de conhecimento por meio de informações que seus próprios colegas de quarto compartilham. Considera-se, então, que a experiência de viver em uma moradia estudantil é bastante agregadora e, se bem compreendida, contribui para a formação, não só acadêmica, mas também social do morador.

Para que essa experiência ocorra de forma plena, é necessário que o ambiente prime pelo convívio social, territorialidade, privacidade e identidade com o lugar. Assim, permite-se que os estudantes criem um vínculo com o espaço, transformando a habitação estudantil em um lar.

Apesar de seu caráter transitório, a expressão “moradia”, se analisada no contexto da casa, possui um caráter definitivo, já que, durante o período de graduação, é nela que se concentrarão as principais atividades do indivíduo e é nela que a dimensão simbólica se manifestará. Portanto, a moradia estudantil, observada como uma habitação, com todas as suas atividades, deve oferecer suporte aos seus moradores tanto nas questões físicas, de conforto e bem-estar, quanto nas questões psicológicas, permitindo o sonho, a socialização e o devaneio, e trazendo ao espaço habitado a essência da noção de lar.

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