Células do Sistema Imune: Tipos e Funções
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Granulócitos
Eosinófilos: Também chamados de acidófilos, destroem parasitas (helmintos). Contêm histamina e proteínas, como peroxidase de eosinófilos, ribonuclease, desoxirribonucleases, lipase, plasminogênio e a proteína básica maior. Essas substâncias são liberadas na degranulação após a ativação do eosinófilo e são tóxicas para os tecidos do parasita e do hospedeiro.
Neutrófilos: Realizam fagocitose e são numerosos (90%). São as primeiras células a chegar ao local da infecção. Nos grânulos, possuem fosfatase ácida, mieloperoxidase, proteínas básicas e glicosaminoglicanas (primários), além de fosfatase alcalina, colagenase, lactoferrina e lisozima (secundários ou específicos). Através da quimiotaxia, chegam ao local, ligam-se aos receptores de superfície e fagocitam. Quando os grânulos liberam lisozima, promovem a explosão respiratória, aumentando a produção de peróxido de hidrogênio e superóxidos (mecanismo alternativo).
Basófilos: Participam da hipersensibilidade tipo I (imediata). Produzem histamina e heparina, sendo estimulados pela presença das anafilotoxinas e do complexo IgE-Ag. O processo ocorre em duas etapas: degranulação com liberação de histamina e liberação dos produtos da cascata do ácido araquidônico. No choque anafilático, os basófilos participam mais que os mastócitos, por estarem presentes no sangue.
Importante: Não confundir basófilos com mastócitos. Ambos são de origem medular, mas os mastócitos estão presentes no tecido conjuntivo de forma imatura e só amadurecem no tecido de atuação.
Agranulócitos
Monócitos: São os maiores leucócitos. Circulam no sangue e depois migram para os tecidos, onde se diferenciam em macrófagos. Dependendo do tecido, recebem denominações diferentes. Na imunidade inata, atuam na fagocitose; na adaptativa indutora, apresentam antígenos; na efetora, fagocitam antígenos opsonizados ou após estimulação por citocinas produzidas por linfócitos T. São considerados células centrais da resposta imune e não morrem após fagocitar.
Células Dendríticas: Originam-se da medula óssea, possivelmente derivadas dos monócitos. Estão presentes em muitos órgãos, sendo abundantes nos órgãos linfoides, em locais ricos em linfócitos T. Na pele, recebem o nome de células de Langerhans. São consideradas células imunoestimuladoras, pois, além de apresentarem os antígenos às células T, são capazes de estimular células T virgens (que ainda não entraram em contato com antígenos).
Linfócitos: Produzidos na medula óssea, como pré-búrsicos (linfócito B) ou pré-timócitos (linfócito T).
- Linfócitos B: Responsáveis pela imunidade humoral. Quando ativados por um antígeno específico, diferenciam-se em plasmócitos, cuja função é produzir anticorpos (Ac).
- Linfócitos T: Responsáveis pela imunidade celular. Reconhecem antígenos de superfície. Subtipos de linfócitos T:
- CD8: Destroem células que apresentam peptídeos derivados de antígenos intracelulares (através de uma estrutura chamada MHC tipo I). Produzem perforinas, que permitem a entrada de granzima e granulosina, promovendo a apoptose celular.
- CD4+ (T4, Th ou Auxiliares/T helper): Intermediários da resposta imunitária. Proliferam após o contato com o antígeno para ativar outras células específicas. Dois subtipos conhecidos: Th1 (ativam macrófagos) e Th2 (auxiliam linfócitos B a produzir anticorpos).
Células NK (Natural Killer): Atuam na imunidade inata contra antígenos específicos, como tumores, infecções virais, bactérias ou células danificadas. Identificam o MHC tipo I da superfície dessas células. São ativadas por citocinas chamadas interferons. Uma vez ativadas, liberam grânulos citotóxicos (perforinas, que permitem a entrada de granzima e granulosina, promovendo a apoptose celular). Precisam de ADCC (citotoxicidade celular dependente de anticorpos). Células citotóxicas: CD8 (imunidade adaptativa) e NK (imunidade inata).
Imunoglobulinas (Anticorpos)
São moléculas de glicoproteínas produzidas pelos plasmócitos em resposta a um imunógeno. Cada imunoglobulina liga-se a um determinante antigênico específico (função primária: proteção do hospedeiro). Possuem também função efetora (fixação de complemento e ligação a vários tipos de células, ativando-as).
- IgM: Presente no soro. Primeira imunoglobulina produzida pelo feto. Neutraliza toxinas, fixa complemento, atua como receptor de antígeno na superfície de linfócitos B e é um marcador de fase aguda de doenças infecciosas (imunidade primária).
- IgG: Presente no soro e espaços extravasculares. Única imunoglobulina que atravessa a placenta. Neutraliza toxinas, promove opsonização, fixa complemento, ativa linfócitos NK e é responsável pela resposta imune secundária.
- IgA: Presente em secreções e no soro. Fixa complemento apenas quando agregada. Neutraliza toxinas e bloqueia a ligação de antígenos nas mucosas.
- IgE: Menos comum no sangue. Envolvida em reações alérgicas e infecções por helmintos. Não fixa complemento. Leva à degranulação (sensibilização dos mastócitos).
- IgD: Atua como receptor de antígeno na superfície dos linfócitos B. Pouco presente no soro.
Imunidade Inata
Resposta rápida e inespecífica, que existe antes da infecção. É a primeira linha de defesa, controlando a infecção e ativando a imunidade adquirida. Não produz memória.
- Barreiras físico-químicas:
- Pele: Ácido lático, lisozimas, ácidos graxos insaturados, salinidade, descamação, queratina, microbiota normal.
- Mucosa respiratória: Cílios, muco, fluxo de ar, microbiota (cílios ficam mais lentos no inverno).
- Mucosa intestinal: Saliva, fluxo, pH, microbiota intestinal.
- Mucosa do trato geniturinário: Urina (fluxo e pH), microbiota.
- Células: Granulócitos, macrófagos e linfócitos NK. As células possuem receptores padrão (PRRs) que reconhecem padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs), que não existem nas células humanas. A imunidade começa nessa interação.
- Componentes humorais: Sistema complemento (via alternativa e lectina), citocinas e proteínas de fase aguda (proteína C reativa e proteína ligadora de manose - MBL). Promovem: lise, quimiotaxia e opsonização (fixação da opsonina, que facilita a fagocitose).
Imunidade Adaptativa
Altamente eficiente e evoluída, combate patógenos que ultrapassam a imunidade inata (bactérias, vírus, protozoários e vermes). É específica, diversa, produz memória, distingue o próprio do não próprio e é autolimitante.
Componentes celulares:
- Linfócitos B: Secretam anticorpos (imunidade humoral, contra microrganismos extracelulares e suas toxinas). Possuem diferentes mecanismos efetores, como o complemento, opsonização, processos inflamatórios, neutralização e ativação de células NK.
- Linfócitos T auxiliares: Imunidade celular. Ativam linfócitos T e B, macrófagos e o processo inflamatório (redundância).
- Linfócitos T citotóxicos: Promovem a lise da célula-alvo.
Fases: Reconhecimento, ativação, fase efetora, declínio (homeostase) e memória.
Processo Inflamatório Agudo
Resposta imediata e precoce a um agente nocivo, patogênico ou não (arranhão, queimadura).
Eventos vasculares: Vasodilatação (formação de novos leitos capilares), hiperemia (calor e rubor local), aumento da permeabilidade (extravasamento de líquidos), estase (aumento da viscosidade e menor velocidade do sangue) e edema (acúmulo de líquidos).
Eventos celulares: Os neutrófilos (predominantes na inflamação aguda) deixam a circulação em direção ao sítio de infecção. Devido à estase, ocorre a marginação no endotélio capilar. Em seguida, inicia-se a rolagem, mediada por proteínas ligadoras (selectinas) de baixa aderência. A aderência é mediada por integrinas, que fixam fortemente os neutrófilos ao endotélio. A diapedese é o processo de passagem dos neutrófilos através do endotélio. Após a diapedese, os neutrófilos são atraídos para o foco inflamatório por fatores quimiotáxicos locais.
Sinais cardinais da inflamação: Dor, calor, rubor, edema (ou tumor) e perda de função.
O fibrinogênio isola a inflamação, impedindo que se torne sistêmica.
Resposta Imune Primária e Secundária
- Primária: Primeiro contato do indivíduo com o antígeno, com produção de anticorpos e desenvolvimento de células B de memória.
- Secundária: Segundo contato com o antígeno. A produção de anticorpos é mais rápida e eficiente, pois as células B de memória reconhecem o antígeno mais rapidamente (resposta imune secundária, como nas vacinas).
Fatores que Aumentam a Imunogenicidade do Antígeno
Relação filogenética, massa molecular, complexidade molecular e acessibilidade do epítopo.
Tipos de Imunidade
- Natural:
- Passiva: Herdada da mãe (transplacentária ou amamentação).
- Ativa: Decorrente de infecções clínicas ou subclínicas.
- Artificial:
- Passiva: Soro, que contém anticorpos prontos, usado para respostas curtas e rápidas (tratamento ou terapia).
- Ativa: Vacina (antígeno atenuado ou inativado que promove a produção de anticorpos, com resposta longa e duradoura).
Vacinas
- Atenuadas: Patógeno vivo atenuado. Atenuação por passagem seriada em meios de cultivo ou adaptação a baixas temperaturas. Simula a infecção natural, com resposta duradoura, celular, humoral e de mucosas. Requer refrigeração, pode reverter à virulência e não deve ser usada em imunodeprimidos.
- Inativadas: Patógenos mortos, que conservam a estrutura. Inativação química (pH, proteases, clorofórmio, fenol, formol, solventes orgânicos e detergentes) ou física (calor, alta pressão, radiação gama e UV). Seguras, podem ser usadas em imunodeprimidos, mas têm curta duração, necessitam de mais de uma aplicação e adjuvantes, podendo causar hipersensibilidades.
- Recombinantes: Contêm peptídeos/proteínas virais purificados ou sintéticos. Tipos:
- Tipo I: Contêm antígenos purificados de organismos recombinantes (subunidade).
- Tipo II: Contêm organismos vivos com deleções gênicas para redução da virulência (gene deletado).
- Tipo III: Contêm vetores com genes heterólogos em organismo inócuo (vetor).
Adjuvantes
Imunoestimuladores. Substâncias que aumentam a resposta imune. Funções: Induzir o processo inflamatório local e retardar a liberação do antígeno (liberação lenta e prolongada). Exemplos: Sais de alumínio (fosfato e hidróxido) e fosfato de cálcio.
Fatores que Afetam a Imunogenicidade
- Status imune: Indivíduos imunocomprometidos podem não responder adequadamente à imunização e apresentar doença vacinal grave.
- Co-infecção: Se o sistema imune estiver ativo contra um agente patogênico virulento, pode não induzir imunidade protetora.
- Status nutricional: A resposta imune requer energia e nutrientes.
- Idade: Recém-nascidos apresentam baixa imunocompetência. Idosos podem apresentar menor resposta imune (devido a doenças crônico-degenerativas).
Hipersensibilidades
Mecanismos imunológicos exacerbados por antígenos ambientais ou próprios, causando lesões, sinais e sintomas de doenças (imunopatologias). Podem ser celulares (I, II e III) ou humorais (IV), desencadeadas por agentes ambientais ou próprios (doença autoimune).
- Tipo I (Anafilática): Mediada por IgE, que ativa mastócitos. Pode envolver pele, olhos, nasofaringe, tecidos broncopulmonares e trato gastrointestinal. O mecanismo envolve a produção preferencial de IgE em resposta a certos antígenos (alérgenos). Exemplos: Asma, rinite alérgica, alergia alimentar. O alérgeno é reconhecido pelo linfócito B, que se diferencia em plasmócito, produzindo IgE que se liga à superfície dos basófilos (fase sensibilizante). Na fase desencadeante, as IgEs de superfície reconhecem o antígeno e desencadeiam a degranulação do basófilo, liberando mediadores da reação anafilática (histamina, prostaglandinas).
- Tipo II (Reação Citotóxica): Envolve antígenos ambientais ou celulares, anticorpos e proteínas do sistema complemento. A célula com o antígeno é reconhecida pelos anticorpos, ativando o sistema complemento, que desencadeia a lise celular. Uma via alternativa é a opsonização da célula pelo sistema complemento, ativando células citotóxicas que promovem a apoptose. Exemplos: Transfusão sanguínea, incompatibilidade sanguínea materno-fetal e doenças autoimunes.
- Tipo III (Reação Mediada por Imunocomplexo): Envolve antígenos solúveis, anticorpos e proteínas do sistema complemento. O antígeno se liga ao anticorpo, formando o imunocomplexo. Se insolúvel, é eliminado por fagocitose. Se solúvel, deposita-se no endotélio vascular, ativando o sistema complemento, que promove fagocitose e digestão mediada por neutrófilos, causando morte celular, ou citólise mediada pelo sistema complemento (CAM), resultando em vasculite ou lesão tecidual. Os depósitos ocorrem por excesso de antígeno ou anticorpo no imunocomplexo. Exemplos: Neoplasias, reação a drogas, cólera suína, anemia infecciosa equina.
- Tipo IV (Hipersensibilidade Celular): Envolve antígenos T-dependentes, linfócitos T auxiliares e macrófagos. O antígeno ativa os linfócitos T auxiliares, que produzem interleucinas, ativando mastócitos, macrófagos e linfócitos T citotóxicos. As interleucinas também ativam fatores quimiotáxicos, atraindo leucócitos para o local, causando inflamação crônica (acúmulo de células) e lesão tecidual. Exemplos: Dermatite de contato e reação à tuberculina.
Reações Granulomatosas
O antígeno ativa os linfócitos T auxiliares, que produzem interleucinas, ativando os macrófagos. Estes migram para o local, formando grandes aglomerados (células gigantes). O acúmulo desenfreado de macrófagos produz o granuloma, causando lesão tecidual e necrose. Exemplos: Tuberculose, sarna demodécica, brucelose.