Cesário Verde: Cidade, Campo e a Questão Social na Poesia

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Binómio Cidade/Campo na Poesia de Cesário Verde

A divisão de O Livro de Cesário Verde em duas partes (“Crise Romancesca” e “Naturais”) anuncia, desde logo, a tensão dialética entre a cidade e o campo, um dos temas fundamentais da poesia de Cesário. A primeira parte, “Crise Romancesca”, contém os poemas com tonalidade romântica, embora já enriquecidos pela ironia. A segunda parte, “Naturais”, contém os poemas que se baseiam na realidade quotidiana, onde se manifesta a técnica realista.

A Questão Social na Obra de Cesário Verde

O desenvolvimento contraditório e desumanizado da cidade, onde convivem sinais de prosperidade (os candeeiros a gás e a eletricidade, a água canalizada) com problemas subjacentes ao urbanismo (o cheiro nauseabundo das ruas, a falta de higiene e uma precária saúde pública, a miséria, os vícios, o sofrimento, a poluição), tem como consequência problemas sociais que constituem o ponto de partida para as evocações e divagações do poeta, que sente necessidade de denunciar essa atmosfera conflituosa dos grandes centros urbanos. Ao estilo de Balzac e Baudelaire, Cesário deambulava pelas ruas da cidade absorvendo-lhes o ruído, o cheiro, as formas, com o objetivo de captar as impressões que os objetos lhe deixavam através dos sentidos. No entanto, ao vaguear, o poeta perceciona a cidade não só através de um olhar objetivo e fotográfico, mas também deixando escapar a sensibilidade do seu 'eu', que se emociona, inquieta e incomoda perante os desfavorecidos, os injustiçados e os marginalizados, e lamenta o sofrimento dos pobres e da dura vida dos trabalhadores. Deste modo, revela a sua admiração pela força física e pela energia do povo trabalhador e afetividade pelo que é rústico e natural, ao contrário de um certo repúdio que manifesta pela cidade, que passa a significar a ausência ou a perversão do amor e a opressão social. Em poemas como Num Bairro Moderno, Cristalizações e, sobretudo, O Sentimento de um Ocidental, o poeta evidencia os desacertos sociais e as consequências nefastas do progresso, retratando Lisboa como uma cidade de contrastes, onde observa e analisa o conflito social entre o campo e a cidade sem, contudo, interferir.

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