Cesário Verde: Poesia, Cidade e Campo

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Estilo Poético de Cesário Verde

A poesia de Cesário Verde distingue-se pela:

  • Exatidão do vocabulário.
  • Imagens extremamente visuais, ao ponto de o considerar um pintor das palavras.
  • Mistura do físico e do moral.
  • Combinação de sensações e uso de sinestesias.
  • Emprego de dois ou mais adjetivos a qualificar o mesmo substantivo, frequentemente de nível familiar ou técnico (ex: "martelo", "batatal", "quintalórios").
  • Predileção por quadras, em versos decassilábicos ou alexandrinos, usando frequentemente o encavalgamento (transporte).
  • Rigor formal que o aproxima dos parnasianos (manutenção da mesma estrutura formal).

As suas palavras traduzem imagens de luz e cor (daí dizer-se que Cesário pinta com as palavras). Utiliza recursos como metáforas, comparações, sinestesias e adjetivação expressiva. Os seus poemas frequentemente apresentam elementos narrativos: ação, tempo, espaço e personagens.

A Dicotomia Cidade-Campo

A poesia do autor reflete o binômio cidade/campo, resultado da sua vivência entre Lisboa, onde trabalhou, e o campo, onde passou a infância.

O Campo:

  • Não é apresentado de forma bucólica (idealizada, como em piqueniques), mas como um espaço real, de trabalho árduo dos camponeses na sua lide diária.
  • É útil, produtivo (dá frutos) e fonte de saúde.
  • Associado à vida, à liberdade e à vitalidade.
  • Visto como um refúgio da miséria constrangedora, do sofrimento, da poluição, dos maus cheiros e dos exploradores ou ricos que ignoram os humildes na cidade.

A Cidade:

  • É um espaço que incomoda o poeta ("eu").
  • Mostra as injustiças sociais e as dificuldades dos trabalhadores pobres em busca de melhores condições de vida.
  • Apresenta lugares pobres, sujos, nauseabundos e que geram focos de infeção, provocando doenças e até a morte.
  • Revela a preocupação social sentida e o pormenor descritivo de Cesário Verde.

Sobre Cesário Verde

Cesário Verde nasceu em Lisboa. O seu pai era comerciante de ferragens na Baixa lisboeta e possuía uma quinta em Linda-a-Pastora. Esta dupla vivência marcou profundamente a sua obra, refletindo o binômio cidade/campo.

Iniciou a sua produção poética enquanto trabalhava na loja do pai. Gostava de estar à porta da loja a observar a realidade circundante para se inspirar. Ao percorrer as ruas da cidade, o "eu" lírico denuncia o contraste entre a aparente grandeza urbana e a realidade dos lugares pobres e sujos, bem como a exploração dos humildes que sustentavam a cidade. Esta visão está presente em poemas como Contrariedades e, de forma emblemática, em O Sentimento de um Ocidental.

A infância passada no campo determinou a sua visão deste espaço. O campo surge na sua poesia não com um aspeto idílico, mas como um lugar útil, que exige trabalho (dá frutos e canseiras), mas que também lhe confere um sentimento de liberdade, patente em poemas como Num Bairro Moderno e Em Petiz.

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