Ciclo Fenológico Bianual do Café Arábica: 6 Fases
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Resumo do Ciclo Fenológico do Café Arábica
O cafeeiro arábica (Coffea arabica L.) distingue-se por um ciclo fenológico de frutificação que se estende por dois anos, diferentemente da maioria das espécies vegetais que concluem seu ciclo reprodutivo em um único ano fenológico. Após diversas abordagens para definir e esquematizar as fases fenológicas do cafeeiro, estabeleceu-se um modelo racional composto por seis etapas distintas, abrangendo os dois anos fenológicos, com início em setembro.
As Seis Fases Fenológicas Detalhadas
- Primeira Fase (Crescimento Vegetativo): Duração de sete meses, de setembro a março, caracterizada por dias longos.
- Segunda Fase (Indução Floral e Maturação das Gemas): Ocorre de abril a agosto, sob dias curtos. Nesta fase, as gemas vegetativas formadas nos nós durante a primeira fase são induzidas a se tornarem gemas reprodutivas. Ao final desta etapa (julho e agosto), as plantas entram em um repouso relativo, com a formação de um ou dois pares de folhas pequenas, marcando a transição entre os anos fenológicos. Segue-se a maturação das gemas reprodutivas, após um acúmulo de aproximadamente 350 mm de evapotranspiração potencial (ETp) desde abril.
- Terceira Fase (Florada e Expansão dos Frutos): Estende-se de setembro a dezembro. As floradas geralmente acontecem de 8 a 15 dias após um aumento no potencial hídrico das gemas florais (choque hídrico), provocado por chuva ou irrigação.
- Quarta Fase (Granação dos Frutos): Período de janeiro a março, quando ocorre o enchimento dos grãos.
- Quinta Fase (Maturação dos Frutos): Ocorre quando se atinge um somatório de cerca de 700 mm de ETp após a florada principal, geralmente de abril a junho.
- Sexta Fase (Senescência e Autopoda): Caracterizada pela senescência e morte dos ramos produtivos não primários, em julho e agosto, preparando a planta para o ciclo seguinte.
Palavras-chave Originais do Documento
Coffea arabica L., clima, fenologia, maturação das gemas, maturação dos frutos.
Introdução à Fenologia Peculiar do Cafeeiro Arábica
A maior parte das espécies vegetais emite suas inflorescências durante a primavera e completa a frutificação dentro do mesmo ano fenológico. Contudo, o cafeeiro arábica (Coffea arabica L.) apresenta uma particularidade: seu ciclo fenológico estende-se por dois anos. Durante o primeiro ano, ocorre a formação dos ramos vegetativos, que desenvolvem gemas axilares nos nós ao longo dos meses com dias longos. Em janeiro, com o encurtamento progressivo dos dias, as gemas vegetativas axilares são induzidas pelo fotoperiodismo a se diferenciarem em gemas reprodutivas (Gouveia, 1984).
A partir de abril, após o equinócio de março, quando os dias se tornam curtos (menos de 13 horas de luz efetiva, conforme Piringer e Borthwick, 1955), a indução das gemas foliares em gemas florais se intensifica, e estas iniciam seu desenvolvimento. Essas gemas florais amadurecem e, ao atingirem a maturidade, entram em dormência, ficando prontas para a antese. A antese é desencadeada por um aumento significativo do potencial hídrico nas gemas dormentes. O principal fator para iniciar a florada é o choque hídrico, causado por chuvas ou irrigação. Outros fatores, como um aumento acentuado da umidade relativa do ar, mesmo sem chuva direta sobre os cafeeiros, também podem induzir a florada (Camargo e Franco, 1985). Este fenômeno foi observado inclusive em gemas mantidas úmidas por vários dias com algodão embebido em água (Mes, 1957).
O segundo ano fenológico começa com a florada, seguida pela formação dos frutos jovens (conhecidos como "chumbinhos"), que antecede a expansão, a granação e, finalmente, a maturação dos frutos. Conclui-se o ciclo com a senescência, que leva à morte dos ramos plagiotrópicos terminais, um processo conhecido como autopoda.
Na primavera do ano civil subsequente, novos ramos vegetativos brotam e se convertem em ramos reprodutivos, possibilitando uma nova produção, porém defasada em um ano.
Importância da Esquematização Fenológica
A definição clara das fases fenológicas do cafeeiro arábica é fundamental para otimizar e racionalizar tanto as pesquisas científicas quanto as práticas de manejo na cafeicultura. Este conhecimento permite identificar os períodos em que a planta necessita de maior disponibilidade hídrica no solo e aqueles em que um leve estresse hídrico pode ser benéfico para induzir uma florada abundante. Além disso, a esquematização auxilia na determinação das épocas ideais para a aplicação de tratamentos fitossanitários e para a execução de diversas operações agrícolas.
O objetivo desta nota é apresentar um esquema simplificado e lógico da fenologia do café arábica, detalhando suas distintas fases fenológicas sob as condições tropicais do Brasil.
Discussão Detalhada das Seis Fases Fenológicas
Anteriormente, diversas abordagens foram propostas para definir e esquematizar a sequência das fases fenológicas do cafeeiro arábica. Foram considerados modelos baseados tanto no ano civil quanto no ano fenológico, incluindo propostas de quatro, seis, sete e oito fases (Camargo, 1998). O modelo de seis fases aqui apresentado é considerado bastante racional e é válido para variedades de café como Catuai e Mundo Novo. Este esquema, que seria ilustrado na figura 1 (não inclusa no texto original), detalha a sequência e as características das seis fases fenológicas distintas: três ocorrendo no primeiro ano fenológico e as outras três no segundo.
Primeiro Ano Fenológico do Cafeeiro
Fase 1: Crescimento Vegetativo e Formação de Gemas
Esta fase inicial estende-se de setembro a março. Corresponde a sete meses de dias longos, com fotoperíodo superior a 13 ou 14 horas de luz efetiva, ou acima de 12 horas de brilho solar (Camargo, 1985). Durante este período, ocorre o desenvolvimento vegetativo da planta e a formação das gemas foliares.
Fase 2: Indução, Maturação e Dormência Floral
A segunda fase ocorre de abril a agosto, caracterizada por dias curtos (Camargo e Franco, 1985). Neste período, as gemas foliares, formadas na primeira fase, são induzidas a se transformarem em gemas florais (Gouveia, 1984). Ao final desta fase, em julho e agosto, as plantas entram em um estado de repouso relativo, durante o qual emitem um ou dois pares de folhas pequenas, que marcam a divisão entre os anos fenológicos.
Segundo Ano Fenológico do Cafeeiro
Fase 3: Florada e Expansão Inicial dos Frutos
Esta é a primeira fase do segundo ano fenológico. Inicia-se com a florada, que ocorre após um aumento do potencial hídrico nas gemas florais maduras (choque hídrico). Cafeeiros que recebem irrigação frequente nesta fase podem apresentar uma floração irregular ou indefinida. Uma florada principal e concentrada geralmente acontece após um período de restrição hídrica, seguido por chuva ou irrigação abundante (Rena e Maestri, 1985). Temperaturas ambientes elevadas, associadas a um intenso déficit hídrico no início da florada, podem causar a desidratação e morte dos tubos polínicos, resultando no abortamento das flores, fenômeno conhecido como "estrelinhas". Após a fecundação, surgem os "chumbinhos" e inicia-se a expansão dos frutos. Esta etapa abrange os quatro meses de setembro a dezembro. Estiagens severas durante esta fase podem prejudicar o crescimento dos frutos, resultando em grãos de peneira baixa.
Fase 4: Granação dos Frutos (Enchimento)
A quarta fase é a de granação dos frutos, quando os líquidos internos se solidificam, formando os grãos. Este processo ocorre em pleno verão, de janeiro a março. Secas intensas nesta fase podem levar ao chochamento (formação de grãos vazios ou malformados) dos frutos.
Fase 5: Maturação Final dos Frutos
A maturação dos frutos ocorre na quinta fase, compreendendo usualmente os meses de abril, maio e junho. Nesta etapa, a evapotranspiração potencial (ETp) diminui significativamente. Deficiências hídricas moderadas neste período podem ser benéficas para a qualidade final do produto. As duas primeiras fases (1 e 2) correspondem ao período vegetativo, enquanto as três seguintes (3, 4 e 5) constituem o período reprodutivo do cafeeiro.
Relação entre ETp e Maturação das Gemas Florais
Observações em cafeeiros adultos, cultivados em diferentes condições térmicas adequadas para o café arábica, indicam que as gemas florais completam sua maturação e entram em dormência, ficando prontas para a antese principal, quando o somatório da evapotranspiração potencial (ETp), calculado a partir de abril, atinge aproximadamente 350 mm.
Nota sobre o Quadro 1 (não fornecido no original): O texto original menciona um "Quadro 1" com valores médios mensais de ETp (segundo Thornthwaite) acumulados de abril a outubro e temperatura média anual (Ta) de diversas regiões cafeeiras dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. A frase "ETp média mensal acumulada no final do me" parece ser um fragmento incompleto da descrição deste quadro.
Os dados que seriam apresentados no referido quadro (Quadro 1) geralmente mostram que, até o final de agosto, em nenhuma das localidades cafeeiras típicas o somatório de ETp atinge os 350 mm necessários, indicando que os cafeeiros ainda não estão prontos para a florada principal.
Localidades com temperaturas mais elevadas, como Pindorama, Adamantina, Araçatuba, Jales, Ribeirão Preto (SP), Patos de Minas e Araguari (MG), costumam apresentar floradas principais já no início de setembro. Em contraste, em localidades com temperaturas médias anuais inferiores a 20°C, como Franca (SP), Machado (MG) e Londrina (PR), o somatório de ETp só alcançará os 350 mm mais tarde, no final de setembro ou início de outubro, momento em que as condições se tornam favoráveis para a emissão da florada principal.
Fase 6: Senescência dos Ramos e Autopoda
A sexta e última fase, ocorrendo em julho e agosto, é a de senescência dos ramos produtivos não primários. Estes ramos secam e morrem, um processo natural conhecido como autopoda dos cafeeiros, preparando a planta para o próximo ciclo produtivo.