Claude Lévi-Strauss: Raça, História e a Cooperação Cultural
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O ensaio “Raça e História” de Claude Lévi-Strauss é um texto fundamental, escrito no contexto pós-Segunda Guerra Mundial. Naquele período, a humanidade estava profundamente abalada pelo grande número de mortes causadas por diferenças raciais. A UNESCO, então, solicitou que diversos estudiosos discorressem sobre o tema com o intuito de desconstruir o conceito de raça humana. Lévi-Strauss elabora este texto para desarticular a ideia de que haveria uma superioridade entre as raças (brancas, negras e amarelas) – um problema de cunho teórico, trazido pelos evolucionistas, e que, com a ascensão do Nazismo, se tornou um problema real para o mundo. Segundo Lévi-Strauss:
“...se tratarmos os diferentes estados em que se encontram as sociedades humanas, tanto antigas como longínquas, como estádios ou etapas de um desenvolvimento único que, partindo do mesmo ponto, deve convergir para o mesmo fim, vemos bem que a diversidade é apenas aparente.”
“Raça e História” representa o posicionamento da classe de antropólogos pelo fim da distinção de raça entre os humanos. Embora houvesse uma necessidade de aproveitar a mão de obra de todos para a reconstrução da Europa após a guerra, inclusive daquelas “raças” consideradas inferiores, havia um ideal humanitário na construção dessa teoria. Por isso, o texto de Lévi-Strauss é estruturado de forma a atingir todas as pessoas e não apenas os estudiosos das ciências sociais.
Para Lévi-Strauss, não faz sentido discutir o conceito de raça humana, pois o número de diferenças baseadas em características corporais é muito pequeno quando comparado com as semelhanças genéticas dos indivíduos. Por isso, Lévi-Strauss centraliza sua tese no conceito de cultura. Para ele, é a diferença cultural que separa os povos asiáticos dos africanos, por exemplo. No entanto, de acordo com os evolucionistas, haveria povos mais evoluídos que outros. Sobre esse ponto, Lévi-Strauss defende uma teoria de cooperação entre as comunidades. Segundo ele, não há indícios arqueológicos que comprovem tal superioridade ou inferioridade entre diferentes povos. É muito provável que a invenção significativa por parte de um povo tenha ocorrido por meio do contato intertribal, proporcionando a troca de experiências e a agregação de valores para ambas as tribos. A classificação dos povos antigos com base em técnicas como a “era da pedra lascada” ou da “pedra polida”, por exemplo, não é suficiente.
O polir e o lascar a pedra coexistiram. Quando a segunda técnica eclipsa completamente a primeira, isso não ocorre como resultado de um progresso técnico espontâneo da etapa anterior, mas como uma tentativa de copiar em pedra as armas e os utensílios de metal que possuíam as civilizações mais "avançadas", mas, de fato, contemporâneas de seus imitadores. Inversamente, a olaria, que se pensava solidária da "idade da pedra polida", está associada ao lascar da pedra em algumas regiões do norte da Europa.
Lévi-Strauss propõe um modelo teórico político onde os indivíduos devem se ajudar mutuamente para caminharem mais facilmente na resolução das dificuldades da vida cotidiana. Um modelo onde as culturas devem somar conhecimentos. Sem dúvida, Lévi-Strauss deseja que esse modelo seja efetivamente colocado em prática por toda a humanidade.
Para ilustrar esse conceito de cooperação entre os povos, Lévi-Strauss usa o exemplo de dois trens que seguem na mesma direção. Nesse exemplo, por mais que haja uma diferença na velocidade de deslocamento dos trens, um indivíduo que olhe pela janela em direção à outra composição consegue identificar traços de semelhança e de diferenças de outros integrantes que estejam situados na outra composição e, assim, consegue somar experiências e valores. Já quando há dois trens trafegando em direções distintas, a velocidade relativa entre os trens não permite que os integrantes façam uma leitura precisa de suas diferenças e semelhanças. Daí a tendência de classificar essa cultura como estacionária em relação à sua.
No cerne da teoria de Lévi-Strauss está o conceito de diversificação das culturas. Segundo ele, há uma necessidade de se perpetuar essa diversidade cultural. É estar pronto para encarar sem surpresa o que essas novas formas sociais têm a oferecer. “Raça e História” é, além de um texto antropológico, um trabalho humanitário, fomentado para superar as atrocidades racistas presenciadas durante a Segunda Guerra Mundial, mas que se tornou perene e está presente nos debates até os dias atuais.