Coccidiose Bovina: Causas, Impacto e Controle
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Coccidiose Bovina: Enterite Contagiosa
Doença infecciosa, também conhecida como "enterite contagiosa", causada por protozoários. É frequente em ruminantes, muitas vezes de forma "subclínica".
Etiologia
- Protozoário
- Filo: Apicomplexa
- Família: Eimeriidae
- Gêneros:
- Eimeria: 4 esporocistos com 2 esporozoítos cada.
- Isospora: 2 esporocistos com 4 esporozoítos cada.
Importância Econômica
- Grandes prejuízos na produção de ruminantes.
- Mortalidade em animais entre 1 e 8 meses.
- Baixo desempenho e refugo: Impacto financeiro significativo ($$$).
- Limitação do ganho de peso e do crescimento.
- Comprometimento da produção leiteira.
- Animais com infecção subclínica representam o maior impacto econômico.
Fatores Associados a Surtos
- Criações Intensivas: Especialmente na criação artificial de terneiros.
- Sintomas Comuns: Diarreia (frequentemente com sangue).
- Condições Desencadeantes: Situações estressantes, confinamento, mudanças climáticas, debilidade geral.
Eimeria spp. e Imunidade
Animais jovens são mais suscetíveis, enquanto adultos podem ser fontes de infecção. Existe imunidade, mas é específica para a espécie do hospedeiro e da Eimeria. A patogenicidade varia, e os sinais clínicos podem resultar de infecções mistas e interações entre diferentes espécies de Eimeria spp.
Patogenia
Os esporozoítos penetram nas células intestinais, levando à diminuição da absorção de nutrientes e perda de líquidos, sangue, proteínas e eletrólitos.
Desencistamento e Invasão dos Esporozoítos
Processo dependente de:
- pH intestinal.
- Presença de ácidos biliares.
- Ação da tripsina.
- Concentração de CO2 no duodeno.
- Presença de IgA.
Esquizogonia
Primeira multiplicação intracelular no intestino, causando lesão e ruptura celular com a geração dos esquizontes.
Gametogonia
Merozoítos de última geração penetram nas células, formando o zigoto que se desenvolve em oocisto. Esta é considerada a fase mais patogênica.
Fatores que Influenciam a Gravidade
- Espécie de Eimeria envolvida.
- Dose infectante (número de oocistos ingeridos).
- Número de células destruídas por oocisto ingerido (influenciado pela imunidade do hospedeiro).
- Viabilidade dos oocistos ingeridos.
- Grau de reinfecção.
Impacto da Multiplicação dos Coccídeos
- Alterações e destruição das células epiteliais infectadas.
- Comprometimento da função intestinal:
- Redução na secreção de enzimas e substratos.
- Diminuição na absorção de nutrientes.
- Diminuição na absorção de eletrólitos e vitaminas.
- Presença de células imaturas na mucosa.
- Degradação do conteúdo intestinal por bactérias secundárias.
- Alteração da osmolaridade intestinal.
- Encurtamento das vilosidades e hiperplasia das criptas.
- Diminuição da absorção e da motilidade intestinal.
- Possíveis lesões no fígado e outros órgãos devido a toxinas liberadas durante a fase intestinal.
Epidemiologia
- Causa mortalidade significativa em terneiros de 1 a 8 meses de idade.
- Esporulação do Oocisto: Requer oxigênio, temperatura e umidade adequadas.
- Fonte de Infecção: Oocistos esporulados presentes no ambiente.
- Persistência: Oocistos podem permanecer infectantes por meses.
- Sensibilidade: Oocistos são sensíveis à dessecação, calor (>55°C) e luz solar direta.
- Resistência: Resistentes à maioria dos desinfetantes comuns.
Pico de Eliminação de Oocistos
Ocorre geralmente entre a 3ª e 4ª semana pós-infecção, sendo o período mais crítico, com alta mortalidade. A contagem pode variar de 8.000 a 20.000 oocistos por grama de fezes (OPG).
Sistemas de Produção e Transmissão
- Criações Intensivas: Alta densidade populacional aumenta a disponibilidade de oocistos e facilita a transmissão.
- Fatores de Risco: Estresse (desmame precoce, transporte), surtos após o desmame.
- Fontes de Contaminação: Bebedouros, cochos, solos úmidos, pastagens baixas.
Fatores Predisponentes
- Alta concentração animal.
- Mudanças bruscas de manejo.
- Idade: Animais jovens são mais suscetíveis; adultos atuam como transmissores (portadores).
- Estresse: Desmama, transporte, cirurgias, mudanças climáticas.
Imunidade
- É espécie-específica (tanto para o hospedeiro quanto para a Eimeria).
- Reinfecção é comum, levando ao estado de portador.
- A imunidade não é duradoura.
- Imunidade passiva (colostral) contra E. bovis não é considerada protetora.
Sinais Clínicos
- Forma Crônica ou Subclínica: Mais comum, caracterizada por baixo desempenho.
- Forma Aguda: Pode causar morte súbita, mesmo sem sinais clínicos prévios.
- Período da Doença: Geralmente dura cerca de 15 dias.
- Mortalidade: Pode variar de 20% a 50% em surtos agudos.
- Período Crítico: O pico de eliminação de oocistos (21-28 dias pós-infecção) apresenta o maior índice de mortalidade.
- Sintomas Comuns:
- Diarreia muco-aquosa, com ou sem sangue vivo.
- Apatia, anorexia e inapetência.
- Desidratação progressiva.
- Anemia (em casos com sangue nas fezes).
- Desconforto abdominal (cólica).
- Hipertermia (febre) pode ocorrer.
- Baixo ganho de peso.
- Conversão alimentar prejudicada.
Diagnóstico
- Histórico e Sinais Clínicos: Sugestivos da doença.
- Exame Coproparasitológico (OPG - Oocistos Por Grama de fezes): Técnica de flutuação (Gordon & Whitlock, McMaster). A interpretação deve ser cautelosa, pois a eliminação de oocistos não coincide necessariamente com a fase aguda da doença.
- Contaminação Clássica (E. bovis): 2.000 - 5.000 OPG (raramente > 15.000 OPG).
- Contaminação Leve a Moderada: 2.000 a 5.000 OPG pode estar associada a ~0,5% de óbito em alguns estudos.
- Contaminação Grave (E. zuernii): 10.000 a 50.000 OPG, podendo chegar a 2 milhões. Casos mais graves (> 50.000 OPG) podem estar associados a sinais nervosos (fisiopatogenia desconhecida).
- Necropsia: Lesões macro e microscópicas no intestino (espessamento da parede, conteúdo hemorrágico, visualização de parasitos na histopatologia).
Tratamento
- Suporte: Fluidoterapia e manejo nutricional.
- Drogas Antococcidianas:
- Coccidiostáticos (impedem a multiplicação):
- Sulfonamidas (ex: Sulfaquinoxalina, Sulfadimetoxina) associadas ou não ao Trimetoprim.
- Amprólio.
- Decoquinato.
- Ionóforos (Antibióticos como Lasalocida, Salinomicina, Monensina) - Também atuam como promotores de crescimento.
- Coccidicidas (matam o parasito):
- Toltrazuril.
- Diclazuril.
- Atuam em todos os estádios intracelulares.
- Geralmente possuem custo mais elevado.
- Atenção ao período de carência (ex: Toltrazuril pode ter carência de 45 dias ou mais para abate).
- Coccidiostáticos (impedem a multiplicação):
Profilaxia
O objetivo é impedir ou diminuir a ingestão de oocistos esporulados.
- Medidas Sanitárias e de Manejo:
- Separar animais por faixa etária.
- Manter instalações (bezerreiros) limpas e secas.
- Limpeza frequente de bebedouros e cochos.
- Evitar superlotação.
- Bom manejo de pastagens (evitar pastoreio muito baixo em áreas úmidas).
- Quarentena de animais recém-adquiridos.
- Tratamento Estratégico: Tratar animais doentes rapidamente para reduzir a contaminação ambiental.
- Uso Preventivo de Drogas Anticoccídicas: Administração de coccidiostáticos em períodos de maior risco (ex: desmame, entrada em confinamento).
- Desinfecção Ambiental: Difícil devido à resistência dos oocistos. Produtos à base de amônia ou hipoclorito de sódio em altas concentrações podem ter alguma eficácia. A fermentação do esterco também pode destruir oocistos pelo calor gerado.