Coesão, Coerência, Vícios e Tipos de Texto

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Coesão e Coerência

A coesão é a correta ligação entre os elementos de um texto, que ocorre no interior das frases, entre as próprias frases e entre os vários parágrafos. Pode-se dizer que um texto é coeso quando os conectivos (conjunções, pronomes relativos) e também a preposição são empregados corretamente.

A coerência diz respeito à ordenação das ideias e dos argumentos. A coerência depende da coesão. Um texto com problemas de coesão terá, provavelmente, problemas de coerência. Vejamos alguns exemplos:

  • a) Preposição: "A ditadura achatou os salários dos professores e tirou matérias importantes no desenvolvimento do jovem?".
    Ficaria melhor se fosse utilizada a preposição para: "importantes para o desenvolvimento do jovem".
  • b) Pronome relativo:
    "Os alunos que os pais colaboram são os esquecidos...?"
    O pronome correto seria cujos: "Os alunos cujos pais colaboram são os esquecidos...?"
  • c) Conjunção:
    "Controlar o país, para muitos governantes, é dar a impressão de que existe democracia. Portanto, se o povo participa, é imediatamente reprimido?".
    É evidente que a conjunção "portanto" está mal empregada. A ideia que se quer expressar é de oposição e não de conclusão. Logo, a conjunção correta seria no entanto, mas, porém etc.
    "Controlar o país, para muitos governantes, é dar a impressão de que existe democracia. Porém, se o povo participa, é imediatamente reprimido?".

Problemas como esses levam a uma falta de coerência na argumentação, já que os conectivos não estabelecem as relações adequadas.

Vícios de Linguagem

São alterações defeituosas que sofre a língua em sua pronúncia e escrita. São devidas, em grande parte, à suposta ideia da afinidade de forma ou pensamento.

Visto que existem vários níveis de fala, o conceito do que é "certo" ou "errado" em língua deve ser considerado sob o prisma da intenção e da adequação. Na verdade, devemos falar em linguagem adequada. Como sabemos, tudo depende da situação. Veja, a propósito, construções utilizadas por dois grandes autores de língua portuguesa:

Muitos vícios de linguagem são utilizados por autores consagrados, são estilos literários. Entretanto, há uma pesquisa, uma intenção, uma construção coerente. Por isso, caso você decida utilizar os desvios como estilo, procure utilizá-los com propriedade e seja coerente no seu uso.

Dentre muitos vícios de linguagem, tanto na linguagem oral, quanto na escrita, destacam-se:

  • Barbarismo
  • Cacofonia
  • Eco
  • Arcaísmo
  • Vulgarismo
  • Solecismo
  • Obscuridade
  • Preciosismo
  • Pleonasmo
  • Ambiguidade
  • Gerundismo
  • Queísmo

Barbarismo

Consiste em usar uma palavra errada quanto à grafia, pronúncia, significação, flexão ou formação.

  • Gráficos: excessão (exceção), gáz (gás), conssessiva (concessiva), magnificiência (magnificência), sombrancelha (sobrancelha) etc.
  • Prosódicos: rúim (ruim), rúbrica (rubrica), récorde (recorde), gratuíto (gratuito) etc.
  • Semânticos: Tráfico (tráfego) etc.
  • Morfológicos: cidadões (cidadãos), uma telefonema (um telefonema), proporam (propuseram), deteu (deteve) etc.

Cacofonia

Caracterizado pelo encontro ou repetição de fonemas ou sílabas que produzem efeito desagradável ao ouvido. Muitas vezes leva à construção de uma nova palavra não intencionada.

  • Colisão: Meu Deus! Que não seja já.
  • Hiato: Ela iria à aula hoje, se não chovesse.
  • Cacófato: Tem uma mão machucada.
  • Aliteração: O Papa pediu paz ao povo.
  • Eco: É possível a aprovação da transação sem concisão e sem associação.
  • Vicente mente constantemente.

Atenção: Na poesia, a rima, a aliteração e a assonância são formas estilísticas do som. São expressivas as repetições vocálicas a curto intervalo que visam à musicalidade ou à imitação de sons da natureza (harmonia imitativa). Exemplo: "Tíbios flautins finíssimos gritavam" (Bilac).

Arcaísmo

Palavras, expressões ou construções usadas no texto, que deixaram de ser usadas ou passaram a ter emprego diferente.

Na língua viva contemporânea:

  • asinha (por depressa)
  • assi (por assim)
  • entonces (por então)
  • vosmecê (por você)
  • geolho (por joelho)
  • arreio (o qual perdeu a significação antiga de "enfeite")
  • catar (perdeu a significação antiga de olhar)
  • etc.

Vulgarismo

Uso linguístico popular em contraposição às doutrinas da linguagem culta da mesma região.

O vulgarismo pode ser fonético, morfológico e sintático.

  • Fonético:
    • A queda dos erres finais: andá, comê, etc.
    • A vocalização do "L" final nas sílabas: mel (meu), sal (sáu), etc.
    • A monotongação dos ditongos: estoura (estóra), roubar (robar), etc.
    • A intercalação de uma vogal para desfazer um grupo consonantal: advogado (adevogado), ritmo (rítimo), psicologia (pissicologia).
  • Morfológico e sintático:
    • Temos a simplificação das flexões nominais e verbais: Os aluno, dois quilo, os hôme brigou.
    • Também o emprego dos pronomes pessoais do caso reto em lugar do oblíquo: Vi ela, olha eu, etc.

Palavras de baixo calão e gírias: seu uso em textos formais pode ser considerado VULGARISMO, contanto que não haja uma intenção de chamar a atenção do leitor, uma intenção estilística ou transposição da fala de alguma personagem que adote tais construções em seus discursos.

*Note que na linguagem familiar é muito comum o uso de vulgarismos, o que não se deve é utilizá-los em situações em que se exija uma linguagem mais formal.

Solecismo

São os erros que atentam contra as normas do português padrão de concordância, de regência ou de colocação.

  • Solecismo de regência:
    • Ontem assistimos o filme. (Ontem assistimos ao filme.)
    • Espere um pouco que vou no banheiro. (... vou ao banheiro.)
  • Solecismo de concordância:
    • Haviam muitas pessoas na festa. (Havia muitas pessoas na festa.)
    • O pessoal já saíram? (O pessoal já saiu?).
    • A gente vamos de ônibus. (A gente vai de ônibus.)
  • Solecismo de colocação:
    • Foi João quem avisou-me (Foi João quem me avisou).
    • Me empresta o lápis (Empresta-me o lápis).*

Atenção: Note que alguns casos são comuns na linguagem coloquial (não padrão) do Brasil, portanto, dever-se-á verificar o nível de linguagem utilizado no discurso.

Obscuridade

Consiste em construir a frase de tal modo que o sentido se torne obscuro, embaraçado ou ininteligível. Em um texto, as principais causas da obscuridade são: o uso de arcaísmo, neologismo, estrangeirismo, elipse, o parêntese extenso, o acúmulo de orações intercaladas, a extensão exagerada da frase, as palavras rebuscadas em excesso, a má pontuação dentre outros.

Exemplos:

  • Foi evitada uma efusão de sangue inútil.
  • Ela, por não suportar mais as atrocidades vorazes da vida, decidiu, mas não sem antes pensar no futuro inóspito que a aguardava, mudar, mesmo que fosse num presente próximo, para esse futuro vil.
  • O sentido de nonsense estampado no target, refletido no look da top, mostrava o new style da grife.
  • Ontem, porém, a chuva, trouxe, chorando, as lembranças.
  • O fulvo e voluptuoso Rajá celeste derramará além os fugitivos esplendores da sua magnificência astral e rendilhara d'alto e de leve as nuvens da delicadeza, arquitetural, decorativa, dos estilos manuelinos. (Neste caso, o uso de palavras em excesso e pouco usadas no vocabulário português é chamado de preciosismo ou prolixidade, é o que o povo chama de "falar difícil" ou "estar gastando")

Pleonasmo

Emprego inconsciente ou voluntário de palavras desnecessárias, por já estar sua significação contida em outras da mesma frase.

Exemplos:

  • Voltou a estudar novamente.
  • Ele reincidiu na mesma falta de novo.
  • Inaugurar-se-á uma nova casa de chá no meu bairro.
  • Labaredas de fogo iluminavam nossos rostos.
  • O estudante estava exultante de alegria.

Atenção: O navio naufragou e foi ao fundo. Neste caso, também se chama perissologia ou tautologia.

Ambiguidade

Consiste em usar palavras na frase que causem duplo sentido na sua interpretação.

Exemplos:

  • O chefe discutiu com o empregado e estragou seu dia.
  • Desde os seis anos, meu avô ensinava a vizinha a ler e a admirar a magnitude da natureza.
  • Bush pedirá para um centro de segurança cibernética 9 milhões ao Congresso.
  • A cadela da minha amiga amamentou seus filhotes por muito tempo.
  • O diretor convidou o professor de física e seu irmão para participarem da festa de Natal.
  • O professor percebeu que o aluno não estava contente com seu desempenho.
  • Os políticos se questionavam para chegar a uma solução.
  • Diante do ocorrido entre você e seu filho, fiquei sem saber se o que eu lhe disse concorreu para agravar a situação.

Gerundismo

Consiste no emprego do gerúndio em casos que poderiam ser utilizadas formas verbais como o presente do indicativo, futuro do presente, futuro do pretérito, infinitivo etc.

Exemplos:

  • Senhor, eu vou estar enviando o documento na segunda-feira. (enviarei)
  • Vocês podem estar assinando os documentos agora. (assinar)
  • Minha irmã vai estar passando na sua casa às 9 horas. (passará)

Queísmo

Uso desnecessário e excessivo de conjunções e pronomes "que" no texto.

Exemplos:

  • A menina que havia ganhado o brinquedo que eu queria tanto disse que preferia o outro que seu irmão havia ganhado.
  • O jornalista que redigiu a reportagem que apareceu no jornal receberá o prêmio que todos desejavam.
  • Espero que me respondas a fim de que se esclareçam as dúvidas que dizem respeito ao assunto que estava sendo discutido.

Esses foram apenas alguns vícios de linguagem. E o que vocês acham deles? É válido usá-los nos textos?

Aula teórico-prática.

Parágrafo-Padrão

Parágrafo-padrão é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.

O parágrafo é indicado por um afastamento da margem esquerda da folha. Ele facilita ao escritor a tarefa de isolar e depois ajustar convenientemente as ideias principais de sua composição, permitindo ao leitor acompanhar-lhes o desenvolvimento nos seus diferentes estágios.

O Tamanho do Parágrafo

Os parágrafos são moldáveis como a argila, podem ser aumentados ou diminuídos, conforme o tipo de redação, o leitor e o veículo de comunicação onde o texto vai ser divulgado. Se o escritor souber variar o tamanho dos parágrafos, dará colorido especial ao texto, captando a atenção do leitor, do começo ao fim. Em princípio, o parágrafo é mais longo que o período e menor que uma página impressa no livro, e a regra geral para determinar o tamanho é o bom senso.

Parágrafos Curtos

Próprios para textos pequenos, fabricados para leitores de pouca formação cultural. A notícia possui parágrafos curtos em colunas estreitas, já artigos e editoriais costumam ter parágrafos mais longos. Revistas populares, livros didáticos destinados a alunos iniciantes, geralmente, apresentam parágrafos curtos.

Quando o parágrafo é muito longo, o escritor deve dividi-lo em parágrafos menores, seguindo critério claro e definido. O parágrafo curto também é empregado para movimentar o texto, no meio de longos parágrafos, ou para enfatizar uma ideia.

Parágrafos Médios

Comuns em revistas e livros didáticos destinados a um leitor de nível médio (2º grau). Cada parágrafo médio construído com três períodos que ocupam de 50 a 150 palavras. Em cada página de livro cabem cerca de três parágrafos médios.

Parágrafos Longos

Em geral, as obras científicas e acadêmicas possuem longos parágrafos, por três razões: os textos são grandes e consomem muitas páginas; as explicações são complexas e exigem várias ideias e especificações, ocupando mais espaço; os leitores possuem capacidade e fôlego para acompanhá-los.

Tópico Frasal

A ideia central do parágrafo é enunciada através do período denominado tópico frasal (também chamado de frase-síntese ou período tópico). Esse período orienta ou governa o resto do parágrafo; dele nascem outros períodos secundários ou periféricos; ele vai ser o roteiro do escritor na construção do parágrafo; ele é o período mestre, que contém a frase-chave.

Como o enunciado da tese, que dirige a atenção do leitor diretamente para o tema central, o tópico frasal ajuda o leitor a agarrar o fio da meada do raciocínio do escritor; como a tese, o tópico frasal introduz o assunto e o aspecto desse assunto, ou a ideia central com o potencial de gerar ideias-filhote; como a tese, o tópico frasal é enunciação argumentável, afirmação ou negação que leva o leitor a esperar mais do escritor (uma explicação, uma prova, detalhes, exemplos) para completar o parágrafo ou apresentar um raciocínio completo. Assim, o tópico frasal é enunciação, supõe desdobramento ou explicação.

A ideia central ou tópico frasal geralmente vem no começo do parágrafo, seguida de outros períodos que explicam ou detalham a ideia central.

Tipos de Texto e Composição

Tipos de Texto

  • Texto Literário: Expressa a opinião pessoal do autor que também é transmitida através de figuras, impregnado de subjetivismo. Exemplos: um romance, um conto, uma poesia.
  • Texto Não Literário: Preocupa-se em transmitir uma mensagem da forma mais clara e objetiva possível. Exemplos: uma notícia de jornal, uma bula de medicamento.
Texto LiterárioTexto Não Literário
ConotaçãoDenotação
Figurado, subjetivoClaro, objetivo
PessoalInformativo

Tipos de Composição

  • Descrição: Descrever é representar verbalmente um objeto, uma pessoa, um lugar, mediante a indicação de aspectos característicos, de pormenores individualizantes. Requer observação cuidadosa, para tornar aquilo que vai ser descrito um modelo inconfundível. Não se trata de enumerar uma série de elementos, mas de captar os traços capazes de transmitir uma impressão autêntica. Descrever é mais que apontar, é muito mais que fotografar. É pintar, é criar. Por isso, impõe-se o uso de palavras específicas, exatas.
  • Narração: É um relato organizado de acontecimentos reais ou imaginários. São seus elementos constitutivos: personagens, circunstâncias, ação; o seu núcleo é o incidente, o episódio, e o que a distingue da descrição é a presença de personagens atuantes, que estão quase sempre em conflito.

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