Complicações Comuns na Gravidez: Guia Completo
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Aborto
Definição
Interrupção da gravidez antes das 20-22 semanas de gestação (ou antes de o feto atingir viabilidade).
Tipos
- Espontâneo: Ocorre naturalmente.
- Provocado: Induzido por intervenção.
- Terapêutico: Realizado por razões médicas para salvar a vida da mãe ou devido a anomalias fetais graves.
Causas Comuns (Aborto Espontâneo)
- Anomalias cromossómicas (causa mais comum).
- Problemas hormonais.
- Infecções.
- Problemas uterinos.
- Doenças maternas crónicas.
Complicações
- Hemorragia intensa.
- Aborto séptico (infecção).
- Complicações da curetagem (perfuração uterina, sinéquias).
Prevenção
Embora nem todos os abortos espontâneos possam ser prevenidos, um acompanhamento pré-natal abrangente desde o início da gravidez é fundamental para identificar e gerir fatores de risco.
Gravidez Ectópica
Definição
Gravidez anormal na qual o óvulo fertilizado se implanta fora da cavidade uterina, mais frequentemente numa das trompas de Falópio.
Causas
- Danos ou obstrução nas trompas de Falópio (por doença inflamatória pélvica, cirurgia anterior, etc.).
- Fatores hormonais.
- Anomalias congénitas das trompas.
Sinais e Sintomas
- Amenorreia (ausência de menstruação).
- Dor abdominal ou pélvica (geralmente unilateral).
- Sangramento vaginal anormal.
- Dor lombar.
- Náuseas.
- Dor no ombro (em caso de rutura e hemorragia interna).
Complicações
- Ruptura da trompa com hemorragia interna grave, potencialmente fatal.
Tratamento
Remoção do tecido embrionário (por medicação ou cirurgia) para prevenir complicações graves e preservar a saúde materna.
Gravidez Múltipla
Definição
Presença de mais de um feto no útero simultaneamente.
Tipos
- Dizigótica (Gêmeos Fraternos): Resultante da fertilização de dois óvulos diferentes por dois espermatozoides diferentes.
- Monozigótica (Gêmeos Idênticos): Resultante da divisão de um único óvulo fertilizado.
Causas
- Ocorrência natural (influenciada por fatores genéticos e idade materna).
- Técnicas de reprodução assistida (fertilização in vitro, indução da ovulação).
Fatores de Risco
- Idade materna avançada.
- História familiar de gêmeos dizigóticos.
- Raça (mais comum em algumas populações).
- Multiparidade (ter tido gestações anteriores).
- Uso de tratamentos de fertilidade.
Nota: A gravidez múltipla acarreta riscos aumentados de complicações como parto prematuro, restrição de crescimento fetal, pré-eclâmpsia e diabetes gestacional.
Infecção Urinária na Gravidez
Definição
Infecção bacteriana em qualquer parte do trato urinário (rins, ureteres, bexiga, uretra). É mais comum em mulheres e a sua incidência aumenta durante a gravidez devido a alterações hormonais e mecânicas.
Tipos
- Bacteriúria Assintomática: Presença de bactérias na urina sem sintomas.
- Cistite: Infecção da bexiga.
- Pielonefrite: Infecção dos rins (mais grave).
Sinais e Sintomas (Cistite/Pielonefrite)
- Dor ou ardência ao urinar.
- Necessidade frequente e urgente de urinar.
- Dor pélvica ou suprapúbica.
- Urina turva ou com odor forte.
- Febre e calafrios (especialmente na pielonefrite).
- Dor lombar ou no flanco (pielonefrite).
- Náuseas e vómitos (pielonefrite).
Tratamento
Geralmente tratada com antibióticos seguros para uso durante a gravidez. A pielonefrite pode requerer hospitalização.
Prevenção
- Beber bastante água.
- Urinar frequentemente e após relações sexuais.
- Manter boa higiene íntima.
- Consumir vitamina C (pode ajudar a acidificar a urina).
- Evitar roupas íntimas e calças muito apertadas.
Gravidez Molar (Mola Hidatiforme)
Definição
Na gravidez molar, ocorre um desenvolvimento anormal da placenta nos primeiros meses, que se transforma numa massa de cistos (mola hidatiforme). O embrião não se forma adequadamente ou não se forma de todo, sendo inviável. Ocorre em aproximadamente 1 a cada 1.000 gestações.
Causas
A causa exata não é totalmente compreendida, mas está relacionada a um erro na fertilização (material genético anormal). Fatores de risco incluem:
- Idade materna (menor que 20 ou maior que 40 anos).
- Histórico de gravidez molar anterior.
- Histórico de abortos espontâneos.
- Dieta pobre em caroteno e possivelmente ácido fólico e proteínas.
Tipos de Gravidez Molar
- Completa: Não há formação de embrião nem tecido placentário normal; todo o material genético é de origem paterna.
- Parcial: Pode haver tecido embrionário e placentário parcialmente normal junto com o tecido molar; geralmente há material genético materno e paterno extra.
Sinais e Sintomas
Pode iniciar como uma gravidez normal. Posteriormente, por volta da 8ª à 12ª semana, podem surgir:
- Sangramento vaginal (geralmente vermelho vivo ou acastanhado, por vezes com expulsão de vesículas).
- Náuseas e vómitos intensos (mais severos que o normal na gravidez).
- Dor ou pressão pélvica (devido ao útero maior que o esperado para a idade gestacional).
- Pressão arterial elevada precocemente na gravidez.
- Hipertiroidismo (raro).
- Ausência de batimentos cardíacos fetais.
Tratamento
A gravidez molar requer a remoção completa do tecido molar do útero para proteger a saúde da mulher e prevenir complicações, como a doença trofoblástica gestacional persistente (que pode ter potencial maligno).
- Geralmente, realiza-se uma curetagem por aspiração sob anestesia.
- Ocasionalmente, se a massa for grande e não houver desejo de futuras gestações, pode-se optar pela histerectomia (remoção do útero).
- Após o procedimento, monitoriza-se rigorosamente o nível da hormona hCG (gonadotrofina coriónica humana) no sangue.
- Se o nível de hCG cair para zero e permanecer assim, geralmente não é necessário tratamento adicional. O acompanhamento continua por 6 meses a 1 ano para garantir a ausência de tecido molar residual.
- Recomenda-se evitar nova gravidez durante este período de acompanhamento para não interferir na monitorização do hCG.
Hipertensão na Gravidez
Definição
A hipertensão arterial (pressão alta) é uma das complicações médicas mais frequentes durante a gestação, podendo preexistir ou ser induzida pela gravidez.
Tipos
- Hipertensão Crónica: Pressão alta diagnosticada antes da gravidez ou antes das 20 semanas de gestação.
- Hipertensão Gestacional: Pressão alta que surge após as 20 semanas de gestação, sem proteinúria (perda de proteína na urina).
- Pré-eclâmpsia: Hipertensão que surge após as 20 semanas, associada a proteinúria ou disfunção de órgãos-alvo (rins, fígado, cérebro, sistema de coagulação).
- Eclâmpsia: Ocorrência de convulsões numa mulher com pré-eclâmpsia.
- Hipertensão Crónica com Pré-eclâmpsia Sobreposta: Mulheres com hipertensão crónica que desenvolvem pré-eclâmpsia.
Complicações
A hipertensão na gravidez pode levar a sérias complicações maternas e fetais, incluindo:
- Restrição de crescimento fetal.
- Parto prematuro.
- Descolamento prematuro da placenta.
- Síndrome HELLP (hemólise, enzimas hepáticas elevadas, plaquetas baixas).
- Eclâmpsia (convulsões).
- Acidente vascular cerebral (AVC) materno.
- Insuficiência renal e hepática materna.
- Morte fetal ou neonatal.
- Sequelas a longo prazo para a mãe e o bebê.
O tratamento envolve monitorização cuidadosa, controlo da pressão arterial e, em casos de pré-eclâmpsia/eclâmpsia, o parto é a cura definitiva.
Placenta Prévia
Definição
Condição obstétrica na qual a placenta se implanta total ou parcialmente na porção inferior do útero, cobrindo o orifício interno do colo uterino.
Tipos (Classificação Ultrassonográfica)
- Placenta Prévia Total: A placenta cobre completamente o orifício interno do colo.
- Placenta Prévia Parcial: A placenta cobre parcialmente o orifício interno do colo.
- Placenta Prévia Marginal: A borda da placenta atinge a margem do orifício interno do colo, mas não o cobre.
- Placenta de Inserção Baixa: A placenta está implantada no segmento inferior do útero, mas a sua borda não atinge o orifício interno (geralmente a >2 cm de distância).
Causas e Fatores de Risco
A causa exata é desconhecida, mas fatores de risco incluem:
- Cesariana anterior.
- Cirurgia uterina prévia (miomectomia, curetagem).
- Idade materna avançada.
- Multiparidade.
- Gravidez múltipla.
- Tabagismo.
- Placenta prévia em gestação anterior.
Sintoma Principal
Sangramento vaginal indolor, geralmente de cor vermelho vivo, que ocorre tipicamente no final do segundo ou no terceiro trimestre.
Complicações
- Hemorragia materna grave.
- Parto prematuro.
- Acretismo placentário (placenta adere anormalmente à parede uterina).
- Necessidade de transfusão sanguínea.
- Histerectomia (em casos de hemorragia incontrolável ou acretismo).
O diagnóstico é feito por ultrassonografia. O manejo depende da idade gestacional, intensidade do sangramento e tipo de placenta prévia, frequentemente requerendo repouso e parto por cesariana.
Hiperemese Gravídica
Definição
Forma grave de náuseas e vómitos durante a gravidez, caracterizada por serem persistentes e intensos, levando à perda de peso (>5% do peso pré-gravídico), desidratação, distúrbios eletrolíticos e cetonúria (presença de corpos cetónicos na urina).
Causas
A causa exata é incerta, mas acredita-se estar fortemente relacionada a:
- Elevados níveis hormonais, especialmente da gonadotrofina coriónica humana (hCG).
- Fatores genéticos.
- Fatores psicológicos (podem exacerbar, mas não são a causa primária).
- Gravidez múltipla ou molar (associadas a níveis mais altos de hCG).
Sinais e Sintomas
- Náuseas graves e persistentes.
- Vómitos frequentes e incoercíveis, que podem durar o dia todo.
- Perda de peso significativa.
- Sinais de desidratação (boca seca, diminuição da urina, tonturas).
- Salivação excessiva (ptialismo).
- Fadiga extrema.
Tratamento
O tratamento visa controlar os vómitos, corrigir a desidratação e os desequilíbrios eletrolíticos, e garantir nutrição adequada. Pode incluir:
- Repouso.
- Alterações dietéticas (refeições pequenas e frequentes, evitar gatilhos).
- Hidratação intravenosa (fluidoterapia).
- Medicação antiemética (para controlar os vómitos).
- Suplementação vitamínica (especialmente tiamina - B1).
- Em casos muito graves, nutrição parentérica (intravenosa) ou enteral (por sonda).
- Hospitalização pode ser necessária.